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Ligação de Péptidos a Moléculas MHC

No documento Imunologia-SEBENTA.pdf (páginas 51-55)

As moléculas MHC apresentam uma ampla especificidade para a ligação a péptidos, em contraste com a grande especificidade de reconhecimento de antigénios pelo receptor de antigénios dos linfócitos T e existem várias caracteristicas importantes da interacção das moléculas MHC com os péptidos antigénicos:

 Cada molécula MHC classe I e classe II apresentam uma única fenda de ligação a um péptido péptido, mas cada moléculas MHC pode ligar-se a diferentes péptidos;

 Os péptidos que se ligam a moléculas MHC partilham caracteristicas estruturais que promovem esta interacção;

 A associação de péptidos com moléculas MHC é um processo saturável e muito lento;

 As moléculas MHC de um individuo não são capazes de discriminar entre péptidos estranhos e péptidos derivados de proteinas desse individuo.

A habilidade das moléculas MHC ligarem diferentes péptidos foi estabelecida por diferentes evidências experimentais:

1. Se uma célula T especifica para um péptido for estimulada por células apresentadoras de antigénios que apresentam esse mesmo péptido, a resposta é inibida pela adição de excesso de um outro péptido com semelhança estrutural. Nestas experiências, a molécula MHC liga diferentes péptidos mas a célula T reconhece apenas um desses péptidos;

2. Estudos de ligação directa com moléculas MHC purificadas em solução estabeleceram que uma única molécula MHC consegue ligar diferentes péptidos (um de cada vez) e que multiplos péptidos competem entre si para a ligação a uma única molécula MHC;

3. As análises de péptidos eluidos de moléculas MHc purificadas de células apresentadoras de antigénios mostraram que diferentes péptidos podem ser eluidos de qualquer tipo de molécula MHC.

A determinação da estrutura cristalina das moléculas MHC classe I e classe II confirmou a presença de uma unica fenda de ligação a péptidos nestas moléculas. Não é supreendente que uma única molécula MHC seja capaz de ligar multiplos péptidos porque cada individuo contem apenas algumas moléculas MHC diferentes (6 moléculas classe I e cerca de 10-20 moléculas classe II num individuo heterozigótico), e essas devem ser capazes de apresentar péptidos de um numero enorme de proteinas antigénicas.

Os péptidos que ligam moléculas MHC partilham caracteristicas estruturais que promovem a interacção destes com as moléculas MHC:

1. Moléculas classe I conseguem acomodar péptidos com um comprimento de cerca de 8-11 residuos e moléculas classe II ligam péptidos que podem ter cerca de 10-30 residuos ou mais, sendo o tamanho óptimo 12-16 residuos;

2. Péptidos que se ligam a uma forma alélica particular de uma molécula MHC comtêm residuos de aminoácidos que permitem interacções de complementariedade entre o péptido e essa molécula MHC;

3. Os residuos que um péptido que ligam à molécula MHC são distintos dos reconhecidos pelas células T.

Numa célula, várias chaperones e enzimas facilitam a ligação do péptido a moléculas MHC. Quando formado, a maior parte dos complexos péptido-MHC são estáveis, e as constantes cinéticas de dissociação são indicativas de tempos de semi-vida longos, que variam entre várias horas a dias:

 Esta taxa de dissociação tão baixa permite que os complexo péptido-MHC persistam tempo suficiente na superificie da célula apresentadora de antigénios para que estes sejam reconhecidos pelas células T;

 Esta caracteristica da apresentação de antigénios permite que as poucas células T que são especificas para o antigénio localizem-no enquanto as células circulam pelos tecidos e, assim, gerar respostas imune eficientes contra o antigénio.

