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O PERCURSO METODOLÓGICO

Neste capítulo se retrata o caminho pelo qual foi desenhada a pesquisa, bem como o relato dos percalços e surpresas experimentadas, além das limitações necessárias adotadas no transcorrer do seu processo. Afinal, como afirma Richardson (2008, p. 19), “não existem processos típicos, cada trabalho apresenta suas próprias peculiaridades”.

A estratégia utilizada fundamentou-se nos pressupostos da corrente estruturalista- construtivista, primando pela descrição do sistema em termos relacionais, cujo procedimento de análise se dividiu em quatro momentos: os fatos são observados e descritos, a pertinência do modelo em construção apresentado, a associação existente entre os elementos estruturados e estruturantes, e, finalmente, a composição da estrutura do fenômeno. A pesquisa tem abordagem (método) qualitativa, em razão de se preocupar com a compreensão da natureza do fenômeno social estudado e não com os instrumentos estatísticos eventualmente presentes no seu processo de análise (RICHARDSON, 2008).

Na intenção de possibilitar maior familiaridade com o tema, a realização da pesquisa descritiva representou o caminho mais seguro para a formulação do problema. “As pesquisas deste tipo têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis.” (GIL, 2008, p. 28). Desta forma, inicialmente foi realizado o Estado da Arte, por meio de um levantamento da literatura sobre os castigos físicos, a parentalidade, a infância, Disciplina Positiva, objetivando mapear a produção de parte do conhecimento. Esse procedimento de coleta, com delimitação para publicações em idioma português e para o período compreendido de 2003 a 2018, ocorreu em três frentes de buscas: (1) Bases de dados eletrônicas, (2) Google Acadêmico, e (3) Acervo da Câmara dos Deputados.

No Portal Capes (Banco de teses e dissertações), foram encontradas, por meio das palavras-chave: castigos físicos (25 ocorrências), palmada (17 ocorrências), Lei Menino Bernardo (4 ocorrências), parentalidade positiva (10 ocorrências), educação parental (19 ocorrências), e disciplina positiva (nenhuma ocorrência). Ainda no Portal Capes foram buscadas nos periódicos artigos relacionados ao tema, sendo encontrados para os seguintes Tags11: Castigos Físicos (uma ocorrência), Disciplina Positiva (2 ocorrências), Educação Parental (34 ocorrências), Parentalidade Positiva (4 ocorrências).

11 Palavra em inglês que significa rótulo ou etiqueta. Serve para orientar os motores de busca, fazendo uma varredura na web e fornecendo o resultado da pesquisa (nota da autora).

Com a finalidade de ampliar as bases de dados em relação às publicações e livros, utilizou-se do recurso do Google Scholar (Acadêmico), dos acervos da Câmara dos Deputados e busca nos sites do Governo Federal e dos Estados brasileiros. O material extraído foi filtrado pela pesquisadora, em virtude do volume de publicações não centradas (áreas da saúde e educação formal).

Observou-se que o interesse sobre a temática dos castigos físicos (corporais) apresentou maior intensidade no período de 2010 a 2014, fase de tramitação da Lei n.o 13.010/2014, e posterior expressivo decrescente. Após uma primeira imersão nos dados, organizou-se um agrupamento dos trabalhos selecionados, que tratam da disciplina positiva e castigos corporais na relação pais e filhos. Os trabalhos foram lidos e organizados nas concepções dos textos que constituem o corpus de análise do estudo.

O universo escolhido para a pesquisa é a investigação sobre a habilitação (educação) parental preventiva como forma alternativa ao habitus de aplicar castigos físicos como método de educar as crianças na infância.

Posteriormente, se iniciou a etapa do levantamento de dados subdivididos em quatro fases, sendo:

A primeira fase se propôs a identificar, nos portais virtuais dos Estados brasileiros e da União (Ministérios, Secretarias e Conselhos), ações ou programas de prevenção primária e indicação de uma alternativa não punitiva como forma de educação. Foram visitados, no período de 16/01/2017 a 21/01/2017, os portais dos 26 Estados brasileiros, não tendo sido localizado nenhum programa destinado à prevenção dos castigos físicos como método educativo no ambiente familiar.

Na segunda fase, em razão da ausência do tema nos portais visitados, foram encaminhados, em 25/01/2017, ofícios (Apêndice A) às autoridades competentes de cada Estado brasileiro e da União com o propósito de identificar e mapear ações ou programas de habilitação parental de caráter preventivo ao uso dos castigos físicos contra crianças como forma de educação, implementados pela Disciplina Positiva (Quadro 1).

