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Fluxograma 1 Problematização da pesquisa

1.4 PROPOSIÇÃO CENTRAL

1.5.1 Procedimentos metodológicos

Para realizar a pesquisa etnográfica e crítico-analítica que fundamenta esta tese, procedeu-se inicialmente a uma revisão da literatura sobre o objeto estudado. Fez-se assim uma fundamentação teórico-metodológica que se estendeu ao longo do período de investigação. Nessa ocasião, efetivou-se a seleção de referências bibliográficas e de fontes documentais que serviram à atualização e aprofundamento do tema.

Obtiveram-se as fontes bibliográficas em bibliotecas de instituições públicas diversas. Dentre elas, trabalhou-se na UFPA, no Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), na Fundação Nacional do Índio (FUNAI/Brasília) e na Universidade de Brasília (UNB). Também, fizeram-se consultas nos

arquivos das organizações indígenas e indigenistas e também em acervos públicos e institucionais consultados por intermédio da internet.

Conseguiram-se as fontes documentais em instituições, organizações indígenas e indigenistas diversas. Precisamente, na FUNAI (Brasília, Belém e Manaus), MEC/SECAD, FUNASA (Brasília, Belém e Manaus), SEDUC/AM e na SEDUC/PA, CEEI/AM, CEE/PA, SEMEC (Belém e Manaus), SEMSA (Belém e Manaus), SEJDHU/PA e na Confederação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Conselho Indigenista Missionário (CIMI) (Belém e Manaus), entre outras. Isso além da consulta realizada em acervos particulares, como na biblioteca do professor Paulo Monte da UFAM, que cedeu documentos do seu arquivo pessoal, e acervos públicos consultados na internet.

Realizada entre 2004 e 2005 e em Belém e Manaus, a pesquisa possibilitou o acesso a informações iniciais sobre os indígenas e as suas condições de vida e de trabalho nesses centros urbanos. Na pesquisa de campo em questão, coletaram-se informações diversas sobre as condições de vida dos índios citadinos. Os procedimentos referentes ao processo de investigação bibliográfica e documental auxiliaram na tomada de decisões sobre a pesquisa para esta tese. Assim, procedeu-se à preparação do material necessário à coleta dos dados necessários a esta tese, os quais resultaram na elaboração dos procedimentos metodológicos e técnicos adotados.

Deu-se início à investigação de campo em 2008, a qual se estendeu até 2010, mediante contatos em Belém, Manaus e Brasília. Nessas cidades, entrevistaram-se os indígenas, os indigenistas e os representantes das organizações representativas dos índios. No ano de 2008, elaboraram-se os formulários da pesquisa, constituídos em três modelos distintos. Com eles,

visou-se atingir os três segmentos sociais: os indígenas, as instituições públicas indigenistas e não indigenistas, as privadas indigenistas e as organizações indígenas.

Ainda em 2008, iniciaram-se as entrevistas que se estenderam até 2010, tanto com os indígenas residentes em Belém, Manaus e Brasília, quanto com os técnicos não indígenas dessas cidades pertencentes às instituições pesquisadas. Além dessas atividades, realizou-se um levantamento sobre a presença de indígenas nas cidades de Belém e Manaus. E fez-se isso a partir de fontes do IBGE, do CIMI, das prefeituras municipais de Belém e Manaus, da COIAB, da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), da Associação das Mulheres Indígenas Sateré-Mawé de Manaus (AMISM) e da Associação dos Índios da Área Metropolitana de Belém (AIAMB).

A coleta desses dados permitiu tanto identificar a localização destes segmentos sociais nestes centros urbanos, quanto possibilitou subsidiar a construção dos mapas apresentados nesta tese. Nos mapas, identificaram-se os locais de residência dos indígenas citadinos. Também, neles se localizou as áreas de comercialização de suas artes e as organizações políticas representativas dos indígenas.

