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Conforme apresentei até o momento, a São Paulo Light fornecia a seus trabalhadores uma série de serviços voltados à moradia, o que foi de suma importância para que os mesmos se fixassem no entorno da usina e se adequassem aos padrões de vida planejados pelas elites empresariais. Os equipamentos e serviços fornecidos não se reduziam, porém, às casas dos trabalhadores. Tendo em vista que a vila estava isolada na composição geográfica de Cubatão, foi necessário prover também as necessidades de consumo, saúde e educação dos trabalhadores. A vila contava, nesse sentido, com posto médico, escola, cooperativa, serviços de abastecimento de gêneros alimentícios e serviço postal próprio. Ensimesmada, configurava como que uma pequena cidade, que buscava ser autossuficiente, evitando que seus membros tivessem contato com os ambientes externos.

Percebe-se, com isto, que o planejamento do cotidiano dos operários não recaiu apenas sobre as casas enquanto unidades isoladas, mas sim sobre a vila como um conjunto organizado logicamente. Não apenas a vida no interior da residência deveria ser controlada, mas também os aspectos ligados ao espaço público e as sociabilidades estabelecidas entre as famílias de trabalhadores. Ademais, fornecendo os serviços necessários à vida dos trabalhadores, a São Paulo Light se colocava, novamente, como provedora de suas necessidades, assumindo o papel de pai/mãe de seus funcionários.

As entrevistas realizadas buscaram compreender o papel que esses serviços desempenhavam no cotidiano dos ex-moradores da Vila Light, bem como a capacidade de autossuficiência da vila. Para tanto, elaborei perguntas sobre a aquisição de gêneros alimentícios, sobre os serviços médicos e educacionais e sobre a relação com outras cidades, bairros e grupos operários.

Em linhas gerais, os depoimentos dos ex-moradores da Vila Light focaram-se na quase autossuficiência da vila, apontando os recursos lá existentes que contribuíam para torná-la um bom local para viver. As narrativas se voltaram para o reconhecimento da qualidade de vida, ao mesmo tempo em que apresentaram elevados graus de afetividade com modos de vida que se perderam com o tempo.

Esse aspecto ficou claro, por exemplo, na fala da Sra. Odette. Em dado momento de sua entrevista, a depoente lamentou as mudanças ocorridas na vila e o estado em que se

encontra atualmente. Disse Odette que desejava voltar a viver lá, desde que as coisas fossem como eram no passado. Apresentou, então, algumas lembranças, em tom saudosista:

[...] Quando eu morava lá na Light, não morava naquelas casas granfinas não, morava nas pobres. Era casa de pobre. Então, ficava na porta, do lado de fora, (...) o saco do pão e o litro do leite vazio, que era pra eles deixarem o cheio e levarem o vazio. Ninguém mexia! Ninguém!

Todo dia [o padeiro ia]. Ia todo dia e deixava lá o pão.

O primeiro aspecto que se destaca na fala de Odette é a pobreza. A entrevistada estabeleceu uma clara distinção entre casas de ricos e casas de pobres, e se colocou como habitante do segundo grupo. Os conflitos entre diferentes classes sociais dentro da própria estrutura de trabalho da Companhia, a propósito, foram constantes em seu depoimento.

Sendo sua casa uma “casa de pobre”, Odette chamou atenção para um segundo aspecto: os serviços diários de abastecimento de pães e leite. O que se destaca em relação a esse trecho é a ideia de segurança. A afirmação de que “ninguém mexia” indica que, nas memórias dessa ex-moradora, a vila se constituiria como um local de total segurança e de plena confiança entre vizinhos – a despeito das tensões de classe – e que mesmo os moradores mais pobres não estariam expostos a riscos e violência.

No entanto, ao se associar o trecho citado ao tom melancólico que orientou boa parte do depoimento de dona Odette, é possível considerar que a ideia de segurança esteja associada não só à vila, mas também ao próprio passado. Novamente, o contraste com um presente que se mostra ameaçador e desconhecido, fator que se deve tanto ao fenômeno do presentismo quanto às particularidades das memórias dos velhos, estrutura a memória da depoente. A memória se evidência, assim, como um fenômeno que se orienta do presente para o passado, e não ao contrário. Embora diga respeito aos eventos passados, ela é, em si, um fenômeno que tem lugar no presente e que responde a questões que lhe são próprias.

