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4 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

4.4 Medindo a pobreza: opções metodológicas da pesquisa

Este trabalho tem por objetivo a verificação de eficácia da Política Nacional de Microcrédito Produtivo orientado como instrumento de desenvolvimento inclusivo e de superação da pobreza.

A verificação de eficácia foi feita a partir de dados primários, levantados em 273 entrevistas de campo, realizadas pelo autor, com os microempreendedores que contrataram o microcrédito produtivo orientado e com um grupo controle, de mesmo perfil socioeconômico, nos seus locais de trabalho ou em suas residências. A pesquisa de campo é de natureza quantitativa-qualitativa, foi adotada por permitir maior qualidade dos dados e pela riqueza das percepções disponíveis ao pesquisador

A utilização de dados secundários foi feita exclusivamente para fins de comparação com os resultados encontrados por esta pesquisa, e não como base para a análise realizada. Foram utilizados como dados secundários os resultados da pesquisa “Economia Informal Urbana”, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no ano de 2003 (IBGE, 2005), bem como resultados das pesquisas internacionais e nacionais sobre o microcrédito produtivo orientado como instrumento de superação da pobreza, apresentadas nos itens 3.5 e 3.11, respectivamente.

As instituições de microcrédito produtivo orientado e as cidades onde foram realizadas as entrevistas foram escolhidas em razão de sua representatividade na concessão de microcrédito para o estrato de baixa renda, levantada em discussões com especialistas no decorrer no 5o Fórum do Banco Central sobre Inclusão Financeira, realizado em Fortaleza de 4 a 6 de novembro de 2013. Foram selecionados para pesquisa o programa Amazônia Florescer, do Banco da Amazônia, em Belém, Pará; o programa Crediamigo, do Banco do Nordeste do Brasil, em Fortaleza, Ceará; o programa Prospera, da Secretaria do Trabalho do Distrito Federal, em Brasília; o programa Santander Microcrédito, do Banco Santander; e o programa de microcrédito do Instituição Comunitária de Crédito Blumenau Solidariedade (Blusol), em Blumenau e cidades do Vale do Itajaí.

A pesquisa realiza a análise por meio da medição direta de uma série de direitos que especificam um mínimo social, elencados na Constituição e em diversas leis, bem como a medição indireta, por meio de indicadores monetários, como a renda.

Face às múltiplas dimensões da pobreza, torna-se necessário especificar esses diversos direitos mínimos, considerando a concepção de Desenvolvimento como Liberdade, formulada por Sen (2000), e os fundamentos da Análise Jurídica da Política Econômica, proposta por Castro (2009), que compõem o marco jurídico deste trabalho.

Entre os efeitos do microcrédito, relatados na literatura apresentada, destaca-se a liberdade instrumental relativa às facilidades econômicas (as oportunidades que os indivíduos têm para utilizar recursos econômicos com propósitos de consumo, produção ou troca, na formulação de Sen (2000, p.55-56)), que se relaciona à contribuição da elevação da renda familiar dada pelo microempreendimento e à contribuição do microcrédito na elevação do faturamento, na perspectiva do microempreendedor. Cabe destacar que não é possível uma medição direta do efeito do microcrédito sobre o faturamento, dada a inexistência de registros nos negócios informais.

A comparação entre o percentual de elevação da renda dos microempreendedores de baixa renda que utilizaram o microcrédito produtivo orientado e o percentual de elevação da renda de um grupo controle de baixa renda que não utilizou esta modalidade de crédito pode fornecer indicações qualitativas sobre os efeitos do microempreendimento, apoiado pelo microcrédito, na superação da pobreza.

Também as oportunidades sociais, com destaque para o acesso à saúde e o acesso à educação, compõem uma medição da pobreza em um aspecto multidimensional. São adotadas nesta pesquisa as dimensões de vulnerabilidade adotadas pelo IBGE que caracterizam a

pobreza, incorporando indicadores selecionados do Índice de Pobreza Multidimensional, assinaladas em negrito:

a) o acesso restrito a educação fundamental, que se caracteriza pela ocorrência de crianças e adolescentes de 6 a 14 anos de idade que não frequentam a escola, de pessoas de mais de 15 anos de idade analfabetas, ou de pessoas de 16 anos de idade ou mais que não concluíram o ensino fundamental;

b) o acesso restrito à qualidade nos domicílios(ou à moradia digna), caracterizado pela ocorrência de moradores em domicílios cujas paredes não sejam de alvenaria ou madeira aparelhada; cujo piso não seja predominantemente de cerâmica, madeira

aparelhada ou cimento; ou ainda cuja densidade de moradores por dormitório seja

superior a 2,5 pessoas por dormitório;

c) o acesso restrito aos serviços públicos básicos(ou essenciais), caracterizado por: domicílios cujo abastecimento de água não seja feito por rede geral; pela ausência de

banheiro, ou pela existência apenas de banheiro compartilhado entre várias residências, ou ainda pelo esgotamento sanitário que não seja realizado por rede

coletora de esgoto ou fossa séptica; pela ausência de coleta de lixo direta ou indireta, ou pela ausência de acesso à eletricidade;

d) o acesso restrito à saúde à alimentação, caracterizado pela percepção de falta de

acesso a hospitais ou postos de saúde; pela nutrição inadequada, considerada como a realização de menos de duas refeições por dia, associada à percepção subjetiva do entrevistador; ou pela ocorrência da perda de crianças na família, por aborto não provocado, doenças, acidentes ou violência urbana. Destaque-se

que este último indicador, em geral, tem caráter estático, sendo neutro quanto à evolução na situação posicional, porem relevante por sua contribuição com informações sobre a incidência deste aspecto da vulnerabilidade no grupo pesquisado. A ocorrência de subnutrição, dada à impossibilidade de realizar medições de peso e altura, necessárias para o cálculo do índice de massa corporal, foi associada, como aproximação, à realização de menos de duas refeições por dia, e a uma avaliação subjetiva pelo entrevistador de um estado de magreza acentuada do entrevistado.

Por limitações de escopo da pesquisa, não será verificada a inclusão ou exclusão de programas de assistência social e de transferência de renda.

Também será verificada a percepção de empoderamento (orientado à mudança) dos entrevistados, tendo como agentes os indivíduos e também a comunidade, utilizando as questões desenvolvidas por Ibrahim e Alkire (2007, p. 29 e 30).

A verificação de déficit de fruição empírica dos direitos de acesso à educação fundamental, à saúde e à alimentação, à moradia digna e aos serviços públicos essenciais é feita de forma individualizada, considerando a data em que a pesquisa foi realizada e a situação referente aos indicadores levantados três anos antes da realização da pesquisa, tempo suficiente para a consolidação (ou não) dos efeitos do microcrédito e do micronegócio na melhoria da renda, da saúde, da alimentação, da educação, do acesso aos serviços públicos básicos e da qualidade de moradia, melhorias que integram (ou deveriam) integrar a superação da pobreza.

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