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CAPÍTULO 3 PARENTALIDADE E O CAPITAL CULTURAL DA CRIANÇA:

3.1 MAPEAMENTO DOS DIPLOMAS INTERNACIONAIS E NACIONAIS

Quando se trata de documentos internacionais, é necessário ressaltar a existência de dois sistemas de proteção social/legal, sendo denominado homogêneo aquele que se refere à proteção de todos os seres humanos, ou seja, tutela de abrangência universal; e o sistema heterogêneo, que tem como finalidade a proteção de determinados grupos, geralmente as minorias excluídas (ROSSATO; LÉPORE; SANCHES, 2014). A proteção da criança figura nos dois sistemas concomitantemente, tendo a proteção universal nos direitos que, de maneira direta ou indireta, atingem sua existência, assim como na evolução legislativa se consubstanciaram direitos próprios à sua especificidade de desenvolvimento. Na revisão de conquistas importantes na construção paulatina da visibilidade social da criança, utiliza-se de uma ordem cronológica, sem qualquer pretensão de validação de importância ou abrangência, destacando-se aqueles que, subliminar ou explicitamente, versaram sobre a violência, responsabilidade dos pais e reconhecimento da criança como sujeito de direitos.

Minayo (2006) aponta como símbolo do princípio do percurso para o reconhecimento das crianças como sujeitos de direito o movimento social pela cidadania, datado de 1789, do qual resultou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Depois de dois séculos de regime monárquico, com a legitimação do governo pós-queda da Bastilha, ela foi elaborada pelos parlamentares da Assembleia Constituinte da França, durante a Revolução Francesa (caráter cosmopolita e humanitário). Reflexo dos ideais humanistas e iluministas, de pretensão universal, restou definido que a “liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo” (artigo 4º.), além de reconhecer que “a garantia dos

direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública” (artigo 12º.). Esse documento, reformulado em 1793, era composto por 17 artigos e um preâmbulo, sendo precursor e inspiração para as declarações que se seguiram.

De acordo com Hunt (2009), a referida declaração influenciou a compilação do Código de Napoleão, em 1804, onde se tem a primeira menção legislativa ocidental sobre a responsabilidade dos pais para com os filhos, estabelecendo que a responsabilidade pela proteção aos menores de 21 anos de idade (maioridade civil da época) pertencia ao chefe da família, sob pena de submissão à Justiça da Família nos casos de descumprimento desta obrigação. Entretanto, o referido codex considerou a criança, assim como o insano, o prisioneiro, o estrangeiro, o sem propriedade, escravos livres, negros e mulheres, como pessoa incapaz ou indigna de participar do processo político, apesar da Declaração ter suas raízes nos filósofos cristãos que reconheciam o direito dos homens desde o nascimento (direito natural).

O século XIX, marcado pelos investimentos científicos, particularmente no campo da Psicologia, Pedagogia e Medicina, voltados ao desenvolvimento e proteção da infância fragilizada, tem como característica mais contundente a preocupação com o devir da criança. É a partir deste século que a figura do filho passa a ser um investimento econômico, educativo e afetivo (SINGLY, 2011).

Não obstante raramente constar na trajetória dos primeiros conteúdos e manifestações a tratarem da criança como merecedora de direitos, a Declaração dos Direitos das Crianças, em 1917, elaborada pela sessão moscovita da organização Proletkult24 foi pioneira ao defender a ideia de que a criança deveria ter garantida a escolha pela forma de ser educada. Da mesma forma, os trabalhos do polonês Janusz Korczak, de 1919 a 1929 , publicamente crítico da Declaração de 1924, por entendê-la fragilizada em seus comandos, frente ao caráter de solicitação e não de exigência  reconhecia ser a criança uma classe oprimida e defendia o direito de elas viverem e serem o que são no presente e não no devir (ROSEMBERG; MARIANO, 2010).

