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4 A EVOLUÇÃO DA REGULAMENTAÇÃO DO RECALL NO CÓDIGO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

4.1 Portaria nº 789, de 24 de agosto de

Assim, a primeira regulamentação específica sobre o recall no Brasil ocorreu somente em 2001, por meio da publicação da Portaria nº 789 do Ministério da Justiça, apresentando como principal justificativa para a sua edição a

VIII - solicitar o concurso de órgãos e entidades da União, Estados, do Distrito Federal e Municípios, bem como auxiliar a fiscalização de preços, abastecimento, quantidade e segurança de bens e serviços;

IX - incentivar, inclusive com recursos financeiros e outros programas especiais, a formação de entidades de defesa do consumidor pela população e pelos órgãos públicos estaduais e municipais; X - (Vetado).

XI - (Vetado). XII - (Vetado)

XIII - desenvolver outras atividades compatíveis com suas finalidades.

Parágrafo único. Para a consecução de seus objetivos, o Departamento Nacional de Defesa do Consumidor poderá solicitar o concurso de órgãos e entidades de notória especialização técnico- científica

130 Decreto nº 7.738, de 28 de Maio de 2012. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE; remaneja cargos em comissão e funções de confiança; altera os Decretos no 6.061, de 15 de março de 2007, no 2.181, de 20 de março de 1997, e no 1.306, de 9 de novembro de 1994.

necessidade de regulamentação, no âmbito do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor – DPDC, dos procedimentos de chamamento previsto no artigo 10, § 1º da Lei 8.078/90, conhecido como “recall”, que possibilite o acompanhamento pelos órgãos do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor – SNDC e pela sociedade, deste procedimento.

Nota-se que até a edição da citada Portaria, apesar de passados mais de dez anos da edição do CDC, as campanhas de recall não eram catalogadas e acompanhadas de forma sistematizada pelos órgãos públicos de defesa do consumidor, que reconheciam a tal deficiência e a necessidade do acompanhamento. Tanto que, no mesmo ato de publicação da Portaria 789/2001, o Ministério da Justiça publicou uma Nota Informativa, com os seguintes esclarecimentos:

A Portaria estabelece os parâmetros mínimos de informações que o fornecedor deve prestar ao Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) da Secretaria de Direito Econômico (SDE), quando da comunicação de recall, dando condições mais adequadas para os fornecedores organizarem o plano de recall, e para o seu acompanhamento pelo DPDC.

Embora o Código de Defesa do Consumidor esteja em vigor há aproximadamente dez anos, foi somente a partir de meados da década de 90 que as empresas começaram a adotar a prática do recall de forma sistemática. Desde então, tornou-se crescente a demanda do seu acompanhamento junto ao órgão federal responsável pela defesa do consumidor, o DPDC.

Em função da necessidade de acompanhar de perto os processos de recall em todas as suas fases, o Ministério da Justiça vem investindo esforços no sentido de aperfeiçoar a comunicação que é apresentada pelos fornecedores, conforme estabelecido no art. 10 do CDC, tornando-o mais efetivo. A Portaria assinada hoje pelo Ministro da Justiça é fruto desses esforços.

A Portaria nº 789/2001 disciplinou quais informações deveriam constar no comunicados de recall 131 , bem como a necessidade de os fornecedores

131Art. 3º O fornecedor deverá, além da comunicação de que trata o artigo 2º, informar imediatamente aos consumidores, sobre a periculosidade ou nocividade do produto ou serviço por ele colocado no mercado, mediante campanha publicitária que deverá ser feita em todos os locais onde haja consumidores deste produto ou serviço.

apresentarem ao final da divulgação da campanha um relatório do DPDC e as demais autoridades competentes, com informações referentes ao número de consumidores atendidos e não atendidos, indicando inclusive a justificativa para o percentual de consumidores que não foram atendidos132, além de consignar que as empresas não estariam desobrigadas de realizar a reparação ou substituição dos produtos e serviços, mesmo após o término da campanha, de modo a deixar claro que seriam responsáveis pelos mesmos, enquanto estivessem circulando no mercado de consumo133.

