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A noção de paisagem cultural parece fundamental para pensar o caso da Serra de Cubatão. Antes de debatê-la, no entanto, considero necessário comentar com maior profundidade o processo de transposição da serra e sua relação com a instalação da Usina de Cubatão.

Discorri, até o momento, sobre as estradas que, durante o período colonial, possibilitaram a conexão entre a Baixada Santista e o Planalto Paulista. O tema do desafio imposto pelas escarpas da Serra do Mar, como busquei explicitar, conduziu parte das publicações presentes na coletânea A Baixada Santista. A capacidade humana de lidar com esse desafio e conquistar o elemento natural foi questão também presente em parte dos capítulos dessa coletânea e se revelou, por exemplo, nos debates sobre o processo de transposição da serra.

A compreensão da conquista da serra não poderia deixar de incluir os meios de transposição ali instalados a partir de fins do século XVIII. Se até meados desse século a transposição se fazia fundamentalmente pela Trilha dos Tupiniquim ou pelo Caminho do Padre José, em fins do século XVIII e ao longo de todo o século XIX despontaram outras estradas que, na serra ou no litoral, visavam a facilitar o transporte entre o interior do estado de São Paulo e a Baixada Santista.

A primeira estrada portuguesa construída para conectar essas duas regiões foi a Calçada do Lorena. Inaugurada em 1792, essa estrada possuía aproximadamente 3 metros de largura, era formada por pedras, contava com muros de arrimo e tinha a intenção de atender o grande aumento de tráfego em direção a Cubatão. Segundo o economista Miguel Couto, tal aumento deveu-se à imposição do governador Bernardo José Lorena de que todas as

mercadorias de São Paulo fossem escoadas ao porto de Santos. A obra Mosaico Paulista, produzida pela empresa Zanettini Arqueologia e coordenada pela historiadora Camila Wichers, traz dados convergentes àqueles apresentados por Couto sobre a construção dessa estrada. De acordo com essa publicação, Bernardo Lorena ordenou a realização de melhorias no calçamento do Caminho do Padre José de Anchieta, entre 1790 e 1792, com o objetivo de facilitar o tráfego. Dessas melhorias surgiu uma estrada calçada, nomeada Calçada de Lorena, que possibilitou a regularização da circulação entre a Baixada Santista e o planalto paulista29.

A Calçada do Lorena foi fundamental para a estabilização do transporte de mercadorias através da Serra do Mar. No entanto, a despeito da grandiosidade dessa obra, a falta de conservação rapidamente afetou o tráfego de mercadorias e pessoas. Além disso, a demanda por transporte apresentara expressivo aumento a partir de 1840, dada a intensificação da exportação de café no porto de Santos. Era necessária uma estrada em boas condições que comportasse carros de boi, o que a Calçada do Lorena não era capaz de fazer. Construiu-se então, em 1846, a Estrada da Maioridade, consolidando o processo de transposição da Serra do Mar e reafirmando o domínio do homem sobre esse elemento natural. Essa estrada, porém, logo se tornou obsoleta: o aumento de exportação no porto não cessava e o tráfego tornara-se demasiado. Foi preciso buscar uma nova estratégia de transporte.

Para lidar com a crescente demanda de transporte de produtos para o porto de Santos foi proposta a construção de uma ferrovia que ligasse o planalto ao porto. A São Paulo Railway teve sua construção iniciada em 1860, a partir de investimentos de capital inglês e brasileiro. Em 1867 a estrada foi inaugurada, atravessando a Serra do Mar e ligando o Planalto Paulista ao porto de Santos30.

A partir de meados do século XIX, portanto, Cubatão foi atravessada por uma estrada de ferro que, nas proximidades desse povoado, acompanhava o traçado do Aterrado, inaugurado 40 anos antes. Ambas as estradas foram construídas visando, em especial, à melhoria do fluxo de mercadorias para o porto de Santos. A ferrovia, no entanto, chama particular atenção por sua representação de domínio humano sobre a barreira natural da Serra do Mar. À travessia da serra, agora, impunha-se o tempo do homem e de suas máquinas. Não

29. WICHERS, Camila Azevedo de Moraes (org.). Mosaico paulista: guia do patrimônio arqueológico do estado

de São Paulo. São Paulo: Zanettini Arqueologia, 2010. p. 42.

