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Movimentos culturais, políticos, sociais e nacionalistas poloneses e o nacionalismo oficial imperialista, organizações associativas culturais étnicas e a emigração.

ÉTNICO-CULTURAL, DIÁSPORA E REUNIFICAÇÃO.

3.1 IMPERIALISMO E NACIONALISMO OFICIAL, CULTURAS E IDENTIDADES NA POLÔNIA TRIPARTIDA.

3.1.1 Movimentos culturais, políticos, sociais e nacionalistas poloneses e o nacionalismo oficial imperialista, organizações associativas culturais étnicas e a emigração.

Conforme Veiga (2007, p. 85), “o processo de mudanças sociais, políticas e econômicas” que efetivamente “repercutiram e levaram, no século XIX, à independência das colônias europeias nas Américas, à consolidação das formas constitucionais de governo, à consciência de nação e à afirmação do sistema capitalista”, foram também a base para as ideias e os “movimentos sociais que o questionaram”. No entanto, entendemos que, dentre as mudanças, as representações culturais estiveram amplamente articuladas a esse contexto político, econômico e social que se desvelou e às contradições aí fomentadas nas relações de poder, principalmente em contextos de dominação e de conflitos.

Neste processo, assumir este lugar cultural exige formular estratégias e maneiras de manter a diferença, para Anderson (2008), a comunidade culturalmente imaginada. Em outra perspectiva, mais voltada para o teor político Monserrat Guibernau, Miroslav Hroc, Lord Acton, entre outros, com visões distintas de Anderson (2008) chamaram, por exemplo, de “nação sem estado”. Segundo Guibernau (1997, p. 110), “não existia o estado polaco, somente a nação”. Conforme afirma Hobsbawm (2011), de todo modo, não conformava o status de estado-nação moderno, e as definições étnico-culturais estiveram sustentando um nacionalismo fortalecido nas disputas culturais, já que não possuíam um estado territorial moderno para legarem seu pertencimento nacional.

Dentre as estratégias culturais e identitárias empreendidas pelos poloneses nos distintos domínios, estavam: organização de movimentos de resistência e insurreições. Durante todo o período da emigração até a recuperação da independência, evidenciaram-se a atuação dos movimentos populares, dos partidos políticos e das tentativas de insurreição à

dominação na Polônia dividida. Mazurek (2016, p. 36) ressalta que através destas organizações, a resistência foi permanente durante os 123 anos de dominação e, “apesar do terror e da discriminação, apesar da intensa germanização e russificação os ocupantes não foram capazes de aniquilar a nação polonesa”, mas, “tentaram eliminar qualquer identificação nacional com a polônia, mas houve grande resistência por parte do povo polonês enquanto lutavam para manter sua linguagem e cultura formando centros educacionais e sociedades secretas” (STELMASZUK, 1994: 224)”.

Sob este objetivo, “Trabalhadores sociais iniciais estavam ativos nesses esforços educacionais e também desempenharam um papel fundamental durante o início dos anos 1900 na organização da resistência à dominação” (Theiss, 1992: 47) (BRAINERD, 2001, p. 20, tradução livre). No entanto, Brainerd (2001) destaca que a resistência mudou de cara e estratégia com o passar do tempo. Conforme a autora, para esta questão, a atuação das mulheres neste processo foi muito relevante, identificando Helena Radlinska78 como membro

desse movimento, cuja atuação ocorreu também em período posterior à reunificação e na relação com seu trabalho social como assistente social, desenvolvido a partir da crença no potencial humano mesmo em condições de opressão.

Helena Radlinska, membro da intelligentsia e esposa polonesa de um médico, pertencia a várias organizações patriotas secretas que funcionou para educar o povo polonês sobre sua cultura e história (Theiss, 1992). As mulheres polacas desempenharam um papel importante nestas sociedades educativas secretas (Davies, 1984: 268) e também lutou em combate real contra os opressores (Davies, 1984: 186- 7). O trabalho educacional das mulheres foi visto como uma parte essencial da resistência. Conforme observado por Davies (1984: 268), "o típico polonês” O patriota em qualquer altura até 1864 tinha sido um homem jovem com um sabre ou revólver na mão, o típico patriota na virada do século era uma jovem senhora de boa família com um livro de texto sob o xale. Isso contrasta fortemente com outros países, onde o trabalho social foi visto pelas mulheres como um meio de ter uma carreira, na qual, se poderia ser autoportante, independente e móvel ascendente (câmaras, 1986b; Graham, 1996: 143-4) (BRAINERD, 2001, p. 20, tradução livre,

grifo nosso).