Quadro 1  Ofícios expedidos (2017) às autoridades competentes de cada Estado brasileiro e da União

...(continua)

ESTADO DESTINO RESPONSÁVEL E-MAIL

ACRE Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social

Gabriel Maia Gelpke

gabinete.seds@ac.gov.br ALAGOAS Secretaria de Estado da

Assistência Social e Desenvolvimento

Fernando Pereira ouvidoria.see@educ.al.gov.br

AMAPÁ Secretaria de Estado da Inclusão e da Mobilização Social Maria de Nazaré Farias do Nascimento jamailegc@gmail.com

AMAZONAS Secretaria de Estado da Assistência Social

Sr. Secretário(a) seas.governo@gmail.com

BAHIA SJDHDS - Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social

José Geraldo dos Reis Santos

geraldoreis@sjdhds.ba.gov.br

CEARÁ Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social – STDS Josbertini Virgínio Clementino ouvidoria.geral@cge.ce.gov.br DISTRITO FEDERAL

Secretaria de Políticas para Crianças, Adolescentes e Juventude Aurélio de Paula Guedes Araújo gabssp@ssp.df.gov.br ESPÍRITO SANTO SETADES - Secretaria de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social Clarice Machado Imperial Girelli gabinete@setades.es.gov.br

GOIÁS Secretaria de Estado da

Mulher, do

Desenvolvimento Social, da Igualdade Racial, dos Direitos Humanos e do Trabalho

Lêda Borges de Moura

goiasagora@abc.go.gov.br

MARANHÃO Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedes) Neto Evangelista sedesimprensa@gmail.com MATO GROSSO DO SUL Secretária de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho Elisa Cléia Pinheiro Rodrigues Nobre larosa@sedhast MATO GROSSO Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social Valdiney de Arruda valdineyarruda@setas.mt.gov.br MINAS GERAIS Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social – SEDESE Rosilene Cristina Rocha gabinetesec@social.mg.gov.br

PARÁ Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (SEASTER)

Heitor Marcio Pinheiro Santos

seaster.comunicacao@gmail.com

PARAÍBA Secretária de Estado do Desenvolvimento Humano

Cida Ramos protecaobasicapb@gmail.com

Quadro 1  Ofícios expedidos (2017) às autoridades competentes de cada Estado brasileiro e da União (conclusão)

ESTADO DESTINO RESPONSÁVEL E-MAIL

PARANÁ Secretaria da Família e Desenvolvimento Social Fernanda Bernardi Vieira Richa fricha@seds.pr.gov.br PERNAMBUC O Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude Isaltino Nascimento ouvidoria@sdscj.pe.gov.br

PIAUÍ Secretaria de Estado da Assistência Social e Cidadania - SASC

Henrique Rebelo sasc@sasc.pi.gov.br

RIO DE JANEIRO Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos – SEASDH

Pedro Fernandes ouvidoria.seasdh.rj@gmail.com

RIO GRANDE DO NORTE Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social – SETHAS Julianne Dantas Faria sethas.imprensa@gmail.com RIO GRANDE DO SUL Secretaria do Desenvolvimento Social, Trabalho, Justiça e Direitos Humanos

Maria Helena Sartori (interina)

sjdh@sjdh.rs.gov.br

RONDÔNIA Secretaria de Estado de

Assistência e

Desenvolvimento Social

Herika Lima Fontenele

ascom.seas.ro@gmail.com

RORAIMA SETRABES - Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social

Emília Silva Ribeiro Campos dos Santos

enviado pelo site do portal do Estado

SANTA CATARINA Secretaria de Estado da Assistência Social, Trabalho e Habitação Valmir Francisco Comin gabinete@sst.sc.gov.br

SÃO PAULO Desenvolvimento Social Floriano Pesaro faleconosco@desenvolvimentosocial. sp.gov.br

SERGIPE Secretaria de Estado da Inclusão, Assistência e do Desenvolvimento Social Marta Maria de Souza Leão Vasconcelos gabinte@inclusao.se.gov.br

TOCANTINS Secretaria de Estado do Trabalho e Assistência Social (SETAS) Coronel Patrícia Rodrigues do Amaral gabinete@setas.to,gov.br Fonte: A autora

Dos 28 ofícios enviados às Secretarias dos Estados, obteve-se resposta dos seguintes Estados:

a) Estado do Ceará, informando:

