• Nenhum resultado encontrado

Legislação e projectos de conservação

No documento Conservação ex situ do lince ibérico (páginas 84-88)

3. Lince Ibérico

3.2. Projecto de conservação do Lince Ibérico

3.2.1. Legislação e projectos de conservação

As primeiras medidas que foram desenvolvidas eram sobretudo proteccionistas, cingindo-se à criação de leis que visavam a regulação da actividade venatória. Estas eram generalistas e, como tal, não contemplavam apenas o Lince Ibérico. Assim, em 1967 foi decretada em Portugal uma lei que lhe concedia protecção parcial (Decreto n.º 46847 de14 de Agosto), mas com fraca execução. Em 1973 (Decreto de 5 de Outubro de 1973) e 1974 (Decreto-Lei n.º 354-A/74) foram criadas leis que incluíam a protecção do Lince Ibérico em Espanha e Portugal, respectivamente, impedindo a sua caça. Apesar da criação desta legislação, a caça furtiva de lince e o uso de armadilhas não selectivas, tanto para controlo de predadores como para captura de animais para consumo (como coelho-bravo), continuou a ocorrer em larga escala até aos anos 80, diminuindo progressivamente ao longo dos anos seguintes (Garc a-Perea, 2000; Rodr guez e Delibes, 2004).

Em Portugal, motivada pelos resultados obtidos por Palma, 1977 (apud Ceia et al., 1998) realizou-se a campanha "Salvemos o Lince da Malcata" (Figura 8) promovida pela LPN (Liga para a Protecção da Natureza), que decorreu entre 1979 e 1980. O seu sucesso esmagador levou à criação do Parque Natural da Serra da Malcata em 1981, numa tentativa de proteger os últimos linces ali residentes (Geraldes, 2009).

A nível internacional, o Lince Ibérico foi protegido pela Convenção de Berna em 1979 (Convenção relativa à Protecção da Vida Selvagem e dos Habitats Naturais da Europa; Council of Europe, 2019) como espécie pertencente ao Anexo II, que elenca as espécies de fauna "estritamente protegidas". O documento foi ratificado por Portugal pelo Decreto-Lei n.º 95/81 de 23 de Julho, tendo o mesmo entrado em vigor pelo Decreto-Lei n.º 316/89 de 22 de Setembro (ICNF, n.d.b). Mais tarde, foi incluído no Anexo I-A do CITES, em vigor em Portugal pelo Decreto-Lei n.º 114/90 de 5 de Abril (actualizado posteriormente pelo Decreto- Lei n.º 211/2009 de 3 de Setembro), que veio reforçar o enquadramento legal existente de

Figura 8 - Cartaz da campanha nacional “Salvemos o Lince e a Serra da Malcata”

protecção do Lince Ibérico (Palomares et al., 1995). Em 1992 é publicada a Directiva 92/43/CEE do Conselho, de 21 de Maio (conhecida como Directiva Habitats), relativa à preservação dos habitat naturais e da fauna e flora selvagens. Esta foi transposta parcialmente para o ordenamento jurídico português através do Decreto-Lei n.º 140/99 de 24 de Abril, que mais tarde é alterada e transposta na íntegra pelo Decreto-Lei n.º 49/2005 de 24 de Fevereiro. Esta directiva europeia estabelece a criação de uma rede de zonas especiais de conservação, denominadas Rede Natura 2000. Nela, o Lince Ibérico é listado nos anexos B-II (espécie prioritária) e B-IV (espécie que exige protecção rigorosa).

Em 1994 e 1995 foram aprovados 15 Projectos Life "Conservação do Lince Ibérico" (Figura 9), 14 em Espanha e um em Portugal, com o objectivo de efectuar actuações para a sua conservação:

- Portugal - Malcata, Vale do Guadiana, S. Mamede e Estuário do Sado, 1995 a 1996 (LIFE94 NAT/P/001058)

- Castilla y León 1994-1998 (LIFE94 NAT/E/001186 e LIFE95 NAT/E/004817)

- Comunidad de Madrid 1994-1998 (LIFE94 NAT/E/004808 e LIFE95 NAT/E/004821) - Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC) 1994-1998 (LIFE94

NAT/E/004809 e LIFE95 NAT/E/004820)

- Dirección General de Conservación de la Naturaleza (ex-ICONA) 1994-1998 (LIFE94 NAT/E/004810 e LIFE95 NAT/E/004819)

- Andalucia 1994-1998 (LIFE94 NAT/E/004811 e LIFE95 NAT/E/004818)

- Castilla-la Mancha 1994-1998 (LIFE94 NAT/E/004813 e LIFE95 NAT/E/004816) - Extremadura 1994-1998 (LIFE94 NAT/E/004814 e LIFE95 NAT/E/004815)

Em Portugal entre 1995 e 1997 decorre o Projecto Life “Conservação do Lince-ibérico” B4-3200/94/767 (Programa Liberne) ao longo do qual se realiza o censo das populações portuguesas, o estudo da espécie e a sensibilização das pessoas da região para a sua conservação (Castro e Palma, 1996; Ceia et al., 1998). No entanto, o relatório final deste trabalho tardou a ser tornado público, o que para alguns seria o reflexo da inacção das autoridades portuguesas face à problemática do lince e a cedência a pressões de interesses dos sectores agrícolas, florestais e sociais nas regiões onde esta espécie ainda estava presente (Neca, 2000).

