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2.1 AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA NO BRASIL

2.1.2 O agronegócio da cana-de-açúcar

O cerrado existente na região geoeconômica do estado de Goiás contém extensas áreas em condições geoambientais favoráveis à agricultura intensiva7 e à atividade da pecuária, sendo esta historicamente extensiva e dominante. Nos anos 60 e 70 do século passado, por essa e outras razões de natureza geopolítica, o cerrado foi alvo de expansão da nova fronteira dos agronegócios no país.

Este avanço teve como base a modernização da agricultura, voltada principalmente para a produção de grãos, em particular de soja, milho e de algodão, entre outros, além de incrementar também a oferta de carne na região, agregando-se à meta federal de incorporação de suas terras ao sistema produtivo nacional e à exportação na forma de commodities agrícolas da cana-de-açúcar. (BARBOSA, et al, 1993).

A evolução da cultura da cana no país voltada para a produção de etanol mostra uma expansão recente notável em direção ao norte do cerrado8, com destaque para o estado de Goiás e Mato Grosso do Sul. Assim, configurando a ampliação do bloco do Centro-Sul, criado na fase de implantação do PROÁLCOOL, nos anos 70 do século passado, quando esses estados, junto com o estado de Mato Grosso, ambos eram periféricos ao processo.

Enquanto essa expansão da fronteira agrícola, procedente do sul-sudeste, migra em direção à região centro do país, a região Sudeste, em particular o estado de São Paulo, convertia áreas agrícolas e pecuárias, já consolidadas com a produção de grãos, algodão e gado, à monocultura em expansão da cana-de-açúcar. (SILVA e MIZIARA, 2010)

A expansão atual da cana-de-açúcar rumo ao centro do país concentra-se nos estados que compõem o bioma cerrado, sobretudo os estados que compõe o território do Centro-Oeste, que já tinham sido alvo da conversão agropecuária e das áreas desmatadas.

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A agricultura intensiva é um sistema de produção agrícola que faz uso intensivo dos meios de produção e na qual se produzem grandes quantidades de um único tipo de produto, como a cana-de-açúcar. Requer grande uso de combustível e insumos, e pode acarretar alto impacto ambiental, pois não é utilizada a rotação de terra (desflorestamento, desmate, queimada, plantio, esgotamento de solo, abandono e reinício do processo em outra área). Grande produtividade e utilização de máquinas. (SILVA e MIZIARA, 2010)

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O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, estendendo-se por uma área de 2.045.064 km2, abrangendo oito estados do Brasil Central: Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Bahia, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí e o Distrito Federal. Cortado por três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul, tem índices pluviométricos regulares que lhe propiciam sua grande biodiversidade. (SILVA e MIZIARA, 2010)

Para atender a políticas públicas federais e estaduais com o objetivo de integrá-las ao sistema produtivo nacional voltado para a produção de commodities9. A integração da

agroindústria, por meio da verticalização tem como fator básico:

Com base no modelo intervencionista do Estado, esse processo assentava-se em modelos de integração de atividades em que a agricultura se liga fortemente à indústria, inicialmente através de integração vertical e posteriormente horizontal, criando sistemas produtivos de base agroindustriais cada vez mais amplos e complexos, alavancando e consolidando o que se denomina atualmente de agronegócio. (KAGEYAMA, 1990)

A conversão deste processo só foi possível por causa da aplicação de substanciais incentivos do programa Estatal Federal denominado PROÁLCOOL (1975-1979), criado como expressão do Estado regulador e movido pela necessidade de reagir às consequências da crise internacional do petróleo do início da década de 1970.

Araújo (2008, p. 118) descreve que “as verticalizações, de forma ampla em agronegócios, significam o conjunto de atividades de produção e agroindustrialização de produtos agropecuários, e podem estender-se às primeiras etapas da comercialização dos produtos já industrializados”.

O agronegócio brasileiro engloba atividades de produção agroindustrial propriamente dita como pecuária, cana-de-açúcar, lavouras, extração vegetal e os produtos orgânicos, de fornecimento de insumos primários e/ou secundários, para o processo agroindustrial básico e das cadeias produtivas, ao fluxo de produtos base até o consumidor final (transporte, comercialização e logística reversa).

Isto significa que o seu valor agregado passa por cinco mercados distintos: suprimento, produção, processamento, armazenamento e distribuição, bem como pelo consumo final.