Da arrecadação de latas de leite a doações em geral, além do uso de técnicas inovadoras de divulgação, como a publicação de páginas inteiras nos jornais nacionais, a inglesa Eglantyne Jebb, sensibilizada com a situação de miserabilidade das crianças pós- guerra, fundou a Save the Children, em 1919, e no ano seguinte estabeleceu em Genebra a União Internacional de Proteção à Infância, na qual apresentou a proposição de solidariedade

24 Abreviação de Proletarskaya Kultura, organização instalada pela Revolução Comunista de 1917 para fomentar uma arte verdadeiramente proletária, distante da cultura burguesa. Abolida em 1923.

mundial. Acreditava que, na „caridade moderna‟, era imprescindível o emprego dos recursos materiais de ponta e do conhecimento de especialistas (jornalistas, médicos, empresários), despertando para um envolvimento cooperativo das nações no sentido de proteção da criança como fator construtivo e não de caridade. Destaca-se que a Sociedade das Nações, nesse período, tinha como única preocupação a “criação de uma instância de arbitragem e regulação dos conflitos bélicos”, verdadeiro “clube de Estados” (COMPARATO, 2010, p. 226).

Buscava participação junto às igrejas, Cruz Vermelha e demais instituições. Eglantyne foi bastante criticada pela sua ousadia na utilização de campanhas de grande alcance, porém, ter seu trabalho mencionado na Encíclica ANNUS IAM PLENUS do Papa Bento XV, em 1o de janeiro de 1920, sendo a primeira vez que uma autoridade católica se referia explicitamente a uma organização não governamental, propiciou o reconhecimento de sua atividade em proveito da solidariedade das Nações em prol da proteção das crianças, servindo como inspiração para a Declaração Universal dos Direitos das Crianças (UNICEF, 2018).

Ela plantou a primeira semente para o reconhecimento da criança como sujeito de proteção (ROSSATO; LÉPORE; SANCHES, 2014), adotando cinco princípios que fariam parte da Declaração de Genebra dos Direitos da Criança, em 1924, atingindo uma repercussão mundial ao ser traduzida em todos os idiomas. Mesmo na concepção de aspiração da comunidade internacional, os princípios dizem respeito ao desenvolvimento material e espiritual da criança; à ajuda em situação de fome, doença, incapacitação, orfandade ou delinquência; à prioridade no alívio em situações de risco; à proteção contra a exploração; e a uma formação orientada para a vida em sociedade.

Por iniciativa do pediatra uruguaio Luis Morquio, em 1927, foi criado o Instituto Internacional Americano de Proteção à Infância, um organismo internacional visando à promoção do bem-estar da maternidade e da infância nos países americanos, além de estimular e divulgar os direitos da criança. Atualmente denominado como Instituto Interamericano da Criança e Adolescentes - IIN, é um organismo especializado da Organização dos Estados Americanos em conjunto com os Estados Membros. Tem como compromisso a busca constante de respostas inovadoras e sustentáveis como apoio às problemáticas dos Estados no fortalecimento da garantia do exercício dos direitos plenos das crianças e adolescentes. (OEA, 2018)

No comprometimento de lutar contra o eixo (Itália, Alemanha e Japão) e pela devastação propiciada pela Segunda Guerra Mundial, foi criada, em substituição da Liga das

Nações, na Conferência de San Francisco, a Organização das Nações Unidas – ONU, em 24 de outubro de 1945, contando inicialmente com 51 estados-membros, e tendo como propósito a mantença da paz mundial e a garantia dos direitos humanos (COMPARATO, 2010). Nesse contexto, foi criado o Fundo das Nações Unidas – UNICEF, em 1946, com a finalidade de assegurar a cada criança e adolescente que seus direitos humanos sejam respeitados, protegidos e cumpridos (UNICEF, 2018).

Em 1948, a União Internacional para o Bem-estar da Criança - IUCW25 pressionou a ONU, que teve um papel importante no constructo dos direitos das crianças, a acrescentar mais dois parágrafos na Declaração de Genebra; um dizendo respeito à discriminação e o outro à integração da família e direitos sociais da criança. Em 1949, foi concluída a primeira etapa da Declaração Universal dos Direitos Humanos, na qual constou expressamente o amparo da maternidade e da infância e o reconhecimento dos direitos da criança, mesmo àquelas nascidas fora do matrimônio (artigo 25, parágrafo 2º.). Notadamente, além de estabelecer que todos os seres humanos são iguais em dignidade e respeito, em seu artigo 5º. e 7º. expressa em específico que “ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante” e que “todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei”. Mundialmente, é considerada a maior referência de proteção dos direitos humanos. Apesar do caráter de recomendação - não possuindo força jurídica ou vinculante, a Declaração retoma novamente “os ideais da Revolução Francesa - representou a manifestação histórica de que se formara, enfim, em âmbito universal, o reconhecimento dos valores supremos da igualdade, da liberdade e da fraternidade entre os homens.” (COMPARATO, 2010, p. 238).

