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4. Estágio no CNRLI

4.3. Estágio

4.3.5. Pós-parto

Nas primeiras 24 horas após o parto as fêmeas mão saem da caixa e não respondem ao maneio. Durante esse período, o maneio será o mais breve possível (apenas administração de medicações) e não se fazem alimentações, incluindo para a fêmea que pariu. Posteriormente, deixa-se coelho sacrificado e eviscerado junto a uma porta do cercado de forma a perturbá-la o menos possível. Sendo uma fase de elevado requerimento energético, é fundamental disponibilizar alimento suficiente para a mãe e, com o passar do tempo, também para as crias. Portanto, as alimentações continuam a ser ad libitum, com dois coelhos por dia.

Após o parto tem início o preenchimento da ficha de cuidados maternais (informatizada, Figura 20 A). Esta consiste no registo contínuo do comportamento de lactação das crias, anotando as variações no número de crias que vão mamando. A amostragem faz-se em sessões de 30 minutos a intervalos de uma hora durante as primeiras 72 horas após o parto, a cada duas horas entre as 72 horas e 8 dias pós-parto e, a partir daí, as sessões passam a ser a cada 4 horas, terminando no 30.º dia pós-parto. Este registo permite uma avaliação, em tempo real, do tempo que as crias passam nos mamilos, potencialmente mamando (Grancho, A.M., comunicação pessoal, 21 de Junho, 2019). Sob a mesma amostragem (Figura 20 A), e no âmbito de projetos a decorrer, faz-se um registo do comportamento de allogrooming da mãe, identificando quando o mesmo é dirigido ao corpo ou aos genitais, e o registo da utilização do espaço pela mãe nas suas saídas do ninho. Durante estas saídas, registam-se também, numa ficha para o efeito (de preenchimento manual; Figura 20 B), os comportamentos mais relevantes da mãe e das crias (Grancho, A.M., comunicação pessoal, 21 de Junho, 2019). Portanto, assim que começa a sair da CP faremos o registo de cuidados maternais e uso do espaço, em simultâneo com fichas de tempo sem mãe e de registo de eventos (que prossegue; Figura 17), ambas de preenchimento manual, mais anotações nos cadernos.

Figura 20 – A: Ficha de registo informático de lactação e allogrooming (exemplo preenchido). B: Ficha para registo manual do tempo sem mãe (exemplo preenchido).

As crias de Lince Ibérico nascem totalmente dependentes da mãe (são semi-altriciais) e, portanto, é fundamental acompanhar os cuidados maternais imediatamente a seguir ao parto. Estes consideram-se adequados quando a fêmea lambe o corpo e os genitais da cria e permite que elas mamem. São considerados inadequados e pondera-se intervir quando ocorre:

- abandono das crias: a mãe não presta cuidados mesmo quando estas apresentam boa vitalidade; a decisão será tomada em função da vitalidade que apresentem, das condições climáticas e da evolução dos comportamentos da mãe; ter especial atenção com as fêmeas primíparas, uma vez que podem apresentar menor instinto maternal e maior taxa de abandono, e a fêmeas que podem estar mais ansiosas e, portanto, menos capazes de perceber o que devem fazer e maior tendência a exibir conflitos maternais (Grancho, A.M., comunicação pessoal, 21 de Junho, 2019).

- canibalismo: a mãe mata e ingere total ou parcialmente crias vivas, podendo ocorrer após o parto ou mais tarde; é comum ocorrer nesta espécie no caso de crias que nasçam mortas ou que morram após o parto, impedindo, assim, que entre em decomposição na caixa.

B A

- também se poderá intervir caso a mãe apresente sinais de mamite (mais frequente em primíparas) e caso vejamos que alguma cria apresenta sinais de fraqueza ou subdesenvolvimento, mesmo com bons cuidados maternais. Estas crias podem ser levadas para a criação artificial e, mais tarde, devolvidas à mãe.

