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1 ENCAMINHAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS: ETNICIDADE, CULTURA, NAÇÃO E NACIONALISMO.

2 RAÍZES CULTURAIS DO NACIONALISMO, CONSCIÊNCIA NACIONAL, TERRITORIALIZAÇÃO DE CULTURAS E IDENTIDADES E A TRIPARTIÇÃO.

2.3 O SÉCULO DAS LUZES POLONÊS (OŚWIECENIE): PROGRESSISTAS

CATÓLICOS, REFORMAS E TENTATIVAS DE MODERNIZAÇÃO E O AVANÇO DO NACIONALISMO, TERRITORIALIZAÇÃO CONSCIÊNCIA NACIONAL E A

TRIPARTIÇÃO.

O contexto de pretensos expansionismos imperialistas, iniciado na segunda metade do século XVIII, motivou o direcionamento de olhares focalizados para a tomada dos muitos territórios cuja coesão interna estivesse deixando brechas. A Polônia era local de passagem comercial e militar, de imigrantes, de refugiados de guerras e perseguições religiosas, de judeus, de comerciantes, de nômades e seminômades, com objetivos e destinos diversos. Porém, as crises internas, tanto políticas e sociais, quanto econômicas, agravadas por fatores como a estrutura semifeudal e a intervenção externa, faziam com que a Polônia se tornasse alvo para que os impérios vizinhos da Rússia, Prússia e Áustria, que a colocaram em suas ações expansionistas de forma a desarticulá-la, dividindo o território da república Polono- Lituana entre ambos.

Conforme Mazurek (2016, p.33) “Desde meados do século XVII, na Polônia ocorre um lento enfraquecimento do poder real” assim, “O Estado polono-lituano ia enfraquecendo enquanto ao redor da República cresciam em força os Estados autoritários”, aumentando sobre este, a influência russa. Neste contexto, as ideias iluministas chegam à Polônia e aos impérios vizinhos e, em termos efetivos, provocam desestabilização e insegurança para alguns, fortalecimento e vigor para outros, ou um seguido do outro. Porém, de modo geral, serviam para pautar um novo perfil de sociedade que traria para a discussão o bem comum, a igualdade, a liberdade e o interesse geral, uma sociedade cujas aspirações não estariam mais

centralizadas somente em representações e em interesses absolutistas ou, no caso da Polônia, em um contexto cultural católico e em uma república centrada nos interesses do estado da representatividade da nobreza.

Enquanto o “absolutismo iluminado” fortalecia e armava as vizinhas Rússia, Prússia e Áustria, a Polônia com a sua “democracia nobilitária vivia uma profunda crise política, à beira da anarquia. A nobreza, em grande parte ignorante e incapaz de pensar em categorias do bem comum, defendia obsessivamente a sua “liberdade dourada”, sem perceber que o sistema político desorganizado, o poder central fraco, o exército reduzido a vinte e quatro mil soldados (enquanto o das três potências vizinhas somavam quase meio milhão) já não lhe assegurava liberdade nenhuma (SIEWIERSKI, 2000, p. 53).

O Iluminismo europeu do século XVIII, através da efervescência das ideias de seus pensadores, busca ampliar as discussões relacionadas às questões políticas, ideológicas, sociais e culturais, já demarcadas por pensadores dos séculos anteriores, importantes para a modernidade, entre eles: Baruch Espinoza, Francis Bacon e René Descartes. Assim, o movimento iluminista foi motivador de mudanças nestes campos, inicialmente no contexto europeu, porém suas influências circulariam pelo mundo inteiro, provocando a desestabilização e o questionamento da ordem instituída, a partir de uma ruptura com as explicações embasadas na fé, dando lugar ao racionalismo e ao questionamento do absolutismo do rei e aos privilégios tidos pelos membros da nobreza e do clero, culminando em eventos de grandes proporções como a Revolução Francesa.

Sob estes auspícios, a influência da pauta dos ideais civilizatórios anunciados pelos iluministas, são adotados por uma intelectualidade que buscava, entre outras questões, romper com os sistemas culturais tratados por Anderson (2008), e o domínio cultural da comunidade religiosa. Para tanto, traziam para o debate o indivíduo, a liberdade e a igualdade, condicionados à separação do Estado e da igreja e a necessidade de reformas. Desde o final da Idade Média, delineiam-se, em uma perspectiva racionalista, questionamentos ao domínio da igreja na explicação para as questões sociais e a não participação política dos demais setores da sociedade. Então o iluminismo trata-se de um contexto em que “O despertar do sujeito é pago pelo reconhecimento do poder como princípio de todas as relações”. Nesse sentido, “Poder e conhecimento são sinônimos” (HORKHEIMER & ADORNO, 1983, p. 90-92).