Concomitante à aplicação dos formulários e das entrevistas, procedeu-se à observação direta, realizada até meados de 2010. Essa observação se deu em locais diversos, como: nos locais de moradia, trabalho e estudo dos indígenas; nos eventos direcionados aos indígenas (congressos, reuniões, exposições, seminários); nas organizações indígenas e nas instituições públicas indigenistas e não indigenistas e privadas indigenistas.

Nas instituições públicas, se privilegiou a aplicação dos formulários aos dirigentes dos setores responsáveis pelos indígenas. Como se sabe e pelas funções que exercem, eles detêm informações relevantes para trabalhos que resultam de pesquisa, como esta tese. Nos casos em que os setores estavam sob a coordenação de indígenas, também fez-se entrevistas com os seus dirigentes.

Nesta direção, entrevistaram-se os coordenadores do Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena do Estado do Amazonas (CEEI/AM), da Fundação Estadual de Política Indigenista do Estado do Amazonas (FEPI/AM), da Coordenadoria de Educação Escolar Indígena da Secretaria de Educação do estado do Pará e da Coordenação de Promoção dos Direitos dos Povos Indígenas e Populações Tradicionais da Secretaria de Justiça do estado do Pará. Objetivou-se com isso ouvir, de modo mais detalhado, as opiniões dos interlocutores sobre as ações públicas de educação e saúde. Também, detectou-se seus procedimentos e ações como dirigentes indígenas e representantes de seus povos.

No período compreendido entre 2008 e 2010, procedeu-se a coleta de informações a respeito das organizações políticas indígenas1. Concomitantemente, realizou-se em tais organizações a observação direta, a aplicação dos formulários, questionários e das entrevistas em Belém e Manaus. Porém, enfatizaram-se aquelas que tratavam de educação e saúde.

Em Brasília, entrevistaram-se lideranças históricas do movimento indígena, que ocupavam naquela ocasião cargos de direção em instituições públicas. Em Manaus, analisaram-se dados obtidos a partir de 54 questionários aplicados ao mesmo número de indígenas residentes nessa cidade. Em Belém, fizeram-se análises de 50 questionários aplicados ao mesmo número de indígenas residentes nessa cidade. Note-se que tais indígenas formam um subconjunto dos indígenas brasileiros que habitam regiões urbanizadas ou em urbanização.

Os dados foram obtidos por meio de formulários, de questionários, de entrevistas e da observação direta. Os mesmos serviram para elucidar os problemas e as proposições elencadas no projeto de pesquisa. Buscou-se assim complementar e identificar contradições prováveis presentes quando do cruzamento das informações obtidas r registradas nos mesmos. Inicialmente, aplicaram-se técnicas de estatística descritiva para apresentar os dados na forma de tabelas e gráficos que representaram a distribuição de frequências absolutas e relativas das variáveis. Na tabulação dos dados, processada a partir dos formulários e questionários aplicados, procedeu-se a inferência estatística, por meio de Análise de Correspondência, realizada nos dados procedentes de Manaus. Conforme assinala Cunha Jr. (1997), a técnica de Análise de Correspondência estuda a associação de variáveis categóricas de forma bivariada (Análise de Correspondência Simples (AC)) ou multivariada (Análise de Correspondência Múltipla (ACM)), e apresenta como característica principal a redução de dados a serem analisados pelo pesquisador, com perda mínima de informações.

Para que a técnica estatística AC possa ser aplicada de modo eficaz é necessário que o par de variáveis a ser analisado seja submetido ao teste do Critério β. Ele indica se a aplicação da Análise de Correspondência entre as variáveis é válida ou não, ou seja, o valor resultante do teste deve apresentar significância estatística. O cálculo do valor do critério β é dado por:

2 ( 1)( 1) ( 1)( 1) l c l c         (1) 1

As organizações indígenas pesquisadas foram as seguintes: Associação das Artesãs Indígenas Poterikharã, Associação de Expressão Natural do Grupo Bayaroá, União dos Povos Indígenas de Manaus, Associação das Mulheres do Alto Rio Negro, Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas, Associação Wotchimaücü, Coordenação Indígena Kokama de Manaus, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira e Associação Waykimu.

onde χ2 é o valor do qui-quadrado, l é o número de linhas, c é o número de colunas, O é a frequência observada e E representa a frequência esperada (2). Se β for maior que 3, as variáveis são ditas associadas entre si (dependentes) a um risco menor e igual que 5% e, consequentemente, aplicável nas respectivas variáveis a AC.