Além disso, temos que prestar particular atenção a crias que aparentem ter algum problema, observando certos comportamentos, nomeadamente: crias pouco activas; que não demonstrem a capacidade de rodar sobre si, reposicionando-se; que não busquem activamente os mamilos da mãe; que não vocalizem; que se mantenham afastadas da mãe/irmãos e que não procurem o contacto com eles.

Ontogenia (fases de desenvolvimento das crias; Figura 21)

As crias nascem com determinadas características do período neonatal: - não termorregulam;

- até ao 4.º-5.º dia não tremem com frio; - exibem termotropismo;

- apresentam reflexo de sucção;

- apresentam reflexo de reposicionamento, rodando sobre si quando em decúbito dorsal;

- procuram o contacto com a mãe e irmãos, sobrepondo-se ou “furando” entre os irmãos com o focinho;

- não apresentam reflexo de vómito até ao 10.º dia; - nascem sem dentes;

- estão dependentes de estimulação da região perineal para urinar e defecar.

Sendo o Lince Ibérico uma espécie semi-altricial, as crias apresentam características físicas distintivas ao nascer, nomeadamente:

- olhos fechados;

- canal auditivo fechado e orelhas caídas; - garras protrusas e não-retráteis;

- revestidos de lanugem (pêlos densos, macios, finos e compridos);

- manchas de pêlo denso de cor castanha escura na cabeça, dorso, flancos e patas - musculatura dos membros pouco desenvolvida e, por isso, incapazes de suportar o seu peso corporal e de caminhar, rastejando para se deslocar;

Figura 21 – Ficha de ontogenia do Lince Ibérico.

À medida que vão crescendo, vão adquirindo e melhorando as suas capacidades motoras, perdem a lanugem, abrem o canal auditivo e os olhos (que inicialmente são azuis e gradualmente mudam de cor para amarelo-esverdeado), sobem as orelhas, nasce a dentição decídua, as almofadas plantares mudam de cor para castanho e as unhas tornam-se retrácteis

(Yerga, Calzada, Manteca, Vargas, e Rivas, 2014). As datas em que se verificam estas metas de desenvolvimento são registadas numa ficha própria (Figura 21) de forma a acompanhar a progressão de cada uma das crias. Nas primeiras três semanas, as crias desenvolvem a capacidade de ver, ouvir e manter-se de pé. Estas competências vão permitir-lhes, inicialmente, interagir e brincar (jogo social) com a mãe e o(s) irmão(s), se for o caso. Mais tarde, estas capacidades vão ser-lhes essenciais para explorar o ambiente fora da caixa parideira. As primeiras saídas dão-se com, aproximadamente, um mês de vida (Yerga et al., 2014), são de curta duração e têm lugar apenas à entrada da mesma, que coincide com a primeira apresentação de coelho pela mãe (Yerga, 2015). Coincidindo com esta fase, no dia 30 pós-parto, realiza-se o primeiro check-up veterinário das crias (vide infra). A partir da 4.ª semana e durante o 2.º mês de vida, o sistema locomotor vai permitindo padrões de movimento mais complexos, começando a surgir, de forma encadeada e por esta ordem, jogo locomotor, com objecto e predatório (em média nos dias 55, 59 e 61, respectivamente) (Yerga, 2015). É também durante este período que estabelecem o normal ritmo circadiano da espécie (Yerga et al., 2015). Com o passar do tempo e com incentivo materno, vão-se familiarizando com o meio exterior e ganhando confiança, fazendo excursões cada vez mais longas e afastadas do ninho. Eventualmente, nesta fase, a mãe pode mudar as crias de caixa parideira, como foi o caso da Fruta (5 semanas). De seguida, o período entre as 5 e as 10 semanas (com maior probabilidade entre as 6 e 8 semanas) de vida marca uma fase importante do seu desenvolvimento que se caracteriza por interações agonísticas entre irmãos de ninhada.

No documento Conservação ex situ do lince ibérico (páginas 117-121)