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Portaria n o 487/2012 de 15/03/2012 do Ministério da Justiça

4 A EVOLUÇÃO DA REGULAMENTAÇÃO DO RECALL NO CÓDIGO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

4.3 Portaria n o 487/2012 de 15/03/2012 do Ministério da Justiça

Passados pouco mais de dez anos da edição do primeiro regramento do recall, o Ministério da Justiça, com a finalidade de aprimorar o acompanhamento e a fiscalização pelos órgãos que integram o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, editou nova Portaria a de nº 487/2012 de 16/03/2012, em substituição à Portaria 789/2001.

Pela nova normativa, o fornecedor, ao decidir pela realização de recall , deverá comunicá-lo formalmente ao Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) da Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça (Senacon/MJ) e aos demais órgãos de defesa do consumidor das localidades que tenham o maior número de produtos afetados, considerando a competência concorrente dos PROCONS, com todas as informações relevantes para a plena identificação do fornecedor e do produto ou do serviço objeto do chamamento.

A portaria dispõe ainda que o comunicado deve ser realizado tão logo o fornecedor tenha conhecimento do risco. Deve-se iniciar a campanha com a maior brevidade possível, não sendo recomendável adiar a comunicação à sociedade em detrimento de medidas organizacionais, e deve-se disponibilizar peças de reposição ou capacitação de pessoal para o atendimento imediato. Recomenda-se, ainda, se o caso, comunicar aos consumidores a interrupção do uso do produto ou serviço envolvido ou ainda medidas paliativas que possam ser adotadas até a reparação do produto, antes mesmo de solucionar eventuais questões de logísticas envolvidas.

Cabe aqui reconhecer que, mesmo com atualização das informações, persistem questionamentos por parte dos fornecedores, sobre a determinação de se considerar que a informação prestada às autoridades competentes e aos consumidores sobre a periculosidade do produto deverá ser imediata.

Não resta dúvidas quanto à necessidade de as empresas terem planejamento de atos e procedimentos antes da realização do comunicado, tanto às autoridades competentes quanto aos consumidores, tais como: importação de peças (que envolve frete e desembaraço aduaneiro), treinamento de mão de obra excedente, armazenagem de peças extraordinárias. Além disso, a campanha pode

ter abrangência nacional, vindo a depender ainda mais de gestão eficiente para a realização do projeto de recolhimento, conserto ou troca dos produtos e serviços e de eventual devolução de valores atualizados aos consumidores.145

Há empresas que aguardam a finalização de todo o planejamento, treinamento e armazenagem das peças para realizar a comunicação “imediata” da periculosidade identificada às autoridades competentes e aos consumidores. Há também fornecedores que de fato realizam o aviso de forma imediata, expondo a situação de que a estrutura da campanha de chamamento ainda está sendo finalizada; neste momento, repassam informações a respeito de medidas que devem ser adotadas pelos consumidores para evitar ocorrência de acidentes e comprometem-se com a realização de novo comunicado para informar a data do início do chamamento.

Entretanto, não podemos deixar de considerar que a Portaria 487/2012 tem a finalidade de regulamentar a comunicação determinada pelo art. 10, § 1º do CDC que dispõe, expressamente, que a comunicação deverá ser imediata, assim dispondo:

§ 1° O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários. (Grifo nosso)

Assim, os fornecedores que optam por informar somente após a finalização de todo o processo estarão sujeitos às penalidades previstas no CDC146, pois a

145 MÉO, Leticia Caroline. A Proteção à Saúde e à Segurança dos Consumidores e o Recall. Revista

de Direito Privado. v. 52, out/2012, p. 231.

146Art. 56. As infrações das normas de defesa do consumidor ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções administrativas, sem prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas específicas:

I - multa;

II - apreensão do produto; III - inutilização do produto;

norma determina que o comunicado deve ser realizado tão logo o fornecedor tenha conhecimento do risco147.

No mais, a portaria 487/2012 propõe um maior detalhamento das informações que serão prestadas pelos fornecedores aos órgãos públicos, com destaque para as informações relacionadas ao plano de mídia de anúncio da campanha148, e para o plano descritivo da forma de atendimento dos consumidores, disciplinando inclusive que o consumidor deverá receber um certificado de atendimento ao chamamento, conforme previsto no art. 6º da portaria.