Araújo (1999, apud Rufino, 2008, p. 16) define agronegócios como:

[...] o conjunto de todas as operações e transações envolvidas desde a fabricação dos insumos agropecuários, das operações de produção nas unidades agropecuárias, até o processamento e distribuição e consumo dos produtos agropecuários ‘in natura’ ou industrializados.

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Commodities significam mercadoria, é utilizado nas transações comerciais de produtos de origem primária nas

bolsas de mercadorias. Usada como referência aos produtos de base em estado bruto (matérias-primas) ou com pequeno grau de industrialização, de qualidades quase uniformes, produzidos em grandes quantidades e por diferentes produtores. (KAGEYAMA, 1990)

Ao reconhecer sua importância, em termos estratégicos, o governo brasileiro também reitera suas preocupações com os problemas ambientais, utiliza-se de seus instrumentos de política agrícola para o agronegócio, tem forte interferência para manter um Desenvolvimento Sustentável em equilíbrio com os ecossistemas agrorurais e a biodiversidade local.

A produção agroindustrial10 é dependente das pesquisas tecnológicas, das condições de sazonalidade, do armazenamento e da distribuição, decorrente de forte dependência de fatores climáticos, ambientais e dos ciclos biológicos das plantas e animais. Apresentando períodos de safras e entressafras, ou seja, períodos de abundância ou escassez, explica (BATALHA, 2009)

O estado de Goiás, onde o bioma cerrado é dominante agrorural, não apresentou desenvolvimento notável do setor na fase da expansão do PROÁLCOOL. Entre outros fatores, de expansão das matérias-primas, com especial ênfase no aumento da produção agrícola, na modernização e ampliação das unidades produtoras existentes, de estar sendo alvo dos prolongamentos da fronteira agrícola, com ênfase em grãos, algodão e gado.

A região geoeconômica de Goiás possui boa aptidão agrícola para a cultura da cana. Revelaram em seus estudos que tanto as usinas em operação quanto as demais, que se encontra em diferentes etapas de sua implantação, seguem, grosso modo, os principais eixos rodoviários federais e estaduais no estado, o que já era esperado em razão da necessidade de escoamento da produção. (MANZATTO, 2009)

O setor sucroalcooleiro tradicional era muito conservador, não tendo como meta a expansão da sua produção. A partir dos anos 80 do século passado, começou a expandir-se nesse estado a produção sucroalcooleira, mas foi somente após o final da década de 1990 que, de fato, essa expansão tornou-se notável.

A expansão dos principais mercados do agronegócio 11 da cana-de-açúcar é sumariamente, o mercado sucroalcooleiro. O mercado da cana caracteriza-se pela forte competição por produção em áreas a menores distâncias da indústria, devido ao elevado custo do transporte e, é movido pelo mercado do açúcar, álcool e eletricidade.

10 A Produção Agroindustrial pode ser considerada como o conjunto de atividades que concorrem para a

produção de produtos agroindustriais, desde a produção dos insumos (sementes, adubos, máquinas agrícolas etc.) até a chegada do produto final (carne, leite, queijo, açúcar, álcool etc.) ao consumidor. (BATALHA, 2009)

11 Todos os participantes envolvidos na produção, processamento e marketing de um produto específico. Inclui

suprimentos das fazendas, as operações de estocagem, processamento, atacado e varejo envolvidos em um fluxo desde a produção de insumos até o consumo final. Inclui as instituições que afetam e coordenam os estágios sucessivos do fluxo do produto, tais como governo, associações e mercados futuros. (ARAÚJO, 2008)

Figura 1: Mapa do Bioma do Cerrado Fonte: Ministério do Meio Ambiente (2004)

Enquanto o mercado está voltado à expansão de longo prazo a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (UNICA) 12 explana sobre sua importância estratégica. O agronegócio da cana-de-açúcar tem características que poderá favorecer o desenvolvimento sustentável da cadeia de produção. As interações entre produtores rurais, as cooperativas, as indústrias, as empresas de insumos, as entidades de tecnologia e pesquisa, os órgãos públicos, as universidades e outros agentes.