Com o gradual enfraquecimento da comunidade religiosa, como sistema cultural, há também uma gradual inserção do nacionalismo na territorialização de algumas questões (ANDERSON, 2008), dentre elas, aquelas ligadas a definições étnico-culturais das identidades nacionais e o desenvolvimento de preconceitos contra judeus, alemães, entre outros que estavam no contexto do Estado polonês, apontando para o nacionalismo cultural,

uma maneira de perceber diferenças e afirmar fronteiras identitárias.

Conforme Anderson (2008, p. 46), diferente da territorialização e da relativização empreendidas anteriormente até de forma ingênua, no século XVIII as atitudes de territorialização “são profundamente conscientes, e com intenções políticas” em um desdobramento que pode ser visto “como uma nação?”. Nesse sentido, dentre a intelectualidade que deixava o latim para trás, estavam obras como a de Voltaire, que toma uma atitude política ao utilizar-se do vernáculo entre os séculos XVII e XVIII. A abertura às novas possibilidades significava o enfraquecimento do amplo domínio da igreja.

Neste sentido, o processo, que vai aos poucos sendo delineado, torna possível que modernos estados-nações despontem como construções nos séculos XIX e XX. Mas, para Anderson (2008, p. 51) “seria estreiteza pensar que as comunidades imaginadas das nações teriam simplesmente surgido a partir das comunidades religiosas e dos reinos dinásticos, substituindo-as”. Para o autor, “Por sob o declínio das comunidades, línguas e linhagens sagradas estava ocorrendo uma transformação fundamental nos modos de aprender o mundo, a qual, mais do que qualquer outra coisa, possibilitou “pensar” a nação””.

Este é o ponto de partida das nações e das suas identidades culturais nacionais. Conforme Hall (2006, p. 48), “as identidades nacionais não são coisas com as quais nós nascemos, mas são formadas e transformadas no interior da representação” e imbricada a esta comunidade simbólica. Destaca ainda que “nós só sabemos o que significa ser “inglês” devido ao modo como a “inglesidade” (englishness) veio a ser representada – como um conjunto de significados – pela cultura nacional inglesa”. Assim, para o autor, “segue-se que a nação não é apenas uma entidade política, mas algo que produz sentidos – um sistema de representação

cultural”.

Como parte processual do declínio dos sistemas culturais (comunidade religiosa e reino dinástico), estão as mudanças das percepções temporais, que se inserem aos poucos nas mentalidades ao final do período medieval. Como isso se manifestava? Anderson (2008, p.52- 53) ressalta que, se anteriormente estávamos diante de “um mundo onde a representação da realidade imaginada era maciçamente visual e auditiva”, ou seja, “A cristandade assumia a sua forma universal mediante uma miríade de especificidades e particularidades: este relevo, aquele vitral, este sermão, aquela parábola, esta peça de moral, aquela relíquia” e o clero letrado em latim “era um elemento essencial na estruturação do imaginário cristão, igualmente vital era a transmissão dessas concepções para as massas iletradas”. Neste mundo assim concebido pela mentalidade cristã, conforme o autor, a história não era concebida “como uma cadeia interminável de causas e efeitos, nem imaginava separações radicais entre passado e

presente”. Então, a temporalidade era o que viam, para muitos aquele momento se tratava do “fim dos tempos”.

As mudanças nas percepções temporais são importantes na gradual construção de uma consciência nacional, e, neste sentido, nota-se a simultaneidade. Na modernidade a compreensão da simultaneidade é marcada “não pela prefiguração e pela realização, mas sim pela coincidência temporal, e medida pelo relógio e pelo calendário” (ANDERSON, 2008, p. 54).

Entenderemos melhor por que essa transformação foi tão importante para a gênese da comunidade imaginada da nação, se considerarmos a estrutura básica de duas formas de criação imaginária que floresceram, pela primeira vez, na Europa durante o século XVIII: o romance e o jornal. Essas formas proporcionaram meios técnicos para “re-presentar” o tipo de comunidade imaginada correspondente à nação (ANDERSON, 2008, p.55).

