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A liberdade da memória pessoal aberta aos sinais e reflexiva pela consciência

No documento celeideagapitovaladaresnogueira (páginas 190-200)

3.4 A Experiência Religiosa do eixo do amor ancorada na Memória

3.4.5 A liberdade da memória pessoal aberta aos sinais e reflexiva pela consciência

É uma constante nas falas dos fiéis aqui entrevistados a relevância da memória pessoal aberta e reflexiva como dialética. A abertura ao sagrado ou hierofanias na concepção destes

308 “‘Mais-vida, Mais-que-vida’. Expressões cunhadas por G. Simmel para indicar, respectivamente o processo da vida e as formas às quais ele dá ensejo. Como ‘Mais-vida’ a vida é o processo que supera continuamente os limites que impõe a si mesma. Como ‘Mais-que-vida’ a vida é o conjunto das formas finitas que emergem do processo vital e a ele se contrapõem (Lebensanschauung, 1918, p.22-23)”. ABBAGNANO, Nicola. Op.cit., p.736.

fiéis implica num saber intuitivo do mundo que lhes conferem um sentido existencial em meio à caoticidade da existência humana. Para além de um saber calcado na racionalidade o saber intuitivo do fundo da vida é um saber que requer uma abertura afetiva ao mistério. O mistério da paixão de Cristo, para estes fiéis, não necessita de uma comprovação da sua ressurreição. É um confiar e entregar-se sem medida na gratuidade do mistério. Por isto, confiam na ressurreição de Jesus e sentem um fascínio pelo seu modelo arquetípico existencial como uma possibilidade de ascensão a uma vida de plenitude e a eternidade.

A memória referida pelos fiéis aqui abordados se embrenha para além da memória da tradição ou histórica a uma memória afetiva, pessoal e reflexiva. Uma memória da profundidade do si mesmo essencial e elemental. Como dito por todos fiéis aqui entrevistados, há um momento do culto em que exercem uma anamnese pessoal dos atos, angústias, aflições, preocupações, etc. Em especial, o momento da penitência é bem citado como bem propício para a introspecção consigo mesmo e Deus numa panorâmica dos fatos ocorridos durante a semana que passou. Eliade apontou que o sagrado se nos revela através dos sinais – ao que ele chamou hierofania. É preciso, no entanto, estar atento para captar estes sinais que, a todo o momento, comunicam uma direção para a condução existencial:

Aquilo que acontece durante o culto extrapola, extrapola por tudo e por toda a minha vida. Eu vejo, ou melhor, percebo isto pelos sinais, como se Jesus se manifestasse nestes sinais. Às vezes, num encontro com uma pessoa no cotidiano me dá a resposta como um sinal para escolher entre dois caminhos. Através de sinais no cotidiano Jesus se manifesta, pode ser uma pessoa, uma palavra ou uma lembrança. De vez em quando, me lembro de alguma passagem dos evangelhos. Uma vez estava passando por um problema e abrindo a Bíblia caiu num Evangelho que me deu resposta a minha dúvida. (ANEXO 1, Questionário 4)

O homo religiosus, como já dito por Eliade, é um ser de abertura aos sinais cósmicos. Ele não centra a sua existência na existencialidade humana. Isto é um projeto da modernidade que centra e esgota todas as possibilidades num humanismo arraigado à própria racionalidade humana circunscreve a existência apenas ao âmbito do racionalizável, desconsiderando a veia mística ou experiencial do transcendente pelo ser humano. Fechado no universo exclusivamente da racionalidade este ser humano fecha-se a qualquer via intuitiva do real.

Antes, o homo religiosus é uma alma aberta aos sinais cósmicos e ao mistério transcendente. Sua consciência lhe dá o descortinar de outra realidade para além do real ilusório das convicções e paixões humanas excluindo qualquer possibilidade de avanço para além desta vida. Um sentimento que lhe dá a mirada para além da sua própria condição

limitada, e por que lhe diz estar no mais fundo da caverna da alma, um vínculo em que se assemelha a Deus. Daí um projeto trans-humano e utópico é a proposta da vivência do mistério do sacramento eucarístico que está ancorado na própria essência humana que é a vivência do vivido do amor trans-humano de Deus.

