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Modalidades de Lançamento Tributário

2.4 LANÇAMENTO DO IPTU

2.4.2 Modalidades de Lançamento Tributário

O CTN, nos artigos art. 147 a 150 faz menção a três modalidades de lançamento: lançamento por declaração, lançamento de ofício, e lançamento por homologação.

O lançamento por declaração é aquele em que o sujeito passivo (ou o terceiro obrigado) informa à administração tributária toda a matéria fática necessária à realização do lançamento. Com base nessas informações, a autoridade administrativa competente verifica a incidência normativa, efetua os cálculos necessários para determinação do valor do tributo devido, e, finalmente, cientifica o contribuinte mediante a entrega da notificação do lançamento. Esse lançamento é típico do imposto sobre a transmissão onerosa de bens imóveis por atos inter vivos (ITBI), da competência dos Municípios.

O lançamento de ofício é aquele em que a própria administração verifica os elementos fáticos e a constituição da relação jurídica tributária a partir da incidência normativa, determinando o cumprimento da prestação pelo devedor. O lançamento de ofício é efetuado com base nos dados cadastrais do contribuinte, ou em outros elementos que dispuser a Administração Pública, previstos em lei, quando a pessoa obrigada não tenha apresentado as declarações na forma, condições ou prazos fixados na lei, ou, quando constatar divergência entre o valor pago pelo contribuinte e o efetivamente devido. O lançamento de ofício é comumente aplicado em relação às taxas, à contribuição de melhoria, à contribuição para o custeio do serviço de iluminação pública, o imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS), devido por profissionais autônomos que prestam serviços na forma de trabalho pessoal do próprio contribuinte, hipótese em que têm direito ao pagamento do imposto em base fixa, e nos tributos lançados em massa, como é o caso do IPTU.

O lançamento por homologação ocorre quando a lei atribui ao sujeito passivo o dever de, quando ocorrer o fato gerador do tributo, aplicar a incidência da norma, determinar o montante do tributo devido e efetuar o seu pagamento, independentemente de qualquer atuação da autoridade administrativa. O pagamento efetuado segundo essa modalidade de lançamento é sujeito a posterior homologação por parte do sujeito ativo, que se não ocorrer no prazo determinado na

lei tributária18, será considerado homologado tacitamente. Essa modalidade de lançamento pode ser adotada para qualquer espécie de tributo, notadamente para aqueles que têm por base de cálculo o valor da renda (imposto de renda) ou do preço do serviço (ISS). Tem sido discutido na doutrina a possibilidade jurídica e administrativa de adotar o lançamento por homologação, também, para o IPTU.

Segundo Baleeiro, (2001, p.827), alguns autores italianos como Cutera, A. D. Giannini e Pugliese, admitem três modalidades de lançamento:

a) unilateral, isto é, da autoridade, sem intervenção ou cooperação do sujeito passivo; b) misto, isto é, da autoridade, com a intervenção do sujeito passivo ou colaboração de terceiro; c) espontâneo, Isto é, do sujeito passivo, ou autolançamento.

A expressão autolançamento, talvez originária da Itália, é acolhida também por autores estrangeiros, dentre os quais, o argentino Giuliani Fonrouge. No Brasil, Rubens Gomes de Souza, Aliomar Baleeiro e Marcelo Arger, dentre outros, também adotam o conceito de autolançamento.

Confrontando-se essas três modalidades com as normas do CTN, percebe- se que a legislação tributária brasileira adota o critério italiano no que respeita à distinção das diferentes modalidades de lançamento tributário, diferenciando-se tão somente no que se refere às suas denominações. Assim, o autolançamento dos italianos corresponde ao lançamento por homologação da lei brasileira. No autolançamento, como no lançamento por homologação, o próprio contribuinte apura o valor do tributo devido e efetua o seu pagamento, sem que haja um exame prévio por parte do órgão fiscal.

