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O orgulho de si e a representação da comunidade da Vila Light como superior ao restante de Cubatão se intensificaram quando os depoimentos abordaram o processo de formação do polo industrial de Cubatão e as mudanças urbanas ocorridas na cidade a partir da instalação da refinaria de petróleo da Petrobrás em meados da década de 1950.

Como comentado no início deste capítulo, a chegada da refinaria gerou um acelerado crescimento industrial em Cubatão e, consequentemente, um rápido e desordenado crescimento urbano no município. Um autor que contribuiu para a compreensão do processo de formação urbana de Cubatão a partir da constituição de seu polo industrial foi o sociólogo Daniel Joseph Hogan. No artigo “Population, poverty and pollution in Cubatão, São Paulo”, publicado em 1995, Hogan buscou compreender a crise ambiental que ocorreu em Cubatão como fruto de seu crescimento industrial e debater o modo como o silêncio sobre os problemas ambientais e urbanos do município puderam ser quebrados a partir do processo de redemocratização do Brasil. Além disso, o autor procurou compreender a forma como o

drástico problema da poluição que despontou em Cubatão na década de 1980 afetou diferentes grupos sociais, partindo do pressuposto de que, longe de ser um mal democrático, a poluição é socialmente direcionada a determinados segmentos da sociedade.

Para compreender os efeitos da poluição sobre diferentes grupos sociais, Hogan desenvolveu uma análise do perfil populacional da cidade. Para tanto, estabeleceu duas categorias referentes à relação trabalho-moradia: os migrantes pendulares e os residentes. Os migrantes pendulares eram aqueles que trabalhavam em Cubatão, mas que habitavam cidades circunvizinhas, como Santos, São Vicente, Guarujá e São Paulo. Essa categoria – que em 1991 representava aproximadamente 32,4% da população total da cidade – era composta por trabalhadores especializados do setor industrial, em especial nos ramos da petroquímica e siderurgia, que ocupavam cargos altos e diretamente ligados à produção fabril. Assim,

milhares de empregos para técnicos, administradores, engenheiros e trabalhadores especializados poderiam ser preenchidos sem que estes precisassem pagar o preço de conviver com a poluição. O excelente sistema de transportes e a proximidade de cidades vizinhas permitiu a instalação de um parque industrial neste isolado – mas não distante – distrito. (...) os peculiares fatores geográficos de Cubatão concentravam a poluição, e os trabalhadores poderiam ir embora ao final de seu turno para as cidades próximas onde o ar, se não tão limpo, era, no mínimo, menos tóxico que em Cubatão141.

Os residentes, diferentemente, seriam aqueles que moravam em Cubatão. Esses moradores usualmente trabalhavam no setor de serviços da cidade, como vigias noturnos, operários não qualificados da construção civil ou trabalhadores do setor de transportes. Não desempenhavam, então, atividades diretamente relacionadas ao trabalho fabril. Mais pobres, com menores graus de escolaridade e menor histórico de mobilização e organização de classe, os trabalhadores que residiam em Cubatão eram os que sofriam mais diretamente com a poluição.

Vê-se, assim, que em Cubatão residiam principalmente os trabalhadores com menos recursos e menor coesão grupal, os quais ocupavam os mais baixos cargos derivados do desenvolvimento industrial, alocando-se principalmente no setor de serviços, e aos quais foram muitas vezes impostas condições insalubres de trabalho e condições nada adequadas de moradia. Em contrapartida, os trabalhadores com maiores graus de coesão grupal e maior histórico de mobilização tinham Cubatão apenas como local de trabalho, estabelecendo laços de habitação com cidades circunvizinhas. O capital cultural, político e social foi, portanto,

retirado de Cubatão através da migração pendular, fenômeno que teve como efeito “a concentração social do preço a ser pago pela poluição” 142

.