A temática em questão, com certeza está inserida nos dois programas e é trabalhada de forma interdisciplinar, entretanto não existe nem política e nem um programa específico de educação parental com foco na prevenção familiar, na primeira

infância, com a finalidade de evitar a aplicação de castigos físicos como disciplina, na Secretaria de Educação do Ceará. (ouvidoria.geral@cge.ce.gov.br)

b) Distrito Federal, informando que “em nossa avaliação não há projetos na SSP-DF sobre o tema tratado no documento.”(gabssp@ssp.df.gov.br).

c) Estado de Goiás, que assim se manifestou:

Na Secretaria Cidadã do Estado de Goiás, a área que trabalha com crianças e adolescentes é o Grupo Executivo de Apoio à Criança e Adolescente (Gecria) que abrange apenas atos infracionais. Infelizmente não temos essa informação para contribuir na sua tese. (goiasagora@abc.go.gov.br)

d) Estado de Pernambuco, reconhecendo a importância da Lei da Palmada, reafirma:

Neste sentido é importante compreender que a prevenção primária e a intervenção diante da violação de direitos é prerrogativa do município, através de seus equipamentos (CRAS, CREAS, Serviços de Convivência, centros de juventude) atuando como protagonistas, e que o papel do Estado frente ao tema configura-se de coadjuvante no processo, porém com grande relevância para a proteção integral de crianças e adolescentes, porque assegura junto aos municípios pernambucanos, a capacitação e instrumentalização dos mesmos para atuarem de forma qualificada, garantindo resultados satisfatórios, e a propagação de uma cultura de Paz. (gcon@ati.pe.gov.br)

e) Estado de São Paulo, que assim se pronunciou:

O Governador Geraldo Alckmin lançou, em 2013, o Programa São Paulo pela Primeiríssima Infância (SPPI), uma parceria entre a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo. O Programa acontece em parceria com municípios paulistas. Iniciou suas ações com um piloto em oito cidades e em virtude dos bons resultados atingidos foi ampliado para mais 33, abrangendo 41 cidades em 2016. O programa será ampliado a partir de 2017 para novos 60 municípios. (faleconosco@desenvolvimentosocial.sp.gov.br)

Na terceira fase, tendo em vista o reduzido número de retornos e mesmo aqueles que responderam firmaram a negativa de ações ou programas preventivos ao uso dos castigos físicos na infância, foram expedidos, no mês de agosto de 2017, ofícios aos Ministérios e aos Órgãos Federais, conforme Quadro 2, a seguir.

Quadro 2  Ofícios expedidos (2017) aos Ministérios e aos Órgãos Federais

(continua) FONSEAS - Fórum Nacional de Secretários

de Estado de Assistência Social

Quadro 2  Ofícios expedidos (2017) aos Ministérios e aos Órgãos Federais

(conclusão)

CONANDA Ilma. Secretária(o) Site do portal

Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente

Ilma. Secretária(o) Ouvidoria

CONGEMAS Ilma. Secretaria(o) secretariaexecutiva@congemas.com.br

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO

SOCIAL  CREAS Ilma. Secretária(o) Site do portal

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, ALFABETIZAÇÃO, DIVERSIDADE E INCLUSÃO – SECADI

Ivana de Siqueira secadi@mec.gov.br

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Ilma. Secretária(o) www.mec.gov.br/

MINISTÉRIO DA SAÚDE Ilma. Secretária(o) http://portalms.saude.gov.br/ MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO

SOCIAL E AGRÁRIO

Ilma. Secretária(o) www.mds.gov.br

SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS Ilmo. Secretário(o) direitoshumanos@sdh.gov.br Fonte: A autora

Da parte do Governo Federal, destaca-se que a Secretaria de Direitos Humanos, em 01/09/2017, enviou como resposta um relatório composto de 102 páginas, apresentando algumas iniciativas federais, com vistas a

[...] identificar e sistematizar levantamento de políticas, programas e serviços existentes no âmbito do governo federal voltados para o atendimento às famílias cujas crianças ou adolescentes sofreram castigo físico e/ou tratamento cruel ou degradante. (direitoshumanos@sdh.gov.br)

Destacando os seguintes programas, apresentados no Quadro 3.

Quadro 3 – Programas destacados pela Secretaria de Direitos Humanos em 2017

(continua)

Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República

 Programa de Convivência Familiar e Comunitária;

 Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente à Convivência Familiar e Comunitária de atribuição e monitoramento do SDH/PR;

 Disque Direitos Humanos (Disque 100);

Ministério da Educação

 Trabalho da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) cuja meta é fomentar programas de combate à violência e ao bullying na escola e promover a educação em direitos humanos, além da inclusão como temas transversais nos currículos escolares conteúdos relativos aos direitos humanos e à prevenção de todas as formas de violência contra a criança e o adolescente.

