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Organização, Evolução Urbana e Distribuição Espacial dos Municípios

3.1 A AUTONOMIA FINANCEIRA DOS MUNICÍPIOS CATARINENSES

3.1.1 Organização, Evolução Urbana e Distribuição Espacial dos Municípios

Diversos fatores contribuem para a diversidade da realidade tributária dos Municípios dentre os quais destacam-se os aspectos políticos, administrativos, regionais, econômicos e sociais. Para analisar estes aspectos foram pesquisados dados e informações sobre a autonomia política, a organização administrativa, a evolução urbana, a distribuição espacial e a autonomia financeira dos Municípios catarinenses.

Sobre a autonomia político-administrativa dos Municípios, HelY Lopes Meirelles ensina:

Os Municípios catarinenses, assim como os demais Municípios brasileiros, são entidades estatais integrantes da Federação. Essa integração é uma peculiaridade nossa, pois em nenhum outro Estado Soberano se encontra o Município como peça de regime federativo constitucionalmente reconhecida. Dessa posição singular do nosso Município é que resulta sua autonomia político-administrativa, diversamente do que ocorre nas demais Federações, em que os Municípios são circunscrições territoriais meramente administrativas (MEIRELLES, 1999, p.696).

Segundo Ribas Junior (2005, p.189), “o Município catarinense foi a primeira estrutura de poder, organizada no espaço geográfico – os portugueses organizavam o núcleo e mais tarde, ao elevarem-no à categoria de vila, implantavam solenemente o Pelourinho e a Câmara de Vereadores.” Para o autor, “o Pelourinho simbolizava a autoridade e a jurisdição de Portugal e a Câmara de Vereadores traduzia a organização política e o poder sobre a terra”. Mais tarde, já no Império, foram instituídas as Câmaras Municipais a quem competia exercer o governo econômico das cidades e vilas, contudo subordinadas politicamente aos presidentes das províncias.

Ribas Junior assinala, ainda, que:

A evolução da autonomia dos Municípios brasileiros começou em 1934, quando o constituinte, a teor do art. 13 da Carta Federal,

admitiu como princípio constitucional a autonomia em tudo quanto respeite ao seu peculiar interesse, e especialmente, a eletividade do Prefeito e dos Vereadores, a decretação dos seus impostos e a organização (RIBAS JÚNIOR, 2005, p.189).

Ainda discorrendo sobre a evolução da autonomia política dos Municípios, acrescenta o Salomão Ribas Júnior:

Essa autonomia, contudo, foi reduzida em 1937 com o centralismo do Estado Novo, notadamente no que respeita à competência tributária, recuperando-se, em parte com a Constituição de 1946. A Carta de 1967 preservou o espírito centralizador que caracterizou a Constituição de 1946, embora, tenha assegurado a autonomia municipal, ainda que em termos mais restritos do que em 1946 (RIBAS JÚNIOR, 2005, p. 190).

Em Santa Catarina, a evolução da autonomia municipal segundo Ribas Júnior (2005, p.190), começou a acentuar-se com o art. 97 da Constituição Estadual de 1891, “ao anunciar que o Estado continua a ter a divisão do seu território em Municípios, que serão autônomos quanto à administração dos interesses que lhe são peculiares.” A partir da Constituição Federal de 1988, os Municípios conquistaram a destacada posição de ente federal, com autonomia e dignidade constitucional.

A autonomia dos Municípios assegurada pela atual Constituição Federal é explicada por Hely Lopes Meirelles:

A autonomia do Município brasileiro está assegurada na Constituição da República para todos os assuntos de seu interesse local (art 30) e se expressa sob o tríplice aspecto político (composição eletiva do governo e edição das normas locais), administrativo (organização e execução dos serviços públicos locais) e financeiro (decretação, arrecadação e aplicação dos tributos municipais) (MEIRELLES, 1999, p.696).

Em Santa Catarina, a Constituição do Estado de 1989 assegurou que o Município é parte integrante do Estado, com autonomia política, administrativa e financeira, nos termos da Constituição Federal e desta Constituição (art. 110). (RIBAS JUNIOR, 2005, p. 190). Portanto, cada Município catarinense é um ente autônomo. Tem a sua Lei Orgânica própria e exerce as competências asseguradas no art. 30 da CF, e nos arts 110 a 113 da CE.

O Governo Municipal é exercido por dois poderes, o Executivo e o Legislativo. O Prefeito é o Chefe do Poder Executivo. O Poder Legislativo é exercido

pelos vereadores (mínimo nove e máximo vinte e um, de acordo com o número de habitantes de cada Município).

