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Tribunais de 2º grau e juizados especiais

No documento O Cabimento dos Embargos de Divergência (páginas 93-96)

3. CABIMENTO DOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA

3.1 ACÓRDÃO EMBARGADO

3.1.11 Tribunais de 2º grau e juizados especiais

A doutrina223 já tratou sobre a controvérsia quanto ao cabimento dos embargos de divergência nas instâncias ordinárias. Joaquim de Almeida Baptista, Sônia Márcia Hase de Almeida Baptista224 e Marcelo Terra225, logo da edição da Lei complementar 35, de 1979, entenderam

223

Nesse sentido: SOUZA, Bernardo Pimentel. Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória. 3. ed. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 696-697; MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de

Processo Civil, Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Vol. 5: arts. 476 a 565. 15 ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2010, p. 282-283; TORREÃO, Marcelo Pires. Dos Embargos de Divergência: teoria e prática no

Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal. Porto Alegre: S. A. Fabris, 2004, p. 130.

224

“Assim, as normas da Lei Orgânica da Magistratura são auto-aplicáveis, e as regras do processamento estão contidas no parágrafo único do art. 546 do CPC e nos arts. 309 e ss. do Regimento Interno do STF. Absurdo seria não admitir o processamento de um recurso, com previsão em Lei, com o argumento de que não há previsão no Regimento Interno do Tribunal, que lhe cumpre julgar. A Lei não tem palavras inúteis, e se a Lei Orgânica da Magistratura impõe que ‘a cada Seção cabe processar os Embargos de Divergência’; esta norma é de aplicação imediata”. BAPTISTA, Joaquim de Almeida; BAPTISTA, Sonia Marcia Hase de Almeida. Os

embargos de divergências nas instâncias ordinárias. In RePro 26, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1982, p.

92.

225

“A possibilidade de soluções uniformes para questões idênticas, no próprio âmbito da Justiça loca, com isso compondo litígios com maior grau de celeridade e muitas vezes sem a busca custosa para as partes das vias recursais extremas, junto ao STF, aliviando-o de uma parcela ponderável de causas. (...) poderão ser interpostos os embargos de divergência sempre que presentes seus requisitos de admissibilidade, possibilitando que em outros processos o entendimento discrepe desse anterior”. TERRA, Marcelo.

pela extensão de atuação dos embargos de divergência perante os tribunais de justiça estaduais e regionais federais.

A referida discussão originou-se por conta da Lei Orgânica da Magistratura (Lei complementar 35 de 1979), ao aludir sobre a competência, âmbito de cabimento, processamento e julgamento dos embargos de divergência, ampliando sua abrangência para o Tribunal Federal de Recursos e os Tribunais de Justiça Estaduais, conforme visto no capítulo anterior.

Todavia, ainda àquela época, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal era patente ao concluir que a referida Lei complementar 35, de 1979, não criou o recurso, se limitando apenas a estabelecer regras de processamento, o que não alterou o cabimento dos embargos de divergência, permanecendo apenas no âmbito daquela Suprema Corte.

É o que concluiu Nelson Nery Junior226, ao afirmar que a regulamentação dos embargos de divergência na Lei Orgânica da Magistratura não significa concluir que a referida lei os tenha criado, não possuindo forças normativas para alterar o sistema existente.

Vale relembrar as palavras de Barbosa Moreira227 sobre o assunto:

Ninguém se animaria em sã consciência – tão defeituosa é a técnica da Lei Orgânica da Magistratura Nacional – a desprezar por absurda hipótese de puro e simples equívoco: teria o legislador redigido aqueles textos na errônea convicção de já existirem, com a presumida amplitude, os embargos de divergência. Outra explicação, que ocorreu não a poucos, é a de que a Lei Orgânica se limitara a fixar por antecipação a competência para o processamento e o julgamento de semelhantes embargos, se e quando fossem criados...

As Assembleias Estaduais não poderiam editar lei sobre criação de recursos, tendo em vista que a Constituição Federal conferiu competência privativa à União para legislar sobre matérias processuais, conforme regramento contido no art. 22, I, alínea a, CF. Também não

Embargos de divergência no tribunal de justiça. In Revista dos Tribunais 606. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 1986, p. 273.