30. As afirmações aqui presentes sobre a Calçada do Lorena e sobre a São Paulo Railway baseiam-se nos dados levantados pelo economista Joaquim Miguel Couto. COUTO op. cit. 2003. pp. 6-9; 10-11; 14-16; 24-5.

era mais o elemento natural que delimitava o tempo de travessia, mas sim o capital, com suas exigências de fluxos de mercadorias.

A consolidação do processo de conquista da Serra do Mar pela humanidade, no entanto, não foi estabelecida por um sistema de transporte, mas sim pelas duas adutoras iniciais da Usina de Cubatão, inaugurada aproximadamente 60 anos depois da São Paulo Railway. Rasgando a Serra de Cubatão de seu topo até sua base, essas duas adutoras instauraram-se como parte do processo de enfrentamento do homem à serra e implantaram-se como um marco visual e material dessa conquista. Embora a Calçada do Lorena, a Estrada da Maioridade e a São Paulo Railway tivessem instituído certa estabilidade no deslocamento entre o Planalto e Cubatão, a serra continuava a ser um elemento desafiador, visto o risco que oferecia à vida daqueles que tentavam atravessá-la. Esses riscos ficam claros no caso da construção da Usina de Cubatão: além do grande esforço físico necessário para a consolidação do projeto, as condições ambientais, envolvendo chuvas constantes, muita lama e grande risco de contração de malária, dificultavam profundamente o trabalho, sendo muitas as mortes de trabalhadores. A consolidação do projeto construtivo da Usina de Cubatão sinalizou a capacidade humana de se sobrepor à natureza, até então culturalmente compreendida como desafiadora. 31

As duas primeiras adutoras se configuram, desse modo, como um rasgo humano na natureza, marcando visualmente o processo de conquista da Serra do Mar pela humanidade. A cicatriz, ainda hoje, é quase onipresente na visualidade para aqueles que se deslocam a Cubatão e representa a complexa relação entre natureza e indústria no município. O conjunto de adutoras da Usina de Cubatão – inicialmente composto por dois condutos forçados e, desde 1950, por oito – é, portanto, um elemento central a uma paisagem cultural e sociovisual que se

31. Dados sobre as dificuldades enfrentadas no processo de construção da Usina de Cubatão podem ser encontrados, por exemplo, no Boletim Informativo da Eletropaulo, de 1993. ELETROPAULO. op. cit. 1993. p. 14. Tais dificuldades foram também reconhecidas pelo escritor Rudyard Kipling em sua crônica O deus dos

relâmpagos, escrita em 1927 a partir de uma visita realizada por ele à Usina de Cubatão. Escreveu Kipling que

os homens do local, “[...] nos últimos dois anos, resistiam diante do penhasco acima deles, coberto pela mata densa. Eles já tinham enfrentado de tudo – o solo traiçoeiro semelhante a um queijo Roquefort; o poder da umidade e da aridez; a falha em receber os materiais, e, quando por fim eles chegavam, a dificuldade de lidar com eles no local; a crueldade dos escoadouros das encostas que se revelam em um instante, localizados com aparatos de bastões e cordas – possivelmente na escuridão e com a lama até os joelhos. (As precárias valas abertas pela chuva aparentavam se desfazer a qualquer momento). Mas agora, os canos (...) assumiam seus lugares em cinco mil toneladas de blocos de concreto, que mergulhavam dezoito metros no chão lamacento; as válvulas tinham sido testadas e as águas rebeldes escoavam; os homens limparam a umidade dos olhos e estavam prontos para o próximo desafio”. KIPLING, Rudyard. As crônicas do Brasil. Traduzido por Luciana Salgado. São Paulo: Landmark, 2006. p. 51.

caracteriza, em longa duração, pelo enfrentamento entre a humanidade e a natureza e que, nos últimos cem anos, se caracterizou pela crescente utilização dos recursos naturais para a produção industrial, resultando em um cenário catastrófico de saúde pública e gestão de recursos ambientais.

Figura 12: Fotografia oficial da São Paulo Light datada de 08/08/1925. A imagem retrata, a partir de um bananal, o trecho da Serra

de Cubatão em que estavam sendo instaladas as tubulações adutoras. Acervo da Fundação Energia & Saneamento. ELE_CEI_SDM_001-0048.