Tendo em vista o acelerado crescimento da área industrial Cubatão, as precárias condições de trabalho e moradia dos que na cidade residiam e a falta de equipamentos urbanos no município, nota-se um descompasso entre o desenvolvimento do núcleo industrial da cidade e o desenvolvimento de seu núcleo urbano. Daniel Hogan fez interessantes considerações nesse sentido, tendo definido o território de Cubatão como descontínuo e seus bairros como socialmente diferenciados, perspectiva que converge com a tese de Léa Goldenstein de que Cubatão teria uma trama urbana fragmentada. Segundo o autor,

O contraste entre o parque industrial organizado e a desconectada, precária e improvisada área residencial é o que mais chama a atenção. (…) Cubatão é um arquipélago de bairros de difícil intercomunicação. Essa impressão é reforçada quando consideramos a qualidade efêmera da paisagem urbana. Paralelamente às vindas e idas da população estão as vindas e idas dos bairros: Vila Socó queimou, Vila Parisi está sendo removida, as Cotas colapsaram. Por outro lado, Vila São José emergiu das cinzas e Jardim Nova República dos pântanos143.

Nessa complexa trama urbana, com bairros desconexos e, em sua maioria, improvisados, algumas áreas se diferenciavam por sua formação associada a outros períodos de ocupação. Uma delas era o centro da cidade, que, por possuir formação histórica datada de meados do século XIX e por ter se mantido como centro comercial da cidade ao longo do tempo, não contou com o estabelecimento de novos bairros. Destacavam-se também os antigos bairros operários, como a Vila Fabril e a Vila Light. Associados a empresas e com sua formação datada do início do século XX, esses bairros sofreram menores impactos dos processos de crescimento urbano do município, dado que, em certa medida, as próprias Companhias foram capazes de controlar as mudanças sofridas por eles.

A fim de compreender o impacto das mudanças do perfil da cidade na memória coletiva da comunidade da Vila Light, as entrevistas realizadas contaram com algumas questões sobre a instalação da refinaria de petróleo no município, as relações da Light com outras indústrias e as relações dos moradores da vila com grupos migrantes.

Ao Sr. Idílio foi perguntado se ele se recordava em que época a Petrobrás havia chegado a Cubatão. Ele afirmou que havia sido “mais ou menos em [19]51, mais ou menos, 52, por aí”, época em que ele ainda vivia na Light. Em seguida, foi perguntado se a chegada da Petrobrás a Cubatão causou muito impacto, ao que o Sr. Idílio respondeu: “Ah, causou. Foi excelente. Cubatão não tinha emprego nenhum, aí começou a aparecer. Tinha bastante

142. Idem, Ibidem. p. 205. 143. Idem, Ibidem. p. 213.

emprego na Petrobrás, na Petroquisa, que naquela época era separada da Petrobrás. E... então começou a vir muita gente de fora”.

À dona Odette a mesma questão foi feita. A depoente respondeu:

Eu acho que foi em [19]50, porque eu lembro, em 50 eu estava com 12 anos. E eu lembro que eu já olhava, saia da minha casa... aqui tinha uma calçadinha e aqui tinha uma torneira, bem perto da minha casa [mostrando visualmente]. Tinha um coisinho assim de concreto. E eu lembro, porque às vezes eu chegava ali e ficava olhando: pelo morro, assim, a gente via aquele clarão do fogo, né? E eu pensando: "puxa vida, estavam fazendo a refinaria e já tá saindo fogo lá. Já deve estar funcionando".

A depoente confirmou em seguida, a pedido meu, que nessa época ela ainda vivia na Vila Light. E afirmou que a chegada da refinaria da Petrobrás em Cubatão causou muitas mudanças na cidade. Frente a sua resposta, questionei se vieram muitos migrantes para Cubatão. A Sra. Odette respondeu:

Olha, eu não sei. (...) Lógico, engenheiro, essa coisas, vinha muito de fora. Mas, quem vinha prali, eles não iam morar na Light, não moravam. Cubatão tinha muita gente que arrumou emprego lá. Mas acho que a maioria morava pra... era muito ônibus. Uma vez nós contamos 50 e poucos ônibus.

[...] Eu já estava perto de casar. Passava trazendo o povo pra Santos, [...] saindo da refinaria. [...] Eu já estava em Cubatão, ainda era solteira, estava já em Cubatão, e a gente uma vez foi na janela. Nós contamos lá 50 e poucos ônibus, que traziam o pessoal à tarde para (...) Santos.

Foi muita gente ali, nossa! Deve ter vindo muita gente de fora.

