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O Documento 53 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

APÊNDICE I O crucifixo que jorrou sangue

CAPÍTULO 1 – PENTECOSTALISMO CLÁSSICO: BREVES NOTAS DE COMO

1.4 A década de 90: a religião como resposta aos males sociais

1.4.1 O Documento 53 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

No próprio desenvolvimento do movimento carismático no Brasil, a relação Igreja Católica e RCC sempre fora permeada por tensões concretizadas em conflitos, divergências, situações de adesão e exclusão e diversos outros episódios que podem ser encontrados nas bibliografias já citadas, dentre elas, o texto de Costa (2006, p. 124) no que segue:

Não surpreende, portanto, que seja o Renovamento Carismático Católico o movimento onde surjam mais ostensivas as chamadas de atenção para os “desvios”, “excessos” e “riscos” cometidos e a evitar na complicada história do carismatismo.

Apenas nos anos 90, após a pesquisa realizada por Pedro de Oliveira e algumas reuniões entre líderes carismáticos e representantes do clero católico, sairia oficialmente um documento constando orientações para a RCC no Brasil a partir da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Com esse documento a RCC não

mais seria um novo jeito de ser Igreja, uma movimentação ou uma corrente espiritual conforme seus fundadores Padre Eduardo e Padre Haroldo diziam, mas um movimento instituído e reconhecido pela Igreja Católica por meio do Documento 5351 da CNBB (2002).

É importante destacar sobre o do Doc. 53, que a principal razão sobre a postura da Igreja com relação a RCC e aos outros movimentos, para vários autores está baseada na questão da pluralidade (FERNANDES, 2004; TEIXEIRA; MENEZES, 2009; STEIL, 2009), que será melhor discutida nas páginas52 finais do texto, juntamente à noção de liminaridade.

De qualquer maneira, nesse contexto plural moderno, tem-se que a RCC é uma das muitas outras expressões e estilos contidos no catolicismo e impostos à Igreja Católica como um fato social que se instalou em decorrência de outras condicionantes e que não pode ser pensado de forma unilateral (FERNANDES, 2004). Dentro do processo de consolidação do movimento no país, apesar de sua aceitação ter-se tornado um processo polêmico e contraditório, estando sempre sujeita tanto a suspeitas e interrogações por suas manifestações corporais e emotivas quanto a adesões incondicionais por parte de alguns setores da hierarquia e dos fiéis (CARRANZA, 1998), a RCC constituiu-se um braço, um membro, um órgão junto a outros no catolicismo.

Por isso, entende-se que o Documento 53 serviu para reconhecer os carismáticos e tal reconhecimento nada mais é que a negociação de sua própria liberdade sob os princípios da ordem e da obediência à doutrina Católica. A Igreja fortalece a RCC e confirma-a pelo Documento como sendo parte constituinte e legal dela, mas negocia sua autonomia e transversalidade (FERNANDES, 2004; TEIXEIRA; MENEZES, 2009). Por meio do Doc. 53, a Igreja procurou o diálogo, a negociação e a adaptação aos novos tempos, incorporando a RCC à sua estrutura, objetivando manter a união e evitando desvios com relação a doutrinas e/ou trabalhos paralelos concorrenciais (FERNANDES, 2004).

Mas, os carismáticos católicos fervorosos interpretaram as “regras” (PRANDI, 1998) contidas no Documento como sendo de caráter autoritário e cerceador, sob a

51 O primeiro documento da CNBB sobre a RCC é de 1994: Estudos da CNBB n. 53 – Orientações pastorais sobre a Renovação Carismática Católica.

justificativa de que vieram para evitar excessos. Os Guerreiros de Oração estão inseridos nesse grupo.

Seguem abaixo os parágrafos que mais causaram polêmicas entre os carismaticos fervorosos (CNBB, 1994, p. 4 e 5):

19. Reconhecendo-se a presença da RCC em muitas Dioceses e também a contribuição que tem trazido à Igreja no Brasil, é preciso estabelecer o diálogo fraterno no seio da comunidade eclesial, apoiando o sadio pluralismo, acolhendo a diversidade de carismas e corrigindo o que for necessário.

22. A RCC assuma também as opções, diretrizes e orientações da Igreja Particular onde se faz presente, evitando qualquer paralelismo e integrando-se na pastoral orgânica.

23. Os Bispos e os párocos procurem dar acompanhamento à RCC diretamente ou através de pessoas capacitadas para isso. Por sua vez, a RCC aceite as orientações e colabore com as pessoas encarregadas desse acompanhamento.

29. Evite-se na RCC a utilização de termos já consagrados na linguagem comum da Igreja e que na RCC assumem significado diferente, tais como, pastor, pastoreio, ministério, evangelizador e outros.

32. Os manuais de oração, livros de estudos bíblicos e de formação doutrinal, dada sua importância pastoral, tenham aprovação eclesiástica.

No que se refere às experiências espirituais o Documento assim se posiciona: 46. A experiência religioso-cristã não se realiza em mera experiência subjetiva, mas no encontro com a Palavra de Deus confiada ao Magistério e à Tradição da Igreja, nos sacramentos e na comunhão eclesial (CNBB, Doc. 45, 175).

49. A espiritualidade cristã integra o social e o espiritual, o humano e o religioso. Não está, porém, isenta das ambigüidades e mesmo distorções que podem caracterizar as reações do psiquismo humano, seja individual, seja grupal. Por isso, evite-se alimentar um clima de

exaltação da emoção e do sentimento, que enfatiza apenas a dimensão subjetiva da experiência da fé (CNBB, 1994, p. 6-7, grifo

nosso).

Quanto às experiências de cura, presentes nos diversos encontros da RCC, o Documento 53 alerta quanto às práticas que são estranhas à Igreja Católica, dizendo:

59. Ao implorar a cura, nos encontros da RCC ou em outras celebrações, não se adote qualquer atitude que possa resvalar para um espírito milagreiro e mágico, estranho à prática da Igreja Católica. 60. Nas celebrações com doentes, não se usem gestos que dão a falsa impressão de um gesto sacramental coletivo ou que uma espécie de “fluido espiritual” viesse a operar curas.

61. O Óleo dos Enfermos não deve ser usado fora da celebração do Sacramento. Para não criar confusão na mente dos fiéis, quem não é sacerdote não faça uso do óleo em bênção de doentes, mas use apenas o Ritual de Bênçãos oficial da Igreja (CNBB, 1994, p. 8).

Quanto à experiência religiosa carismática do uso dos dons (dom de línguas e dom da profecia), os números 62 e 64 apresentam um caráter de cautela quanto às suas práticas nesses termos:

62. Como é difícil discernir, na prática, entre inspiração do Espírito Santo e os apelos do animador do grupo reunido, não se incentive a chamada oração em línguas e nuca se fale em línguas sem que haja intérprete.

64. Haja grande discernimento quanto ao dom da profecia, eliminando qualquer dependência mágica e até supersticiosa (CNBB, 1994, p. 8). Outro aspecto das experiências religiosas que pode ser destacado no meio Carismático é quanto ao chamado “repouso no Espírito” e que o Documento da CNBB assim se manifesta no número 65:

Em Assembléias, grupos de oração, retiros e outras reuniões evite-se a prática do assim chamado “repouso no Espírito”. Essa prática exige maior aprofundamento, estudo e discernimento (CNBB, 1994, p. 8).