Certo é que, com a edição da Portaria 789/2001 as campanhas de recall passaram a ser acompanhadas pelos órgãos de defesa do consumidor, possibilitando a catalogação das informações, tendo surgido, por consequência, o primeiro banco de dados de recall do Brasil, lançado pela Fundação Procon-SP em 2006134.Assim, tornou-se possível a pesquisa das campanhas de recall realizadas desde 2002, bem como relatórios quantitativos e qualitativos dos recalls realizados por cada segmento.

Importante observar que mesmo após a publicação da Portaria 789/2001, § 1º A campanha publicitária será veiculada na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço, e dimensionada de forma suficiente a que atinja o universo de consumidores adquirentes dos produtos ou serviços objetos do chamamento.

§ 2º Os anúncios publicitários deverão informar sobre o defeito que o produto ou serviço apresenta, bem como sobre os riscos decorrentes e suas implicações, as medidas preventivas e corretivas que o consumidor deve tomar e todas as demais informações que visem a resguardar a segurança dos consumidores do produto ou serviço, observado inclusive o disposto no Artigo 17 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990.

§ 3º Para informar aos consumidores sobre a periculosidade ou nocividade do produto ou serviço, além dos anúncios publicitários, poderá o fornecedor utilizar-se de outros instrumentos que entender aplicáveis ao caso, como correspondência, anúncios via internet, avisos por telefone, dentre outras. 132Art. 5º Ao término da campanha, deverá o fornecedor apresentar relatório final ao DPDC onde conste, além de outras informações que se fizerem necessárias, as seguintes:

a) a quantidade de consumidores, tanto em valores numéricos quanto em percentual relativamente ao total, que foram efetivamente atingidos pelo chamamento, em termos globais e por Estados;

b) a justificativa para o percentual de consumidores eventualmente não atendidos (produtos ou serviços não reparados ou trocados);

c) identificação da forma pela qual os consumidores tomaram conhecimento do chamamento.

133Art. 7º O fornecedor não se desobriga da reparação ou substituição do produto ou serviço mesmo findo o prazo da campanha de chamamento.

134 SÃO PAULO> PROCON. Disponível em: http://www.procon.sp.gov.br/recall.asp.Acesso em 11/01/2015.

houve resistência por parte das montadoras em prestas informações adequadas à VW e à Audi em fevereiro de 2002, que convocaram os proprietários dos veículos A3 e Golf com ABS, informando que:

A VW e a Audi, na Alemanha, constatou que um “chip” da unidade de controle eletrônico do ABS pode sofrer superaquecimento e, eventualmente, pegar fogo, incendiando componentes próximos, no compartimento do motor. Ainda que isso ocorra, não provoca redução do desempenho do freio.

Ou seja, o freio pega fogo, mas freia.135

Diante de tal situação, a Fundação Procon de São Paulo fez um estudo comparando os comunicados de recall divulgados no Brasil com os anúncios dos mesmos modelos divulgados nos EUA, e constatou que enquanto nos EUA as informações eram padronizadas, contendo o resumo do defeitos, a informação clara quanto ao risco e qual seria a solução do problema, no Brasil as informações eram repassadas em bloco, com utilização de linguagem técnica e de difícil compreensão, sem destaque para o risco ou, ainda, sem explicitar qual seria a solução do problema136.

Com as constatações feitas, o DPDC, o Ministério Público Federal, do Ministério Público do Estado de São Paulo, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – IDEC, em 29/11/2006, reuniram-se na sede da Fundação Procon- SPcom representantes das principais montadoras automobilísticas do país para estabelecer, nos termos da Portaria 789/2001, uma estrutura mínima a ser seguida para os avisos de recall. Em 19/12/2006, a DaimlerCrysler do Brasil Ltda., publica

135 RIZZOTTO, Rodolfo Alberto. Recall

– 4 Milhões de Carros com Defeito de Fábrica. RDE Empreendimentos Publicitários, 2003.

136 Dados extraídos de apresentação realizada pela Fundação Procon para a ABA

– Associação Brasileira de Anunciantes em 26/11/2008.

um comunicado seguindo tal sugestão137, padrão que foi seguido pelos anúncios realizados desde então138.

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