Figura 13: Fotografia oficial da São Paulo Light datada de 22/12/1927. A imagem retrata o canal de descarga e a casa de máquinas

da Usina de Cubatão, assim como as adutoras que cortam a Serra de Cubatão. Acervo da Fundação Energia & Saneamento. ELE_CEI_SDM_013_011.

Figura 14: Vista do conjunto de adutoras da Usina Henry Borden. Fotografia produzida por mim em 30/07/2014, a partir do interior da

Casa de Visitas do pé da serra.

Figura 15: Pedra fundamental da Usina Externa Henry Borden, com conjunto de adutoras ao fundo. Fotografia produzida por

Evoco quatro imagens que contribuem para a compreensão dos argumentos que aqui apresento. As Figuras 12, 13, 14 e 15 permitem perceber a expressividade do conjunto de adutoras da Usina de Cubatão na composição de uma paisagem marcada por complexas relações entre indústria e natureza, bem como a manutenção desse papel significativo ao longo do tempo. A primeira figura, uma fotografia produzida oficialmente pela São Paulo Light em 1925, traz em primeiro plano um bananal, que se estende até o sopé da Serra de Cubatão. Ao fundo, despontam algumas palmeiras, mais altas que as bananeiras, mas diminutas se comparadas ao paredão rochoso que ocupa a maior parte do plano de fundo da imagem. A serra, retratada de forma imponente, é quase inteiramente recoberta por mata fechada, à exceção de uma pequena elevação rochosa próxima ao bananal e de um largo caminho desmatado que, estendendo-se do topo à base da Serra de Cubatão, a divide em dois.

A segunda imagem (Figura 13), também uma fotografia produzida oficialmente pela São Paulo Light, apresenta a Serra de Cubatão no ano de 1927 a partir de uma perspectiva bastante semelhante à tomada na primeira figura. Nela se apresenta em primeiro plano o canal de descarga da Usina de Cubatão, carregado com as águas que advêm de uma construção localizada no sopé da Serra de Cubatão. Essa construção é a casa de máquinas da usina, e ao seu lado vê-se também uma subestação de eletricidade. Partindo do alto da serra e dirigindo- se à casa de máquinas estão as tubulações adutoras da usina. O caminho desmatado da primeira imagem apresenta-se agora preenchido por tubos metálicos, que transportam, através das escarpas da Serra do Mar, as águas barradas e canalizadas no planalto, a fim de produzir energia elétrica.

A terceira imagem (Figura 14) é de minha autoria e busca também evidenciar o violento rasgo estabelecido na Serra de Cubatão pelo conjunto de adutoras da Usina de Cubatão. Tomando a fotografia a partir do interior da Casa de Visitas do pé da serra, com a câmera posicionada em uma de suas janelas, busquei demonstrar a chamada “cicatriz da serra”. Essa fotografia, em conjunto com outras tomadas no mesmo dia, visava também a demonstrar o modo como a imponente cicatriz é um elemento central da visualidade dos moradores da Vila Light, sendo visível a partir da maior parte dos locais visitados durante o estudo de campo.

A produção imagética sobre a cicatriz, no entanto, não pode ser inteiramente enquadrada pelas intencionalidades dos fotógrafos. A quarta fotografia (Figura 15), por mim produzida em uma visita técnica anterior àquela em que foi produzida a terceira fotografia, foi tomada na entrada da área industrial do Complexo Henry Borden, e objetivava registrar a pedra fundamental do Complexo, destacando os textos nela inscritos. Embora seja evidente o

fato de que a pedra fundamental ocupa o primeiro plano, como evidente é o destaque dado às inscrições nela contidas, um detalhe fundamental escapou a minhas intenções enquanto fotógrafo: o conjunto de adutoras foi também registrado, ainda que acidentalmente. Essa inesperada configuração da fotografia surgiu, em parte, de minha desatenção, mas só foi possível graças à centralidade ocupada pela cicatriz na visualidade da vila e, mais além, de grande parte de Cubatão.

