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4 EDUCAÇÃO ESCOLAR E SAÚDE INDÍGENA NO AMAZONAS E NO PARÁ

4.2 EDUCAÇÃO ESCOLAR E SAÚDE INDÍGENA NO PARÁ 1 Educação escolar indígena no Pará

4.2.2 Saúde indígena no Pará

A partir da aplicação dos formulários elaborados para proceder esta pesquisa, obtiveram-se resultados, relatados a seguir, os quais foram cruzados com as entrevistas realizadas com técnicos, funcionários e gestores. Além desses procedimentos, realizou-se análise de inúmeros relatórios, cedidos por funcionários dos órgãos públicos responsáveis pela saúde indígena, onde se buscou examinar as políticas e ações dirigidas a essas populações, a fim de averiguar sua contribuição no que concerne à saúde indígena no Pará.

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Alguns entrevistados relataram: falta de condições de moradia, residindo de modo improvisado em hotéis e até em repartições públicas; carência de alimentação; dificuldades de aprendizagem; carência financeira; precarização da formação anterior etc.

Nesse contexto, foi detectado que a FUNASA/PA desenvolveu vários planos, projetos e programas destinados às populações indígenas a partir de 1988, período objeto deste estudo, as quais são identificadas a seguir: Programa de Saúde da Mulher e da Criança; Imunização; Assistência Farmacêutica; Vigilância Ambiental; Malária; Saúde Bucal; Saúde Mental e DST/AIDS. Segundo informações coletadas dos técnicos da FUNASA/PA foram obtidos os seguintes resultados: controle de casos de malária; vigilância epidemiológica da Influenza H1N1; controle da tuberculose; cobertura vacinal de acordo com o PNI; vigilância epidemiológica da DST/AIDS. No que diz respeito às metas alcançadas, as mesmas fontes apontaram os seguintes indicadores: redução dos casos de malária; esquema vacinal completo superior a 85%; redução dos casos de tuberculose; cobertura vacinal para H1N1 superior a 90%; redução dos casos de desnutrição em crianças de cinco anos e gestantes. Como metas não alcançadas foram relatadas: a construção dos postos de saúde e o saneamento básico em 100% das aldeias.

A partir de 2009 todos os projetos e programa da FUNASA/PA foram desenvolvidos de acordo com as metas descritas no Plano Distrital de Saúde Indígena (2008-2010), atendendo um total de 6.852 indígenas pertencentes ao DSEI Guamá Tocantins, cujos resultados obtidos propiciaram o desenvolvimento das Ações de Saúde e Vigilância Epidemiológica nas áreas indígenas, de acordo com o que preconizava a Política Nacional de Saúde Indígena. Conforme os relatórios da FUNASA/PA, a redução da morbimortalidade dos povos indígenas pertencentes ao DSEI Guamá Tocantins foi a principal meta alcançada pelo Plano Distrital de Saúde Indígena (2008-2010). A FUNASA/PA declarou como meta não alcançada a construção dos postos de saúde e o saneamento básico em 100% das aldeias.

As ações contidas na Política Nacional de Saúde Indígena, assim como as metas estabelecidas no Plano Distrital de Saúde Indígena, foram desenvolvidas nesse período por intermédio da FUNASA/PA. Na discussão de planos, projetos e programas direcionados à saúde dos povos indígenas houve a participação das lideranças das comunidades indígenas, os quais sugeriram proposições a esse respeito. Também estiveram presentes nesses debates representantes dos Conselhos Locais de Saúde Indígena e Conselho Distrital de Saúde Indígena.

Do mesmo modo ocorreram as discussões e debates para a elaboração dos planos distritais de saúde indígena, ao mesmo tempo em que algumas lideranças indígenas promoveram o acompanhamento das ações de saúde desenvolvidas nas aldeias, por meio do controle social e da gestão.

Em relação à Secretaria de Estado de Saúde do Governo do Pará (SESPA), os técnicos entrevistados relataram que até 2008 não houve registros de política de saúde às populações indígenas, tampouco para as populações tradicionais, em decorrência de não existir na estrutura dessa secretaria uma coordenação específica para esse fim. Em 2008, esse quadro mudou com a criação da Coordenação Estadual de Saúde Indígena e Populações Tradicionais, que mesmo recém-criada, em parceria com outros órgãos governamentais, desenvolveu algumas ações, tais como: a Conferência Estadual dos Povos Indígenas (2008); Fórum Social Mundial (2009); Oficinas de acompanhamento das Diretrizes de Humanização do Contexto Indígena; cursos de capacitação para técnicos da rede estadual de saúde para teste/diagnóstico de HIV; e treinamento em teste tuberculino na área de Jacareacanga.

A SESPA também atuou de forma ativa durante as discussões sobre a política de saúde indígena junto a gestores, técnicos e até usuários do SUS, através de oficinas, cursos de formadores e apoiadores de política nacional de humanização. Como metas alcançadas, os técnicos da SESPA entrevistados evidenciaram a criação da Coordenação de Humanização, que teve como resultados obtidos, entre outros, o GTS - Humanização e Saúde. Já como metas não alcançadas, os mesmos entrevistados indicaram: melhor estrutura dos postos de saúde nas aldeias e os investimentos na área da saúde indígena.

A partir do exposto nesse capítulo, pode-se inferir que a política indigenista no país vem sendo praticada de modo descontínuo, voltada a atender interesses de alguns segmentos da sociedade nacional, ou ainda como instrumento de barganha política eleitoreira. Mesmo à época do SPI, em que as políticas públicas indigenistas se pautavam sob a ótica rondoniana integralista, a população indígena foi ignorada no que concerne às suas necessidades de saúde, uma vez que se pretendia a adaptação do povo indígena à sociedade nacional, apesar de suas múltiplas diversidades.

Com a ditadura militar instalada no comando do país, a ideologia desenvolvimentista se tornou o foco central da política de governo e seu reflexo para as populações indígenas foi desastroso, em especial as da Amazônia, conforme assinalado por Davis (1978) e outros autores.

A mobilização indígena e não indígena para a Constituinte e a posterior aprovação da CF/1988, com medidas legais favoráveis a essa população, foi um marco importante na conquista dos direitos indígenas.

Apesar disso, em decorrência do Decreto nº 26 de 1991 e outras medidas legais, provenientes do processo de reforma do Estado no contexto das políticas neoliberais adotadas no país na década de 90 do século XX, ocorreram retrocessos nas conquistas das populações

indígenas, visto que houve a descentralização da política indigenista dividindo-se a responsabilidade dessas políticas, o que resultou na setorização e consequentemente na fragmentação e fragilização das políticas públicas indigenistas.

Em relação à articulação entre os órgãos governamentais envolvidos na política indigenista, observa-se ausência desta e sua consequência geram ações isoladas, quase sempre ineficazes, como as ocorridas nos estados do Amazonas e do Pará. Assim, as pretensas políticas públicas de educação e de saúde delineadas pelas instâncias governamentais às populações indígenas não atendem as suas necessidades reais, caso pretendessem fazê-lo, ocasionando prejuízos a essa população.