Os depoimentos de Idílio e Odette reconheceram os grandes impactos causados pela instalação da refinaria da Petrobrás no crescimento urbano de Cubatão. Com a geração de empregos, houve um processo migratório massivo. Seus depoimentos demonstraram a admiração causada nos antigos moradores de Cubatão pela chegada da Petrobrás. Indicaram também uma mudança na dinâmica da cidade, que passava a contar com um grande fluxo de pessoas, vistas como desconhecidos pelos moradores mais antigos da cidade.

À senhora Vera Olcese foi também perguntado sobre a chegada da Petrobrás a Cubatão. A depoente afirmou que foi em 1953 e contou:

Olha, eu lembro bem porque papai era vereador nessa época. Então chegou em casa um telegrama [dizendo] que o prefeito, né, tinha ido conversar na esfera federal e [foi] quando eles conseguiram a autorização ou chegaram a uma conclusão que a refinaria seria em Cubatão. Aí foi em 53. Isso eu tenho, tenho o telegrama até hoje. (...). O telegrama avisando que chegaram a um acordo que a refinaria seria em terrenos de Cubatão.

Então, pra nós foi bem de perto, porque papai vivenciou isso, então nós sentimos bem perto.

Questionei, então, se muita gente chegou a Cubatão após a implantação da refinaria de petróleo no município. Vera respondeu:

Aí começou, né? Aí foi uma coisa... foi crescendo, crescendo. E não só a refinaria, depois vieram as outras fábricas pra explorar os outros resíduos que sobravam, então foi, assim, uma explosão e bem desregrada mesmo, que ficou aquela poluição enorme que todo mundo conhecia. Depois... porque aquilo explodiu de uma maneira bem grande. Mesmo o município, foi um município que, de repente, ficou com um imposto bem... recolheu um imposto bem alto e eles chegavam a construir várias escolas enormes num um ano só. (...) Porque a arrecadação era boa, né? Então, foi assim, mesmo pro município que era só bananal mesmo, na época em que nós nascemos, foi assim uma explosão.

E muita gente de fora, porque muito operário veio com as vagas de serviço, né? Muita gente, muito trabalho, muito movimento. Os ônibus (...) que chegavam com o pessoal pra trabalhar nas firmas e na refinaria, entre 6h30 até umas 7h30, aquela parte da Via Anchieta, assim, era um atrás do outro, parecia um comboio, de tanta gente que vinha pra trabalhar no município. E todo mundo quase morava fora, né? Até estruturar direitinho lá o negócio. Bom, nunca conseguiram estruturar, porque foi... aí começaram a, é... [vacilante, parece buscar termos adequados] a construir de maneira desregulada, né, tanto as casas como as fábricas, então ficou uma coisa [um] pouco difícil de controlar. Depois deram uma controladinha aí na poluição e tudo, mas é tudo bem... não é nada equilibrado. Tem de tudo de monte, assim: monte de casas na periferia sem nada, um submundo mesmo, e fábricas, assim, que tavam arrecadando milhões. Então, extremos, num mesmo município.

A ideia de um crescimento industrial que acarreta em desenvolvimento urbano acelerado foi também expressa pelo Sr. Idílio. A ele foi perguntado se a instalação da refinaria havia mudado muito as características do município e se, a partir de sua instalação, haviam aparecido novas vilas. O depoente afirmou que a instalação da refinaria mudou muito Cubatão e que apareceram

várias vilas. Principalmente a Vila Nova, que era a maior vila na época. Apareceu Jardim São Francisco; Jardim Anchieta aumentou muito, que era só pouquinha casa, cresceu muito naquela época; Vila Elizabeth cresceu muito. Que é tudo próximo da Petrobrás, da refinaria.

Em seguida, indaguei quais outras indústrias ele considerava que causaram um impacto significativo em Cubatão. Idílio respondeu: “Praticamente todas elas que foram chegando [rindo]. Porque foi aumentado quantidade de emprego e o povo ficando mais consciente. Porque muita gente de fora sempre trás, trás muito conhecimento pro povo do lugar, né? Então, muita coisa”. E afirmou que com a chegada dessas indústrias Cubatão

Mudou muito. (...) Antes das indústrias, [Cubatão] era um local que só tinha banana. Até na própria cidade havia bananal. Então era só banana, que eu me recordo. Além da banana, eram pequenas empresas como a Companhia Química de Cubatão, o Curtume e a Light e a Fabril.