É necessário desvencilhar-se da inocência, porém, de que as fotografias apenas capturam o real – o que nos levaria a supor que as figuras 12, 13, 14 e 15 demonstram a relação entre os condutos forçados e a Serra de Cubatão tal e qual ela se configura materialmente. É fundamental reconhecer, primeiramente, que as fotografias são produzidas a partir de certas intencionalidades, como já indiquei. Importa perceber, portanto, que o fotógrafo seleciona o que será retratado e enquadra a realidade conforme lhe convir. O posicionamento da câmera fotográfica é um ato que, ao capturar o real, o molda, imprime uma intencionalidade sobre ele.

As reflexões do historiador Michael Baxandall contribuem para o entendimento do modo como a noção de “intenção” pode ser central à compreensão histórica das imagens. Em

Padrões de intenção, Baxandall propôs pensar sobre o processo de explicação histórica dos

quadros, objetivando compreender a maneira como se constitui o ato descritivo na historiografia em sua relação com as imagens. No primeiro capítulo do livro, discutindo a noção de “intenção”, Baxandall afirmou que “[...] a atenção do historiador e sua tarefa explicativa convergem (...) para as ações de que tratam os documentos, e não para os documentos em si. [...] nos interessamos (...) pelo que resta das ações”. São centrais ao trabalho historiográfico, portanto, os vestígios – ou seja, aquilo que sobrevive das ações passadas –, visto que a partir deles podemos “(...) inferir as ações humanas e o instrumento que os fizeram do jeito que são”. 32

As imagens fotográficas de que estou tratando, tais quais os quadros abordados por Baxandall, são objetos produzidos intencionalmente. Como apontou esse autor, a historiografia procura “compreender o produto final de um comportamento mediante a reconstrução do objetivo ou intenção nele contido”. É importante ter em mente, nesse sentido, que o produto final com o qual nos deparamos – no caso, a fotografia – foi elaborado por seu autor com vistas a resolver um problema específico por ele enfrentado e a partir de

32. BAXANDALL, Michael. Padrões de intenção: a explicação histórica dos quadros. Tradução de Vera Maria Pereira. Coordenação de Sérgio Miceli. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 46.

determinadas circunstâncias que o levaram a construir a fotografia do modo como ela se apresenta. 33

No que diz respeito às figuras 12 e 13, não foi possível encontrar informações precisas quanto a suas autorias. Sabemos, no entanto, com base em informações apresentadas na comunicação “Fontes para a História da Light: acervo fotográfico”, publicada nos Anais do 1º

Seminário Nacional de História e Energia, que a Light preocupou-se em documentar

fotograficamente todos os seus projetos. Desde os primeiros anos de sua atuação a companhia contava com um fotógrafo contratado, dado que, de acordo com essa publicação, o fotógrafo McLean figura entre os membros do staff da Light em uma fotografia de 1900. Sabemos também que a Light contratava empresas especializadas para realizar determinadas fotografias, como no caso dos materiais aerofotogramétricos. A empresa contratava, ainda, fotógrafos para documentar momentos específicos. O célebre fotógrafo Guilherme Gaensly, por exemplo, conhecido por seus trabalhos com cartões-postais e fotografias de paisagens, foi contratado pela empresa para realizar determinados registros. 34

Embora não tenha sido possível identificar a autoria das fotografias em questão

(Figuras 12 e 13), é possível reconhecer sua inserção na produção fotográfica institucional da

Light. A extensa documentação fotográfica da Companhia abordava temas diversos, dentre os quais se destacam as obras da Light voltadas para o desenvolvimento urbano, a construção de usinas, as estruturas industriais e o maquinário da Companhia, os eventos institucionais e as condições de vida dos trabalhadores. Assim, independentemente de quem fosse o fotógrafo responsável pela fotografia selecionada, sua produção estaria associada a uma demanda empresarial, que objetivava documentar o processo construtivo de suas usinas e barragens a partir de critérios técnicos de identificação, da ânsia de documentar o processo de ampliação da Companhia no Brasil e do interesse por construir uma narrativa edificante para o papel da Light no progresso brasileiro35.

Outra importante característica desse conjunto de fotografias é a presença de legendas bastante detalhadas que buscam identificar as imagens produzidas, reforçando a função

33. Idem, Ibidem. p. 48.

34. LIMA, Carlos Sérgio da Costa [et al] “Fontes para a história da Light: acervo fotográfico”. In: Anais do 1º

seminário nacional de história e energia, v1. São Paulo: Eletropaulo, Departamento de Patrimônio Histórico.