Em 1998 é aprovado o projecto Life Lince/Extremadura - "Conservação de Lynx pardinus na Extremadura" 1998-2003 (LIFE98 NAT/E/005343).

Em 1999 em Portugal teve início o projecto Life "Recuperação do habitat e presas de Lynx pardinus na Serra da Malcata" (LIFE99 NAT/P/006423), que terminou em 2003. Em Espanha foi publicada em 1999 a Estrategia para la Conservación del Lince Ibérico (Lynx pardinus) en España (Arranz et al., 1999). No mesmo ano foi aprovado o projecto Life CBD/espécies - "Conservação de águia-imperial, abutre-negro, cegonha-negra e lince-ibérico em zonas privadas protegidas da Extremadura e de Castilla-La Mancha" 1999-2002 (LIFE99 NAT/E/006336).

Em 2000, foi adoptado por Portugal e Espanha o "Plano de Acção Europeu para a Conservação do lince-ibérico" por recomendação da Convenção de Berna, no âmbito do seu objectivo de conservação de grandes carnívoros a nível pan-europeu (Delibes et al., 2000). Nesse ano, como resultado do proposto na "Estrategia para la Conservación del Lince Ibérico (Lynx pardinus) en España", é publicado o "Plan de acción para la cría en cautividad del Lince Ibérico" que, entre outras acções, prevê a criação do 1.º centro de reprodução em cativeiro. A sua realização contou com a participação do ICN, tendo esta instituição assumido a disponibilidade de construir, no futuro, um centro de reprodução em Portugal.

Em 2001, a Resolução do Conselho de Ministros n.º 152/2001, de 11 de Outubro adopta a Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ENCNB) para vigorar até 2010. Esta tem vindo a ser renovada sucessivamente, estando vigente no presente e até ao ano 2030 pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 55/2018.

Apesar da criação de legislação a nível regional, nacional e internacional, as populações de Lince Ibérico continuavam em declínio, tendo atingido um mínimo histórico em 2002, revelado pelo censo publicado nesse ano. Estes números alarmantes tiveram como consequência a mudança do seu estatuto de conservação para CR ("em perigo crítico") nesse mesmo ano. Esta mudança fez soar o alerta, gerando uma onda de grande preocupação que propulsionou a criação de medidas adicionais e em maior escala, de forma a travar este declínio galopante. Assim, em 2002 é concedido a Espanha o projecto Life Lince "Conservação do Lince Ibérico nos Montes de Toledo-Guadalmena" 2002-2006 (LIFE02 NAT/E/8617). Também em 2002, a Comissão Europeia aprovou o programa Life Lince "Recuperação de populações do Lince Ibérico (Lynx pardinus) na Andaluzia" 2002-2006 (LIFE02 NAT/E/8609) (Figura 9), onde sobreviviam as últimas populações reprodutoras de Lince Ibérico (Simón et al., 2012, pág. 130). Em 2006 foi-lhe dada continuidade com o projecto Life Lince "Conservación y reintroducción del Lince Ibérico en Andalucía" (LIFE 06 NAT/E/000209) executado de 2006 a 2011 (Figura 9).

Também em 2006 teve início o Projecto Life Lince no Sítio Moura/Barrancos 2006- 2009 (LIFE06 NAT/P/000191) que visa a recuperação do habitat e presas do Lince Ibérico.

A 31 de Agosto de 2007 é assinado, em Lisboa, o Acordo de Cooperação entre a República Portuguesa e o Reino de Espanha relativo ao Programa de Reprodução em cativeiro do Lince Ibérico. Este acordo foi aprovado pelo Decreto n.º 50/2008, de 20 de Outubro. Também em 2007 é assinado o "Pacto Ibérico pelo Lince" entre os Ministérios do Ambiente de Espanha e Portugal (Europa Press, 2007; Lynxexsitu, 2007) e Espanha aprova a Estrategia Nacional para la Conservación del Lince Ibérico II, que publica no ano seguinte.

Em 2008, em Portugal, é produzido o Despacho n.º 12697/2008 que estabelece o "Plano de Acção para a Conservação do Lince Ibérico em Portugal (PACLIP) (2008-2014)", cuja renovação foi aprovada pelo Despacho n.º 8726/2015 pelo período 2015-2020.

Entre 2010 e 2014 foram implementadas medidas de protecção no âmbito do Projecto Life Habitat Lince Abutre - "Promoção do Habitat do Lince-ibérico e do Abutre-preto no Sudeste de Portugal" (LIFE08 NAT/P/000227), para benefício destas espécies e da sua presa comum, o coelho-bravo e respectivo habitat.

Em 2011, tem início o primeiro Projecto Life+Iberlince: "Recuperação da distribuição histórica do Lince Ibérico em Espanha e Portugal" (LIFE10 NAT/ES/000570) (Figura 9) em vigor pelo período 2011-2018 (El Diario, 2019).

Em 2014 é assinado o "Pacto Nacional para a conservação do Lince Ibérico", que visa criar condições que viriam a permitir a reintrodução desta espécie em Portugal (Lusa, 2014). Nesse ano também é concedido financiamento pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) ao projecto PRO-IBERLINX – Proteção e Conservação do Lince Ibérico (0319_PRO_IBERLINX_6_P), no âmbito do Programa de Cooperação INTERREG V A Espanha - Portugal (POCTEP) 2014-2020, com um período de execução que vigora entre 2015 e 2019.

No documento Conservação ex situ do lince ibérico (páginas 84-88)