A Organização das Nações Unidas (ONU), em 1950, acolheu a proposta da Federação Democrática Internacional das Mulheres para que fosse estabelecido um dia dedicado a todas as crianças do mundo. A finalidade era a de sensibilizar os Estados Membros para que fosse concedido a todas as crianças, indistintamente, “afeto, amor e compreensão; alimentação adequada; cuidados médicos; educação gratuita; proteção contra todas as formas de exploração; crescer num clima de Paz e Fraternidade universais.” Assim, a primeira comemoração ocorreu no primeiro dia do mês de junho (ALMEIDA, 2004, p. 54).

A instituição do Princípio do Melhor Interesse e de prioridade absoluta oportunizou um olhar mais ampliado sobre a criança, reconhecendo-a como um sujeito de direitos e influenciando na aprovação pela Assembleia Geral da ONU, em 20 de novembro de 1959, a

25 Fusão entre a União Save the Children Internacional e a Associação Internacional para o Bem-estar da Criança, estabelecida em Bruxelas.

Declaração Universal dos Direitos da Criança, composta de 10 princípios, reconhecendo, entre outros, os seguintes direitos: à proteção especial; a terem oportunidade de desenvolvimento pleno, saudável e em harmonia; a não serem ameaçadas; a não terem suas vidas colocadas em risco; à dignidade; à liberdade; à proteção contra maus tratos e negligência. Enfatiza que, para o desenvolvimento “completo e harmonioso de sua personalidade, a criança precisa de amor e compreensão” (sexto princípio), e que “os melhores interesses da criança serão a diretriz a nortear os responsáveis pela sua educação e orientação; esta responsabilidade cabe, em primeiro lugar, aos pais” (princípio sétimo). Este documento, de maneira ímpar, desponta para o compromisso de todos, particularmente os pais, no reconhecimento dos direitos da criança. Apesar da grande importância do documento legal, manteve seu caráter assistencial e de proteção, uma vez que efetivamente não trouxe o reconhecimento das nações para o empoderamento da criança, não obstante tenha despertado o interesse teórico sobre o tema da infância. A partir da Declaração, passou-se a considerar o dia 20 de novembro como o Dia Mundial da Criança (UNICEF/2018).

Os Pactos de Direitos Civis e Políticos e de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais foram aprovados na Assembleia Geral da ONU em 1966. Nestes diplomas, estão previstos os direitos fundamentais de todos os seres humanos e inúmeros dispositivos de garantia dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, também estendidos às crianças, conforme expressado em seu preâmbulo ao reconhecer que a liberdade, a justiça e a paz no mundo constituem “fundamento da dignidade inerente a todos os membros da família humana”. Em especial, destaca-se o direito de toda criança ter registrado seu nascimento, assim como a atribuição de um nome e uma nacionalidade. Demonstrando preocupação com a aceitação da prática dos castigos físicos, em seu artigo 24, consignou que toda criança, sem qualquer discriminação, tem direito “às medidas de proteção que a sua condição de menor exige, tanto por parte da sua família como da sociedade e do Estado”. O Brasil, por meio do Decreto n.o 592 de 6 de julho de 1992, assumiu a responsabilidade pela implementação e proteção dos direitos fundamentais previstos no referido pacto. (BRASIL, 1992a).

Em 1969, surge o tratado regional Pacto de San José da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos), composto por dois órgãos competentes para a defesa de violações aos direitos humanos dos americanos  Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Tem como foco central a liberdade individual e justiça social, traz em dois de seus 82 artigos a defesa dos direitos das crianças, enfatizando que toda criança tem direito às medidas de proteção por parte da sua família, da

sociedade e do Estado (artigo 4 e 19). Consta no artigo 11, inciso 2, a vedação de quaisquer “ingerências arbitrárias ou abusivas” na vida privada, na família ou nos domicílios, enaltecendo a defesa da honra e da dignidade da pessoa humana, considerando que a família deve ser protegida pela sociedade e pelo Estado. O referido Pacto só foi promulgado no Brasil em 6 de novembro de 1992, pelo Decreto n.o 678. (BRASIL, 1992b).