A administração municipal é realizada pela prefeitura, como órgão executivo e pela Câmara de Vereadores, como órgão legislativo. O Prefeito, o Vice-Prefeito e os Vereadores são agentes políticos, eleitos conjuntamente, por sufrágio universal, direto e secreto, para uma legislatura de quatro anos, podendo ser reeleito por igual período. As atividades da administração municipal são executadas segundo os princípios constitucionais e submetidas aos princípios gerais da Administração Pública.

A finalidade do município é o bem comum que traduz o interesse coletivo, ou seja, todas as ações da administração municipal têm por finalidade atender o interesse da coletividade. Para isso, o Município tem os seus próprios tributos e o seu próprio orçamento, aprovado de acordo com as mesmas regras que se submetem os orçamentos estaduais e federais.

Atualmente, são 293 Municípios em Santa Catarina, sendo a maioria de pequeno porte, de acordo com a distribuição espacial da população. Sob o ponto de vista da população, o porte demográfico dos Municípios varia entre 1.573 e 477.971 habitantes.

O processo de urbanização aconteceu de forma lenta até a metade do século passado. Ribas Junior (2005, p.191) adverte que “isso se deu por efeito de uma economia agrícola, de mão-de-obra familiar e do regime da pequena propriedade rural”. Além disso, as dificuldades de transporte e das comunicações em geral também contribuíram para essa lentidão.

As primeiras cidades em Santa Catarina foram São Francisco do Sul, fundada em 23/03/1658; Laguna, fundada em 29/07/1676; Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, fundada em 26/03/1726 e Lages, fundada em 1770. No final do Século XIX, o Estado contava com 19 cidades.

Nos primeiros 50 anos do século passado, começaram a despontar as cidades-pólos do Estado, assim identificadas por Salomão Ribas Junior:

1) Lages (planalto) polarizando a região de criação de gado; 2) Blumenau e Itajaí – a primeira como núcleo industrial e a segunda como porto da maior importância; 3) Joinville, igualmente centro industrial, dividindo a liderança com a antiga São Francisco do Sul, também uma cidade portuária; 4) Laguna liderava no Sul, como cidade portuária; Florianópolis como centro político-administrativo; e no oeste, Caçador, como centro madeireiro, e Cruzeiro (Joaçaba e

Herval d’Oeste), como entroncamento rodo-ferroviário importante. (SALOMÃO RIBAS JUNIOR, 2005, p.191)

A partir da segunda metade do século passado, o quadro da evolução urbana se modificou de forma lenta até o início dos anos 60 e mais acentuadamente nos anos 70 e 80. Os anos 60 foram marcados pelo surgimento da agroindústria; nessa década, o parque industrial consolidou-se, melhoraram as condições de transporte com reflexos significativos sobre o comércio. No final da década de 60, já existiam 198 Municípios.

Nas décadas de 70 e 80 ocorreu um novo surto de emancipações políticas, de tal forma que no final dos anos 80 já existiam 219 Municípios no Estado. Hoje são 293 Municípios instalados no Estado. A evolução urbana dos Municípios catarinenses está demonstrada na tabela 1.

Tabela 1

Evolução urbana dos Municípios catarinenses por faixa de ano de fundação

Ano da Fundação Acumulado

Até 1800 4 4 ÿ— 1850 2 6 ÿ— 1900 17 23 ÿ— 1920 8 31 ÿ— 1940 13 44 ÿ— 1960 58 102 ÿ— 1980 96 198 ÿ— 2000 95 293

Fonte: FECAM. Guia dos Municípios catarinenses

No que se refere à ocupação espacial, os 293 Municípios estão distribuídos em seis Mesorregiões: Grande Florianópolis, Norte Catarinense, Oeste Catarinense, Serrana, Sul Catarinense e Vale do Itajaí.

A distribuição dos Municípios nas Mesorregiões de Santa Catarina e o correspondente total de habitantes registrados na tabela 2, demonstram que o Oeste Catarinense representa a Mesorregião com maior número de Municípios, porém não é a que possui o maior contingente populacional. A Grande Florianópolis, por outro lado, é a menor Mesorregião em número de Municípios e a terceira menor em

número de habitantes. Já o Norte Catarinense é a segunda menor Mesorregião em número de Municípios e a terceira maior em contingente populacional.

