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O monte do Cristo Redentor com os Guerreiros de Oração

APÊNDICE I O crucifixo que jorrou sangue

CAPÍTULO 3 – AS VIGÍLIAS DE ORAÇÃO NOS MONTES DOS GUERREIROS DE

3.5 O monte do Cristo Redentor com os Guerreiros de Oração

87 Conferir Apêndice C.

Sapucaia situa-se no Estado de São Paulo a quase 700 metros de altitude do nível do mar. Vista de cima por uma imagem via satélite apresenta-se num formato retangularizado com prolongamentos urbanos ao seu derredor. Percebe-se, tanto de cima quanto para quem está atravessando a cidade com olhar atento, que não se localiza numa planície, mas num terreno elevadiço, como uma porção prolongada de terra que está cercada por vales.

Geograficamente, para esse tipo de relevo, dá-se o nome de espigão. Sapucaia, portanto, é um município situado sobre o espigão ocidental de uma das serras da região centro-oeste do Estado.

A cidade se extende seguindo o sentido desse espigão, que, como uma espinha dorsal ladeada por vales, se constata ao mesmo tempo um linha férrea, indicando ser a parte mais plana e elevada de seu relevo. A linha de trem corta a cidade ponta a ponta e indica o sentido leste-oeste que marcou o período do café nas décadas de 20 e 30, quando a produção era escoada do interior do Estado ao porto de Santos.

Expandindo-se a partir da linha de trem e seguindo os sentidos e possibilidades que o relevo lhe permite, a cidade segue crescendo com os vários seguimentos imobiiários, especialmente os residenciais.

Porque é contornada por encostas de até 200 metros de altura, Sapucaia tem a área urbana condicionada à geografia da região, cheia de pequenos altos e baixos e cercada pelas encostas e vales. De algumas encostas saem cachoeiras e nascentes, formando rios e córregos que atravessam os vales, chamados também Itambés. Os vales separam paredões íngremes de pedra calcária, local onde se costuma ir para se ouvir o barulho que há do outro lado, ou para se ouvir o eco de um forte assobio dado.

No que tange à pesquisa, Sapucaia está rodeada por esses elevados denominados pelos guerreiros de oração carismáticos, e, principalmente pelos pentecostais, “montes”. São ondulações ou elevações do solo encontradas inclusive dentro da própria cidade.

Em algumas áreas os vales se misturam por entre bairros formando paisagens belas aos seus moradores e na maioria das vezes essas próprias paisagens tornam- se locais de oração, por isso, passam-se a chamar de montes. O nome monte está mais ligado a uma atividade ou prática religiosa que a uma topografia, sendo esta a

causa maior pela qual passou a ser assim chamado. Destaca-se que alguns desses montes encontram-se nos limites das últimas ruas de bairros periféricos, sendo muito frequentados pelo fácil acesso.

Mas, nem todos os montes de oração são necessariamente montes geográficos. Às vezes o monte é uma clareira, uma pequena mata ou até um terreno plano. Para os carismáticos guerreiros de oração, a oração associou-se ao monte por conta das representações bíblicas presentes nos textos por eles considerados sagrados. Pode-se encontrar na Bíblia diversos relatos de experiências religiosas em variados montes da antiga Palestina. O fato é que as maiores figuras bíblicas, para os guerreiros de oração, eram freqüentadores dos montes.

De uma forma ou de outra o monte, para os nativs em questão, é o local por excelência onde se acredita ser possível experimentar o que Jesus, os profetas e apóstolos vivenciaram. Seja em um monte alto, ou baixo, numa clareira, ou numa mata, estar em meio à natureza “buscando a face de Deus como Moisés”, “intercedendo como Abraão”, “guerreando como Elias”, “transfigurando-se como Jesus” segundo eles é um importantíssimo ritual na vida de quem quer crescer espiritualmente e também vencer na vida.