Com o objetivo de atingir a „Saúde Para Todos‟ até o ano 2000 e fruto do movimento por justiça social, foi criada a Declaração de Alma-Ata (capital do Kazaquistão), em 1978, na Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, pretendendo reduzir a desigualdade em relação aos povos, por meio dos cuidados essenciais de saúde, reunindo-se entre suas diretrizes: educação em saúde; nutrição; cuidados maternos e infantil; saneamento básico; controle das doenças infecciosas e endêmicas; tratamento adequado; e acesso à medicação. Reafirma que a saúde é um direito humano fundamental e reconhece a importância mundial do cumprimento da meta social estabelecida para o início do século XXI, em especial na promoção e proteção da saúde dos povos (UNICEF, 2018).

Merece registro a grande influência das Organizações não Governamentais – ONGs nas décadas de 60 e 70, as quais tinham como maior propósito despertar a atenção para a causa da infância, tanto que o ano de 1979 foi declarado, pela ONU, como o Ano Internacional da Criança, vinte anos após a existência da Declaração Universal dos Direitos da Criança.

Visando o bem-estar da criança, do adolescente e da família, em 29 de novembro de 1985, as diretrizes oriundas do Sétimo Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção dos Delitos e Tratamento dos Delinquentes, acrescidas da Resolução n.o 40/33 da Assembleia Geral, foram aprovadas, em Milan, estabelecendo as regras mínimas das Nações Unidas para a administração da Justiça da Infância e da Juventude (regras de Beijing ou de Pequim). O intuito buscado é o da formulação de um ordenamento no campo do Direito e da Justiça plausível para todos os países, em especial as garantias processuais básicas e a proporcionalidade da aplicação das medidas punitivas. Foram estabelecidas regras a serem aplicadas a todos os países signatários, respeitadas a compatibilidade e peculiaridades de cada ordenamento jurídico nacional, em especial a que o jovem infrator tenha um tratamento diferenciado do que se aplica ao adulto, e da indispensável presença dos pais no seu processamento. O bem estar do jovem deverá prevalecer no exame dos casos em que esteja envolvido, e em respeito à sua integridade física, é vedada a pena capital, bem como a submissão a qualquer espécie de pena corporal (SILVA, 2012).

Em 20 de novembro de 1989, a Assembleia Geral da ONU adotou a Convenção sobre os Direitos da Criança, tornando-se um marco fundamental na assunção dos direitos da criança em todo o mundo. No dia 2 de setembro de 1990, foi reconhecida como lei internacional, sendo ratificada por 193 Estados Partes. A Convenção vai muito além da proteção jurídica, dá visibilidade à criança como um ator social, buscando substituir a denominação de menor para criança, frente à carga pejorativa atribuída àquela expressão. É composta por um preâmbulo, seguido de 54 artigos, e adota as doutrinas do interesse superior e da proteção integral da criança, reconhecendo-a como sujeito de direitos em condição peculiar de desenvolvimento, a exigir proteção especial e absoluta prioridade. É o documento de maior abrangência, sendo inovadora quanto à outorga às crianças de todos os direitos e liberdades inscritas na Declaração dos Direitos Humanos, além do compartilhamento dos seus cuidados e proteção no contexto mundial. Estado, família e as pessoas legalmente responsáveis são detentoras do dever de respeitar, defender e proporcionar todos os direitos as crianças (SILVA, 2012).

Como forma de garantia e promoção dos direitos constantes na Convenção, os Estados Partes se comprometeram a dar assistência adequada “aos pais e aos representantes legais para o desempenho de suas funções no que tange a educação da criança”. No artigo 19, inciso 1, os signatários reafirmam que, enquanto a criança estiver sob a custódia dos pais ou de terceiros, serão adotadas “todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e educacionais apropriadas para proteger a criança contra todas as formas de violência física ou mental”. Reforçam ainda, no inciso 2 que

Essas medidas de proteção deveriam incluir, conforme apropriado, procedimentos eficazes para a elaboração de programas sociais capazes de proporcionar uma assistência adequada à criança e às pessoas encarregadas de seu cuidado, bem como para outras formas de prevenção, para a identificação, notificação, transferência a uma instituição, investigação, tratamento e acompanhamento posterior dos casos acima mencionados de maus tratos à criança e, conforme o caso, para a intervenção judiciária. (BRASIL, 1990b)

A Convenção influenciou a legislação doméstica dos países, delegando à família um papel indispensável para o desenvolvimento salutar da criança, obrigando os Estados-Partes a lhe oferecerem todos os recursos necessários para o cumprimento deste compromisso. Apesar da importante conquista, estes direitos são deficitários em razão da conjuntura política, social e econômica de cada país signatário (UNICEF, 2018).

