• Nenhum resultado encontrado

O campo do patrimônio industrial é correntemente situado pela literatura especializada como tendo surgido ao longo das décadas de 1950 e, principalmente, 1960, em países como a Inglaterra e os Estados Unidos da América. Inseparável dele é a Arqueologia Industrial, discussão marcadamente teórica e metodológica sobre a valorização e preservação dos vestígios industriais. Segundo a arquiteta Beatriz Kühl, o termo Arqueologia Industrial apareceu solidamente na Inglaterra na década de 1950, momento em que as discussões sobre o legado da industrialização começaram a ser mais amplas e fundamentadas. No mesmo sentido, o historiador Eduardo Romero de Oliveira apontou que foi nessa década que despontaram os primeiros movimentos acadêmicos de atenção aos vestígios industriais. No entanto, ambos os autores reconheceram que somente na década de 1960 se iniciou a consolidação de um campo científico voltado para questões de valorização e preservação de bens industriais.

Ao longo da década de 1960 houve, pois, uma intensificação da sensibilidade para os vestígios da indústria. Kühl apontou que o tema da preservação dos bens relativos à industrialização “ganhou maior vigor e atraiu a atenção de público mais amplo sobretudo a partir do início dos anos 1960, quando importantes testemunhos arquitetônicos do processo de industrialização foram demolidos” 70

. Central nesse processo foi a demolição do Euston Arch, em 1962. Pórtico em estilo neoclássico construído em 1832 na entrada da estação ferroviária de Euston, da empresa The London and The Birmingham Railway, em Londres, o Euston Arch “era considerado o maior monumento do início da era ferroviária inglesa”. A iminente demolição do pórtico no início da década de 1960, derivada do processo de ampliação e eletrificação das linhas férreas do centro de Londres, deu “[...] destaque público à discussão sobre preservação de bens referentes à industrialização” e levou à mobilização de diversos acadêmicos e instituições acadêmicas. Como resultado desse processo, ainda no ano de “(...) 1962, fábricas e minas britânicas foram listadas pelo Conselho Nacional de Arqueologia” 71.

70. KÜHL, Beatriz Mugayar. Preservação do patrimônio arquitetônico da industrialização: problemas teóricos de

restauro. Cotia: Ateliê Editorial, 2008. p. 38.

71. OLIVEIRA, Eduardo Romero de. “Arqueologia Industrial, Patrimônio Industrial e sua difusão cultural”. In: FUNARI, Pedro Paulo Abreu; CAMPOS, Juliano Bitencourt; RODRIGUES, Marian Helen da Silva Gomes (orgs.).

Arqueologia Pública e patrimônio: questões atuais. Criciúma: Editora da UNESC, 2015. pp. 198-9. De acordo

com Beatriz Kühl, foi nesse mesmo ano que se fortaleceram as discussões em torno da noção de monumento industrial, compreendido à época pela maior parte dos estudiosos como um elemento capaz de ilustrar o desenvolvimento de processos industriais e técnicas, em especial, da Revolução Industrial. KÜHL. op. cit. 2008. p. 38.

Segundo Oliveira, na década de 1960 ocorreu uma série de eventos acadêmicos e ações institucionais que tinham o estudo e a preservação dos vestígios industriais como foco. Dentre estes podemos citar, por exemplo, a promoção de um inventário inglês do patrimônio industrial pelo Ancient Monuments Board, em 1965, que contou com R. Angus Buchanan à frente; ou a eleição de bens industriais para preservação pela Historic American Buildings Survey, durante o seminário ocorrido na Smithsonian University, nos Estados Unidos da América, no ano de 1967. O seminário, a propósito, contou com a participação de Kenneth Hudson, que a esta altura já havia lançado algumas obras sobre Arqueologia Industrial. Oliveira apontou também, ainda nessa década, a realização do inventário New England Textile Mills Survey, entre os anos de 1967 e 1968, que teve à frente o arquiteto Robert M. Vogel. Como resultado direto desse inventário, houve a criação do Historic American Engineering Record, em 1969, em parceria com a American Society of Civil Engineers.

