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– Maioria Simples (ou Relativa)

No documento Cu rs o d e R eg im en to I nt (páginas 58-61)

Capítulo II Noções Fundamentais Noções Fundamentais

AULA 6 – Maioria Simples (ou Relativa)

A maioria simples corresponde à maioria de votos, desde que presente a maioria absoluta dos membros de um determinado colegiado.

É o quórum exigido constitucional e regimentalmente para as deliberações em geral de cada Casa do Congresso Nacional e de suas comissões. Assim, seja em Plenário ou nas comissões da Câmara, exigir-se-á sempre a presença da maioria absoluta do colegiado respectivo para a realização válida das votações (CF, art. 47;

e RICD, arts. 56, § 2º, e 183, caput).

Dessa forma, há dois requisitos indispensáveis para que se proceda à votação por maioria simples:

1) presença da maioria absoluta do colegiado;

2) maioria dos votos.

No que tange ao cálculo da maioria simples, convém conhecer três corren-tes de pensamento apresentadas no Parecer nº 1.010, de 2004, da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal:5

5 Parecer nº 1.010, de 2004, da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, sobre a consulta do presidente do Senado Federal, formulada por intermédio do OF. SF/1055/2002, a respeito do resultado da votação do segundo parecer desta comissão, proferido em 24 de abril de 2002, sobre a Emenda nº 1, de 2002, de Plenário, apresentada, em turno suplementar, ao Projeto de Lei da Câmara nº 26, de 1999. Relator da consulta: senador Jefferson Peres. Publicado no DSF de 23/3/2005, p. 5642 a 5647.

Capítulo II – Noções Fundamentais do Processo Legislativ Primeira corrente: As abstenções não devem ser consideradas na apuração do sentido da votação, mas exclusivamente para aferir-se o quórum de presença da maioria absoluta dos membros do colegiado a quem competir a deliberação, qual seja, o Plenário de cada uma das Casas do Congresso ou de suas comissões. Dessa forma, presente um número de membros igual ou superior à maioria absoluta e supe-rando os votos “sim” o número de votos “não”, considerar-se-ia aprovada por maio-ria simples a matémaio-ria em votação, independentemente do número de abstenções.

Mediante essa hermenêutica, bastaria apenas um voto favorável para que a ma-téria fosse considerada aprovada, desde que não houvesse voto contrário e os de-mais membros presentes se manifestassem pela abstenção. A correlação entre a preponderância de votos teria por base os votos “sim” e os “não”.

O parecer relaciona como defensores desse entendimento Manoel Gonçalves Ferreira Filho, José Cretella Júnior e Joaquim Castro Aguiar.

Ponto fraco: o inconveniente de ficarem as decisões vulneráveis a questiona-mentos quanto à legitimidade do procedimento, em face de se ter como aprovada uma determinada matéria, em tese, pela lógica absurda da “maioria” de apenas um único voto “sim”.

Segunda corrente: as abstenções são consideradas tanto na aferição do quórum de presença como na correlação entre a preponderância de votos. Dessa forma, a aprovação de uma matéria só seria possível se o número de votos “sim” fosse superior ao somatório dos votos “não”, acrescido das abstenções. Nesse sentido, a aprovação dependerá de votos favoráveis equivalentes ao primeiro número in-teiro superior à metade dos presentes, desde que presente a maioria absoluta do colegiado. Constam do citado parecer como adeptos dessa corrente Celso Ribeiro Bastos, Ives Gandra Martins, Alexandre de Moraes, Pinto Ferreira, Roberto Barcellos de Magalhães e José Wilson Ferreira Sobrinho.

Ponto fraco: a despeito de não ser mencionado no parecer em comento, um dos problemas de se adotar essa corrente de pensamento na Câmara dos Deputados re-side no fato de, na prática, suprimir-se o direito de o parlamentar “escusar-se de to-mar parte na votação, registrando simplesmente ‘abstenção’” (RICD, art. 180, § 2º).

Perceba-se que o parlamentar que optar por exercer a prerrogativa regimental de abstenção poderá estar na verdade interferindo no resultado da deliberação, pois sua abstenção será computada juntamente com a soma dos votos “não” e resultará na rejeição da matéria, sempre que tal montante seja superior ao de votos “sim”.

Terceira corrente: incluiu-se nesta corrente a parte do pensamento de José Cretella Junior sobre maioria relativa, qual seja, “a que traduz o maior resultado aritmético da votação, entre os presentes que participaram do escrutínio, quando ocorra abstenção, ou dispersão de votos, em vários sentidos (6 votos num sentido contra 5, 4, 3, 2 e 1, dados em outros sentidos)”.

