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MIGRAÇÕES, COLÔNIA E COLONIZAÇÃO NO BRASIL SÉCULOS XIX E XX: CARACTERÍSTICAS E JOGOS DE MOTIVAÇÕES E INTERESSES CARACTERÍSTICAS E JOGOS DE MOTIVAÇÕES E INTERESSES.

4 MIGRAÇÕES E COLONIZAÇÃO NO BRASIL SÉCULOS XIX E XX, A DIÁSPORA POLONESA E A COMUNIDADE POLONESA NO PARANÁ.

4.1 MIGRAÇÕES, COLÔNIA E COLONIZAÇÃO NO BRASIL SÉCULOS XIX E XX: CARACTERÍSTICAS E JOGOS DE MOTIVAÇÕES E INTERESSES CARACTERÍSTICAS E JOGOS DE MOTIVAÇÕES E INTERESSES.

Durante os séculos XIX e XX, foram contínuas as políticas de imigração e de colonização no Brasil, as quais fizeram parte de, conforme destaca Cunha (2015, p. 83), um “projeto planejado e um processo intencional de modernização capitalista do Brasil”. Embora com alguns curtos intervalos e ajustes relacionados à responsabilização na gestão, tanto no período imperial, quanto, posteriormente, na república, estes propósitos foram uma preocupação governista voltada para o cenário nacional e internacional. Dessa forma, até a metade do século XX, a entrada de imigrantes de distintos locais foi bastante significativa, principalmente aqueles que migram do continente europeu, destinados para as áreas de inserção imigrantista e/ou de colonização. Conforme Nadalin (2001, p. 17), a “Grande Imigração”, de 1850 até 1939, significou o ingresso de cerca de 48 milhões de imigrantes no país.

No caso da Alemanha, no século XIX eliminou-se a servidão da gleba, considerado um entrave para a mecanização, colocando, assim, os servos emancipados à margem da terra, resultando em trabalhadores sem terras, mendicância, vagância e pequenos furtos, levando-os a migrarem (informação verbal)107. No meio urbano, a indústria existente não absorvia a mão

de obra disponível, somado ao excedente populacional e ao descontentamento com as questões políticas. Conforme Kreutz (1991, p. 13), “não havia colônias para repassar os excedentes populacionais” isso, associado a “uma expansão industrial relativamente tardia para absorver os egressos do campo”.

Na Itália108, com a crise camponesa a partir de 1870, a migração para países como o

Brasil era uma boa solução, tendo na possibilidade da posse de terras, um importante atrativo. Nesse contexto, os imigrantes italianos no Brasil, em sua maioria, vieram das regiões do norte da Itália, motivados por não acompanharem as mudanças exigidas pela introdução de relações de produção capitalistas no campo. De acordo com Bertonha (2011), a partir da década de 1870, mais de 1 milhão de imigrantes advindos da Península Itálica chegaram ao Brasil e se instalaram no Norte, no Noroeste e em províncias do Sul, como pequenos proprietários.

107Palestra apresentada por Martin Dreher no II Seminário Internacional Diálogos Interculturais. Brasil e Países

de Língua Alemã, Santa Maria, 17 de outubro de 2013.

108Os migrantes ditos italianos saíram do recorte territorial do Continente Europeu, na época definido como

Península Itálica, responsável pelo envio de um dos maiores contingentes populacionais, principalmente, para o sul do Brasil. Após a unificação, esse recorte passa a ser a Itália. Desta forma, optamos por usar a atual definição, de modo a facilitar a localização geográfica do leitor.

Os movimentos migratórios desse período foram contemporaneamente tratados pela historiografia como migrações históricas109, colocadas em relação às migrações atuais e aos

refúgios. Migrar, no entanto, é um movimento humano reconhecido e naturalizado desde os primórdios, com motivações e “bagagens” reconhecidamente diversas.

Neste movimento humano, tanto os países dos quais emigram, quanto os distintos grupos humanos emigrantes, o país receptor, os estados e as regiões, foram representados por pessoas e contextos com diferentes características culturais e históricas, motivações e interesses colocados em jogo nos processos sociais e históricos. Buscamos neste subtítulo, tratar de forma bastante sintética, algumas questões presentes, principalmente em relação ao contexto brasileiro, de como a chegada destas populações migrantes, e a inserção imigrante e de colonização, no período anunciado, vem sendo percebidas na historiografia ligada à temática.