Conforme Anderson (2008, p. 56-65), “a ideia de um organismo sociológico atravessando cronologicamente um tempo vazio homogêneo46 é uma analogia exata da idéia

de nação”, mas destaca “que também é concebida como uma comunidade sólida percorrendo constantemente a história, seja em sentido ascendente ou descendente”, com um vínculo imaginado, pois, “um americano nunca vai conhecer, e nem sequer saber o nome, da imensa maioria de seus 240 milhões de compatriotas”. Assim, “ele não tem idéia do que estão fazendo a cada momento. Mas tem plena confiança na atividade constante, anônima e simultânea deles”. As produções escritas e literárias e os hinos são produtos culturais e uma forma de vínculos imaginados que podem ser identificados de várias maneiras, dentre elas a presença de heróis nacionais nas narrativas.

Nesse sentido, de acordo com Anderson (2008), o desenvolvimento da imprensa como mercadoria, associado ao desenvolvimento do capitalismo e à vernaculização, foi questão decisiva nas “origens da consciência nacional” e, depois, da identidade nacional. A imprensa, como empreendimento capitalista, percebendo a saturação de impressões em latim após a contrarreforma, em um movimento contrário e buscando aumentar as vendas ambulantes, impulsiona-se através da impressão de edições baratas em vernáculo. Conforme Anderson (2008, p. 73):

O revolucionário impulso vernaculizante do capitalismo ganhou ímpeto ainda maior graças a três fatores externos, dois dos quais contribuíram diretamente para o surgimento da consciência nacional. O primeiro, e no fundo o menos importante, foi uma mudança no caráter próprio do latim. Em virtude do trabalho dos humanistas, que ressuscitaram a vasta literatura da antiguidade pré-cristã e divulgaram-na através

do mercado editorial, a intelectualidade transeuropeia passou a nutrir um novo apreço pelas sofisticadas realizações estilísticas dos antigos.

Estas transformações não são despercebidas pela Polônia, e estão contempladas em termos de modernização gradual pela via reformista, cujo ponto de partida que motiva a mudanças é o contexto de crise interna. Antes da tripartição, a não coesão de interesses do governo de Stanisław August Poniatowski, sob o protetorado russo, com boa parte da nobreza, os camponeses e o pequeno número de uma burguesia, cuja maior parte era de comerciantes estrangeiros ali instalados, aponta para as transformações, dentre elas, a emergente necessidade de reformas em diversos setores. As atitudes do rei eram questionadas principalmente por parte dos chamados “nobres insurretos”, cujas atitudes de insurreição se desenrolam também motivadas pelos descontentamentos relacionados com a perda de seus privilégios frente aos magnatas.

Os insurretos tornam-se membros de um grupo de nobres contrários às intervenções da Rússia, que impôs, em 1733, Augusto III como rei da Polônia e, em 1764, Stanisław August Poniatowski, “cujo título mais distinguido para obter esta coroa era o fato de ter sido amante de Catarina II” (SALINAS FORTES, 1982, p. 20). Para além da íntima relação entre Stanislas e Catarina II, Iarochinski (2000, p. 21) destaca que Poniatowski possuía parentesco com a família de nobres poloneses “Czartoryski, ligados à Rainha da Rússia, Catarina II”. Estes fatores eram motivadores de severas críticas ao rei por parte da população e, ao mesmo tempo, do apoio garantido do partido da nobreza representada por Czartoryski47.

No entanto, o rei intencionava fazer um trabalho reformador voltado para a recuperação de alguns setores e para a superação do prejuízo do atraso em outros, dentre estas, estavam questões culturais e econômicas. Para isso, teria que conseguir o apoio dos representantes da nobreza.

“No reinado de Stanisław August Poniatowski (1764-1795), a ideologia do Iluminismo tornou-se a doutrina oficial do Estado. A elite intelectual do país desencadeou sob a liderança do próprio rei um processo acelerado de reformas do sistema de poder e de “reparo da sociedade”. As reformas financeira e militar e a fundação de novas instituições da vida cultural marcaram os primeiros anos do reinado” (SIEWIERSKI, 2000, p. 54).