O que se nota ao longo da década de 1960 é, portanto, um movimento de valorização dos bens industriais que partiu, inicialmente, dos estudos de alguns acadêmicos e que, pouco a pouco, foi se aglutinando em uma sensibilidade coletiva e em medidas institucionais de preservação dos bens relativos à industrialização. Eduardo Oliveira destacou, nesse movimento, “o perfil dos primeiros estudiosos britânicos sobre os vestígios industriais contemporâneos. (...) Observamos a predominância de estudiosos das tecnologias, interessados nas indústrias, tecnologia e engenheiros”.

A década de 1970, por sua vez, contou com significativas iniciativas para a consolidação do campo. De acordo com Beatriz Kühl, na Inglaterra apareceram, de maneira constante, estudos importantes sobre o tema. As discussões giravam em torno da definição de Arqueologia Industrial, do interesse sobre o tema e das formas de abordá-lo. Outro ponto importante para a consolidação do campo foi a internacionalização da temática. Kühl apontou que, na França, após a demolição dos Halles Centrales, intensificaram-se as manifestações a favor da salvaguarda do patrimônio industrial e os escritos sobre o tema. De mesmo modo, iniciaram-se publicações sobre a temática com maior vigor na Itália.

Eduardo Oliveira, por sua vez, destacou que ao longo das décadas de 1970 e 1980, “a discussão em torno dos bens industriais mobilizou também instituições museológicas e diversos especialistas” 72

. O autor destacou, por exemplo, a assunção da presidência do Ironbridge Gorge Museum por Neil Cossons, em 1971, e a criação da Society for Industrial Archeology, sob presidência de Robert Vogel, em 1972. Oliveira salientou também a

organização de congressos e reuniões acadêmicas em torno da temática, como no caso da realização, em 1973, do First International Congress on the Conservation of Monuments, no Ironbridge Museum, por iniciativa de Neil Cossons, contando com a participação de vários especialistas europeus e alguns norte-americanos73.

É possível afirmar que uma das medidas mais importantes para a consolidação do campo do patrimônio industrial foi a formação do The International Commite for the Conservation of the Industrial Heritage (TICCIH), durante a terceira International Conference on the Conservation of the Industrial Heritage, em 1978. Segundo Oliveira, foi nesse momento que se instituiu

a entidade internacional dedicada a preservar aqueles bens industriais não apenas em termos estéticos (...), mas a partir da noção mais ampla de patrimônio cultural. Desde então, a associação tem sido presidida por notórios estudiosos em história da tecnologia. 74

Como comentado, o papel dos estudiosos de história da tecnologia foi central ao surgimento do campo e à difusão das ideias de preservação de bens culturais ligados à indústria. Acadêmicos como Buchanan e Hudson enfatizavam a Revolução Industrial como eixo nevrálgico de estabelecimento dos estudos do campo, destacando o surgimento de um processo socioeconômico e tecnológico. Buchanan, por exemplo, considerava que a Arqueologia Industrial trataria dos processos de industrialização através de seus vestígios industriais. “(...) Concebia-se assim que os patrimônios industriais eram os bens físicos

relativos à atividade da indústria humana, como também os ofícios e as práticas relativos a

esses bens”. Hudson, de sua parte, enfatizava as fases passadas da humanidade em que a base

73. É importante notar a centralidade que figuras como Robert Vogel, Angus Buchanan, Neil Cossons e Kenneth Hudson tiveram na institucionalização do campo do Patrimônio Industrial, sendo notável a formação de uma rede de intelectuais atuando em torno do tema no início da segunda metade do século XX. Os órgãos de preservação e instituições acadêmicas tiveram importante papel nesse sentido, sendo, ao mesmo tempo, resultado dos esforços de pesquisa dos acadêmicos voltados para a discussão da Arqueologia Industrial e locais de encontro e debate entre essas personagens. Podemos citar, por exemplo, o papel do Bristol College of Science and Technology, local em que Hudson, Buchanan e Cossons puderam se aproximar por nele lecionarem.