Em uma publicação clássica sobre “A Colonização Alemã e o Rio Grande do Sul”, Jean Roche (1969, p. 117) ao tratar da colonização do território brasileiro, considerando um período de significativa entrada de estrangeiros através da colonização dirigida, a divide em duas fases distintas: a Primeira (1824-1889) sob a competência do Império e a Segunda, durante a República (1890-1914) - sob a competência de governos central e local. Durante a primeira fase, fundaram-se as chamadas Colônias Velhas e, na primeira metade do século XX - segunda fase, as Novas Colônias. Em ambas as fases, Oliveira (2009) identificou a presença de políticas de atração, empregadas aos distintos grupos de imigrantes, tanto pelo Império, quanto pela República, pelas províncias e depois estados.

No período Imperial, após a independência de Portugal, o imperador D. Pedro I ocupou-se com a imigração e a colonização, identificando necessidades internas e buscando intensificar esse processo de imigração, seguindo a política de abertura já iniciada. Conforme Iotti (2010, p. 42), “D. Pedro I deu prosseguimento à política de criação de núcleos coloniais praticada por seu pai D. João VI”. Sikora (2014, p. 13), destaca que “Com a vinda da Família Real ao Brasil, no início do século XIX, foram instituídas políticas por meio da Carta Régia de 1808, que tratava da abertura de portos aos estrangeiros, comércio e concessão de terras”.

Com a abertura dos portos, chegaram imigrantes alemães e austríacos no Rio de

109Esta definição tem sido evidenciada tanto em publicações acadêmicas em outros espaços, e em eventos como

o XIII Seminário Nacional de Pesquisadores da História das Comunidades Teuto-brasileiras e Seminário

Nacional: Migrações históricas e recentes, promovido pela Associação Nacional de Pesquisadores da História

Janeiro, em meio a estes, também estavam alguns poloneses, devido à ocupação austríaca na Polônia. Chegaram também açorianos na região da feitoria do Linho Cânhamo, hoje São Leopoldo-RS. Segundo Jean Roche (1969, p. 93):

Foi o Governo Brasileiro que atraiu os emigrantes europeus, oferecendo-lhes diversas vantagens em dinheiro ou em espécie. Por resolução imperial introduziu-se essa colonização. O Imperador D. Pedro I interessou-se, pessoalmente, pelo povoamento e pela exploração de novas regiões do Brasil por brancos não-portugueses. Quer tenha sido movido por uma presciência intuitiva da importância própria da colonização, quer a tenha ligado, no seu espírito, a outras questões de política interna ou externa [...].

A referência feita por Roche (1969) em relação à opção de atrair os migrantes europeus não-portugueses é encontrada em distintas produções e, tal atitude é atribuída à influência da Imperatriz Leopoldina, esposa de D. Pedro I e filha da família Habsburgo do Império da Àustria. Em algumas produções historiográficas há indícios de que isso se deve as atribuições culturais e intelectuais notáveis de Leopoldina, que apontavam não somente para a importância das parcerias econômicas e relações políticas, mas, também, para a sua percepção sobre a importância de atrair para o Brasil pessoas do centro da cultura ocidental.

Porém, neste caminho, D. Pedro I enfrentou a resistência da classe latifundiária e até então escravista, que, até então, acostumada a dispor livremente do uso e posse das terras, era contrária ao investimento na implantação de núcleos coloniais. Mesmo assim, conforme Martin Dreher (2011, p. 76-77), Jorge Antônio Von Schaeffer foi enviado à Europa, em nome de José Bonifácio e Dom Pedro I, para o recrutamento de colonos antes da Proclamação da Independência. Então, conforme o autor:

Von Schaeffer recrutou-os em presídios e casas de correção. Os primeiros imigrantes chegados em São Leopoldo, em julho de 1824, foram egressos do presídio de Hamburgo. Nas levas que se sucederam, encontramos um grupo cerca de 350 pessoas retiradas de casas de correção e de presídio do Estado de Mecklenburg-Schwerin, estado localizado no mar Báltico.

No ano de 1824, logo após a Proclamação da Independência do Brasil, chegam os primeiros imigrantes alemães a São Leopoldo – RS, tido por Roche (1969) como o berço da colonização alemã, e os suíços em Nova Friburgo no Rio de Janeiro. Conforme Nadalin (2001, p. 66), chegam alemães também em 1829, estes, são destinados a Três Forquilhas, Torres e São João das Missões, ainda, Itapecerica e Santo Amaro em São Paulo. No mesmo ano, conforme o autor, “foram fixadas em Santa Catarina e no Paraná, respectivamente, as colônias de São Pedro de Alcântara e Rio Negro, na mesma região onde antes já haviam sido instaladas 50 famílias açorianas”. Neste período, o “recém-instalado governo brasileiro passa

a organizar colônias de estrangeiros, para ocupar e defender o território brasileiro e para garantir a posse de terras” (GIRON & BERGAMASCHI, 1996, p. 66).