Localizado na região nordeste de Sapucaia, o monte descrito nesta dissertação refere-se ao que tem sido mais freqüentado nos últimos anos pelos guerreiros de oração ou carismáticos da Paróquia Cristo Redentor. Por meio de conversas informais e alguns relatos constatou-se que um ex-integrante do Grupo de Oração Imagem Celestial, apelidado de “irmão Fogo Puro”, mudara para uma casa nas extremidades do Bairro Vista Alegre, que ficava defronte a um descampado, de topografia levemente acentuada e que continha uma clareira de eucaliptos à parte e ao fundo. Ocorreu que ao ouvir de sua casa orações que vinham daquela clareira resolvera verificar e constatara tratar-se de um ajuntamento de evangélicos realizando orações.

Após informar aos irmãos carismáticos que aquele belo local era utilizado pelos evangélicos para se fazer orações, passaram a se utilizar do mesmo para suas práticas religiosas.

Relatos apontaram que o novo local de oração do grupo veio em hora certa para substituir a um outro que era de difícil e longe acesso, chamado por eles de

“monte do pão sagrado” 89. Como era muito distante, passou-se a freqüentar o monte do Bairro Bela Vista ou Monte Cristo Redentor, encontrado pelo irmão Fogo Puro, por se localizar próximo ao local do grupo de oração da igreja que leva o mesmo nome. Nesta dissertação, aplicar-se-á ao local o nome de Monte do Cristo Redentor.

Foto 1: Imagem do monte do Pão Sagrado. no canto esquerdo, clareira.

Fonte: Autoria própria.

Destaca-se apenas que, Fogo Puro, durante a realização da pesquisa de campo, já era um ex-integrante do grupo carismático e que de fato morava exatamente em frente ao monte, por isso era seu freqüentador, onde fazia suas orações. Abandonou a RCC e a Igreja Católica e se tornou um membro da Igreja Assembléia de Deus, porque lá via que teria mais oportunidades para “servir a Deus” do que entre os carismáticos católicos. Ele foi o primeiro divulgador para a mudança do local de oração: do Monte do Pão Sagrado para o monte do Cristo Redentor, no Bairro Bela

89 Nome dado por ter sido o local onde ocorrera, segundo relatos, o episódio do aparecimento de um pão, contado por José Augusto.

Vista. Segundo ele, o que antes ocorria uma vez por mês, passou a ser semanalmente, pela facilidade de acesso.

Foto 2: Trajeto que apresenta o monte do Cristo Redentor com a clareira de eucaliptos

ao fundo. Visão da casa do irmão Fogo Puro.

Fonte: Autoria própria.

À distância de uns 2 quilômetros de quem sai da Igreja Cristo Redentor, pode- se ir a pé até chegar ao monte. À medida que se vai caminhando pelo interior do bairro ou pela rua que margeia a encosta do penhasco, chega-se ao monte, cuja entrada é feita por uma porteira. Ao adentrar, segue-se em direção a uma copa de eucaliptos que se apresenta a uns trezentos metros à frente, implicando uma caminhada numa

topografia levemente acentuada. O acesso ao local também pode ser feito por veículos automotores ou a pé.

Este é um dos mais de 10 montes freqüentados por pentecostais católicos e protestantes na cidade de Sapucaia. Em todas as regiões, de norte a sul, leste a oeste, é possível encontrar um monte freqüentado para realização de práticas religiosas de caráter carismático e pentecostal.

Chegados ao monte do Cristo Redentor, ora as orações são feitas no interior das clareiras de eucaliptos, ora do lado de fora, a céu aberto. De qualquer forma, durante a observação participante, por situar-se em meio à natureza, as sensações de liberdade são evidentes.

Qualquer um dos montes está fora do centro urbano, fora das ruas, dos carros, do barulho e da agitação. No trabalho de campo, quando das vigílias de setembro a novembro, o que se apresentava às vezes eram alguns animais como vacas, bois, cavalos e éguas, o cheiro de eucalipto que tem “hora certa” para exalar, rajadas de vento que balançavam as árvores e o canto de pássaros noturnos e cigarras.

Foto 3: vista externa da clareira de eucaliptos no Monte do Cristo Redentor.

Fonte: Autoria própria.