O exemplo apresentado na defesa do parecer foi o seguinte:

Num universo de treze votantes, a aprovação de uma matéria não depende-ria que os votos “sim” superassem a soma dos votos “não” mais as absten-ções, atingindo o número inteiro imediatamente subsequente à metade dos

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presentes, que seria de sete votos. Tampouco considerar-se-ia aprovada uma matéria que obtivesse o voto favorável de apenas três votantes, contra um único voto “não” e nove abstenções, como no caso em análise, pois os vo-tos “sim” deixariam de ser a maior porção, em face da existência do número de abstenções, que, no total de nove, superaria aritmeticamente o número de

“sim”, igual a três.

Ponto fraco: haveria casos em que o número de abstenções alcançaria maior proporção que os votos “sim” e também maior proporção que os votos “não”, iso-ladamente considerados, podendo ocasionar a necessidade de nova votação, com possibilidade de impasse. Em outro aspecto, não se poderia dizer que a maioria, propriamente dita, teria sido atingida.

De acordo com o parecer em alusão, seria possível a adoção de qualquer uma das regras como critério de apuração da maioria simples nas deliberações do Congresso Nacional. Porém, ressalvou-se que uma única regra deveria ser conven-cionada para utilização nos trabalhos legislativos.

A conclusão do parecer da aludida comissão foi nos seguintes termos:

Consideramos a segunda corrente a que melhor solução apresenta como re-gra para a fixação do critério da apuração da maioria simples, pois, exigin-do-se um número de votos favoráveis superior à soma dos votos “não” e das abstenções, ficaria o seu resultado inatacável em relação a sua legitimidade.

Em outro aspecto, se o número de votos favoráveis não atingisse essa grande-za matemática requerida para a sua aprovação, ter-se-ia que ela foi rejeitada.

Dessa forma, evitar-se-ia a possibilidade do impasse da repetição indefinida de escrutínios.

Lembre-se de que o ponto fraco dessa corrente não consta expressamente no parecer.

Alegou-se ainda, no parecer, a existência de paradigmas constitucionais e regi-mentais no sentido de que “não atingido o patamar estabelecido como critério para a sua aprovação, a proposição legislativa é tida como rejeitada”, citando-se como exemplos votações de proposta de emenda à Constituição e projeto de lei comple-mentar. Ressalve-se, porém, que: 1) os dois casos citados como paradigmas exigem quórum de maioria qualificada, três quintos e maioria absoluta, respectivamente;

2) tais quóruns são requeridos para aprovação da matéria, e não simplesmente para deliberação.

Veja-se que, no caso da maioria simples, o quórum é requerido para delibera-ção – aprovadelibera-ção ou rejeidelibera-ção –, e não apenas para aprovadelibera-ção, como ocorre com as propostas de emenda à Constituição e com os projetos de lei complementar. Logo, se por um lado não se pode ter como aprovada uma matéria que não obteve número de votos “sim” igual ou superior ao primeiro número inteiro acima da metade dos presentes (exigência da segunda corrente), por outro lado também não se deve co-gitar sobre a rejeição de matéria que não obteve suficientes votos “não” em sua de-liberação. Nesse sentido, na ausência de votos tanto “sim” como “não” em números suficientes, a deliberação não preencheria os requisitos constitucionais e, por con-seguinte, uma nova deliberação seria necessária para uma decisão do colegiado.

Capítulo II – Noções Fundamentais do Processo Legislativ A corrente adotada na Câmara dos Deputados

O art. 182 do RICD dispõe que “terminada a apuração, o presidente proclamará o resultado da votação, especificando os votos favoráveis, contrários, em branco e nulos”. O § 2º do art. 183 do RICD prevê que “os votos em branco que ocorrerem nas votações por meio de cédulas e as abstenções verificadas pelo sistema eletrônico só serão computados para efeito de quórum”. Nesse sentido, o resultado das delibe-rações da Câmara dos Deputados tem sido proclamado com base apenas nos votos

“sim” e nos votos “não”, independentemente do número de abstenções – conforme pensamento da primeira corrente apresentada.

Como ilustração:

1) a matéria seria aprovada por maioria simples se obtivesse:

125 votos favoráveis;

102 votos contrários;

30 abstenções;

257 presentes no total.

2) a matéria ainda seria aprovada por maioria simples se obtivesse:

97 votos favoráveis;

96 votos contrários;

98 abstenções;

291 presentes no total.

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