No processo que se delineia até 1850, o domínio de territórios se fez mais importante que os objetivos econômicos, então, a estratégia de povoamento das fronteiras passou a ser providência imediata para a manutenção de territórios após a Proclamação da Independência. Por isso, conforme Roche (1969, p. 10-17), a imigração alemã iniciou logo depois da Proclamação da Independência e da vitória do Brasil sobre Buenos Aires e Montevidéu na primeira Guerra Cisplatina110, fato este que, encerrado em 1821, se deu em meio às disputas

pela ocupação e pela posse territorial. Principalmente no sul do Brasil, a imigração fez parte da política de povoamento do extremo sul fronteiriço com os países da Bacia do Prata111, por

tratar-se de uma região altamente estratégica em termos geopolíticos (ZARTH, 1997, p. 52- 53).

Como uma forma de garantir a posse das terras, não foram introduzidos colonos súditos dos países que possuíam colônias na América. Posteriormente aos alemães, chegaram os imigrantes italianos e poloneses112, entre outros. Assim, no pós-independência, o Brasil não

era mais uma colônia e esta denominação passou a ser usada para as áreas de povoamento e de fixação de estrangeiros (GIRON & BERGAMASCHI, 1996).

Outro fator levou ao declínio geral do mercantilismo e desta fase do colonialismo, fator que foi engendrado pela própria evolução das atividades econômicas. Um dos sintomas dessas transformações foi a passagem da fase das “colônias comerciais”, características dos primeiros momentos das Grandes Navegações, para a constituição de “colônias de povoamento”, a partir principalmente do século XVIII (NADALIN, 2001, p. 55, grifo do autor).

Sendo assim, trata-se de um processo de declínio do colonialismo mercantilista, ligado ao processo de evolução capitalista e de um contexto propício para a concretização das independências e o desenvolvimento em sentido econômico, mas também demográfico dos países independentes. Então, os migrantes, predominantemente camponeses, saídos das regiões agrícolas europeias, tiveram possibilidades de constituir suas vidas em outro país, adquirindo lotes que eram parte de uma “colônia”.

110Conforme Roche (1969, p. 16), representou a guerra pela incorporação da Província Cisplatina ao reino luso-

brasileiro.

111Por países da Bacia do Prata compreende-se: Uruguai, Paraguai, Brasil, Argentina e Bolívia.

112 Neste período, as imigrações alemã, italiana e polonesa representaram o maior salto quantitativo na entrada de

A discussão em torno do conceito de colônia é perpassada por uma dialética que descortina uma amplitude muito maior do que um simples espaço geográfico destinado a imigrantes colonizadores: configura-se num contexto de vivência que sofreu formulações e (re)formulações, conforme as condições pelas quais foi permeada e objetivada.

Em um primeiro momento, todas as áreas disponíveis foram de domínio do Império, tendo em vista que iniciou aí um período de reestruturação política e, dentre as ações, foi outorgada a Constituição de 1824, documento este, em que os legisladores decidiram que seu território seria dividido em províncias, passando estas ao desígnio do Poder Executivo Imperial, sem qualquer autonomia administrativa (GIRON & BERGAMASCHI, 1996, p. 15- 20). Porém, devido à contraposição dos latifundiários, houve uma paralisação no processo de imigração e de colonização, quando em 1931, D. Pedro I abdica do trono, iniciando-se o período regencial, em que “a imigração subsidiada pelos cofres públicos foi abandonada” (IOTTI, 2010).113

A retomada da política de imigração e de colonização imperial implicou, posteriormente, a partir de 1848, na divisão da responsabilização de administração sobre a colonização com os estados, que passaram a ter domínio sobre suas terras devolutas, através das colônias provinciais. Conforme Iotti (2010, p. 46), “a falta de recursos dos governos provinciais fez com que se associassem à iniciativa privada, estimulando a criação e a atuação de companhias de colonização” assim, para a autora, “passaram a atender mais aos interesses regionais do que até então”.

A inserção da iniciativa privada se ampliou com a Lei de Terras, que, regulamentada em 1850, resultou em exploração capitalista, principalmente através das empresas colonizadoras, das agências de propaganda e das companhias de navegação. Conforme Zarth (1997, p. 43), a partir da Lei de Terras de 1850, regulamentada em 1854, todas as terras tidas como devolutas tornaram-se objeto de venda pelo governo.