Pelo disposto no art. 4.º da Portaria 487/2012, o plano de atendimento ao IV - cassação do registro do produto junto ao órgão competente;

V - proibição de fabricação do produto;

VI - suspensão de fornecimento de produtos ou serviço; VII - suspensão temporária de atividade;

VIII - revogação de concessão ou permissão de uso;

IX - cassação de licença do estabelecimento ou de atividade;

X - interdição, total ou parcial, de estabelecimento, de obra ou de atividade; XI - intervenção administrativa;

XII - imposição de contrapropaganda.

Parágrafo único. As sanções previstas neste artigo serão aplicadas pela autoridade administrativa, no âmbito de sua atribuição, podendo ser aplicadas cumulativamente, inclusive por medida cautelar, antecedente ou incidente de procedimento administrativo.

147Cabe observar que há julgados que mantêm a penalização fixada pelos órgãos de defesa do consumidor aplicadas porque houve retardamento da comunicação da periculosidade e/ou nocividade aos consumidores. Nesse sentido, já consignou a 1.ª Câmara de Direito Público do TJSP, ao analisar caso em que o fornecedor demorou cinco meses para informar os riscos constatados e realizar a campanha de chamamento:

“Ocorre, no entanto, que a Lei 8.078, no § 1.º do art. 10, determina que a comunicação do defeito constatado, que acarreta perigo, deve ser feita imediatamente.

Assim, a comunicação às autoridades competentes deveria ter ocorrido de imediato, o mesmo ocorrendo com a comunicação aos consumidores mediante anúncios publicitários.

Não há qualquer justificativa para o longo período transcorrido entre a constatação do defeito e a sua comunicação às autoridades competentes e aos consumidores.” TJSP, Ap 0124381- 77.2007.8.26.0053, 1.ª Câm. Direito Público, j. 22.03.2011, rel. Des. Franklin Nogueira.

148 Portaria 487/2012 – art. 3º O plano de mídia de que trata o art. 2º,§ 1º, Inciso VII, deverá conter as seguintes informações: I– data de início e fim da veiculação publicitária; II – meios de comunicação a serem utilizados, horário e frequência de veiculação, considerando a necessidade de atingir a maior parte da população, observando o disposto no art. 10, § 2º, da Lei nº 8.078/90, de 1990; III – modelo de aviso de risco, a ser veiculado na imprensa, rádio e televisão, incluindo a imagem do produto, sem prejuízo da inserção na internet e mídia eletrônica; e IV – custos da veiculação, respeitado o sigilo quanto às respectivas informações.

consumidor149 tem de abarcar também uma comunicação que deverá ser feita imediatamente, e que apresente grande inovação ao dispor sobre as formas de atendimento disponíveis. Deve informar os locais e os horários exatos de atendimento, qual a duração média do atendimento e qual o plano de contingência e a estimativa de prazo para a adequação completa de todos os produtos ou serviços que foram afetados.

O fornecedor deve ainda monitorar a campanha de chamamento e manter as autoridades competentes informadas sobre o andamento do recall, devendo apresentar às autoridades competentes, relatórios de acompanhamento de campanha de chamamento, com periodicidade mínima de 60 dias, informando a quantidade de produtos recolhidos ou reparados.

A identificação da autoridade competente dependerá da análise do tipo de produto envolvido, sendo elas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA150; o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – Inmetro151;

O aprimoramento das formas de informações de recall aos consumidores é muito importante para maior entendimento da sociedade quanto à importância de atendimento ao chamamento. Um estudo realizado pela Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo sugere que os consumidores ainda possuem um limitado nível de conhecimento acerca de seus direitos vinculados ao instituto do chamamento.

A Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo (PROCON-SP)149 realizou, com base nas informações prestadas pelos fornecedores, análise estatística referente à adesão às campanhas de chamamento, bem como elaborou questionário para verificação do conhecimento e opinião dos consumidores acerca do tema. O questionário foi disponibilizado no sítio eletrônico da instituição, tendo sido respondido por 1846 voluntários no período de 01 a 14/03/2011.

A análise das respostas ao questionário aponta que 85% (1.573) dos consumidores que acessaram o sítio eletrônico declararam saber o que é chamamento. Contudo, tão somente 35% (547) responderam corretamente a hipótese em que o fornecedor é obrigado a realizar o procedimento. Destes 35% (547), somente 56% (305) souberam responder que o chamamento se aplica a todo e qualquer produto ou serviço.

Tem-se, portanto, que somente 17% (305) dos consumidores que responderam voluntariamente ao questionário sabem realmente o verdadeiro conceito de chamamento de consumidores.