Talvez, não como pensou a filósofa Danièle Hervieu-Léger, a ancoragem do cristianismo não se dê apenas pela memória da tradição ou pela memória coletiva. Mas, está ancorado numa memória pessoal introspectiva e afetiva aberta aos sinais cósmicos e aos que a existência podem lhe oferecer. O cristianismo vai desenvolver na contemporaneidade as “comunidades de sentido”, como a própria Hervieu-Léger já entreviu e refletiu em sua obra La religion pour mémorie. O universo do contexto do cristianismo aqui pesquisado está fundamentado no projeto comum de pertença a uma comunidade de sentimento: uma empatia. Outrora calcado em uma meta-narrativa o cristianismo está fadado à desconstrução daquele modelo construído historicamente. Modelo fundamentado nas doutrinas e dogmas reverteu-se para se fundamentar na prática individual e comunitária do evangelho. Retomando o sentindo do cristianismo primitivo como Koinonia. É relevante o aspecto da vivência e do sentimento como preponderante para a experiência religiosa:

O sentido em participar do culto eucarístico é a pertença a uma comunidade que, quando eu caio e regrido na fé, me espelho no exemplo dos outros que estão unidos em busca do bem comum. Isto me dá força e esperança para não desistir. Seguir em frente com a fé em Jesus como o salvador. É maravilhoso, Deus nos deu o seu filho Jesus e este sofreu e morreu na cruz, então porque vamos desanimar com os sofrimentos. Se Deus doou o seu filho para sofrer para nos salvar, o que é o nosso sofrimento diante disso. E, às vezes, eu me desanimo e a minha fé baqueia, mas vejo o exemplo de vida de outros irmãos que permaneceram no caminho de Jesus e são tão prósperos, isto é, o motivo e exemplo para continuarmos. (ANEXO 1, Questionário 4)

O reflexo da vivência comunitária e do exemplo da cruz como estrada proposta por Jesus é retomada pela memória pessoal reflexiva destes fiéis. O élan da comunidade serve como ânimo em se ver participando de um projeto existencial em comunhão no amor com todos os demais. E, a vida do Jesus histórico, modelo arquetípico a ser seguido é uma estrada que se faz na via do caminho. Um caminhar que conta sempre com o auxílio da memória reflexiva sobre a história e as palavras sagradas dos Evangelhos.

A estrada não é, porém, circular. Ela é o caminho. Em cada novo Éon, a fatalidade se torna mais opressora, a conversão mais assoladora. E a teofania se torna cada vez mais próxima, ela se aproxima sempre mais da esfera entre seres, se aproxima do reino que se oculta no meio de nós, no “entre”. A história é uma aproximação misteriosa. Cada espiral do caminho nos conduz igualmente a uma perdição mais profunda e a uma conversão mais originária. Porém, o evento que do lado do mundo se chama conversão, do lado de Deus se chama redenção.309

“Cada espiral do caminho”, como diz Bubber, é um avanço no processo evolutivo. Processo evolutivo para a consciência cosmoteândrica crística como pensou Teilhard Chardin. A mola propulsora é o eixo do amor instaurado pelo kairós da figura histórica de Jesus Cristo. E, principalmente, com o momento fundacional da Santa Ceia, esta se torna um eixo e o coração da Igreja que formará anos a fio no decurso histórico o corpo místico de Cristo.

Não será por isto que o próprio Jesus usou o recurso do símbolo na Santa Ceia? Para que assim fosse dada às gerações vindouras a liberdade de ressignificação. A palavra é viva e dinâmica: “O logos se fez carne”. A palavra viva do evangelho é o modelo arquetípico de Jesus, da história de vida de Jesus inserida numa historicidade, e não mais um tempo antes do tempo histórico.

Sendo assim, entra em cena a interpretação da liberdade humana e o ser humano torna- se co-criador da história. Deslocando para uma narrativa histórica onde o ser humano é parceiro e aliado com Deus. Diferentemente do mito antes da história, que não dava ao homo religiosus primevo o direito de escolha entre ser religioso ou não. Com o cristianismo, esta lógica é rompida, dando ao ser humano entre a busca de uma religiosidade ou viver a laicidade e até mesmo o ateísmo.