Tabela 2

Distribuição dos Municípios segundo as Mesorregiões de Santa Catarina

Mesorregião População Grande Florianópolis 21 897.497 Norte Catarinense 26 1.123.271 Oeste Catarinense 118 1.154.974 Serrana 30 413.650 Sul Catarinense 44 882.063 Vale do Itajaí 54 1.309.950 TOTAL 293 5.781.405

Fonte: FECAM. Guia dos Municípios catarinenses

A Mesorregião da Grande Florianópolis é constituída por 21 Municípios e concentra um contingente populacional de 897.497 habitantes. Essa região possui comércio bastante desenvolvido, estações termais e lindas praias. A cultura predominante é açoriana, destacando-se na arquitetura e na culinária.

A Mesorregião Norte Catarinense concentra 26 Municípios com um contingente populacional de 1.123.271 habitantes. As três cidades mais importantes economicamente estão localizadas nesta região, destacando-se Joinville, maior cidade do Estado e terceiro pólo industrial do sul do Brasil; Jaraguá do Sul, com suas malharias e fábricas de motores elétricos e São Bento do Sul, um dos mais importantes centros moveleiros do Brasil.

A Mesorregião Oeste Catarinense apresenta o maior número de Municípios do Estado. São 118 Municípios com uma população total de 1.154.974 habitantes. O Oeste Catarinense foi colonizado no início do século XX por imigrantes italianos e colonos vindos do Rio Grande do Sul. Possui um grande potencial econômico na atividade agrícola, na extração da madeira e da erva-mate.

A Mesorregião Serrana é formada por 30 Municípios, com um contingente populacional de 413.650 habitantes. Caracteriza-se como a região mais fria do Brasil. É o único lugar do país onde ocorre a precipitação de neve. A Serra Catarinense é ideal para o turismo rural. Lages é a maior cidade da mesorregião, com uma população de 165.068 habitantes. Nesta cidade está instalada a maior fábrica de cerveja da América Latina, além de indústrias de papel e celulose e usinas

hidrelétricas. A atividade econômica da região é forte na agropecuária e na produção de frutas, como a maçã de São Joaquim.

A Mesorregião Sul do Estado destaca-se como forte pólo industrial, turístico e cultural. Cidades como Criciúma, Tubarão e Araranguá estão entre as mais importantes de Santa Catarina. Esta região é formada por 44 Municípios, que concentram 882.063 habitantes.

A Mesorregião do Vale do Itajaí também conhecida como Vale Europeu, devido à arquitetura, à culinária e aos costumes que lembram a Europa, é composta por 54 Municípios, que possuem juntos 1.309.950 habitantes. É uma das regiões mais ricas não só de Santa Catarina, mas também do país, devido ao parque industrial com mais de 4.700 indústrias, sendo considerada também o maior pólo têxtil da América Latina. As principais cidades são Blumenau e Brusque.

As diferentes realidades dos Municípios não são explicadas exclusivamente pelas desigualdades regionais, mas também por desigualdades intrarregionais.

Esses diferenciais são evidenciados pela distribuição dos Municípios segundo o número de habitantes.

A distribuição dos Municípios catarinenses segundo o número de habitantes está demonstrada na tabela 3.

Tabela 3

Distribuição dos Municípios catarinenses segundo o número de habitantes

Grupo de habitantes

(por mil) Municípios %

Total 23 100 Até 3 49 17 1Š 55 19 1Š 77 26 1Š 58 20 1Š 31 11 1Š 13 4 1Š 7 2 200 e mais 3 1

Fonte: FECAM. Guia dos Municípios catarinenses

A distribuição dos Municípios segundo o número de habitantes mostra que 62% dos Municípios catarinenses possuem menos que 10 mil habitantes; 31% possuem população entre 10 mil e 50 mil habitantes; 4%, estão na faixa entre 50 mil

e 100 mil habitantes e somente 3% possuem contingente populacional acima de 100 mil habitantes.

Os Municípios catarinenses estão distribuídos por Mesorregião e por grupos de habitante segundo os dados da tabela 4.

Tabela 4

Distribuição dos municípios por grupo de habitantes e por mesorregião Mesorregião

Grupos de habitante

(por mil) Municípios

Total G.Fpolis Norte Oeste Serrana Sul V. Itajaí

Total 293 21 26 118 30 44 54 Até 3 49 2 34 7 3 3 3 œè— 5 55 4 29 9 4 9 5 œ— 10 77 6 7 29 4 14 17 10 œèè— 20 58 4 9 14 6 13 12 20 œèè— 50 31 1 5 9 3 6 7 èœèè— 100 13 1 3 2 3 4 èœèè— 200 7 2 1 1 1 1 1 200 e mais 3 1 1 1

Fonte: IBGE. Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2002