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O não cumprimento às determinações da Portaria 487/

Medidas preventivas [Ações a serem tomadas pelo consumidor até o atendimento].

4.3.1 O não cumprimento às determinações da Portaria 487/

Como visto, assim que constatada a periculosidade dos produtos ou serviços pelos fornecedores, pelas autoridades públicas ou pelos consumidores –

por consequência, a possibilidade de riscos à saúde e segurança dos consumidores -, o fornecedor deverá realizar o recall, caso não o faça ficará sujeito às sanções administrativas previstas do CDC154, que podem ser aplicadas pelos órgãos de defesa do consumidor a partir de decisão em processo administrativo155.

O Código de Defesa do Consumidor relaciona as penalidades administrativas no art. 56 e o Decreto no 2.181, de 20 de Março de 1997, reproduz o mesmo rol em seu art. 18156.

154 Portaria MJ 487/2012 – Art. 11º O não cumprimento às determinações desta portaria sujeitará o fornecedor às sanções previstas na Lei nº 8.078 de 1990 e Decreto nº 2.181, de 20 de março de 1997.

155 Marcio Marcucci comentou que “A imposição e aplicação das sanções administrativas previstas no CDC deverão ser antecedidas de processo administrativo, assegurados o contraditório e a ampla defesa aos fornecedores, sob pena de nulidade da medida. Embora o texto do CDC, em mais de uma oportunidade tenha mencionado que a sanção será imposta mediante “procedimento, assegurando a ampla defesa” (vide arts. 58 e 59), a extensão da garantia do due process of law aos processos administrativos emanam diretamente da CF, por meio do art. 5º, LVI e V, os quais prescrevem respectivamente: “ninguém será privado de sua liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” e aos “litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral serão assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ele inerentes”. A garantia do processo legal envolve , em especial: o direito a citação e ao conhecimento prévio do teor da imputação e dos demais atos processuais ; o direito de rebater acusações, deduzir alegações e produzir provas destas, o direito a defesa técnica , efetivada por advogado, ou à autodefesa, feita pelo próprio infrator , o direito ao recurso administrativo contra a imposição de sanção, o direito a decisão motivada por parte da autoridade administrativa e o direito ao recurso (duplo grau do processo administrativo).” In FRONTINI, Paulo Salvador (Coord.). Código de Defesa do Consumidor

interpretado: artigo por artigo. Barueri – SP: Manole, 2013, p. 178.

156 Art. 18. A inobservância das normas contidas na Lei nº 8.078, de 1990, e das demais normas de defesa do consumidor constituirá prática infrativa e sujeitará o fornecedor às seguintes penalidades, que poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, inclusive de forma cautelar, antecedente ou incidente no processo administrativo, sem prejuízo das de natureza cível, penal e das definidas em normas específicas:

I - multa;

II - apreensão do produto; Ill - inutilização do produto;

IV - cassação do registro do produto junto ao órgão competente; V - proibição de fabricação do produto;

VI - suspensão de fornecimento de produtos ou serviços; VII - suspensão temporária de atividade;

VIII - revogação de concessão ou permissão de uso;

IX - cassação de licença do estabelecimento ou de atividade;

X - interdição, total ou parcial, de estabelecimento, de obra ou de atividade; XI - intervenção administrativa;

Para Zelmo Denari157, o elenco das sanções administrativas pode ser classificado de três modos: a) sanções pecuniárias: representadas pela multa (Art. 56, I do CDC) e aplicadas em razão do inadimplemento dos deveres dos consumidores; b) sanções objetivas, as que envolvem bens ou serviços colocados no mercado de consumo compreendendo a apreensão, a inutilização, a cassação do registro, proibição de fabricação ou suspensão do fornecimento de produtos ou serviços (art. 56, II a VI , do CDC c/c o art. 18, II a VI , Dec. 2.181/1997); e c) sanções subjetivas – referindo-se à atividade empresarial ou estatal dos fornecedores de bens ou serviços, compreendendo a suspensão temporária da atividade, a cassação da licença do estabelecimento ou da atividade, a interdição total ou parcial do estabelecimento, obra ou atividade, intervenção administrativa e inclusive a imposição de contrapropaganda (art. 56, VII a XII , do CDC, c/c o art. 18, VII a XII , Dec. no 2.181/1997).