Jesus não disse: “Fora da Igreja não há salvação”. Ele disse entreatos: fora do amor não há salvação no mandamento primeiro: “Amar a Deus como todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo”. Quando ele diz: “Ninguém vem ao pai senão por mim”. Podemos interpretar que se trata da natureza crística impressa como centelha na consciência humana. Somente através dessa centelha o ser humano consegue ascender ao nível do humanismo nas fibras da sua raiz, tornado-se assim, em um sentimento trans-humano. Um existencial sobrenatural que é próprio mesmo da natureza humana que está no fundo d’alma.

Fazer memória do amor de Cristo doado na gratuidade é onde se encontra ancorada a comunidade de fé. Ali onde há uma acolhida e amparo na força e misericórdia do amor de Deus. O eixo do amor é, para os fiéis, uma orientação em meio ao dualismo da existência. Ali, na rememoração da Ceia do Senhor – a ceia fundante – desta doação de amor encontram um

alicerce e um porto seguro onde as impermanências da existência deixam de existir como aporia e a comum-unidade no Espírito Santo do amor de Deus é um viver co-natural.

As aporias se diluem e homem, mundo e Deus – por um instante ou feixe de luz – se unem em perfeita harmonia numa sinfonia cósmica e universal, dando ao ser humano a “Experiência Céu dentro da gente...”.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

À luz dos dois teóricos da fenomenologia aqui revisitados como aporte teórico da nossa pesquisa, Rudolf Otto e Mircea Eliade, descrevemos a partir de uma hermenêutica do sacramento da eucaristia como se mostra o fenômeno ainda hoje nas igrejas pesquisadas. Dois conceitos centrais destes referidos autores hierofania e numinoso foram exaustivamente revisitados como facilitadores de análise do fenômeno. Estes dois termos foram de grande auxílio para descrevermos o fenômeno, para que não enaltecessem apenas o viés teológico, ou seja, enquanto pensa a tradição da teologia eucarística. Mas, um meio profícuo para avançar numa hermenêutica e metodologia em suas especiais facetas, numa compreensão do fenômeno da eucaristia para que revelasse nuances ainda pouco exploradas.

O que se revela à consciência humana como numinoso ou ganz andere é o apriori apriorístico da experiência religiosa. Estas hierofanias permeiam e perfazem a existência do ser humano dando-lhes o sentimento de estar diante de algo para além deste mundo, mas que é efetiva presença neste mundo mesmo: a gratuidade e a generosidade de um amor trans- humano.

No segundo capítulo, ao discorrermos sobre a evolução histórica da eucaristia e sobre as experiências religiosas de Francisco de Assis e Teilhard Chardin vimos como esta vivência radical do amor de Deus desnuda uma realidade que apenas é uma questão de educar o olhar, porque tudo e todos estão embriagados de Deus. No entanto, como nos disse Otto, é necessário despertar esta disposição sentimental e isto se dá por uma empatia sentimental. Não é algo aprendido no catecismo ou nos dogmas, mas que pode se fazer despertar no ser humano “de coração para coração”. Um acontecimento que se dá por um estado de alma em que o ser humano é tocado por conta da sua pré-compreensão intuitiva ao qual Otto chamou um princípio endógeno ou espírito co-depoente. A sintonia do homem com Deus, uma tonalidade afetiva ou predisposição sentimental pode propiciar o acontecimento, no entanto, não deriva única e exclusivamente da vontade humana, a manifestação é dada a partir da manifestação do numinoso.