Com as moléculas MHC não são capazes de distinguir entre péptidos estranhos e péptidos do próprio, apresentam tanto péptidos do próprio como péptidos estranhos e as células T examinam esses péptidos para a presença de péptidos estranhos. Este processo é central para a função de vigilância das células T. No entanto, a incapacidade das moléculas MHC discriminarem entre antigénios próprios e estranho levanta duas questões:

1. Como as moléculas MHC são continuadamente expressas expostas a, e presumivelmente ocupadas por, péptidos do próprio abundantes, como é que as suas fendas de ligação a péptidos estão sempre disponiveis para ligar e apresentar péptidos estranhos, que são raros?

2. Se os péptidos propríos estão continuadamente a ser apresentados, porque é que o individuo não desenvolve reacções autoimunes?

As respostas a estas questões encontra-se na biologia celular da biossintese e montagem das moléculas MHC, na especificidade das células T e na sensividade requintada destas células a pequenas quantidade de complexos MHC-péptido.

Base Estrutural da Ligação de Péptidos a Moléculas MHC

A ligação de péptidos a moléculas MHC é uma interacção não covalente mediada por residuos dos péptidos e das fendas das moléculas MHC:

 Proteinas antigénicas são proteoliticamente clivadas nas células apresentadoras de antigénios para gerar os péptidos que se ligarão e serão apresnetados pelas moléculas MHC;

 Esses péptidos ligam-se ás fendas das moléculas MHC numa conformação extendida e, quando ligados, os péptidos a as moléculas de água associadas preenchem as fendas, fazendo contactos extensivos com residuos de aminoácidos que formam o pavimento de folhas-β e as paredes de α-hélices.

Na maior parte das moléculas MHC, as cadeias-β do pavimento da fenda contêm “bolsas”. Os residuos de aminoácidos do péptido podem conter cadeias laterais que encaixam nessas bolsas e ligam-se por a aminoácidos complementares na molécula MHC, normalmente por interacções hidrofóbicas. Tais residuo do péptido são designados residuos de ancoragem porque contribuem para a maior parte das interacções favoráveis à ligação:

 Ancoram o péptido na fenda da molécula MHC;

 Estão localizados no meio ou nas terminações do péptido;

 Cada péptido de ligação ao MHC normalmente contem apenas um ou dois residuos de ancoragem e isto permite uma grande variabilidade nos outros residuos do péptido, que são residuos que são reconhecidos por células T especificas.

No entanto, nem todos os péptidos usam residuos de ancoragem para ligar a moléculas MHC, especialmente a moléculas MHC classe II:

 Interacções especificas do peptido com as α-hélice laterais da fenda MHC também contribuem para a ligação do péptido por formação de pontes de hidrogénios ou ponte salinas com este;

 Para além disso, péptidos de ligação a moléculas classe I normalmente contêm aminoácidos básicos ou hidrofóbicos na sua terminação carboxi que também contribuem para a interacção. Assim, como vários residuos dentro e nas redondezas da fenda de ligação ao péptido das moléculas MHC são polimórficas (e.g., diferem entre vários alelos MHC), diferentes alelos favorecem a ligação de diferentes péptidos. Esta é a base estrutural da função dos genes MHC como “genes da resposta imune”:

 Apenas animais que expressam alelos MHC que ligam um péptido particular e o apresentam a células T são capazes de responder a esse péptido.

Os receptores de antigénios das células T reconhecem tanto os péptidos antigénicos como as moléculas MHC, sendo o péptido responsável pela requintada especificidade do reconhecimento do antigénio e os residuos MHC contribuindo para a restrição de MHC das células T:

 Uma porção do péptido é exposta na superficie da fenda da molécula MHC e as cadeias laterais de aminoácidos desta porção do péptido são reconhecidos pelos receptores de antigénios de células T especificas;

 O mesmo receptor da célula T também interage com residuos polimórficos das α-hélices da moléculas MHC em si.

Portanto, variações no péptido ou na fenda de ligação ao péptido da molécula MHC alterará a apresentação desse péptido ou o reconhecimento pelas células T.

No documento Imunologia-SEBENTA.pdf (páginas 51-55)