74. Idem, Ibidem. p. 200. Conforme definido pelo Comitê Brasileiro de Preservação do Patrimônio Industrial (TICCIH – Brasil) na abertura da tradução brasileira da Carta de Niznhy Tagil para o Patrimônio Industrial, “O TICCIH (...) [é] a organização mundial consagrada ao patrimônio industrial, sendo também o consultor especial do ICOMOS para esta categoria de patrimônio. O seu objetivo é o de promover a cooperação internacional no domínio da salvaguarda, conservação, investigação, inventário, documentação, valorização e a formação em todos os aspectos do patrimônio industrial. Tem também por objetivo desenvolver os aspectos educativos relacionados com estes domínios. [...] [Esse Comitê] está organizado na base de uma comissão internacional, eleita de três em três anos durante cada Conferência, e conta com Representantes Nacionais ou Correspondentes nos países associados. Atualmente, o TICCIH possui representantes e correspondentes nacionais em 54 países”. Cf. TICCIH. Carta de Nizhny Tagil sobre o patrimônio industrial, em português. Niznhy

Tagil, 2003. Página única. Disponível em: <<

da cultura era a tecnologia. De acordo com Oliveira, “(...) Esta concepção de Hudson traz uma

ênfase na tecnologia que (...) estava presente de fato em várias outras pessoas interessadas na

proteção dos bens industriais” 75

.

A despeito da centralidade da história da tecnologia na constituição do campo do patrimônio industrial, é necessário reconhecer que ampliações temáticas foram realizadas ao longo dos anos. Nesse sentido, no final década de 1970, Neil Cossons atentou nos impactos que a Revolução Industrial causou na paisagem e nos modos de vida, identificando a Arqueologia Industrial aos estudos de paisagens. Hudson seguiu a mesma linha, defendendo que a arqueologia industrial seria especialmente importante pelo fato de ter tirado das sombras os espaços ocupados pelos trabalhadores do passado, colocando-os em evidência e evidenciando, a partir dos vestígios industriais, as atividades e os modos de trabalhar realizados em tempos e espaços específicos. Assim, Oliveira identificou que as discussões sobre vestígios industriais começaram a dedicar atenção para os impactos espaciais produzidos pela atividade industrial, para além das consequências socioeconômicas76

.

A dimensão humana do patrimônio industrial foi também sendo progressivamente incorporada ao campo, em especial ao longo da década de 1980. A ascensão da Arqueologia Social em países como Estados Unidos da América, Canadá e Austrália teve, dentre seus efeitos, a compreensão da Arqueologia Industrial como um subcampo da Arqueologia Histórica. E, como resultado, houve uma ampliação das metodologias aplicáveis, derivadas de uma perspectiva interdisciplinar que incorporava discussões da Antropologia, História e Geografia. Simultaneamente, ocorreu um crescimento dos estudos que associavam histórias de vida à história do trabalho, o que impulsionou projetos de patrimônio industrial e oralidade. Disso resultou a diversificação e fortalecimento do campo – para os quais muito contribuiu também a inclusão da Ironbridge, na Inglaterra, na Lista do Patrimônio da Humanidade da Unesco, em 1986 – e a diversificação dos materiais de pesquisa e preservação, que agora, para além da cultura material, poderia incorporar também documentos escritos e história oral 77

.

Kenneth Hudson, a propósito, vinha desde o fim da década de 1970 apontando a necessidade de reconhecer a dimensão humana como o cerne das discussões da Arqueologia

75. OLIVEIRA. op. cit. p. 202. O autor afirmou, com base em Minchnton, que a valorização de bens industriais ganhou força justamente a partir do esforço preservacionista realizado, à época, por estudiosos da história da engenharia e tecnologia e pelos museus de ciência e tecnologia, notadamente em países como Estados Unidos da América, Inglaterra, Espanha e Alemanha.

76. Idem, Ibidem.

Industrial. Esse autor defendeu, já nessa época, a importância de não limitar a Arqueologia Industrial às técnicas arqueológicas tradicionais – à época, reduzidas a técnicas de escavação –, sendo possível recorrer a

evidências escritas, entrevistas com pessoas ou textos memorialísticos, as observações e memórias das pessoas que viveram quando as máquinas operavam, diversos tipos de registros (fotos, desenhos, descrições), estruturas remanescentes, material impresso.

Nesse mesmo sentido, Hudson considerou fundamental atentar na dimensão social e cultural dos processos industriais, tomando por foco os agentes sociais envolvidos nos processos de industrialização. Para esse autor

O arqueólogo industrial busca a cultura que os lugares da industrialização representam. O autor considera importante que a arqueologia industrial estabeleça e explique relações entre máquinas, tecnologia e os homens, promovendo oportunidades de entendimento das condições de vida no passado e de promover um insight sobre o desenvolvimento humano. [Hudson lembra] (...) que as máquinas e os processos são operados por pessoas, que têm vidas e sentimentos, que são parte da industrialização tanto quanto as máquinas e os produtos78.