Vitor Morais de Andrade e Renan Bueno Ferraciolli158 optaram por classificar as sanções administrativas em: a) reais que refletem única e exclusivamente a imposição de sanções que gravam o patrimônio ou bem de propriedade do infrator, incidem sobre o objeto ou coisa causadora do ilícito, disciplinadas nos incisos II, III, IV, V, VI, XII do art. 56 do CDC; b) pessoais, que atingem o sujeito passivo da sanção, imitando a sua própria liberdade de permanecer no mercado ou entabular novos negócios, previstas no s incisos VII, VIII, IX, X, XI do art. 56 do CDC e as c) pecuniárias, que são eminentemente as multas, tratadas pelo inciso I do art. 56 do CDC.

A aplicação das sanções administrativas é ato discricionário da XII - imposição de contrapropaganda.

§ 1º Responderá pela prática infrativa, sujeitando-se às sanções administrativas previstas neste Decreto, quem por ação ou omissão lhe der causa, concorrer para sua prática ou dela se beneficiar. § 2º As penalidades previstas neste artigo serão aplicadas pelos órgãos oficiais integrantes do SNDC, sem prejuízo das atribuições do órgão normativo ou regulador da atividade, na forma da legislação vigente.

§ 3º As penalidades previstas nos incisos III a XI deste artigo sujeitam-se a posterior confirmação pelo órgão normativo ou regulador da atividade, nos limites de sua competência.

157 In GRINOVER, Ada Pelegrini et al (coords.) Código de Defesa do Consumidor comentado pelos

autores do anteprojeto. 10 ed. v. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 667.

158 CALDEIRA, Patrícia; MEIRA, Fabíola; SODRÉ, Marcelo Gomes (Coords.) Comentários ao Código

Administração Pública, que poderão ser aplicadas sem prejuízo das sanções de natureza civil e penal159. Assim, diante do conhecimento do defeito de um produto ou serviço, os órgãos de defesa do consumidor ao entender que o fornecedor deveria realizar o recall e não o fez, poderão aplicar as sanções previstas no já comentado art. 56 do CDC, sendo, na prática, as sanções pecuniárias a espécie mais comum aplicada aos casos de recall, apesar de todas as medidas poderem ser impostas de forma cumulativa.

4.3.1.1 Órgãos Públicos competentes para aplicação da sanção administrativa

Como já mencionamos, o CDC para o exercício da tutela administrativa do consumidor, constituiu o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor – SNDC, composto por órgãos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais, além das entidades privadas de defesa do consumidor que, agindo de forma coordenada, devem dar efetividade à Política Nacional de Relações de Consumo.

O art. 106 do CDC institui, como órgão de coordenação nacional do SNDC, o Departamento Nacional de Proteção e Defesa do Consumidor - DPDC - vinculado