Durante o Encontro da Cúpula Mundial pela Criança, realizado em 2 de março de 1990, em Nova York, na sede da ONU, surge a Declaração Mundial sobre a Sobrevivência, a

Proteção e o Desenvolvimento das Crianças, com um plano de ação para a década de 90. Esse compromisso foi assumido por 71 presidentes e chefes de Estado, além de representantes de 80 países. Por meio de um apelo universal, “dar a cada criança um futuro melhor”, os dirigentes signatários se comprometeram em priorizar o bem-estar das crianças, contribuindo na melhoria da saúde das mães e dos filhos, no combate à desnutrição, ao analfabetismo e à erradicação das doenças infantis. Entre outros comprometimentos, declaram promover o mais rápido possível a ratificação e a implementação da Convenção sobre os Direitos da Criança (UNICEF, 2018).

O artigo 20 da Declaração Mundial estabelece 10 pontos importantes para a proteção da criança, constando no quinto ponto o compromisso dos países com os cuidadores das crianças,

Trabalharemos pela valorização do papel da família como responsável pela criança, apoiaremos os esforços dos pais, de outros responsáveis e das comunidades no amparo à criança desde os primeiros anos da infância até a adolescência. Reconhecemos, também, as necessidades especiais das crianças que se encontram separadas de suas famílias. (UNICEF, 2018)

Pode-se destacar que, no século XX, a criança passa a ser objeto de estudo das mais variadas áreas de conhecimento, conduzindo a uma análise mais particularizada de suas características singulares de desenvolvimento como ser humano e social. O discurso predominante sempre apresentou um caráter assistencial e protetivo, resultando na elaboração de documentos internacionais e dispositivos legais que, direta ou indiretamente, contribuíram também para a percepção da criança como um ser social, além de sujeito de direitos. (BELLONI, 2009)

Observam-se nestas quase duas décadas do século XXI, na condição de sujeitos ativos e participativos, a gradual e crescente promoção da criança cidadã. Esta nova posição exige do Estado, além das legislações específicas, a implementação de Políticas Públicas capazes de efetivar estes direitos (ANDRADE, 2010).

Numa perspectiva das Américas, em novembro de 2000 aconteceu a X Cúpula Ibero- Americana de Chefes de Estado e de Governo, Declaração do Panamá, denominada como Unidos pela Infância e Adolescência, Base da Justiça e da Equidade no Novo Milênio, integrada por 21 países. O resultado do encontro de dois dias diz respeito ao propósito de se formularem políticas, programas e ações que garantam os direitos, bem-estar e desenvolvimento integral das crianças e adolescentes, destacando-se entre os princípios e garantias estabelecidas a incorporação nos sistemas educativos, escolar e não escolar, a

inclusão da paternidade e maternidade responsáveis. Visando à promoção da não violência, da tolerância e da solidariedade, naquele mesmo ano, as Nações Unidas declararam como o Ano Internacional da Cultura da Paz e a década de 2001 a 2010 como a Década Internacional da Cultura da Paz e da Não Violência para as Crianças do Mundo (UNESCO, 2010).

Pelo Relatório do Comitê Ad Hoc Pleno, fruto da vigésima sétima sessão especial da Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada no mês de maio de 2002, foram estabelecidas, sobre a criança, as metas das Nações Unidas para o milênio, consubstanciadas no documento intitulado Um Mundo Para as Crianças, construído nos pilares da democracia, da igualdade, da não discriminação, da paz e da justiça social. Os Chefes de Estado e de Governo e os representantes dos Estados participantes na sessão especial sobre a criança da Assembleia Geral das Nações Unidas registraram, entre outras declarações, reconhecer e apoiar os pais e famílias, ou, se for o caso, tutores legais como os principais guardiões das crianças e que vão fortalecer sua capacidade de prover cuidado, sustento e proteção máxima. (UNICEF, 2018)

Na Declaração ainda se convocam todos os membros da sociedade para esse „movimento mundial‟, destacando-se, entre os seus 10 objetivos, o de proteger as crianças de todo e qualquer ato de violência, maus-tratos, exploração e discriminação. No Plano de Ação,