A década de 1980 foi profundamente marcada pela internacionalização do tema do estudo e preservação dos vestígios industriais. No caso brasileiro, é possível afirmar que o campo do patrimônio industrial vem, desde esse período, se consolidando no país.

É bem verdade que, conforme reconhece a bibliografia especializada no tema, a primeira defesa acadêmica da importância dos vestígios industriais tenha sido feito ainda na década de 1970, quando da publicação, em 1976, do texto A fábrica de São Luiz de Itu, de autoria de Warren Dean. E, ainda anterior a isso, há a proteção de alguns bens industriais: o reconhecimento do trecho ferroviário Mauá-Fragoso, em Magé, Rio de Janeiro, como Monumento Histórico Nacional em 1954, através do decreto 35.447-A, pelo presidente Getúlio Vargas; e o tombamento pelo IPHAN da Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema, em Iperó, São Paulo, no ano de 1964. No entanto, é somente na década de 1980 que podemos reconhecer um conjunto de ações responsáveis pela formação de um campo científico em torno das problemáticas referentes à valorização e preservação dos vestígios industriais. Cito, por exemplo, a realização do I Seminário Nacional de História e Energia, no ano de 1986. O seminário contou com acadêmicos brasileiros e estrangeiros que se dedicavam ao estudo dos vestígios industriais e aos debates sobre sua preservação e deu “destaque ao reconhecimento dos bens industriais e sua proteção no Brasil”. Dois anos depois ocorreu o lançamento da

Carta de Campinas, a partir do Grupo de História da Técnica (GEHT), da Unicamp, na qual

se defende “a preservação de instalações industriais, máquinas, ofícios e sítios” 79

.

A partir do lançamento da Carta de Campinas houve, segundo Oliveira, uma significativa ascensão dos estudos sobre patrimônio industrial no Brasil, que marcaram a década de 1990. Em contexto internacional, houve também uma ampliação dos estudos realizados na área, com maior atenção a temáticas específicas e estudos de caso. Mas é necessário reconhecer também alguns importantes alargamentos na abrangência do campo, em especial aqueles referentes ao estudo das paisagens.

Figura central nos estudos do patrimônio industrial nessa década foi Marilyn Palmer, que foi presidente da Association for Industrial Archeology, membro da The Royal Comission on the Historical Monuments of England e fundadora do Centre for Historical Archeology, na Universidade de Leicester, além de editora da revista Industrial Archeology

Review por mais de 20 anos. O historiador Eduardo Romero de Oliveira destacou três eixos

centrais da contribuição de Palmer para a Arqueologia Industrial na Inglaterra. O primeiro deles seria a reflexão sobre a noção de monumento industrial, defendendo que sua análise deve reconhecê-lo como parte de uma rede referente aos antigos métodos e meios de produção, pautando-se pelo estabelecimento de relações “com a dimensão econômica das fontes de matéria-prima, métodos de processamento e rede de transporte, do contexto social de produção e inclusive que eles possam ser considerados como expressão de prestígio pessoal”. Palmer apontou, então, segundo Oliveira, para o entendimento dos monumentos industriais a partir de seus significados culturais e como símbolos de mudança das relações humanas, não sendo entendidos apenas em termos econômicos e tecnológicos 80.

O segundo eixo de contribuição de Palmer para a Arqueologia Industrial seria o foco na dimensão humana desse patrimônio. A autora apontou que o foco dos estudos não deveria recair no funcionamento dos sítios e estruturas industriais, mas sim nos processos histórico- culturais dos quais eles fazem parte. O terceiro eixo, por fim, seria referente à tomada do conceito de paisagem como central às análises arqueológicas. Na concepção de Palmer, a paisagem seria composta pelas manifestações físicas das mudanças promovidas pelas pessoas no tempo e no espaço, incluindo as relações entre edificações, topografia e sistemas de transporte. 81 79. Idem, Ibidem. pp. 13; 15. 80. Idem, Ibidem. p. 10. 81. Idem, Ibidem. pp. 10-1.