Quanto à forma de avaliação de percepção do consumidor acerca dos chamamentos, 72% dos consumidores consideraram que não são bem divulgados nos meios de comunicação e 61% consideraram que as informações prestadas são insatisfatórias. Recall – Percepção do Consumidor. Disponível em: http://www.procon.sp.gov.br/PDF/relatoriorecall.pdf. Acesso em 21/09/2014.

150

“Missão da ANVISA–Promover e proteger a saúde da população e intervir nos riscos decorrentes da produção e do uso de produtos e serviços sujeitos à vigilância sanitária, em ação coordenada com os estados, os municípios e o Distrito Federal, de acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde, para a melhoria da qualidade de vida da população brasileira.!” BRASIL. Agência nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/wps/portal/anvisa/anvisa/agencia.mAcesso em 23/06/2013.

o Departamento Nacional de Trânsito – Denatran152; o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA153, o único que não tem representação no GEPAC.

Ao término da campanha os fornecedores deverão apresentar relatório final, contendo, ao menos, informações sobre a quantidade de produtos ou serviços recolhidos ou reparados; e justificativa para os não recolhidos ou reparados e providências adotadas em relação aos produtos recolhidos e a identificação da forma como os consumidores tomaram conhecimento do recall, restando claro pelo art. 9º da Portaria 487/2012 que o fornecedor não se desobriga de reparação ou substituição gratuita do produto ou serviço mesmo findo o chamamento.

Por fim, o GEPAC, com o intuito de aclarar os dispositivos da Portaria 487/2012, elaborou a Recomendação 01/2013, publicada em 19/06/2013, sugerindo algumas práticas quando da elaboração e veiculação de um recall, a saber: (i) O aviso de risco deverá ser elaborado com informações concisas, primando pela clareza e objetividade, de modo a evitar o uso de termos técnicos, informações ambíguas ou insuficientes ao entendimento do consumidor. (ii) Em mídia impressa, 151

“Lei no 9.933, de 1999 – Art. 3o O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), autarquia vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, criado pela Lei no 5.966, de 1973, é competente para: (Redação dada pela Lei nº 12.545, de 2011).

IV - exercer poder de polícia administrativa, expedindo regulamentos técnicos nas áreas de avaliação da conformidade de produtos, insumos e serviços, desde que não constituam objeto da competência de outros órgãos ou entidades da administração pública federal, abrangendo os seguintes aspectos: (Redação dada pela Lei nº 12.545, de 2011).

a) segurança; (Incluído pela Lei nº 12.545, de 2011).

b) proteção da vida e da saúde humana, animal e vegetal; (Incluído pela Lei nº 12.545, de 2011). c) proteção do meio ambiente; e (Incluído pela Lei nº 12.545, de 2011).

d) prevenção de práticas enganosas de comércio.”

152 Dentre as várias atribuições, tem a de estabelecer procedimentos para a concessão do código marca-modelo dos veículos para efeito de registro, emplacamento e licenciamento. Fonte http://xa.yimg.com/kq/groups/27684109/1801702071/name/CompetenciasDoSNT.pdf. Acesso em 23/06/2013.

153 “O Ministério da Agricultura busca integrar sob sua gestão os aspectos mercadológico, tecnológico, científico, ambiental e organizacional do setor produtivo e também dos setores de abastecimento, armazenagem e transporte de safras, além da gestão da política econômica e financeira para o agronegócio. Com a integração do desenvolvimento sustentável e da competitividade, o Mapa visa à garantia da segurança alimentar da população brasileira e a produção de excedentes para exportação.” fortalecendo o setor produtivo nacional e favorecendo a inserção do Brasil no mercado internacional.”BRASIL. Ministério da Agricultura. Disponível em:

o aviso de risco deverá ser dimensionado de forma a garantir a fácil visualização e em seção que lhe garanta destaque. (iii) Em rádio e TV, a locução do aviso de risco deverá ser feita de forma clara o suficiente para garantir-se o pleno entendimento de todas as informações pelo consumidor. (iv) Em página eletrônica, a inserção do aviso de risco deverá ser feita em local de destaque e de fácil visualização, garantindo seu acesso a partir da tela inicial, sem prejuízo da disponibilização dos avisos veiculados em rádio, TV e mídia impressa. (v) O aviso de risco também deverá ser veiculado nas mídias sociais do fornecedor, sempre que as possuir, sem prejuízo de quaisquer outras ações que ampliem a informação ao Consumidor. Por fim, buscando orientar os fornecedores ao fiel cumprimento da Recomendação, exemplificou as sugestões com um modelo de aviso de risco:

Modelo 1 Comunicado de Recall