159 Relevante se faz citar o exemplo ocorrido com a montadora de carros General Motors do Brasil (GM) que sofreu no ano de 2001, imposição de sanção administrativa, onde foi condenada a pagar multa no valor de 3 milhões e 200 mil reais pelo fato de omitir das autoridades competentes um defeito de fabricação no encaixe do cinto de segurança de veículos Corsa. “Recall dos veículos da linha Corsa, todos os modelos e versões até o ano de fabricação 1999 (inclusive) e todos os veículos modelo Tigra (todas as unidades). Procedimento Administrativo instaurado na SDE contra a Empresa automobilística General Motors do Brasil - GM. Comunicação extemporânea das falhas no sistema de ancoragem do cinto de segurança. Infração ao art. 10, § 1.º, do CDC - Recall. Aplicação de multa pela SDE. Prática de infração penal prevista no art. 64 do CDC. Voto no sentido da remessa dos autos à PR/DF para a responsabilização cível e criminal dos gestores da Empresa General Motors do Brasil - GM, com a instauração de ação civil pública e ação penal, visando resguardar os direitos dos consumidores vitimados pela falha no sistema do cinto de segurança dos veículos fabricados pela representada, em conformidade com as Leis 7.347/1985 e 8.078/1990. Decisão: a Câmara deliberou, à unanimidade, nos termos do voto do relator, pela remessa dos autos à Procuradoria da República do Distrito Federal para a responsabilização civil e criminal dos representantes legais da Empresa General Motors do Brasil - GM, e instauração de ação civil pública e ação penal, visando resguardar os direitos dos consumidores, vitimados pela falha no sistema do cinto de segurança dos veículos fabricados pela fornecedora ora representada, tudo em conformidade com o disposto na Lei 7.347/1985 e nos arts. 91 a 102 do CDC (LGL\1990\40). Processo Administrativo 1.00.000.000822/2001-24 (apensos 1.00.000.0006154/2001-49) - MPF/PGR - rel. Dr. Moacir Guimarães Morais Filho.” PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA. Disponível em: [www.pgr.mpf.gov.br]. Acesso em: 13.07.2009.

à Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério de Justiça (MJ) - e estabelece seus deveres (atribuições) nos incisos que se seguem (incisos I a XIII).

No âmbito estadual e municipal, o Dec. no 2.181/1997, em seu art. 4.º160 , estabeleceu que a tutela administrativa do consumidor será exercida pelos Procons e outros órgãos públicos que, indiretamente, realizem atividades relacionadas aos direitos do consumidor.

Os órgãos que compõe o SNDC têm competência concorrente para fiscalizar o mercado de consumo, entretanto, com a finalidade de se evitar sobreposição de ações dos órgãos que compõe o sistema, o artigo 5º, parágrafo único, do Decreto no 2.181/97 dispõe que: "Se instaurado mais de um processo administrativo por pessoas jurídicas de direito público distintas, para apuração de infração decorrente de um mesmo fato imputado ao mesmo fornecedor, eventual conflito de competência será dirimido pelo DPDC, que poderá ouvir a Comissão Nacional Permanente de Defesa do Consumidor - CNPDC, levando sempre em consideração a competência federativa para legislar sobre a respectiva atividade econômica.” Assim, apesar da independência dos diversos órgãos que cuidam dos direitos do consumidor, o DPDC vem sendo considerado hierarquicamente superior, por força do Decreto nº 2.181”161

160 Art. 4º No âmbito de sua jurisdição e competência, caberá ao órgão estadual, do Distrito Federal e municipal de proteção e defesa do consumidor, criado, na forma da lei, especificamente para este fim, exercitar as atividades contidas nos incisos II a XII do art. 3º deste Decreto e, ainda:

I - planejar, elaborar, propor, coordenar e executar a política estadual, do Distrito Federal e municipal de proteção e defesa do consumidor, nas suas respectivas áreas de atuação;

II - dar atendimento aos consumidores, processando, regularmente, as reclamações fundamentadas; III - fiscalizar as relações de consumo;

IV - funcionar, no processo administrativo, como instância de instrução e julgamento, no âmbito de sua competência, dentro das regras fixadas pela Lei nº 8.078, de 1990, pela legislação complementar e por este Decreto;

V - elaborar e divulgar anualmente, no âmbito de sua competência, o cadastro de reclamações fundamentadas contra fornecedores de produtos e serviços, de que trata o art. 44 da Lei no 8.078, de 1990 e remeter cópia à Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça; (Redação dada pelo Decreto nº 7.738, de 2012).

VI - desenvolver outras atividades compatíveis com suas finalidades.

161 Nesse sentido: “ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS INSTAURADOS POR ÓRGÃOS