No início do segundo milênio é possível destacar algumas medidas que internacionalmente ou nacionalmente contribuíram para a preservação dos vestígios industriais e sua discussão. Em 2003 foi publicada a Carta de Niznhy Tagil para o Patrimônio

Industrial, aprovada na Conferência do TICCIH realizada na cidade de Niznhy Tagil, na

Rússia. A Carta, segundo Beatriz Kühl, pode ser entendida como uma síntese amadurecida das discussões das décadas anteriores, com abrangente visão do problema. No documento, a Arqueologia Industrial foi definida como “um ‘método interdisciplinar que estuda todos os vestígios, materiais e imateriais, os documentos, os artefatos, a estratigrafia e as estruturas, as implantações humanas e as paisagens naturais e urbanas, criadas para ou pelos processos industriais. [...]’”. O mesmo documento definiu ainda como objeto da Arqueologia Industrial, entre outras coisas, “[...] ‘os locais onde se desenvolveram atividades sociais relacionadas com a indústria, tais como habitações, locais de culto ou de educação’.” 82

.

No caso do Brasil, no início do ano de 2003, na cidade de São Paulo, houve a publicação da Carta Manifesto, documento de fundação do Comitê Provisório pela Preservação Industrial no Brasil. A carta chamou a atenção para a deterioração e destruição de bens industriais no Brasil e identificou algumas das ameaças à “preservação de um patrimônio que diz respeito a grandes contingentes da população brasileira”, com reconhecíveis valores arquitetônicos, históricos e culturais. Dentre as ameaças figuram a “[...] aceleração das mudanças tecnológicas, as transferências de fábricas para outros Estados, os processos de fusão e incorporação de empresas tradicionais por grupos estrangeiros, bem como o processo de desindustrialização de algumas regiões do país”. O documento reconheceu, ainda, a preservação dos elementos referentes a atividades fabris como uma tendência urbanística e turística em diversos países ao longo das últimas décadas, com importantes e positivos impactos educacionais, culturais, econômicos, sociais e ambientais 83.

A carta reconheceu, também, a existência de uma organização internacional voltada para a preservação do patrimônio industrial (o TICCIH), com “instituições afiliadas em vários países, inclusive na América Latina”, havendo, no entanto, “um vácuo [no Brasil] de organizações nesta área”. Frente a isso, propôs-se a formação de um Comitê pela Preservação Industrial no Brasil, que servisse

82. TICCIH. op. cit. As considerações de Kühl sobre a Carta de Niznhy Tagil podem ser verificadas em KÜHL, Beatriz Mugayar. “Patrimônio industrial: algumas questões em aberto”. In: Arq.urb., v. 3, 1º semestre de 2010. p. 25.

83. COMITÊ Provisório pela Preservação do Patrimônio Industrial no Brasil. Carta Manifesto. São Paulo, 2003.

Página única. Disponível em: <<

como instrumento de pressão e eventual apoio ao poder público e às comunidades, visando iniciativas de preservação industrial (...) [e] também como órgão de estudos e pesquisa, divulgação da causa preservacionista, articulando comunidades, organizações da sociedade civil, entidades empresariais e sindicais, tanto na preservação desse patrimônio, quanto na busca de alternativas para a sua revitalização84.

O documento, por fim, declarou a intenção de realizar uma nova reunião em breve, com o objetivo de encaminhar a fundação do Comitê Brasileiro pela Preservação Industrial, o que de fato ocorreu: no final de 2004 foi realizado o I Encontro em Patrimônio Industrial, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), momento em que se organizou o Comitê Brasileiro de Preservação do Patrimônio Industrial (TICCIH – Brasil). De acordo com a arquiteta Maria Cristina Schicchi, o encontro “representou um passo importante na consolidação da discussão da preservação dos vestígios materiais do processo de industrialização no Brasil”, além de permitir a difusão “[...] de pesquisas, levantamentos oficiais e da discussão recente sobre os critérios de preservação dos remanescentes desse período que imprimiu profundas mudanças nas cidades brasileiras” 85

.

Para além disso, Eduardo Romero de Oliveira destacou um novo alargamento na abrangência da Arqueologia Industrial. Oliveira ressaltou a perspectiva de Casella sobre o método, para quem a Arqueologia Industrial deveria estar voltada ao entendimento de redes multiescalares de produção, troca e consumo. "A arqueologia industrial não seria definida nem por período (séc. XVIII), nem por ‘lugares industriais’; além disso, o estágio atual do capitalismo nos séculos XX-XXI (com objetivos de consumo e distribuição, ao invés da