As estruturas e serviços descritos pela Sra. Odette se aproximam muito daqueles descritos pela Sra. Ivone. Ao ser perguntada sobre as estruturas que a vila possuía além da escola, dona Ivone comentou a existência de serviços de saúde, educação e abastecimento de gêneros alimentícios. Sobre os serviços de saúde disse que

[...] Ali tinha posto médico. Primeiro tinha lá na Ilha. Que era assim, uma casa de madeira, grande e comprida. Ali tinha médico, enfermeiros... inclusive, quando eu me queimei, minha mãe me levou lá nesse postinho, que era bem perto da nossa casa também. Só atravessava o canal, uma ponte que tinha, né? Pra ir pra lá. Depois passou lá pra cima, pra perto da Casa de Visita. (...) Tinha o posto médico, em frente à Casa de Visita. Ali também tinha médico (...) [.] Ali já era mais estruturado, já era de cimento. A gente chamava de posto médico, né?

Seu depoimento apresentou os postos médicos que conheceu na vila a partir de uma ótica bastante pessoal, associada especialmente ao espaço da infância. As memórias de dona

Ivone, como abordei anteriormente nesta dissertação, dão bastante ênfase à primeira casa em que viveu, na chamada “Ilha”. Nesse sentido, o comentário de que para chegar ao posto médico bastava atravessar uma ponte sobre o canal é bastante significativo se for levado em conta o fato de que era justamente o canal de descarga da usina que delimitava fisicamente a Ilha, separando-a geograficamente do restante da vila.

A importância da Ilha como espaço da infância para dona Ivone é verificável também no fato de que a descrição de seu posto médico vem acompanhada de lembranças referentes não apenas à estrutura do serviço, mas a um episódio ocorrido com a própria depoente, um acidente sofrido na infância e associado às recordações que tem de sua falecida mãe. Tal importância foi reforçada na sequência, com os comentários que fez sobre as escolas da vila:

E a primeira escola que teve, antes de ter essa escola que tem até hoje, era lá na Ilha. E era tipo de um salão. E era só uma professora pras 4 séries. Primeira a quarta série, dentro de uma sala, né? (...) Primeiro, segundo, terceiro e quarto ano. Numa sala só. E eu comecei a estudar lá. Lá na Ilha. Acho que até o segundo ano. Depois nós mudamos. Construíram a escola lá em cima, no Acampamento D. Eu fui pra essa escola.

Tal como feito em relação ao posto médico, Ivone enfatizou a escola que existia na Ilha, na qual passou os primeiros anos de sua vida escolar. Os comentários sobre a escola nova foram superficiais, reduzindo-se a uma indicação de sua localização, “lá em cima, no acampamento D”. Diferentemente, os comentários sobre a escola da vila foram bastante detalhados, apresentando tanto o espaço físico da escola – um salão – quanto a organização das aulas – uma única professora lecionando para 4 turmas de diferentes séries.

Um movimento inverso foi identificado na fala da Sra. Odette, que deu maior ênfase à escola mais nova em detrimento da escola mais antiga. Em dado momento da entrevista, a depoente comentou as amizades que fez na vila. Disse não fazer amizade facilmente, mas associou seus amigos ao espaço escolar, tecendo alguns comentários sobre este:

[...] A sala de aula na Light era escola mista, né? Então era menina e menino. Mas assim, era uma [única] professora. Ela dava aula pra primeira – tudo numa sala só – pra segunda e pra terceira. Ela não dava aula pra quarta porque ali não tinha espaço pra quarta série. Então quem passava pra quarta vinha estudar na Fabril ou em Cubatão.