À Sra. Ivone foi perguntado se ela ainda vivia na Vila Light quando a refinaria de petróleo da Petrobrás foi instalada em Cubatão. Ivone respondeu que

Ainda estava morando lá. Porque a Petrobrás chegou... começou, acho que de [19]51 pra 52, por aí. Não tô bem certa. Eu lembro bem que quando a Petrobrás foi pra lá, nós tínhamos muito medo, porque a nossa casa era bem encostadinha no... A gente chamava de “piscina”, né? Tinha aquela piscina lá de pedra que os escoteiros fizeram, né? E de vez em quando aparecia, na mata, lá perto da nossa casa, homens, lá da refinaria. E iam, faziam... Não sei se iam por curiosidade, né,

ver as casas... Então nós tínhamos muito medo, né? Papai tinha muito medo, recomendava muito pra deixar as portas trancadas, mesmo durante o dia. Mas nunca teve nada, assim. Nunca ocorreu nada, nenhum incidente.

Ivone comentou, em seguida, que a refinaria causou grandes mudanças em Cubatão. Foi a ela questionado se os moradores da Vila Light fizeram amizade com o pessoal da Petrobrás e ela afirmou que

Não, amizade mesmo, assim, com o pessoal que veio pra Petrobrás, não, porque a gente não sabia quem eram, né? (...) Não fizemos [amizade] não. Não tivemos. Nós, mulheres, não. Não sei os irmãos. Mas nós, as meninas, não. Naquele tempo era difícil, né, amizade assim. Não tivemos muito contato não.

Em seguida, perguntei se muitas pessoas vieram a Cubatão para trabalhar na Petrobrás. Ivone respondeu:

Veio! Muita gente! Inclusive, muita gente da Light, a maioria, se empregou lá, na Petrobrás. Aí, o Idílio, o meu marido, muitos! Nossa! A maioria dos rapazes que estavam numa idade de trabalho, naquela época, entrou na Petrobrás, conseguiu entrar na Petrobrás, porque a mão de obra era escassa, tinha pouco, né? E lá na Light, embora fosse um acampamento, todo mundo ali estudava, né? Era obrigado a estudar, praticamente, porque tinha escola ali, a Light dava ônibus pro pessoal estudar pra Santos, né? Então não tinha assim “eu não estudei porque não pude”. Embora a gente saiba que a situação da gente não era boa, mas tinha escola de graça, né, que era a Escolástica Rosa. Então, a maioria dos rapazes da Light, nessa época, tem muita gente lá. Muita, muita gente da Light foi trabalhar na Petrobrás. Bastante.

Os depoimentos orais de ex-moradores da Vila Light apontam para um fascínio neles causado pela instalação da refinaria de petróleo da Petrobrás no município e pelas grandes modificações pelas quais Cubatão passou a partir daí. É provável que esse efeito sobre a comunidade da Vila Light derive muito mais do processo de industrialização de Cubatão na segunda metade do século XX do que propriamente da instalação da refinaria como unidade fabril. Faz-se importante lembrar que, ao longo desse processo, Cubatão tornou-se o maior polo industrial da América Latina, construindo uma memória oficial que exaltava a indústria de base; posteriormente, a cidade enfrentou uma gravíssima crise ambiental, derivada desse próprio processo de industrialização, e ficou conhecida pelos rótulos de “Vale da Morte” e de “Cidade mais poluída do mundo”; a partir dos anos 1990, no entanto, com um processo de recuperação ambiental tomado internacionalmente como exemplar, buscou-se afastar os estigmas associados com a poluição e construir uma nova imagem para a cidade na memória coletiva dos cubatenses, oficializando o slogan do “Vale da Vida”; hoje, Cubatão passa por uma complexa crise urbana e industrial, com seríssimos problemas de distribuição de renda e de uso e ocupação do solo, um drástico processo de favelização e o fechamento de um elevado número de indústrias.