A atuação social das mulheres evidenciou-se bastante ampla, seus papéis foram fundamentais como articuladoras da resistência. Mazurek (2016) também destaca a atuação e a liderança de Helena Radlinska na União Camponesa (1879-1954), mas não somente ela foi

78“Em 1925, Helena Radlinska fundou a primeira escola de trabalho social na Universidade Livre da Polônia em

Varsóvia. Foi nomeado Escola de Educação de Adultos e Trabalho Social (Studium Pracy Spoleczno-

Oswiatowej) (Stelmaszuk, 1994: 229)”. Então, “Isso marcou o início dos trabalhadores sociais como

profissionais na Polônia. A orientação teórica da escola foi fundamentada na pedagogia social, uma disciplina científica que se ocupa da educação e do relacionamento entre o desenvolvimento humano e o ambiente social”. Ainda, “Seu trabalho como assistente social, desenvolvido a partir da crença no potencial humano mesmo em condições de opressão, foi considerado como desnecessário após a II Guerra Mundial e a pressão comunista (BRAINERD, 2001, p. 2, tradução livre)”; No entanto, contemporaneamente, seu trabalho é reconhecido em ambientes acadêmicos de vários países, entre eles, os Estados Unidos e a Alemanha.

por ele lembrada, muitas outras mulheres exerciam seus papéis nesse processo, como já destacamos neste texto, entre elas, intelectuais, professoras, líderes religiosas e políticas.

Conforme Mazurek (2016, p. 13), os movimentos populares na Polônia foram ativos, através de lideranças, dentre eles os camponeses e as agremiações partidárias, estiveram atuando inclusive em relação à questão emigratória, mesmo que permeados pelos antagonismos sociais. Ao referir-se a emigração para a América Latina, o autor destaca um contexto de efervescência do “movimento popular organizado, isto é, dos partidos, facções e organizações, diante da ação colonizadora camponesa”.

Dentre as organizações ligadas aos emigrantes e preocupadas com o problema emigratório, uma vez que a emigração massiva passou a ser percebida pelos nacionalistas como algo que merece atenção, Mazurek (2016) ressalta a criação da Sociedade Comercial e Geográfica de Lwów79 - progressista/nacionalista, na Galícia - região de ocupação da Àustria-

Hungria, reunindo intelectuais, líderes e políticos, com publicações, revistas e jornais sobre a comunidade polonesa, inclusive a emigrada. Essa preocupação é principalmente ligada à preservação da cultura, cuja discussão é ressaltada pelo autor como a motivação do III Congresso de Juristas e Economistas Poloneses em Poznan, em 1893, e no Congresso Católico de Cracóvia em 1894.

Embora, no caso do Brasil, houvesse, inicialmente, um entendimento geral de que os seus imigrantes tinham plena liberdade para exercer sua cultura, Mazurek (2016, p. 153) ressalta que, evidenciou-se entre tais lideranças a preocupação com as questões da emigração de modo geral e, a temida desnacionalização destes poloneses emigrados, somada à falta de uma estrutura de estado. Estas percepções fizeram com que algumas atitudes fossem tomadas, inclusive, interferências in loco do chamado “grupo de Lwów”. Entre eles, Kasimierz Warchalowski que esteve durante um tempo no Brasil e também no Peru. Conforme o autor:

Diante do enorme movimento emigratório e com a falta de instituições governamentais que prestassem assistência aos emigrantes, esse papel era assumido pelas organizações sociais. Entre as mais importantes devem ser mencionadas a Sociedade de Assistência aos Emigrantes, existentes no Reino da Polônia, e a Sociedade Emigratória Polonesa, que atuava na Galícia.

Tais articulações foram motivos para severas repressões no domínio russo. Conforme Mazurek (2016) os movimentos camponeses na região do domínio russo sofreu severas proibições, entre elas, a prisão de líderes e deportações para a Sibéria80, no entanto, isso não

79 Retomaremos nos próximos capítulos;

80Ver mais em: BEER, Daniel. A casa dos mortos: o exílio na Sibéria sob os Románov. São Paulo: Editora

foi o necessário para desarticulá-los. Para o autor, as organizações foram fortalecidas por ideais e movimentos socialistas e direitistas, através dos seus partidos. Estes e suas lideranças (homens e mulheres) tiveram importantes papéis, tanto nos territórios ocupados, quanto em relação aos emigrados. Dentre suas principais buscas, conforme Tomacheski (2014, p. 35), “sobre a planície polaca, surge uma grande fome social, representada por três grandes ideais que norteiam o processo de emigração: terra, pão e liberdade”. Conforme Mazurek (2016, p. 36): “dentro e fora da Polônia, os poloneses não aceitaram o domínio estrangeiro em seu território e lutavam pela liberdade”.

Colocava-se principalmente, a busca pela liberdade relacionada às possibilidades culturais. Rolnik (1997, p. 23), ao tratar das reivindicações identitárias, entre elas as étnicas, religiosas, nacionais, embora não deixe de mencionar que, para outras questões e/ou em outros momentos, essa possibilidade poderia deixar resultados não muito interessantes, dentre estes, os fundamentalismos, destaca, no entanto, a legitimidade e o fato de que, “estaria correto na medida em que movimentos coletivos desse tipo são, sem dúvida, necessários para combater injustiças de que são vítimas tais grupos”. Ou seja, quando não se mostrava possível uma convivência intercultural, ferindo então, princípios importantes da dignidade humana.

3.2 LEVANTES, INSURREIÇÕES E (IN) SUBMISSÕES, PARTIDOS POLÍTICOS E A

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