A fala de Odette se aproximou bastante da de Ivone na apresentação da escola mais antiga ao focar em sua estrutura precária, apontado a existência de uma única sala de aula em que uma mesma professora lecionava para diferentes turmas. Houve uma pequena divergência entre as séries atendidas pelo estabelecimento, pois segundo dona Ivone a escola abrigaria crianças de primeira a quarta série, enquanto de acordo com dona Odette apenas crianças até a terceira série seriam atendidas pelo estabelecimento, sendo necessário que os alunos da quarta série se deslocassem a outras áreas de Cubatão para estudar.

Na sequência, depois de dar destaque às condições precárias da escola mais antiga, a Sra. Odette comentou a construção da nova escola:

[...] Aí, quando foi em [19]49 foi inaugurada, construíram uma escola da primeira até a quarta.

Na Light. Lá em cima (...). Então, a minha quarta série foi lá. Eu estudei as 3 séries lá em baixo, na escola mista. Quando eu passei pra quarta, lá em cima já estava feita. [...] Então, nossa, aquilo pra gente era um encanto!

[...] Quando foi em 49, foi inaugurada essa escola e eu já fui pra lá, pra quarta série. (...) A gente foi pra lá e a inauguração se deu logo depois. [...] Lá tinha banheiro pra menino, pra menina e (...) acho que tinha mais de um banheiro [em] cada porta. Enquanto que lá em baixo a chave tinha que ficar na mesa da professora, era fora, tinha sempre que alguém ir com a gente, porque tinha muito peão trabalhando por ali, e já não era tão limpo, porque lá em cima tinha funcionário pra limpar. Então lá em cima era outra coisa.

A fala de Odette se estruturou a partir do estabelecimento de comparações entre as duas escolas. O contraste se estabeleceu entre a precariedade da primeira e o deslumbramento causado na depoente pela segunda. A escola mais antiga foi caracterizada por Odette por não atender aos 4 anos iniciais da formação escolar e por contar com uma única professora, que precisava lecionar para diferentes turmas em uma mesma sala de aula. A escola mais nova, diferentemente, foi caracterizada pelas enormes qualidades que possuía em relação à primeira. Primeiramente, se destacou o atendimento aos 4 primeiros anos da formação escolar; em seguida, a atenção da depoente recaiu sobre a estrutura do prédio, que contava com banheiros no interior do edifício escolar, divididos por gênero e com várias cabines.

Mas mais do que a estrutura em si, interessa o efeito que a nova escola desempenhou sobre dona Odette: reconhecida em suas memórias como mais limpa e segura e com melhor estrutura, a escola mais recente “era um encanto”. O efeito é tão importante que Odette sublinhou o fato de a nova instituição ter recebido uma cerimônia de inauguração, o que indica a intenção da Light de comemorá-la – no sentido de torná-la um marco na memória coletiva dos habitantes da vila. Tamanho foi o impacto da nova construção na memória dos ex-moradores da vila, que Odette afirmou com grande certeza o ano de sua inauguração. A precisão com que marca a inauguração da nova escola indica sua importância para a depoente. Embora as memórias de Ivone e Odette divirjam sobre o espaço escolar – uma dando maior ênfase à escola antiga e outra à escola nova –, ambas tomaram a escola como um elemento de grande importância para a vida na vila. Seja associando a escola ao espaço da infância, como fez Ivone, ou destacando-a pelo deslumbramento por ela gerado, como fez Odette, os depoimentos demonstraram memórias com elevada afetividade para com o serviço escolar fornecido pela São Paulo Light.

A escola parece despertar um sentimento de carinho ou gratidão em relação à Vila Light e à própria São Paulo Light. Como exemplo, pode-se evocar um comentário feito pela Sra. Vera Olcese: no final de sua entrevista foi perguntado a ela se gostaria de contar algo mais sobre sua vida na vila, se havia algo que ela julgava importante registrar. Suspirando, respondeu:

Olha, o que eu acho muito importante é que eu fiz o primário lá e eu saí com um nível de escolaridade pra entrar num colégio particular de nível, na cidade, aqui. Sem dificuldade escolar. Quer dizer, as pessoas saíam de lá daquela escola com um nível de escolaridade, assim, excelente. Isso é uma coisa que a gente deve sempre lembrar. Principalmente os dois últimos anos, que eu fiz com a dona Lucy, ela deixava os alunos com uma base...!

