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O Recurso Especial com fundamento na alínea c

No documento O Cabimento dos Embargos de Divergência (páginas 50-54)

2. ASPECTOS GERAIS DOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA

2.5 OS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA E INSTITUTOS AFINS

2.5.2 O Recurso Especial com fundamento na alínea c

O recurso especial é modalidade recursal prevista no texto constitucional no artigo 105 da Carta Magna, criada pelo constituinte originário de 1988, quando da instituição do Superior Tribunal de Justiça.

Com a criação do Superior Tribunal de Justiça, a competência do Supremo Tribunal Federal foi dividida, permanecendo este como guardião das normas constitucionais e aquele competente para interpretar normas federais.

O referido recurso é modalidade recursal extraordinária, assim como os embargos de divergência. Primam pela preservação da unidade e autoridade do direito federal em tese, com dever constitucional de defender tal direito e promover a unificação da jurisprudência104. Arruda Alvim105 traça interessante cronograma sobre os regramentos basilares que deram origem ao recurso especial:

104

TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo. O recurso especial e o Superior Tribunal de Justiça. In ______ (coord.). Recursos no Superior Tribunal de Justiça. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 69.

105

ALVIM, Arruda. O antigo recurso extraordinário e o recurso especial (na Constituição Federal de 1988). In TEIXEIRA, Sálvio Figueiredo (coord.). Recursos no Superior Tribunal de Justiça. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 146.

O antigo recurso extraordinário, no direito constitucional brasileiro, desde os primórdios e sempre através de um molde que pouco variou, constituiu, em escala ponderável (excluídos os seus aspectos constitucionais), o modelo que veio representar grande parte da competência recursal do STJ, mercê da criação do recurso especial, na CF de 1988. Os principais textos relativos ao assunto, visualizados cronologicamente, desde a instituição do recurso extraordinário, demonstram essa afirmação.

[nota 2] Refiram-se: a) O Decreto n. 510, de 22-6-1890 (que valeu como primeira Constituição republicana), aludia ao cabimento de ‘recurso’ (art. 58, § 1º, a), desde que se ‘questionasse sobre a validade ou aplicabilidade de tratados e leis federais, e a decisão do Tribunal do Estado for contra ela’; subsequentemente, o Decreto n. 848, de 11-10-1890 (art. 9º, parágrafo único); Lei n. 221, de 20-11-1894; b) CF de 1891, art. 59, § 1º, a, redação originária; art. 60, § 1º, a e c (foi nesta Constituição, com a redação da Emenda de 1926, que se institui a hipótese de cabimento por divergência jurisprudencial); c) CF de 1934, art. 76, III e letras a e d; d) CF de 1937, art. 101, III e letras a e d; e) CF de 1946, art. 101 III e letras a e d; f) CF de 1967, art. 114, III e letras a e d; g) CF de 1967, redação da EC n. 1/69, art. 119, III e letras a e d.

No que tange ao recurso especial com fundamento na alínea c, inciso III, artigo 105 da Constituição Federal106, tal modalidade se fundamenta na busca da uniformização do entendimento da lei federal.

Por si só, a existência de divergência jurisprudencial não acarreta problemas. A grande gama de interpretações, aliada à possibilidade de mutação do Direito é o que enriquece o debate e permite uma melhor conclusão dos julgados.

O que é lesivo, como visto, é o excesso e a falta de controle que tal divergência proporciona, o que definitivamente abala a segurança jurídica garantida constitucionalmente, pois o resultado passa a ser incerto, o que sem dúvida contribui para o desprestígio da função jurisdicional.

O recurso especial com fundamento na alínea c vem como ferramenta capaz de dirimir a divergência, unificando os entendimentos na Corte Superior. Flávio Cheim Jorge107 ressalta o caráter “reunificador” do referido recurso.

106

“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: (...)III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: (...) c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe

haja atribuído outro tribunal”. Disponível em

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em 01 de agosto de 2011.