226

NERY JUNIOR, Nelson. Princípios fundamentais – Teoria geral dos recursos. 5ª ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 92.

227 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil, Lei nº 5.869, de 11 de janeiro

poderiam os tribunais locais instituir recursos mediante regimento interno, pelo conteúdo do art. 96, I, alínea a, CF228.

A questão quanto aos juizados especiais surgiu antes da publicação da Lei 9.099 de 1995. Esta possuía no art. 47 uma autorização para criação de embargos de divergência mediante lei local, o que, como visto, configurava uma afronta grave ao texto constitucional, razão pela qual o artigo foi vetado.

Também não é possível entender como equivalentes os embargos de divergência e o incidente criado pela Lei 10.259, de 2001, a qual instituiu os juizados especiais federais. No incidente, cabe pedido de uniformização de interpretação da lei federal no caso de dissídio entre decisões de Turma recursal.

Em que pese possuir uma pseudo semelhança com os embargos de divergência, logo vemos as gritantes diferenciações entre os institutos. O art. 14 e seus parágrafos, da referida lei229, nos instrui que o referido incidente é cabível não só contra decisões divergentes entre turmas da mesma região, como também de outras regiões.

Estipula a criação de órgão específico para julgar o incidente decorrente de divergência entre decisões de turmas de diferentes regiões ou que contrarie súmula ou jurisprudência dominante do STJ, o qual cabe se manifestar caso haja provocação da parte.

228

SOUZA, Bernardo Pimentel. Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória. 3. ed. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 696-697.

229

“Art. 14 Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei federal quando houver divergência entre decisões sobre questões de direito material proferidas por Turmas Recursais na interpretação da lei. § 1º O pedido fundado em divergência entre Turmas da mesma Região será julgado em reunião conjunta das Turmas em conflito, sob a presidência do Juiz Coordenador. § 2º O pedido fundado em divergência entre decisões de turmas de diferentes regiões ou da proferida em contrariedade a súmula ou jurisprudência dominante do STJ será julgado por Turma de Uniformização, integrada por juízes de Turmas Recursais, sob a presidência do Coordenador da Justiça Federal. (...)§4º Quando a orientação acolhida pela Turma de Uniformização, em questões de direito material, contrariar súmula ou jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça – STJ, a parte interessada poderá provocar a manifestação deste, que dirimirá a divergência. § 5º No caso do § 4º, presente a plausibilidade do direito invocado e havendo fundado receio de dano de difícil reparação, poderá o relator conceder, de ofício ou a requerimento do interessado, medida liminar determinando a suspensão dos processos nos quais a controvérsia esteja estabelecida. § 6º Eventuais pedidos de uniformização idênticos, recebidos subsequentemente em quaisquer Turmas Recursais, ficarão retidos nos autos, aguardando-se pronunciamento do Superior Tribunal de Justiça. § 7º Se necessário, o relator pedirá informações ao Presidente da Turma Recursal ou Coordenador da Turma de Uniformização e ouvirá o Ministério Público, no prazo de cinco dias. Eventuais interessados, ainda que não sejam parte no processo, poderão se manifestar, no prazo de trinta dias. (...)”. Disponível em www.planalto.gov.br. Acesso em 10/01/2012.

O incidente permite o efeito suspensivo, a ser conferido pelo relator, caso exista a fumaça do bom direito e ainda fundado receio de dano irreparável. Ainda, prevê o sobrestamento dos processos em caso de pedidos de uniformização idênticos, e a permissão de manifestação de terceiros interessados, ainda que não sejam partes no processo, atos inexistentes nos embargos de divergência.

Marcelo Pires Torreão conclui que230: “a referida lei determinou a possibilidade de se pedir a uniformização jurisprudencial, mas não admitiu o recurso de embargos de divergência no âmbito dos Juizados Especiais Federais”. (grifo no original)

O referido incidente mais guarda relação com o incidente de uniformização, cabível nos tribunais estaduais e regionais federais e contra decisões equivalentes e conflitantes entre eles, estando a referida lei em harmonia com o sistema processual posto. No entanto, tais afirmativas não nos autoriza concluir que sejam equivalentes aos embargos de divergência.

No documento O Cabimento dos Embargos de Divergência (páginas 93-96)