É claro que (...) sem tirar o mérito das outras, que alfabetizaram, segunda série e tal. Mas você saia, assim, com um nível...! Que não tinha "senão" pra você colocar.

O comentário de Vera é carregado de admiração e gratidão pelo ensino ofertado. É verdade que a gratidão se direciona particularmente a um indivíduo – a professora Lucy, figura de grande importância para a memória coletiva da vila. Mas é também verdade que a gratidão parece se dirigir à escola como um todo, visto que o foco é no nível de ensino proporcionado pela escola e que a instituição recebe mais destaque do que a própria professora.

O destaque dado por dona Vera à escola pode provir, em parte, do fato de ela mesmo ter lecionado lá. Segundo mencionei anteriormente, Vera, após se formar no Ensino Normal, com aproximadamente 18 anos, passou a trabalhar como professora na escola da própria usina, lá permanecendo por cerca de 9 anos. Mas um olhar comparativo sobre os diversos depoimentos coletados aponta para um fenômeno coletivo de valorização do serviço de ensino promovido pela São Paulo Light. Os ex-moradores da Vila Light que concederam entrevistas a mim ou com os quais pude conversar, especialmente as mulheres, atribuíram à escola um importante papel em suas memórias. Fosse ela valorizada por sua ligação com a infância dos depoentes, fosse pela qualidade de seu ensino e de sua estrutura, certo é que a escola foi tomada como um dos motivos de o passado na Vila Light ser considerado melhor que o presente pelos entrevistados.

É importante notar, no entanto, que a escola foi um dentre os diversos serviços urbanos citados nos relatos orais. Dona Ivone, por exemplo, após tecer algumas considerações sobre os postos médicos e sobre as escolas fornecidas pela São Paulo Light, comentou o modo como os gêneros alimentícios de consumo diário eram adquiridos na vila.

Então, básico mesmo era o posto médico, a escola e a cooperativa. Que tinha uma cooperativa muito boa, né? Funcionário comprava tudo ali. Agora pão, essas coisas, não tinha. Não tinha padaria, não tinha... Só tinha alimentos que tem... óleo, essas coisas, né? Comida. Mas pão vinha de fora. Vinha um padeiro (...) com uma

perua. E um verdureiro também, duas vezes por semana eles iam lá vender verduras, legumes. E o padeiro ia todo dia. Já tinha clientela, né? [Ele era] Daqui de Cubatão. Ia lá.

Os comentários da Sra. Ivone sobre os serviços urbanos ofertados na Vila Light apontam para certa autossuficiência da vila, de maneira semelhante ao que foi feito pela Sra. Odette. Se a Companhia provia saúde e educação para seus trabalhadores e se era fácil o acesso a gêneros alimentícios mais básicos, fosse por sua venda na cooperativa ou pela visita de comerciantes à vila, poucos seriam os motivos para que os trabalhadores da São Paulo Light se afastassem do núcleo urbano formado em torno da usina. Assim, reduzia-se o contato que os mesmos poderiam ter com outros grupos sociais que apresentassem comportamentos divergentes daqueles pretendidos pelo patronato.

A associação entre o isolamento da vila e a oferta de serviços básicos pôde ser notada na entrevista da Sra. Vera Olcese. Quando a entrevistada comentou os benefícios oferecidos pela São Paulo Light para os trabalhadores do Complexo Henry Borden, perguntamos a ela o porquê de tal oferta. A entrevistada respondeu:

Porque era tudo muito longe, né? Porque se não desse uma condição, você não tinha... naquela época, o acesso a uma cidade era muito difícil. Até as compras mensais, eles tinham uma cooperativa, que se fazia a encomenda e era entregue, porque era dificílimo você chegar com mantimento pra uma família que nem a nossa de oito pessoas, num lugar tão isolado assim. E o nível econômico, acho que pouquíssimas pessoas tinham um automóvel, ou um carro. Ninguém tinha naquela época isso. Então eles, até isso, eles tinham que dar uma facilidade, né?