Esse processo, como um todo, é conhecido pelos ex-moradores da Vila Light e é parte fundamental da história industrial de Cubatão. Ele marca a transformação de Cubatão de um povoado pequenino, estruturado em torno da atividade agrícola, para uma grande cidade industrial. Tema amplamente debatido a partir do século XIX, a formação das grandes cidades e suas relações com a indústria caracterizaram-se pelo despontamento de sociabilidades profundamente distintas das que antes existiam. Se recorrermos à obra A situação da classe

trabalhadora na Inglaterra, publicada por Friedrich Engels em 1845, por exemplo, teremos a

ideia da cidade industrial como uma cidade cujos limites são desconhecidos e que, de tão extraordinária, nos atordoa. Já se recorrermos ao texto “As grandes cidades e a vida do espírito”, publicado em 1903 por Georg Simmel, teremos que as grandes cidades – aí inclusas as cidades industriais – se caracterizam pela intensificação da vida nervosa. A cidade possui um ritmo acelerado, que gera uma rápida concentração de imagens em mudança. Esses estímulos impõem aos habitantes da cidade uma maior consciência do que a imposta aos habitantes do campo. Pautadas na racionalidade, as relações estabelecidas nas grandes cidades seriam, de acordo com Simmel, impessoais e objetivas, o que acarretaria em uma relação de desconhecimento e impessoalidade entre os indivíduos144.

É certo que Cubatão não pode ser caracterizado como uma grande cidade no modelo da Londres do século XIX e do início do século XX, abordada tanto por Engels quanto por Simmel. Porém, certo é também que um pequeno povoado no sopé da Serra do Mar que sequer havia se emancipado politicamente de Santos até meados do século XX e que possuía sua estrutura econômica fundamentalmente organizada em torno de atividades agrícolas passou por drásticas e aceleradas transformações para que se transformasse, na segunda metade do século XX, no maior polo industrial da América Latina.

Essas mudanças aceleradas e o crescimento desordenado enfrentados por Cubatão foram importantes para a configuração das memórias dos ex-moradores da Vila Light. Seus depoimentos narraram a passagem de uma cidade pacata para uma grande cidade industrial. Se antes Cubatão se configurava como uma cidade na qual a maioria de seus moradores se conhecia, a partir da década de 1950, passou a contar com um processo de migração massivo e, consequentemente, com uma relação mais impessoal de seus moradores mais antigos para com os mais novos.

144. Cf. ENGELS, Friedrich. “As grandes cidades”. In: A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2010 [1845]. pp. 67-116.

Para melhor compreender os impactos causados nos moradores da Vila Light pela instalação da refinaria de petróleo em Cubatão, realizei, nas entrevistas, questões sobre a atração que os novos empregos ofertados pela Petrobrás causavam nos lighteanos. Como já comentado, a Sra. Ivone Monteiro disse que “muita gente da Light, a maioria, se empregou lá, na Petrobrás”, o que, segundo ela, só foi possível graças ao fornecimento de um ensino de alta qualidade pela São Paulo Light.

O Sr. Idílio, por sua vez, apresentou considerações bastante divergentes daquelas apresentadas pela Sra. Ivone. Perguntei a ele se os moradores da Vila Light possuíam interesse em sair de lá para irem trabalhar na Petrobrás. Idílio afirmou que “na época o emprego lá na Light era tão bom que não tinha tanta procura assim pela Petrobrás, não. E a Petrobrás era coisa nova, ninguém ainda tinha muita confiança (...) que aquilo ia ser bom”.

A pergunta oposta foi feita ao Sr. N. G. Após ele comentar a qualidade da vila fornecida pela São Paulo Light, questionei se os trabalhadores de outras indústrias se interessavam em trabalhar na Light por conta de sua vila. O depoente respondeu:

Na época, você sabe que o pessoal da Light, muita gente, saiu de lá pra entrar nas outras indústrias? É, desde o advento da (...) Petrobrás, aí expandiu mesmo... muita gente saiu, outros iam pra Petrobrás, outros iam pra Cosipa, outro pra Copebrás, Alba... aí, enfim... mas, também não era muita, muita debandada não, eu acho que o pessoal (...) que estava bem empregado na Light, acho que estava muito bem, e morava lá, tinha sua casa... tá tranquilo, ah, falava “ah, por aqui que eu vou ficar”.

É curiosa a aparente contradição da fala de N. G. Em poucas palavras ele apresentou, primeiramente, um expressivo impacto causado na população da Vila Light pela chegada de novas indústrias, com destaque para a Petrobrás; e, em seguida, negou o tamanho desse impacto, afirmando que aqueles que estavam bem empregados na São Paulo Light preferiram