Esta questão é reforçada por Dill (2007, p. 32), que destaca: “A elite intelectual

47 Conforme Iarochinski (2000) os sobrenomes cuja terminação era ski, por exemplo, teriam sido adotados de

forma ampla durante o século XIX, com o intuito de enobrecer o sobrenome anunciando origens nobres, mesmo que não o fossem. Isso se daria devido ao fato de que durante a Idade Média, as pessoas cuja origem estava ligada a um determinado clã carregavam em seu sobrenome os sufixos ski ou cki, que determinavam a sua nobreza e posses, diferindo de outras definições e significados adotados.

liderada pelo rei Poniatowski, desencadeou um processo acelerado de reformas: educacional, financeira, militar e cultural”. Para tanto, “Modernizaram a ciência, a cultura, o comércio e a economia”. Era a corrida para acompanhar aquilo que se delineava revolucionariamente como moderno na Europa Ocidental, a inserção em um campo progressista e liberal. Conforme Trojan (2017, p. 3), algumas das proposições de reformas não seriam bem recebidas por alguns setores e pelo domínio externo. Conforme o autor,

[...] reformas que possibilitassem o ressurgimento de uma Polônia poderosa como nos séculos XV, XVI e até a metade do XVII, ainda mais democrática, gerou o crescente descontentamento dos seus vizinhos absolutistas. Sendo assim, Catarina da Rússia e Frederico da Prússia, em apoio à nobreza polonesa e aos deputados mais conservadores do Sejm, enviaram tropas que cercaram Varsóvia, capital da República. Essa situação levou o Rei a aceitar as imposições da nobreza de manter seus privilégios. Tendo em vista que a posição do Rei Stanislas era de submissão às potências estrangeiras, em especial à Rússia. Muitos na República não concordaram com sua postura, criando uma confederação na cidade de Bar e iniciando uma guerra civil com o intuito de destronar o Rei Stanislas. No entanto, no ano de 1772, as tropas russas acabaram com o conflito e esmagaram a confederação. Com a derrota da Confederação de Bar, Rússia, Prússia e Áustria deram início à primeira partilha da Polônia, quando a República perderia 78.000 quilômetros quadrados de seus territórios, tendo como justificativa o verdadeiro caos que havia se instalado.

Dentre as ações dos nobres insurretos contra o rei Stanisław e a dominação russa, Salinas Fortes (1982, p.8) destaca que, na revolta armada, “chamada “Confederação” de Bar, na região da Podólia, em 1768”, “travam uma violenta guerra patriótica, com emprego inclusive da tática de guerrilhas, contra o poderoso exército da “Imperatriz-Filósofa”, Catarina II da Rússia”. Porém, a tentativa fracassada de expulsar os russos acaba com a perda de parte do território em virtude da primeira partilha, em que uma parte do território seria tomada pelos russos e, para não entrar em choque, cede uma parte aos austríacos e aos prussianos. Conforme Salinas Fortes (1982, p. 10):

As divisões internacionais encontram uma correspondência no interior do próprio país. A nobreza polonesa achava-se dividida em dois partidos radicalmente opostos e conhecidos pelos nomes das duas primeiras famílias que assumem suas lideranças respectivas: de um lado os Potocki, que se insurgem contra o rei e contra a presença russa – e de que o conde Wielhorski é o representante diplomático – e de outro os Czartoryski, família a qual pertence o próprio Stanislas.

As discordâncias entre os membros da Confederação de Bar (insurretos, ligados à igreja católica romana) em contraposição ao outro grupo de nobres confederados, os dissidentes (ligados à igreja católica grega), estava no fato de que o segundo grupo era apoiado por Catarina II. Esta, como forma de levá-los para o seu lado, juntando-os com o grupo de nobres reformistas do partido de Czartoryski, passa a apoiar os dissidentes em relação ao combate ao fanatismo religioso católico e ao andamento das reformas, atingindo os

nobres insurretos mais conservadores com bases patrióticas católicas. Os dissidentes pautavam seu combate às questões apoiadas pelos insurretos, tendo em vista as influências progressistas48 iluministas francesas, disseminadas pelos seus intelectuais, dos quais a déspota

Catarina II buscava aprovação. Dessa forma, a ação dos insurretos exaltava as bases patrióticas católicas no embate da Podólia, desvelando-se uma espécie de cruzada assim tangenciada pela narrativa de Jean Jacques Rousseau.

Estes confederados de Bar, dos quais veremos Jean-Jacques exaltar as virtudes patrióticas, tinham estandartes que representavam a Virgem Maria e o menino Jesus; eles levavam, como os cruzados da Idade Média, cruzes bordadas sobre seus mantos, prontos para vencer ou morrer pela defesa da religião e da liberdade (SALINAS FORTES, 1982, p. 21).