O mercado do álcool, cuja expansão de demanda no Brasil e no mundo depende da segurança de oferta, do mercado de petróleo e de sua valorização como alternativa ambiental ao uso de combustíveis fósseis. Devido à diversidade de matérias primas e processos de produção, tende a ser altamente competitivo. Isto agrega importância à sustentabilidade do sistema de produção. (UNICA, 2011)

Ao mesmo tempo, procura definir e oferecer condições para implementação de uma política de desenvolvimento tecnológico para o setor do agronegócio, voltado à produção sucroalcooleira, pela relevante participação na revolução do etanol, de forma que permita ampliar o meio empresarial, inclusive das pequenas e médias usinas. (MIZIARA, 2010)

A prática da inovação tecnológica como recurso de novas fontes bioenergéticas, certificação de qualidade amplamente utilizada (metrologia, normalização, auditoria e certificação da conformidade e propriedade intelectual) é reconhecida internacionalmente.

Nesse sentido, os efeitos do Plano Nacional de Agroenergia (PNA)13, que valoriza a produção de bioenergia como fonte renovável, já se revela sua presença clara desse novo ciclo a partir do final da década passada, intensificada desde 2004/2005. (LIMA, 2010)

O Brasil tem uma série de vantagens que o qualificam a liderar o agronegócio de geração de energia e o mercado da bioenergia – o biomercado – em escala mundial. A primeira é a possibilidade de dedicar novas terras à agricultura de energia, sem necessidade de reduzir a área utilizada na agricultura de alimentos e com impactos ambientais circunscritos ao socialmente aceito. Além disso, em muitas áreas do País. (PNA, 2006-2011)

12 A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) é a maior organização representativa do setor de açúcar e

bioetanol do Brasil. Sua criação, em 1997, resultou da fusão de diversas organizações setoriais do estado de São Paulo, após a desregulamentação do setor no país. A associação se expressa e atua em sintonia com os interesses dos produtores de açúcar, etanol e bioeletricidade tanto no Brasil como ao redor do mundo. As 123 companhias associadas à UNICA são responsáveis por mais de 50% do etanol e 60% do açúcar produzidos no Brasil. (UNICA, 2011)

13A importância do PNA para a matriz brasileira de combustíveis invoca uma definição de objetivos

estratégicos nacionais de médio e longo prazo, que levem a um pacto entre a sociedade e o Estado, para que juntos promovam os seguintes benefícios: a redução do uso de combustíveis fósseis; a ampliação da produção e do consumo de biocombustíveis; a proteção ao meio ambiente; o desfrute desse mercado internacional, e, por fim, a contribuição para a inclusão social. (PNA, 2006-2011)

Já o PNA lastreado nos fatos e nas premissas expostas, visa a estabelecer marco e rumo para as ações públicas e privadas de geração de conhecimento e de tecnologias que contribuam para a produção sustentável da bioenergia e para o uso racional dessa energia renovável. Tem por meta tornar competitivo o agronegócio brasileiro e dar suporte a determinadas políticas públicas, como a inclusão social, a regionalização do desenvolvimento e a sustentabilidade ambiental.

Por situar-se, predominantemente, na faixa tropical e subtropical, o Brasil recebe durante todo o ano intensa radiação solar, que é base da produção de bioenergia14. Além disso, o país tem ampla diversidade de clima e exuberância de biodiversidade, além de possuir um quarto das reservas de água doce.

O alcance desse propósito geral do plano implica em atingir os seguintes objetivos específicos, de acordo com as políticas públicas brasileiras, de atender aos anseios da sociedade e às demandas dos clientes:

Assegurar o aumento da participação de energias renováveis no Balanço Energético Nacional (BEN). Garantir a interiorização e a regionalização do desenvolvimento, baseados na expansão da agricultura de energia e na agregação de valor nas cadeias produtivas a ela ligadas. Criar oportunidades de expansão de emprego e de geração de renda no âmbito do agronegócio, com mais participação dos pequenos produtores. Contribuir para o cumprimento do compromisso brasileiro no Protocolo de Quioto e possibilitar o aproveitamento das oportunidades que o acordo favorece para a captação de recursos de crédito de carbono. Induzir a criação do mercado internacional de biocombustíveis, garantindo a liderança setorial do Brasil.

Otimizar o aproveitamento de áreas resultantes da ação humana sobre a vegetação natural (áreas antropizadas), maximizando a sustentabilidade dos sistemas produtivos, desestimulando a expansão injustificada da fronteira agrícola e o avanço rumo a sistemas sensíveis ou protegidos. Desenvolver soluções que integrem a geração de agroenergia à eliminação de perigos sanitários ao agronegócio. (PNA, 2006-2011)

O Brasil assumiu, com sucesso, a liderança mundial na geração e na implantação de moderna tecnologia de agricultura tropical15 e possui pujante agroindústria. Destaca-se a cadeia produtiva do etanol, reconhecida como a mais eficiente do mundo, conduzida por classe de usineiros de forma dinâmica, acostumada a inovar e a assumir riscos.