Outro aspecto, com relação ao segundo capítulo, é a grande questão sobre a transubstanciação, um ponto nodal que foi exaustivamente debatido no decorrer da evolução histórica da eucaristia: presença real simbólica ou presença real fisicista? Os fiéis aqui entrevistados mostraram que é real mesmo, porque é vivido pela consciência humana como algo que lhe dá a certeza substancial de seus efeitos práticos do numen em suas vidas

cotidianas como um saber intuitivo do mundo. Isto se revela em suas vidas diárias, nas pequenas coisas do cotidiano, durante suas caminhadas existenciais como algo real. Não importa se é simbólica ou presença real fisicista, o que importa para estas pessoas é que sentem como real. Aqui, o que realmente importa, é a experiência religiosa de um sentimento trans-humano, possível de ser comprovado apenas por aqueles que fazem a experiência do vivido, no âmbito do sentimento, é o vivido hierofanicamente no âmbito do sentimento. A experiência religiosa pela eucaristia é uma vivência íntima e pessoal com o numinoso. Isto torna a questão sinal/realidade sem relevância, o cerne da experiência religiosa é sentido no fundo d’alma pelos fiéis, que depois comprovam os seus efeitos positivos em suas vidas práticas, e em seu ser como um todo.

O propósito deste trabalho foi investigar o sentimento do fiel católico quando participa do rito eucarístico. O motivo intencional desta pesquisa também foi investigar se o rito católico eucarístico, após dois mil anos desde a sua fundação, da proposta jesuânica de communio e koinonia se deixou de ser algo realmente significativo para o fiel. Ficou evidenciado que a tradição que perpetuou como significativa para a práxis do sacramento da eucaristia é que esta é efetiva realidade experiencial do amor do Deus e/ou Jesus como um arretón vivo. Uma realidade e verdade que se deu no âmbito do vivido sentimentalmente pelo fiel, contrariando algumas ideologias que o fiel católico está atrelado a um dogma instituído pela igreja católica. No decorrer do quarto capítulo foi demonstrada a profunda vivência deste sacramento como práxis dialética entre o culto e o mundo da concretude cotidiana, dando sentido e condução às ações humanas. Para além, do que se proclamou de uma vida de felicidade plena num futuro escatológico, como reza a tradição teológica cristã, os fiéis sentem o céu dentro deles mesmos aqui, quando participam da eucaristia. O sentimento de união e comunhão com Deus, com algo maior que lhes dão a certeza de estar diante do sagrado ou numinoso.

O sentimento do fiel católico, no contexto das comunidades pesquisadas, demonstrou estar o fiel em sintonia com o culto como ortopraxia. O sentimento de fundo que os move a participarem da celebração eucarística não é porque é uma imposição dogmática da igreja, mas uma livre adesão pessoal no âmbito sentimental afetivo ou uma consciência afetiva.

Em nossas observações ficou evidenciado que o perfil do fiel católico no contexto aqui investigado mostra que, atualmente, há uma busca por uma empatia com o culto onde frequentam. Por isto, os fiéis migram por entre as comunidades na busca de sentir o poder ou força através do culto, no sentido que estes buscam as comunidades que mais lhe dizem ao sentimento e a empatia. Como no caso da fiel Raquel, que sai de um bairro da periferia da

cidade para assistir a missa no centro da cidade. Esta fiel mora no Bairro da Glória e trabalha no centro da cidade, nas proximidades da Igreja São Sebastião e só assiste missa nesta paróquia. Como ela mesma disse: “Na igreja do bairro onde eu moro não sinto nada com o sermão do padre. Aqui, com o padre Geraldo, eu sinto algo diferente, sinto uma força. Aqui eu me encontro. Aqui eu me encontro...” (ANEXO 1, Questionário 3).

Assim também, o caso do senhor João Batista outro fiel que mora no bairro Poço Rico e vai todas as semanas assistir missa na São Sebastião, porque lá se sente bem quando encontra os amigos de muitos anos. Frequenta a paróquia há mais de 40 anos.