Quadro 3 – Programas destacados pela Secretaria de Direitos Humanos em 2017

(conclusão)

Ministério da Saúde

 Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança, que possui linha de cuidado a situações de violência.

 Programa Saúde na Escola,

 Coordenação Geral da Saúde do Adolescente e do Jovem, - Saúde da Família,

 Plano Nacional da Saúde,

 Linha de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde de Crianças, Adolescentes e suas Famílias em Situação de Violências  Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde

 Programa Nacional de Capacitação Gerencial os quais entre outras coisas apoia na rede social a vítima e autores de violência e a seus familiares.

Ministério do

Desenvolvimento Social

 Plano Nacional de Assistência Social, por meio das estruturas do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e o Programa Nacional de Capacitação do Sistema Único de Assistência Social (Capacita SUAS), que desenvolvem um trabalho continuado e permanente em prol da proteção das famílias e comunidades, na promoção do acesso aos direitos e melhoria na qualidade de vida, sendo a violação de direitos um dos temas recorrentes.

Ministério da Justiça

 Coordenação Geral de Ações de Prevenção em Segurança Pública  Cursos de Convivência e Segurança Cidadã, os quais apresentam

subsídios aos diversos entes da federação para o enfrentamento dos fatores de risco na infância, na juventude e na escola.

Política para as mulheres

 Tem como foco a campanha Quem Ama Abraça Fazendo a Escola tornando a escola um espaço e instrumento de enfrentamento à violência para as crianças que se veem expostas à violência doméstica.

 Disque 180 (Central de Atendimento à Mulher).

Juventude e igualdade racial

 Plano Juventude Viva da Secretaria Nacional de Juventude

 Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial para enfrentar a violência contra a juventude brasileira (15 a 29 anos de idade).

Fonte: Adaptado de: Relatório da Secretaria dos Direitos Humanos

O relatório complementa as informações apontando as boas práticas dos governos estaduais e municipais voltados ao atendimento às famílias cujas crianças ou adolescentes sofreram castigo físico e/ou tratamento cruel ou degradante, tais como: Programa de Pesquisa, Assistência e Vigilância à Violência – PAV (Distrito Federal; Coordenação de Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente da Secretaria Municipal de Belo Horizonte – SMSA; Centro de Referência no Atendimento Infanto-Juvenil – CRAI da Prefeitura Municipal de Porto Alegre – RS; Centro Regional de Atenção aos Maus-Tratos na Infância - CRAMI da Prefeitura Municipal de Campinas-SP; Programa de Atendimento à Criança e ao adolescente, vítimas de violência do Hospital Universitário Antonio Pedro – HUAP/UFF, Niterói – RJ;

Serviço de Atendimento ao Vitimizado – SAV da Fundação de Ação Social da Prefeitura de Curitiba/PR; o programa Crianças e Adolescente Vítimas de Maus-Tratos da Fundação para a Infância e Adolescência - FIA do Estado do Rio de Janeiro; o Centro de Referência à Infância e Adolescência – CRIA da Secretaria Municipal da Educação de Guaratinguetá/SP; o Centro de Referência às Vítimas de Violência – CNRVV da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social – SMADS do Município de São Paulo/SP. Todas as indicações de “boas práticas” tratam da violência, entretanto, nos casos em que ela já se instalou e não dando ênfase ao seu caráter preventivo.

Não obstante o considerável número de programas e ações indicados no relatório da Secretaria de Direitos Humanos, não se identifica em nenhum deles o foco da prevenção primária dos castigos físicos como forma de educação no contexto familiar, ao contrário, são programas acionados quando a violência já foi instaurada e noticiada.

Todavia, merece destaque a referência no relatório de resposta sobre o reconhecimento ao esforço nacional da „Rede Não Bata, Eduque‟, que envolve organizações da Sociedade Civil, empresas privadas e órgãos governamentais, a qual não tem envidado esforços no desenvolvimento de ações de mobilização e educação em prol da erradicação dos castigos físicos e tratamento humilhante contra crianças e adolescentes.

