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Outras ocupações no mercado de trabalho exercidas pelos indígenas residentes em Manaus são de: professores, vigias, merendeiras de escolas, operários da construção civil, de serviços gerais, de empregos domésticos, entre outras, que serão tratadas posteriormente nesta tese. Além disso, também se registrou a formação de uma intelligentsia indígena em Manaus, que é constituída por indígenas exercendo lideranças em associações, cargos em Organizações não governamentais (ONG), estudando nas universidades, atuando em instituições públicas etc. (SIMONIAN; PONTE, 2010).

A organização dos indígenas que moram em Manaus tem se intensificado com a criação de um número expressivo de associações que congregam os indígenas conforme critérios étnicos, regionais, étnicos-regionais-gênero, profissional, entre outros. Esse crescimento está relacionado às políticas públicas, visto que parte significativa dos programas governamentais, voltados às ações sociais, exigem que as propostas sejam encaminhadas por associações. A criação dessas organizações constitui uma estratégia com objetivo de

concorrer ao financiamento de projetos, como os de produção artística, com a finalidade de minimizar as condições precárias de subsistência, além de se constituírem com meio de superar a ausência de políticas públicas emanadas do Estado brasileiro. Essas organizações políticas são utilizadas como espaço de expressão das reivindicações dos indígenas nesse centro urbano, conforme aponte Silva (2001), devido à sua invisibilidade em Manaus.

Em função dos indígenas se constituírem como segmentos sociais discriminados na sociedade capitalista, tornam-se invisíveis à sociedade, levando-os a assumirem uma identidade silenciosa. Esse fato é recorrente entre os indígenas que residem em centros urbanos, e devido a isso, parte dessa população não assume a sua identidade étnica, passando a assumir a identidade de caboclo.

Segundo Silva (2001), o caboclo e o índio se confundem no espaço urbano de Manaus, pois optam pela mesma identidade de caboclo, a fim de minimizar a carga de preconceitos existentes na sociedade do capital. Contudo, ao usar essa identificação, o indígena recebe a mesma carga de preconceito, historicamente construída acerca do caboclo. Outra maneira utilizada pelos indígenas para ocultamento de sua identidade e como modo de resistência à discriminação capitalista ocorre ao se identificarem como peruanos ou colombianos, por acreditarem que os latinos estrangeiros receberiam melhor tratamento em Manaus.

Dessa maneira, reféns de preconceitos e discriminações, usam o mecanismo do silêncio, da manipulação da identidade étnica, da invisibilidade. Com isso, passam a ser confundidos com os caboclos regionais ou até mesmo com estrangeiros latinos. Entretanto, nesse novo território onde residem e no Centro Cultural Indígena buscam a autoafirmação como indígenas, pertencentes a uma dada etnia, situações em que os indígenas de Manaus deixam de ser invisíveis e passam a assumir a identidade étnica publicamente.

3.2.2 Ação do governo do Amazonas e os indígenas

O Governo do Estado do Amazonas há alguns anos desenvolve projetos e ações dirigidos às populações indígenas, entre os quais, destacam-se: 1º Feira Cultural Indígena, Semana dos Povos Indígenas, 1a Conferência de Pajés, Cursos de Gestão de Lideranças Indígenas, Oficinas Pedagógicas nas Escolas de Manaus e do Interior do Estado, Assessoria às Organizações Indígenas, além de outros.

Em 2001 foi criada a Fundação Estadual de Política Indigenista (FEPI), reconhecida pelo Governo do Estado do Amazonas como uma política de ação institucional que visava romper com paradigmas de discriminação e exclusão social. As ações da FEPI se basearam

em uma declaração de princípios, acordada publicamente entre o Governo Estadual e as organizações indígenas durante a realização do Curso de Gestão de Lideranças Indígenas e na Reunião Ordinária do Conselho de Educação Escolar Indígena (CEEI), eventos estes realizados em setembro de 2001.

Além disso, a FEPI tem buscado aprovação de projetos junto a programas do Governo Federal, tais como: Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico (CNPq), entre outros.

No período de abril a junho de 2003, a partir de inúmeros encontros entre o poder público e lideranças indígenas, mediante a realização de oficinas de planejamento nas onze regiões de atuação da FEPI, foi gestado um programa intitulado ―Programa Amazonas Indígena‖. Para a criação do referido programa foram realizados estudos e diagnósticos desenvolvidos sobre as questões indígenas pelas secretarias estaduais, órgãos federais, instituições de pesquisa, comunidades e organizações representativas dos povos indígenas no intuito de elaborar um relatório sobre a situação e condição dos povos indígenas na Amazônia, cuja versão conclusiva foi aprovada na 1ª Conferência dos Povos Indígenas do Estado do Amazonas, realizada em novembro de 2003 (PROGRAMA AMAZONAS INDÍGENA, 2004).

O ―Programa Amazonas Indígena‖ tinha como objetivo geral

Garantir condições de segurança alimentar, geração de renda, direitos a cidadania, conservação e uso sustentável dos recursos naturais, preservação e valorização das culturas para o bem estar dos povos indígenas do Estado do Amazonas (PROGRAMA AMAZONAS INDÍGENA, 2004, p. 34).

Assim, o programa supracitado pretendia assegurar os direitos, necessidades e as demandas dos povos indígenas, com vistas ao etnodesenvolvimento38, por meio de projetos e implementação de políticas públicas nas áreas de educação, saúde, infraestrutura, produção e sustentabilidade, cultura e direitos indígenas, além do fortalecimento das organizações indígenas.

Para os idealizadores desse programa o momento de implantação foi apropriado, pois coincidia com o início do processo de concepção da Zona Franca Verde (ZFV), que objetivava combinar a geração de emprego e renda à conservação da natureza e da diversidade cultural do estado do Amazonas, isto é, associação entre crescimento econômico, desenvolvimento social e sustentabilidade.

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A política de etnodesenvolvimento é uma das diretrizes do Governo Federal a ser implantada pelos governos estaduais para os povos indígenas.

Esses objetivos foram descritos no relatório de gestão do Governo do Amazonas no ano de 2007, no qual informava os três eixos temáticos focalizados pela FEPI: desenvolvimento sustentável; valorização e promoção da diversidade cultural e dos direitos dos povos indígenas e fortalecimento das organizações indígenas. No referido relatório observou-se a preocupação do Governo Estadual em implementar ações que expressassem o seu compromisso ―[...] com a melhoria da qualidade de vida, a garantia do equilíbrio do meio ambiente e o rompimento dos velhos paradigmas de relação entre o Governo e os Povos Indígenas‖ (AMAZONAS, 2007, p.149).

Em 2009, o Governo do Estado do Amazonas, sob a responsabilidade da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, executou o ―Programa Amazonas Indígena‖, o qual teve como órgão interlocutor, entre os indígenas e o Governo do Estado, a Fundação Estadual de Política Indigenista (FEPI), conforme se apresenta no Diagrama 1.