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2.1 A Política Nacional de Defesa do Consumidor

2.1.2 Do direito à informação

2.1.2.1 O dever de informar previsto no Art 8º do CDC

O artigo 8º do CDC60 adotou como regra que os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde e segurança do consumidor, excetuando os riscos considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição.

A regra permite a circulação de determinados produtos e serviços que possam acarretar riscos à saúde e segurança dos consumidores. Entretanto, tal permissão está relacionada à obrigação de informar sobre a periculosidade inerente, ou seja, aquela indissociável do produto ou serviço61, que poderá ser evitada se acompanhada de todas as informações necessárias e adequadas a seu respeito, portanto, restritas à modalidade de riscos normais62, logo, previsíveis.

Para Antonio Herman Vasconcelos e Benjamin63, para a periculosidade ser reconhecida como inerente, seus riscos devem ser interpretados como normais e previsíveis aos olhos dos consumidores:

60

“Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.

Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto.” 61 BENJAMIN, Antonio Herman de Vasconcelos e et al., Comentários ao Código de Proteção e

Defesa do Consumidor. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 47.

62 Paulo de Tarso Vieira Sanseverino destaca que

“a normalidade significa que os produtos e serviços devem ser naturalmente perigosos”. Responsabilidade Civil do Código de Defesa do Consumidor e a

defesa do fornecedor. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 141.

63 In GRINOVER, Ada Pelegrini et al (coords.) Código de Defesa do Consumidor comentado pelos

A periculosidade integra a zona de expectativa legítima (periculosidade inerente) com o preenchimento de dois requisitos, um objetivo e outro subjetivo. Em primeiro lugar, exige-se que a existência de periculosidade esteja de acordo com o tipo específico de produto ou serviço (critério objetivo). Em segundo lugar, o consumidor deve estar total e perfeitamente apto a prevê-la, ou seja, o risco não o surpreende (critério subjetivo). Presentes estes dois requisitos, a periculosidade, embora dotada de capacidade para provocar acidentes de consumo, qualifica-se como inerente e, por isso mesmo, recebe tratamento benevolente do direito. Vale dizer: inexiste vício de qualidade por insegurança.

Antonio Herman de Vasconcelos e Benjamin64 observa, ainda, que

os bens de consumo de periculosidade inerente ou latente (unavoidablyunsafeproductorservice) trazem um risco intrínseco atado a sua própria qualidade ou modo de funcionamento. Embora se mostre capaz de causar acidentes, a periculosidade dos produtos e serviços, nesses casos, diz-se normal e previsível em decorrência de sua natureza ou fricção, ou seja, em sintonia com as expectativas legítimas do consumidor.

Havendo constatação de periculosidade inerente ao produto ou serviço, o fornecedor deverá adotar todas as medidas necessárias para evitar a ocorrência de danos, especialmente as relacionadas à adequada informação sobre os riscos à saúde e sobre a segurança inerentes ao produto.

Para Renato José Cury65,as informações sobre os riscos daqueles produtos ou serviços com periculosidade inerente, que já são de conhecimento da população em geral e sobre os quais não existe qualquer tipo de dúvida ou controvérsia, não precisariam ser prestados pelo fornecedor. O Autor asseveram que a notoriedade destes riscos os tornam normais, previsíveis e decorrentes da própria natureza e fruição daquele produto ou serviço, ficando, dessa forma, dispensados de ser informados pelo fornecedor. Nesta hipótese, constata ele, haveria uma relativização

64 BENJAMIN, Antonio Herman de Vasconcelos. Manual de Direito do Consumidor. São Paulo: RT, 2008, p. 117-118.

65 CURY, Renato José. O Recall na Defesa do Consumidor. (Dissertação). Mestrado em Direito. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2011, p. 65.

do dever de informar, diante do conhecimento humano sobre aquela característica específica do produto ou serviço, e prossegue exemplificando com o exemplo clássico da faca e tesoura, em que o fabricante não precisa informar sobre o risco de causar lesão ou outro acidente, em razão da notoriedade dessa informação no mercado de consumo.

Para Fabio Ulhoa Coelho66,

a análise do conteúdo das expressões „normais‟ e „previsíveis‟, adotadas pelo art. 8º do Código de Defesa do Consumidor para qualificar os riscos admitidos do fornecimento, gravita em torno da adequabilidade das informações prestadas pelo fornecedor. Em outros termos, abstraindo-se daqueles produtos e serviços já amplamente conhecidos no mercado, o fornecedor deve prestar informações com tal eficiência que possibilite ao consumidor antever todo o potencial de periculosidade emergente do bem ou comodidade adquiridos. Informações adequadas sobre os riscos são aquelas que capacitam o consumidor na previsibilidade dos riscos oferecidos pelo fornecimento, de modo a torna-os normais.

O cumprimento do dever de informar previsto no artigo 8º do CDC está relacionado adequação das informações prestadas pelo fornecedor ao público em geral, o qual deverá assimilar e compreender facilmente as advertências nela contidas. Pois, conforme visto, a periculosidade inerente está diretamente relacionada à legítima expectativa não só do consumidor, mas às expectativas objetivas do público em geral67.

66 COELHO, Fabio Ulhoa. O empresário e os direitos do consumidor. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 74. 67 Nesse sentido, Silvio Luiz Ferreira da Rocha conclui que “A lei não exige que o produto ofereça uma segurança absoluta, mas apenas a segurança que se possa legitimamente esperar. Por isso, na valoração do caráter defeituoso do produto devem se atender não só às expectativas subjetivas da vítima, a segurança com que ela pessoalmente contava, mas as expectativas objetivas do público em geral, isto é a segurança esperada e tida por normal nas concepções do tráfico do respectivo setor de consumo [...]. ROCHA, Silvio Luiz Ferreira da. Responsabilidade civil do fornecedor pelo fato do

2.1.2.2 O dever de informar previsto no art. 9º do Código de Defesa do