1987. pp. 286-288.

35. Não queremos dizer, com isto, que a fotografia é inteiramente definida pelos interesses institucionais, mas sim que esses interesses contribuem para a composição da mesma. É necessário perceber que, a despeito do peso da instituição, os fotógrafos são autores das fotografias que produziram. Seus interesses e sensibilidades participaram, portanto, da composição dessas imagens, embora, nesta análise, estejamos atentando nos aspectos institucionais que participaram da construção das imagens.

documental da prática fotográfica na Companhia, que buscava construir inventários fotográficos de suas obras de engenharia e de seus eventos institucionais. No caso das figuras 12 e 13, as legendas contribuem para a compreensão dos problemas que esses artefatos visavam solucionar. As iniciais nelas registradas (T.S.P.T.L. & P. Co.) identificam a The São Paulo Tramway, Light and Power Company como responsável pela fotografia. Logo abaixo das iniciais da empresa consta a identificação da obra de engenharia fotografada: Serra Development. A identificação da obra é importante na medida em que define com clareza o objeto que se buscou retratar na fotografia. A legenda, assim, orienta a leitura da imagem: o que se pretende apresentar não é a Serra de Cubatão enquanto formação geográfica ou geomorfológica; nem a bananicultura como principal atividade econômica de Cubatão. O que as imagens procuraram mostrar é o desenvolvimento de um projeto de engenharia desenvolvido por uma empresa que tinha por principal atividade a geração e distribuição de energia elétrica.

As legendas oficiais da São Paulo Light, em seguida, apresentam uma breve descrição da imagem e, por fim, um número de registro. A descrição é de suma importância na orientação do olhar do espectador da imagem, na medida em que apresenta dados sobre aquilo que se buscou retratar. No caso da figura 12, a descrição evidencia que o objeto que se procurava retratar era a vista geral das adutoras da Usina de Cubatão, particularmente seu traçado visto a partir de um bananal. Tomada nos primeiros meses da implementação do projeto de construção da Usina de Cubatão, a fotografia documentou o avanço das obras, pondo em destaque o traçado futuro dos condutos forçados da usina e a queda de mais de 700 metros através da Serra do Mar que possibilitariam a geração de energia elétrica no sopé da serra.

De maneira semelhante, a legenda da figura 13 apresenta, segundo descrição, a vista geral da casa de força e do canal de fuga. Nesta imagem, como na figura 12, se apresentam elementos técnicos associados ao processo de produção de energia elétrica a partir da utilização de recursos hídricos em Cubatão. No caso da figura 13, é apresentado, ainda que superficialmente, todo o processo de geração a partir da queda proporcionada pela Serra do Mar. Os primeiros elementos que são percebidos nesse sentido são a casa de válvulas e o castelo d’água no alto da serra, responsáveis pela entrada de água nas adutoras e regulação da pressão da água. Em seguida, veem-se os dois condutos forçados que transportam as águas captadas e represadas no planalto e no alto da serra através da Serra de Cubatão até chegarem à casa de máquinas. A casa de máquinas, edifício localizado no pé da serra, é o elemento que se destaca em seguida. Nela se encontram a sala de controle e a sala de máquinas, com as

turbinas e geradores encarregados de gerar energia elétrica. Por fim, há o canal de descarga, através do qual as águas são despejadas no rio Cubatão após terem feito girar as turbinas.

É importante reconhecer que, embora distantes no tempo por dois anos, as figuras 12 e 13 estabelecem um diálogo entre si. Primeiramente, ambas as fotografias parecem ter como objetivo primário o registro de elementos técnicos da Usina de Cubatão. Em seguida, postas lado a lado, as fotografias apresentam parte do processo de implantação da Usina de Cubatão e seus impactos sobre a paisagem natural da região. É bastante provável, a propósito, que esses registros fotográficos tenham sido motivados pela ânsia de documentar as novas obras da São Paulo Light e a ampliação da empresa, como muitas vezes ocorreu na produção fotográfica da Companhia – como, por exemplo, no processo construtivo da Usina de Parnaíba e da Usina Itupararanga. A Companhia, nesse sentido, procurava construir uma narrativa sobre seu crescimento, gerando registros imagéticos dos elementos técnicos que