É recomendada a realização do critério β antes da aplicação da técnica. E se o β for inferior a 3, não poderá ser aplicada a técnica, devido o critério indicar independência entre as variáveis.



  E E O 2 2  (2)

A significância de 2 indica desvios significativos dos perfis linha em relação a seu centroide, com nível de significância , usualmente 0,05.

Após a construção dos testes qui-quadrado e critério , pode-se observar as relações pertinentes ao estudo por meio dos gráficos perceptuais/intuitivos ou utilizando-se da análise dos resíduos da Tabela de contigência. O resíduo referente a cada cruzamento das categorias das variáveis em estudo Zres é dado por:

c j l i E E O Z ij ij ij res , 1,, e 1,,   . (3)

Além disso, Ramos et al. (2008) recomendam que se há de calcular os níveis de confiança respectivos para cada resíduo Zres, os quais determinaram a significância estatística dos resíduos, por meio de:

              , 3 , 1 ; 3 0 , 1 2 1 ; 0 , 0 res res res res Z se Z se Z Z P Z se  (4)

Precisamente, Z é uma variável aleatória com distribuição de probabilidade normal padrão e para efeito de relação estatística significativa espera-se que  0,70.

Realizou-se a análise estatística para avaliação de políticas públicas indigenistas em Belém por intermédio de métodos estatísticos descritivos e inferenciais. Aplicou-se a estatística descritiva para apresentar os dados por meio de distribuições de frequências absolutas e relativas. Na parte inferencial, aplicou-se o teste qui-quadrado para avaliar a tendência das variáveis. Foi previamente fixado o nível  = 0.05, o qual corresponde a uma margem de erro de 5% para rejeição da hipótese de imunidade. O processamento estatístico dos dados foi realizado no software Bioestatis versão 5.3.

Neste ponto, é de ressaltar-se que no decorrer da pesquisa de campo ocorreram algumas dificuldades para a coleta dos dados. Em parte, essas condições adversas decorreram da falta de recursos financeiros para viagens2. Também, enfrentaram-se dificuldades quanto ao acesso as informações buscadas junto aos interlocutores.

Em alguns momentos, defrontou-se tanto com o desinteresse de alguns entrevistados, como também com atitudes receosas dos interlocutores em prestar informações, visto que na relação entre o ―nós‖ e o ―outro‖, o estranho é sempre visto com desconfiança. Ao se considerar a pesquisadora como uma estranha, alguns dos informantes fizeram exigências como contrapartida às informações prestadas. Em realidade, tal exigência provavelmente está relacionada às experiências negativas, vivenciadas por esses indígenas com outros pesquisadores. Ao entenderem que são sistematicamente excluídos das políticas públicas consideram essas ocasiões como oportunidades para obterem benefícios mediante as informações cedidas.

Outra dificuldade enfrentada na pesquisa para obtenção dos dados relaciona-se às barreiras burocráticas de acesso e de compatibilização de horários entre pesquisadora e interlocutores, resultando em prejuízo para a pesquisa. Isso repercutiu no percentual de informantes, das entrevistas e dos formulários aplicados. Assim, devido às dificuldades encontradas, o cronograma inicialmente planejado foi reavaliado. Diante disso, ampliou-se o período de pesquisa de campo no intuito de obter dados confiáveis, com margem mínima quanto à possibilidade de erro.