Para Cunha (2015, p. 89), “Em resumo, a Lei de Terras dificultava o livre acesso às terras, por meio de posse”, ou seja, a ocupação de terras não mais pode ser “mansa e pacífica”, na expressão usada na época, mas realizada através da compra. Conforme a lei, “Ficam proibidas as aquisições de terras devolutas por outro título que não seja o de compra. Excetuam-se as terras situadas nos limites do Império com países estrangeiros em uma zona de dez léguas, as quais poderão ser concedidas gratuitamente” (ZARTH, 1997, p. 43).

113 Luiza Horn Iotti (2010) visita o processo de imigração e colonização a partir de documentos oficiais,

relatórios e análise da legislação. Nosso o objetivo é contextualizar o processo e, desta forma, tomaremos como ponto de partida as produções relacionadas à temática e reconhecidas atualmente.

A partir da Lei de Terras, conforme Giron & Bergamaschi (1996, p. 67), tal processo “adquire nova conotação” e o interesse econômico passou a sobrepor o político; “o Estado dirige e participa do processo, financiando e apoiando a iniciativa privada”. Em tal fase, a

colônia passou a ser um “empreendimento econômico”, uma exploração imobiliária, e

surgiram diversas companhias colonizadoras.

A regulamentação em lei quanto à valorização da terra resultou no incentivo à entrada de trabalhadores estrangeiros e na captação destes por parte das empresas colonizadoras, cuja atividade foi fortalecida com as leis que, aos poucos, buscaram extinguir a escravidão. As regiões e as terras devolutas e com pouca população, até então, passaram a ser comercializadas para empresas colonizadoras, estas, por sua vez, tinham como proprietários muitos latifundiários, escravistas, empresários, estrangeiros e políticos, que as loteavam e vendiam, tornando-se este um negócio altamente lucrativo.

Da forma como foi pensada a lei, o acesso às terras ficou bastante limitado para as camadas pobres da população camponesa, indígenas, nômades, posseiros, imigrantes trabalhadores das fazendas e, posteriormente, ex-escravos, homens livres, porém pobres e sem instrução. Este foi o caso da maioria dos nacionais que residiam em locais de colonização como posseiros ou que trabalhavam como peões de fazenda. Porém, a lei facilitou para as elites, que, além de regularizarem suas propriedades, procuraram avançar ou incorporar novas áreas, concentrando, assim, recursos econômicos e terras e gerando conflitos e manutenção da exploração, dada a dependência.

As pressões pela libertação dos escravos no país se ampliaram não somente no contexto interno, mas também, movidas pelas configurações externas que, aos poucos, se inseriam. No contexto mundial, a Revolução Industrial114, que se deu a partir do século XVII

na Inglaterra, com desenvolvimento tecnológico na indústria, propiciando uma maior produção, “acumulação de capital, e acesso a reservas de recursos naturais” (MARIN, 1999, p. 8) deu ao país o domínio no mercado internacional.

Interessada em ampliar o mercado consumidor dos produtos que industrializava, a Inglaterra passou a fazer pressões para suprimir o tráfico de escravos para o Brasil. Com isto queria forçar a substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre, garantindo assim mais compradores para os seus produtos no Brasil (MARIN, 1999, p. 16).

114A Revolução Industrial foi um longo processo ocorrido durante os séculos XVII e XVIII, pelo qual a

Inglaterra passou de uma estrutura fundamentalmente agrícola e artesanal para outra, urbana e industrializada (MARIN, 1999, p. 8).

Marin (1999, p. 13-17) destaca também, que, além da necessidade inglesa de vender seus produtos e de expandir o comércio internacional, o Brasil estava em dívida com os bancos ingleses, devido aos “empréstimos para investimentos na lavoura, maquinário e transportes”, além de empréstimos para Portugal, inclusive para “a “fuga” da Corte Portuguesa para o Brasil em 1808”. O Brasil do período, embora possuísse muitas riquezas e potencialidades econômicas, não tinha como explorá-las suficientemente. Nessas condições, acabou dependendo dos abusivos valores dos maquinários adquiridos na Inglaterra. Essa dependência aumentou com a libertação dos escravos e a diminuição da disponibilidade de mão-de-obra.