14 A bioenergia utiliza-se de tecnologias para produção de energia renovável, com destaque para Biomassa e

Biocombustíveis a partir de resíduos agrícolas, florestal, cana e até lixo urbano. (UNICA, 2011)

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A agricultura tropical integra, num mesmo universo, realidades tão díspares como agricultura de base familiar, comunidades quilombolas, nações indígenas, empresas agropecuárias especializadas, indústrias de transformação e logística e companhias exportadoras. (EMBRAPA, 2007)

Destaca Araújo (2008) que o grande salto do agronegócio brasileiro ocorrido refere-se ao mercado externo. O país que teve suas relações com o mercado externo historicamente depende de ciclos de produtos como (açúcar, borracha, café, cacau e fumo).

O Plano vem organizar e desenvolver proposta de pesquisa, desenvolvimento, inovação e transferência de tecnologia para garantir sustentabilidade e competitividade às cadeias de agroenergia. Estabelece arranjos institucionais para estruturar a pesquisa, o consórcio de agroenergia e a criação da Unidade Embrapa Agroenergia16. Indica ações de governo no mercado internacional de biocombustíveis e em outras esferas.

Destacando-se que a cana-de-açúcar é para o Brasil uma das culturas de maior importância socioeconômica e estratégica em termos alimentares e energéticos. O país é hoje o maior produtor mundial dessa matéria-prima, com mais de 300 milhões de toneladas, que se transformam em mais de 15 milhões de toneladas de açúcar e 15 bilhões de litros de álcool. Com a pressão ambientalista em todo o mundo para implementação do uso de combustíveis de fontes renováveis e não-poluentes em substituição aos combustíveis fósseis, cresce a visibilidade do Brasil, que detém posição privilegiada para atender às necessidades de maiores importações tanto de açúcar quanto de álcool anidro para fins combustíveis. (EMBRAPA, 2011)

Os desafios são produzir mais, degradando menos e a custos ecoeficiente, gerar capacidade de diferenciação de produtos e de mercados. Abrir novas oportunidades para produtores; enfrentar os novos requisitos competitivos de mercado interno e/ou externo e estar tecnologicamente atualizado para atender aos novos padrões de consumo mundial.

Cada grupo econômico instalado em determinadas regiões como o caso do estado de Goiás, líderes em seus ramos como o setor sucroalcooleiro, apoiados outras que fornecem produtos e serviços, ambas sustentadas por organizações que oferecem profissionais qualificados, tecnologias de ponta, recursos financeiros, ambientes propícios a desenvolvimento tecnológicos, estabelecendo, deste modo, relações que permitem produzir mais e melhor, a um custo menor.

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A pesquisa e o consórcio de agroenergia criado peça Unidade Embrapa Agroenergia veio para desenvolver sistemas produtivos sustentáveis da cana-de-açúcar nas áreas tradicionais de cultivo e de expansão. Introduzir genes em variedades de cana-de-açúcar visando obter materiais tolerantes a broca gigante e ao estresse hídrico; Aperfeiçoar a contribuição da FBN na nutrição nitrogenada na cultura da cana-de-açúcar; Determinar a aptidão pedoclimática e risco climático da cana-de-açúcar. Desenvolver um sistema de previsão de safra adaptado às regiões Norte e Nordeste; Avaliar impactos socioeconômicos e ambientais nas áreas de estudo; Construir cenários para orientar políticas públicas na produção ordenada e sustentável da cultura nas áreas em estudo; Definir demanda hídrica, lâmina de água e níveis de nutrientes (N e k2O) para a cultura na região Nordeste e do

Estado de Tocantins; Aperfeiçoar o uso do nitrogênio pela cana-de-açúcar, em sistema de colheita sem despalha a fogo; Desenvolver método de controle da broca-gigante (Telchin Licus), com ênfase ao uso de feromônios e de agentes de controle biológico; Aperfeiçoar o uso de resíduos da agroindústria sucroalcooleira, por meio de compostagem. (EMBRAPA, 2011)