Considerando as duas distintas posições que se colocavam em embate, estas representariam não propriamente a dissolução da unidade cultural da nobreza a partir de novos propósitos e relações de poder, mas sua bifurcação. Desvela-se um campo de embates entre progressistas e conservadores (alinhados a igreja católica). Para fomentar este embate, as ideias iluministas teriam sido fundamentais. Inicia-se uma mudança cultural cujas representações iriam configurar distintas opiniões relacionadas à chamada “anarquia” interna, de um lado, ligando esta à adesão fanática do catolicismo através da crítica por parte de ideias progressistas que vinham à tona, de outro, o discurso de que a anarquia não existia e teria sido criada a partir da interferência russa como forma de convulsionar e minar internamente.

A expressão “progressista”, para Thompson (1995, p. 168), estaria ligada às questões do debate cultura e civilização que ocorria neste período. Assim, em sua acepção ideológica “progressismo”, iria se tornar comum, a partir do iluminismo, para designar os sujeitos ou grupos, cujas ideias buscavam ir além do estabelecido, “sair da barbárie para a civilização”, “um movimento em direção ao refinamento e à ordem”. As ideias de progresso estavam associadas às mudanças e aos avanços culturais, políticos e científicos iluministas.

Para os progressistas, o fanatismo religioso estaria ligado à falta de modernização política, social e cultural. Com a falta de modernização, a Polônia colocava-se em atraso com relação ao restante da Europa, pois, enquanto ao final da Idade Média as relações feudais e o domínio da igreja iam sendo deixados para trás, na Polônia esse perfil ainda permanecia e limitava o crescimento da burguesia e também a expansão e modernização das transações capitalistas.

Este movimento ligado à modernização e expansão capitalista era o prenúncio do que

48 Ver mais em: THOMPSON, John B. Ideologia e Cultura Moderna: Teoria Social Crítica na era dos Meios de

se iniciava e que para Hobsbawm (2012, p. 58) se acentuaria no século XIX. Em a Era do

Capital o autor destaca que “os grandes defensores do Estado-Nação” entendiam-no não

apenas como nacional, mas também como “progressista”, isto é, capaz de desenvolver uma economia, uma tecnologia, uma organização de estado e uma força militar viáveis, ou seja, como algo precisava pelo menos ser territorialmente grande. Ressalta então, que a partir do pensamento liberal do século XIX, a ideia de Estado-Nação “Acabava sendo na realidade, a “unidade ‘natural’ de desenvolvimento da sociedade burguesa, moderna, liberal e progressista””.

Pelo grupo progressista, o sarmantismo, como “a formação mais original da cultura polonesa” seria fortemente recusado como algo negativo durante a ilustração, era “tido como símbolo do atraso e anarquia polonesa” por muitos, reconhecido pela sua limitação, mesmo tendo sido “duradouro elemento identificador dos poloneses” (KIENIEWICZ, 1996, p. 24). Já para os conservadores, o sarmantismo não poderia ser deixado para trás, abominavam a modernização apresentada pela expansão capitalista e as mudanças das relações sociais.

O sarmantismo, como cultura cristã ligada à igreja católica romana, conforme Kieniewicz (1996, p. 21), “configurou os poloneses como comunidade religiosa e civilizacional” e com o enraizamento do cristianismo, “configuraram-se laços de família, sociais e estatais, da mesma maneira como em toda a Europa” (KIENIEWICZ, 1996, p. 20- 21). Porém, retomando o caráter relacional da cultura em seu conteúdo simbólico e pensando de forma ampla na cultura polonesa, ela não poderia mais ser resumida a esta narrativa, pois, somaram-se aí as influências culturais de sua sociedade diversa e multicultural, da Europa ocidental e também oriental. Os contatos culturais aconteciam tanto nas batalhas em disputas territoriais, quanto através do comércio e das migrações, gerando uma cultura com particularidades próprias.

O contexto em que se desenrolava os questionamentos e as percepções acima destacadas e que deram origem à bifurcação mencionada, então teriam origem no decorrer do período que se delineia ao final da Idade Média, com as reformas, e se fortaleceriam com os ares iluministas. São imbricações que levam, ainda antes da primeira partilha, algumas lideranças da nobreza polonesa que buscavam saídas para fortalecer os domínios e garantir a independência a estabelecer, dentre as medidas tomadas, o contato com filósofos iluministas.

Para além da crise política, econômica e a continuação da servidão, a educação para o povo não era uma das preocupações da democracia nobilitária da República Polono-Lituana, que a deixava nas mãos da igreja, então o número de analfabetos era muito grande. Destarte o

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