O CTN não menciona o autolançamento. Prefere o conceito de lançamento por homologação que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, ressalvado o controle posterior desta. Segundo Guimarães (1985, p.142-143), homologar significa “dizer a mesma coisa, confirmar, ou reconhecer eficácia originária do ato”. Para Baleeiro (2001, p.828) “se a autoridade administrativa homologa, isto é, ratifica e convalida o lançamento, este foi ato de

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Sobre o prazo para homologação do pagamento antecipado do tributo, o § 4° do art. 150 do CTN estabelece: “Se a lei não fixar prazo à homologação, será ele de cinco anos a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação”.

autoria do sujeito passivo, autolançamento, portanto”.

Tem sido constatado nas três esferas de governo, Federal, Estadual e Municipal, que os tributos lançados por homologação são cada vez mais numerosos. A preferência do legislador por essa modalidade de lançamento que atribui ao sujeito passivo o dever de colaborar com a Administração Pública, transferindo-lhe as funções de apurar o tributo e antecipar o seu pagamento para depois ser homologado pela autoridade administrativa, tem sido justificada por diversos doutrinadores tributários, que se apóiam em razões de ordem econômica, política ou jurídica, como a falta de estrutura administrativa adequada para o eficiente desempenho das atividades de lançamento, administração e cobrança dos tributos, notadamente de alguns impostos mais importantes. O elevado custo dessas atividades, a impossibilidade de se conhecerem os dados próprios de cada contribuinte, para aplicação da justiça tributária e ainda a necessidade de criar mecanismos para dar celeridade ao processo de arrecadação, dentre outros, tem sido alguns dos fundamentos que justificam o lançamento por homologação.

Estevão Horvath discorrendo sobre o tema em sua tese de doutorado defendida na Universidade Autônoma de Madrid, explica com muita propriedade, a aplicação do autolançamento:

Já escrevia Blumenstein que o ‘autolançamento’ se aplica geralmente só naqueles impostos nos quais a intervenção administrativa seria inadequada à natureza das coisas (System des Steuerrechts, apud Ruiz Garcia. La liquidación ..., cit, p. 274, nota 20). Deveria ser esta a orientação seguida por todas as legislações que se ocupam do tema. Com efeito, o tipo de lançamento a ser aplicado a um tributo deve ter conexão com seu pressuposto fático, pois podem existir tributos nos quais o lançamento administrativo seja difícil de se efetivar por não dispor a administração dos dados necessários, assim como existirão outros nos quais o contribuinte sozinho não conseguiria obter o montante devido [...]. Acrescentamos a estas considerações aquela segundo a qual o princípio implícito da praticidade do ordenamento jurídico procura uma aplicação mais cômoda, simples, econômica e funcional da lei tributária. A professora brasileira Misabel Derzi define a praticidade com o nome que se dá a todos os meios e técnicas utilizáveis com o objetivo de simplificar e viabilizar a execução das leis (v. Direito Tributário, Direito Penal e Tipo, Ed. RT, São Paulo, 1988). Isso significa apenas que um tributo deve ser lançado da forma que seja mais compatível com sua natureza intrínseca, para que a lei tributária possa ser aplicada concretamente do modo mais econômico e eficaz. Não obstante, parece que os legisladores modernos acham que todos (ou quase todos) os tributos existentes são compatíveis com o lançamento por homologação, já que esta é a forma de lançamento prevista na imensa maioria dos tributos atualmente vigentes. Parece-

nos que isso pode ser feito, sempre que se assegurem aos contribuintes formas de corrigir os erros por ele eventualmente cometidos em sua tarefa ‘lançadora’. (HORVATH, 1990 apud BALEEIRO; BALEEIRO, 2001, p.830-831)

São válidos os argumentos de Horvarth quando afirma que os legisladores modernos defendem a compatibilidade de quase todos os tributos com o lançamento por homologação. Na prática, muitos dos tributos mais importantes dentre os quais, o imposto sobre a renda (IR), o imposto sobre produtos industrializados (IPI), o imposto sobre operações relativas a circulação de mercadorias e serviços de transportes interestaduais e intermunicipais e comunicações (ICMS), o imposto sobre a prestação de serviços de qualquer natureza (ISS) e as contribuições especiais, são autolançados e não apresentam qualquer dificuldade para o contribuinte ou para a administração tributária. Antes, esse critério aparece como um instrumento facilitador para a gestão desses tributos.