Em 04/09/2017, o Ministério da Educação assim se manifestou:

[...] informamos que a SECADI planeja, coordena e orienta a formulação e a implementação de políticas de educação em direitos humanos e cidadania, em articulação com os sistemas de ensino, visando à superação de preconceitos e à eliminação de atitudes discriminatórias no ambiente escolar, dentre outras competências, conforme estabelece o Decreto n.º 9.005/2017. Nesse sentido, publicações desenvolvidas por esta Secretaria podem ser obtidas no Portal do MEC. (sic-portal Ministério da Educação)

Na mesma data, o Ministério da Saúde informou:

A Coordenação-Geral de Saúde da Criança e Aleitamento Materno Informa que não detém informações sobre políticas de educação parental com foco na prevenção familiar, na primeira infância, com a finalidade de evitar a aplicação de castigos físicos como disciplina. E nem tem conhecimento sobre quais programas e em que localidades do País estão sendo desenvolvidos. (ouvidoria.geral@cge.ce.gov.br)

Como mais uma alternativa na busca por programas ou ações governamentais, foram encaminhados ofícios às Secretarias de Educação e Conselhos Estaduais dos 26 Estados Brasileiros e do Distrito Federal, obtendo as seguintes respostas.

Ouvidoria do Estado do Ceará se manifestou com a mesma resposta já enviada quando oficiado à Secretaria do Estado, conforme indicado às fls. 33, item a. O Conselho Estadual de Minas Gerais ratificou a não localização nos portais, informando que desconhece esse tipo de programas pelo Governo de Minas Gerais. O Conselho Estadual de Santa Catarina acusou a existência de programas pertinentes à Alienação Parental e à Parentalidade voltada para a primeira infância, sem qualquer discussão direta sobre os castigos corporais. O Conselho Estadual do Acre respondeu enfatizando que os desafios para o seu Estado é a elaboração e implementação do Plano Estadual pela Primeira Infância, o que materializaria uma política pública de Estado e não apenas os programas de governo.

O Conselho Estadual do Paraná também se manifestou:

Nós não temos nenhum programa que tenha exclusivamente esse foco. Temos vários programas onde estabelecemos estratégias de atendimento individualizados, com Planos Personalizados de Atendimento, tanto na esfera da Assistência Social, quanto na Política de Garantia de Direitos da Criança e Adolescente, que atua de forma transversal as demais políticas. (julianasabbag@seds.pr.gov.br)

Depois da visitação dos 26 portais dos Estados brasileiros e algumas respostas aos 93 ofícios enviados às Secretarias, Conselhos e Ministérios, se desconhece a existência de programas ou ações governamentais destinados à capacitação parental preventiva como forma alternativa ao habitus de aplicar castigos físicos como método de educar as crianças na infância.

Frente a essa realidade, como quarta fase, manteve-se contato com a Coordenadora da Rede „Não Bata, Eduque12‟, Sra. Márcia Oliveira, que se mostrou bastante animada com o

tema da pesquisa e indagada sobre a existência de algum programa ou ação preventiva como alternativa ao uso dos castigos físicos como forma de educação, relatou algumas iniciativas da Rede, em especial a realização, em 2008, de um concurso „Não Bata, Eduque‟, visando mapear a promoção de formas de educar sem o uso dos castigos físicos e humilhantes, objetivando fomentar a discussão do tema como um reforço para a aprovação da Lei que proibisse o uso dos castigos físicos. Informou que, naquele concurso, 34,4% das instituições que se inscreveram eram governamentais, sendo 13,8% da esfera municipal. Alegou que o que se observa na trajetória da Rede é que as organizações da sociedade civil trabalham a temática com mais frequência. Ressaltou ainda que a Rede continua articulando com a

12 Integrada por mais de 300 membros entre pessoas físicas e jurídicas, além de um grupo gestor responsável pela coordenação, desenvolvimento e implementação das estratégias de ação do grupo. Tem como objetivo primordial erradicar os castigos físicos e humilhantes contra as crianças e adolescentes (http://naobataeduque.org.br).

Secretaria de Direitos Humanos e o CONANDA no sentido de incentivar a construção de políticas públicas mais consistentes, que possam, de fato, contribuir com a implementação da Lei n.o 13.010/2014.

A evidência da não existência de nenhuma política pública de proposição preventiva e alternativa ao uso dos castigos físicos como forma de educação impôs uma redefinição no campo da pesquisa, mudando da investigação de eventuais políticas estatais para o âmbito da sociedade civil, pois, sob esse novo enfoque, o trabalho se volta com maior objetividade à procura de uma prática alternativa ao uso dos castigos físicos como método de disciplina. Com amparo na pretensão de uma proposta de educação positiva, já sinalizada nos trabalhos propostos naquele concurso da Rede „Não bata, Eduque‟, passou-se a investigar sobre a parentalidade positiva no Brasil, percebendo-se uma maior incidência para o modelo adleriano, mais especificamente denominado Disciplina Positiva.

Com o projeto de pesquisa refeito, devidamente adaptado frente aos contratempos do