O comentário de dona Vera indica que a própria comunidade de ex-moradores da vila possui consciência do isolamento a que estava sujeita. Os equipamentos urbanos, embora sejam tomados como aspectos positivos da vida na vila, são entendidos como estratégia necessária da Companhia para garantir as necessidades básicas de seus funcionários. Não parece claro aos entrevistados, no entanto, que o fornecimento desses serviços, em conjunto com o isolamento geográfico da vila, funcionava como um meio de garantir que os trabalhadores da Light se mantivessem afastados de modos de vida que seriam avessos aos interesses de seus patrões.

A consciência do isolamento pôde ser notada também, por exemplo, na fala do Sr. Manoel Pinheiro, que associou a fixação na vila ao suprimento das necessidades de atendimento imediato em casos de crise na geração de energia elétrica. Em dado momento, o entrevistado afirmou que

Para eles [patrões] era interessante a pessoa morar lá, porque numa emergência, [se] precisa de um mecânico, um elétrico, (...) eles tem lá, eles telefonam: ‘Oh, seu fulano, faz favor, vem aqui que tá...temos que ir lá, fazer um trabalho assim, assado, sabe?’. Muitas vezes a pessoa precisava sair, deixar um recado na porteira, né, deixava na própria porteira, que estava saindo, que era pra eles ficarem cientes que

aquele não está em casa. Então eles ligavam ‘por acaso fulano saiu aí (...)?’ ‘ah, saiu’ ou ‘não saiu’(...). Deixava o recado, né, que os funcionários... que as vezes que precisava de urgente, ia arrumar um problema que deu na usina, tinha que sair correndo, porque, quanto mais demorasse, mais prejuízo tem a Companhia, porque o gerador está parado. Então tem que sair correndo.

O isolamento e os serviços básicos que visavam, ao mesmo tempo, a suprir as necessidades básicas dos trabalhadores e a fixá-los nas imediações da usina eram, portanto, elementos violentos, que objetivavam condicionar os empregados ao trabalho, docilizá-los e fazê-los alcançar a maior produtividade possível. Por outro lado, porém, esses fenômenos contribuíram para a consolidação de laços de amizade e solidariedade entre os trabalhadores.

A fim de compreender a manutenção de laços comunitários entre os ex-moradores da Vila Light, em algumas entrevistas perguntei o porquê de estes se manterem tão unidos mesmo após sua saída da vila. A essa questão o Sr. Wellington Moraes respondeu:

É por causa da convivência que a gente teve lá, que a convivência foi muito boa, certo? Foi uma convivência muito boa e todo mundo conhecia todo mundo, né? E mesmo a gente saindo de lá manteve... a gente mantém os contatos, né? Por causa... tudo originário de lá. Então a gente, aquela convivência muito boa, você convivia ali dentro, né? Você não dispersava, né? Chegava no final de tarde, você ia bater papo com os colegas na beirada do campo, ia lá pro bocha, ia trocar uma ideia, as comadres sempre junto lá na escola, aquela coisa. Então é uma convivência, convivência muito boa, né? Então manteve. Raras exceções que você vê a pessoa se desgarrar da turma. Muito boa a convivência.

O tom de voz do Sr. Wellington e a ênfase por ele posta no termo “convivia” sugerem que as vidas dos trabalhadores do Complexo Henry Borden tendiam a se restringir aos ambientes da usina, da vila e do trecho da Serra do Mar que estava imediatamente em contato com o local. As ideias de que “todo mundo conhecia todo mundo” e de que o grupo de ex- moradores era “originário de lá” foram tomadas como justificativas da manutenção de laços comunitários mesmo após a saída da vila. E esse contato íntimo entre os moradores da vila foi explicado pelo depoente a partir da noção de que o indivíduo que habitasse a vila “não dispersava”, de que seu convívio se dava, quase que exclusivamente, com os demais moradores do local.

A não dispersão dos moradores da vila foi associada, nas memórias do Sr. Wellington,