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2 A CIRCULAÇÃO DA LITERATURA DE AUTORIA AFRICANA NO

2.2 AS EDITORAS INDEPENDENTES

2.2.1 As editoras Pallas, Kapulana, Nandyala, Língua Geral, Gryphus e

2.2.1.1 As linhas editoriais

No que diz respeito à fundação dessas editoras, a mais antiga é a Pallas, fundada em 1975, e a Estação Liberdade, fundada no final dos anos 80. As outras quatro foram criadas após a Lei 10.639/2003: Língua Geral (2006), Nandyala (2007), Gryphus (2009) e Kapulana (2012).

Paralelamente à produção de autores africanos, todas as seis editoras publicam outras literaturas. Por exemplo, a Nandyala publica obras de escritores brasileiros

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Essas informações foram encontradas no site do SILA (Salão Internacional do Livro Africano). Disponível em: http://www.silaencuentro.org/index.php/es/sila/ediciones-anteriores/edicion-ano-2011/participantes-sila

contemporâneos, chilenos, argentinos, martiniqueses e cubanos. Apesar de sua linha editorial ter como ênfase autoria negra e contextos africanos da diáspora, desde 2013, a editora vem publicando também livros de autoria indígena brasileira. Através desses temas, a editora procura atender à proposta do seu slogan: "Lutar contra o racismo e o sexismo por meio da leitura, em favor do respeito à diversidade e às diferenças".

Sobre a Pallas, essa editora tem um forte nicho na literatura infantil e juvenil, tendo, inclusive, criado, em 2014, a coleção Pallas Mini14, que procura atender à nova demanda do mercado livreiro e da esfera educacional por conteúdos de história e cultura afro-brasileira e africana. Essa coleção compreende obras que têm como foco histórias africanas e afro-brasileiras, em que a cultura negra assume um protagonismo na narrativa. Essa publicação de obras infantis só se desenvolveu no catálogo da Pallas, quando a Mariana Warth assumiu a direção da editora em 2002. Esse cargo foi ocupado primeiramente pelo seu pai, Antonio Carlos Fernandes, e, em seguida, pela sua mãe historiadora, Cristina Fernandes Warth, que ampliou o catálogo da Pallas, na década de 80, com livros sobre pesquisas acadêmicas, o que nos revela o aspecto familiar da empresa que hoje conta com 30 ilustradores e já editou obras de 181 escritores15.

Apesar de o foco editorial da Pallas ser voltado às tradições religiosas, linguísticas e filosóficas de diversos povos africanos, assim como ao imaginário cultural brasileiro ligado as diferentes culturas de países africanos, há também em seu catálogo publicação de obras de autores coreanos16

, venezuelanos17 e cubanos18, todos de países periféricos.

Em relação à editora Kapulana, ela foi criada, inicialmente, para atender a uma demanda do mercado de publicações científicas, com periódicos bilíngues (português e inglês), para instituições de ensino e pesquisa. Um ano depois, o seu campo de atuação foi ampliado, passando, em 2014, a editar obras de literatura de autoria africana de Língua Portuguesa, mais precisamente, obras de escritores moçambicanos e angolanos. Atualmente seu catálogo é composto por livros de autores e ilustradores do Brasil, de Moçambique, de Angola e de Portugal.

Já a editora Nandyala, que, em língua africana dos nyaneka-khumbi, etnia bantu, significa "nascida em tempos de fome", foi fundada inicialmente como livraria pela

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Entre 2000 e 2015 seis obras foram contempladas com o selo Pallas Mini. Uma é de autoria africana e as outras cinco são de escritores brasileiros. Esse dado foi verificado no dia 01 de fevereiro de 2018.

15 Informação encontrada no site oficial da editora Pallas. Disponível em: www.pallaseditora.com.br. Acesso em: 16 mar. 2017.

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Jang Hyeone Seong Eun Gang.

17 Menena Cottin.

professora de literatura Iris Amâncio e pela pedagoga Rosa Margarida Rocha. Um ano depois, em 2008, mudou de caminho, quando deixou de ser livraria e tornou-se editora, dessa vez com a direção apenas da professora Iris.

Além da editora, existe o Instituto Nandyala, que tem por objetivo desenvolver ações articuladas em torno de projetos que defendem os temas presentes em seus catálogos. Essas ações podem compreender divulgação, promoção e produção de livros, revistas e artigos. Trata-se de uma organização sem fins lucrativos que atua na execução de diferentes projetos, entre os quais a FLIAFRO (Festa Literária de Expressões Indígenas, Africanas e Afro-brasileiras), fundada em 2012, a qual consiste em uma festa literária de escritores africanos, indígenas e da diáspora negra, cujo propósito é dar mais visibilidade aos livros de autoria negras e indígenas19

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Quanto à linha editorial da Língua Geral, sua exclusividade consiste em publicar apenas autores de Língua Portuguesa. Segundo o editor, o escritor angolano José Eduardo Agualusa, a intenção da casa é "criar uma editora capaz de divulgar a produção literária da África de língua portuguesa, de Portugal e a do próprio Brasil"20.

No tocante à editora Gryphus, o seu catálogo geral atua nas áreas de ficção e não ficção (biografia, cinema, espiritualidade, música, temas científicos e tecnológicos). Das nove obras de autoria africana editadas por ela, entre 2000 e 2015, apenas escritores angolanos foram contemplados em sua linha editorial: José Eduardo Agualusa, Manuel Rui Alves Monteiro e Ruy Duarte de Carvalho.

Enquanto editora independente de porte médio, localizada em São Paulo, o catálogo da Estação Liberdade contempla obras de ficção (literatura japonesa, alemã, brasileira, de língua francesa, além dos clássicos da literatura mundial) e de não-ficção (arquitetura, filosofia, urbanismo, patrimônio, história da literatura, arte, cinema, fotografia, psicologia), contando hoje com duzentos e sessenta e cinco obras publicadas21

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A editora Estação Liberdade é conhecida no mercado livreiro pelo seu forte nicho na literatura japonesa. Em estudos anteriores (RAFAEL; DANTAS, 2012), veio a lume por suas traduções de Best-sellers japoneses, e, em menor volume, coreano e chinês. As margens de

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Todas essas informações sobre o Instituto Nandyala foram retiradas do site oficial da editora Nandyala. Disponível em: http://nandyalalivros.com.br/n_instituto/ Acesso em: 16 ago. 2017.

20 Informação encontrada num artigo jornalístico. Disponível em: <http://www.rtp.pt/noticias/cultura/editora-lingua-geral-quer-apostar-em-autores-de-lingua-portuguesa_n158915>. Acesso em: 29 mar. 2017.

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Informação encontrada no site da editora Estação Liberdade. Disponível em: http://www.estacaoliberdade.com.br/livraria/index.php?route=product/category&path=60 Acesso em: 22 jun. 2018.

lucro dessas produções entram como financiadoras nas traduções de obras que têm uma estética de difícil assimilação pelo público leitor, motivo pelo qual há um menor número de vendas, como é o caso dos romances do escritor marfinense Ahmadou Kourouma e do escritor argelino Rachid Boudjedra. Dessa maneira, sua produção de obras japonesas permite melhorar a margem lucrativa que a editora tem dificuldade de consolidar com as obras traduzidas do inglês e do francês, por exemplo. Enquanto editora independente, a Estação Liberdade não opera com grandes margens de lucro, não podendo, por exemplo, concorrer com editoras que são integradas a grandes conglomerados editoriais com contatos em Nova York e Londres.