107

JORGE, Flávio Cheim. Recurso Especial com fundamento na divergência jurisprudencial. In NERY JR, Nelson, WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e de outras formas de impugnação às decisões judiciais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 378.

“Se com a publicação da lei pode surgir mais de um entendimento, com a interposição do recurso especial pela letra c, art. 105, III, da Constituição Federal será possível reunificar o entendimento correto da lei, afastando-se a diversidade de interpretações”. (grifos no original)

Neste sentido, assim ensina Athos Gusmão Carneiro108:

Busca-se, entre duas diferentes interpretações jurisprudenciais de uma mesma norma legal, fixar qual a exegese que corresponde à exata vontade da lei (num determinado momento e contexto históricos), para que essa exegese, além de sua imposição ao caso concreto, passe a servir como orientação aos tribunais de segundo grau, estaduais e federais, e aos magistrados em geral.

Para tanto, se faz necessário que a divergência de jurisprudência ocorra entre tribunais diversos, conforme inteligência da própria alínea c, do art. 105, III, da Constituição Federal.

Os embargos de divergência, por outro lado, alcançam a uniformização de divergências no Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça. Todavia, seu âmbito de atuação é

interna corporis, característica que vai de encontro ao recurso especial.

Um ponto convergente entre os institutos aqui comparados é a necessidade de atualidade da divergência. Tanto no recurso especial com fundamento na alínea c, inciso III, artigo 105 da Constituição Federal quanto os embargos de divergência possuem o requisito de ser a divergência atual.

Todavia, a atualidade da divergência não significa que o âmbito de atuação seja igualitário. A divergência no caso de recurso especial com fundamento na alínea c, inciso III, artigo 105 da Constituição Federal deve ser referente a interpretação de lei federal somente, não sendo cabível a discussão de norma constitucional, ao passo que nos embargos de divergência podem ser discutidas questões federais e constitucionais.

Uma diferença visceral diz respeito aos acórdãos passíveis de recurso. O recurso especial aqui comparado objetiva a jurisprudência externa, mediante a uniformização da jurisprudência em todo território nacional.

108CARNEIRO, Athos Gusmão. Recurso especial, agravos e agravo interno. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense,

Isto decorre da peculiaridade de o recurso especial pela letra c, art. 105, III, da Constituição Federal de 1988, ter por objetivo principal a unidade de interpretação de uma lei federal em todo o território brasileiro. Ou, por outras palavras, uniformizar a jurisprudência dos diversos tribunais dos Estados quanto ao entendimento de uma determinada norma legal, evitando-se que em cada Estado a lei seja aplicada de forma diferente109.

Fica clara a função de uniformização da jurisprudência do recurso especial, pois, com o fundamento na alínea c, inciso III, artigo 105 da Constituição Federal, o Superior Tribunal de Justiça evitará a interpretação do direito federal de maneira diferente pelos Estados.

Por outro lado, os embargos de divergência não se prestam a uniformizar a jurisprudência nacional, mas sim alcançar o entendimento interno do Supremo Tribunal Federal ou Superior Tribunal de Justiça e consequentemente unificar a jurisprudência dessas Cortes Superiores.

É válido ressaltar a diferença referente à classificação dos institutos. Em que pese ambos serem considerados recursos extraordinários em sentido lato, o mesmo não podemos aferir quanto à fundamentação.

O recurso especial é modalidade recursal de fundamentação vinculada, pois para sua interposição a lei prescreve a necessidade do preenchimento de determinados requisitos, sendo imprescindível a existência de acórdão e que haja violação à lei federal.

Já os embargos de divergência, como já estudado, são modalidade recursal de fundamentação livre, pois o seu conhecimento independe de determinado vício ou defeito na decisão, devendo apenas existir a divergência na interpretação de norma constitucional ou federal.

109

JORGE, Flávio Cheim. Recurso Especial com fundamento na divergência jurisprudencial. In NERY JR, Nelson, WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e de outras formas de impugnação às decisões judiciais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 382.

No documento O Cabimento dos Embargos de Divergência (páginas 50-54)