Tais fatores, reforçados pela promulgação da Lei Bill Abeerden115 no Parlamento

Inglês, foram determinantes para que a pressão Inglesa quanto à libertação dos escravos no Brasil, surtisse efeitos, somando-se ideias liberais da Revolução Francesa trazidas por alguns intelectuais do país, que voltavam de seus estudos no exterior. Então, a Inglaterra inicia uma verdadeira “cruzada” na intenção de fiscalizar navios que realizassem tráfico ilegal e promulga-se, no Brasil, “a Lei Eusébio de Queirós, de 4 de setembro de 1850, que extinguia definitivamente o tráfico internacional de escravos” (MARIN, 1999, p. 22).

Conforme Giron & Bergamaschi (1996, p. 25-26), iniciou-se a “busca de mão-de-obra livre para a lavoura cafeeira e a agricultura nacional”. Posteriormente, em 1879, de acordo com Marin (1999, p. 6), criou-se a “Lei de Locação e Serviços que, voltada principalmente para os imigrantes, regulamenta o trabalho livre”. São definições que tornaram a “colônia como o espaço de transição entre o sistema escravista e o trabalho livre e o sustentáculo do latifúndio” (GIRON & BERGAMASCHI, 1996, p. 67). Neste sentido, o incentivo à imigração para o país, no período, tem implicações que, dentre seus fatores, nasceram também de um processo que resultou da gradual libertação dos escravos e da necessidade de mão de obra barata para, por exemplo, as fazendas de café.

Porém, os fazendeiros não aceitavam extinguir de uma vez por todas a escravidão, então esse processo foi efetivando-se aos poucos; criou-se a Lei do Ventre Livre (1874) e a Lei dos Sexagenários (1885). Porém, conforme já mencionamos, a forma como foi efetivada a Lei de Terras em sua aplicabilidade, facilitou a continuação da dependência dos escravos, uma vez que o acesso às terras havia sido limitado aos que tivessem condições aquisitivas, possibilidade quase intangível a ex-escravos, no entanto, acessível a muitos dos estrangeiros, brancos. Então, os ex-escravos, por não terem condições de sustentarem-se, local onde residir,

115Lei promulgada em 1845, no Parlamento Inglês. “Daí em diante o tráfico seria tratado como pirataria, e a

outra profissão a exercer, em sua grande maioria, continuaram trabalhando para os proprietários das fazendas, garantindo disponibilidade de mão-de-obra barata.

A substituição de mão-de-obra escrava, embora tenha encontrado correspondência em distintos estados brasileiros, ocorreu mais fortemente no estado de São Paulo, onde as fazendas cafeeiras necessitavam cobrir, a partir do estabelecimento de parceria e de inserção imigrantista nas propriedades, a carência desses trabalhadores. Oliveira (2009, p. 219) destaca que, “No lugar de imigrantes colonos, o estado de São Paulo, por exemplo, passou a privilegiar a vinda de trabalhadores agrícolas. A edificação, em 1887, pela Sociedade Promotora de Imigração, da Hospedaria do Imigrante na cidade de São Paulo, confirmou essa tendência (ALVIM, 2000)”.

Conforme Truzzi (2016, p. 9), em São Paulo, a mão-de-obra da imigração italiana vinha substituindo os escravos nas fazendas “graças à imigração financiada, custeada primeiramente pelo governo central e, posteriormente, pelo governo paulista”. Com o tempo, muitos mudaram para os centros urbanos e, conforme o autor, “Nesse sentido eles podiam ser considerados um fator de modernização”, já que ocupavam setores de comércio, indústria e profissões ainda não desenvolvidas. A inserção de imigrantes no contexto urbano pode ser observada também em outras capitais brasileiras e se relacionou com o desenvolvimento urbano, a industrialização e o comércio.

A colonização e a inserção de imigrantes estão associadas a distintos conceitos de colônia entre 1850 e 1889, desenvolvidos por Giron & Bergamaschi (1996): particulares,

imperiais, provinciais e colônias de proprietários - empresas colonizadoras. As imperiais, as

provinciais e as colônias de proprietários - empresas colonizadoras se encaixaram no sistema de colonização, já as colônias particulares estiveram mais para um processo de inserção de imigrantes, e assim se subdividiram: de parceria116, mistas e de proprietários e previram

acordos entre imigrante e proprietário, que na maioria das vezes, excluiu a posse, cada uma delas estava organizada de acordo com as relações de produção e de fluxo de capital pré- estabelecidas.

Assim, percebemos as diferenças regionais e provinciais (depois estaduais) deste processo de colonização e de inserção de imigrantes. Se no sul do Brasil a adesão à propriedade nos núcleos coloniais foi efetiva, na maioria das vezes, em outras regiões como a

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