Outro fator preponderante na hora da escolha da paróquia está a figura do sacerdote. A importância dada à palavra proferida pelo sacerdote durante a homilia. Na fala destes fiéis a homilia tem que tocar profundamente os seus corações para sentirem a força do culto. A missa é um conjunto e, no seu todo, há uma harmonia entre as partes para o fiel, como nos relata Raquel: “O todo da missa é tudo! Não tem como diferenciar do Evangelho e da Eucaristia. Tudo é significativo!” E, como procura explicar-nos Raquel a figura do sacerdote faz parte desse conjunto, sendo importante a empatia do fiel com ao padre: “Aqui eu já me encontro porque eu presto muita atenção no que o padre Geraldo está falando, porque eu gosto dele eu acho que ele fala profundo. Quando eu sinto que a pessoa não fala profundo, não me toca aí eu fico dispersa. Aqui sim. Mas, se eu for na igreja da Gloria, é aquela coisa assim, sabe? Não é a mesma coisa” (ANEXO 1, Questionário 3). Pergunto à Regina se ela acha a figura do padre importante na celebração eucarística, e em suas palavras: “Ah, o padre Geraldo é uma pessoa maravilhosa! Ele nos leva a Deus. Deus é maior que tudo. Mas, um padre é muito importante na comunidade” (ANEXO 1, Questionário 2). Ainda, que eles – os fiéis – considerem o sacerdote apenas um mediador de Deus no culto, a segurança e a empatia no discurso do padre é algo importante para que aconteça a empatia entre o fiel e o sacerdote.

Entrementes, em nossas entrevistas e questionários ficou evidenciada a via introspectiva do fiel na relação com o numinoso como o apriori aprorístico da experiência religiosa. Esta via introspectiva de um retorno aos recônditos d’alma se dá no âmbito da inter- relação individual do ser humano com a experiência eucarística. Consequentemente, afloram sentimentos na alma humana que a impele a arroubos benevolentes de doação de amor ao próximo. O sentimento de empatia com o numinoso ou amor misericordioso de Jesus durante a celebração eucarística em comunidade perpassa o ser humano com uma energia jamais explicada com categorias da linguagem humana. Há uma limitação humana para arranjar categorias que expressem o sentimento humano diante do sagrado. O fiel católico capta os sinais de Deus pelo sentimento ou órgãos sensoriais como audição, visão, coração sem uma

comprovação como nos moldes clássicos pelos quais entende a ciência que alia sujeito e objeto. Aqui, o objeto é inacessível e inominável.

Todavia, na fala destes fiéis, é um saber e uma certeza que têm através da fé porque eles recebem sinais significativos para condução da concretude do real existencial. Não permanecendo o sentimento vivido da presença real de Jesus como uma mera abstração ou projeção metafísica, mas inolvidável presença sentida como verdade. A revelação acontece em suas vidas cotidianas como “um quê” que lhes dá a certeza da presença de Deus. Aquela força (orgé) sentida por todo o seu coração e o seu ser no íntimo, ou fundo d’alma, não fica restrita ao momento cultual. Transborda em toda a sua vida cotidiana na relação com as vicissitudes da vida dando-lhes orientação no trabalho, na educação dos filhos, na relação interpessoal com os seus semelhantes. Esta vivência do amor com “um quê” divino eleva os sentimentos humanos para os mais sublimes sentimentos de misericórdia, amor ao próximo, doação que os levam a ascensão do sentimento de estar no “céu”. Simbolicamente, o “céu” é o lugar onde o ser humano, no encontro com o amor divino, rompe e transpõe o mal radical, ao qual na compreensão teológica cristã é chamado pecado. O céu torna-se efetiva presença aqui mesmo. Jesus, nos encontros semanais com os fiéis, segundo as narrativas destes fiéis, deixa a sua marca em suas vidas. Havendo, por isto, a transformação pessoal da vida individual. Sentindo uma leveza, paz interior, amor como se habitassem o céu, aqui mesmo na terra.

A perspectiva da experiência religiosa de acordo com a reflexão de Rudolf Otto, em O Sagrado, do ser humano apriori com o numinoso que reflete em seguida uma atitude ética pode ser comparada à eucaristia. Num primeiro momento, o fiel sente individualmente o sentimento do numinoso que, num segundo momento, transborda numa ética comunitária. A necessidade de compartilhar e doar o amor, alegria, paz e benefícios reparadores recebidos durante a celebração eucarística. Como se aquela força ou energia (orgé) não pudesse ficar contida, o fiel tem necessidade de expansão daquela energia recebida durante a missa. Transforma-se na efervescência da celebração no momento cultual na vontade de abraçar, beijar e expandir aquela energia. No momento da paz na missa isto fica latente.

No documento celeideagapitovaladaresnogueira (páginas 190-200)