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APÊNDICE I O crucifixo que jorrou sangue

CAPÍTULO 3 – AS VIGÍLIAS DE ORAÇÃO NOS MONTES DOS GUERREIROS DE

3.2 O relato das origens dos Guerreiros de Oração

Daniel e Tiago relataram que após sua Experiência de Oração, empenharam- se, entre os anos 1991 a 1994, no aprofundamento de suas religiosidades em busca dos dons do Espírito Santo, de sinais divinos que evidenciassem a presença de Deus e manifestações espirituais que lhes dessem poderes para serem “servos de Deus”.

Havia uma forte tônica em suas narrativas sobre um sinal ou manifestação espiritual muito desejada: a “unção” do Espírito Santo. Remetendo-se àquele período, tentam explicar que a unção seria uma espécie de força ou revestimento sobrenatural além daquela recebida no batismo do Espírito Santo, que dava capacidade à pessoa para realizar as mesmas coisas que Jesus e que os apóstolos realizaram. A função principal e a razão pela qual se deve buscar a unção, para eles, é para o serviço das atividades cristãs como a pregação, a oração de intercessão, as visitas nas casas, a oração pelos doentes e, consequentemente, a expansão do evangelho.

“Por meio dela [da unção] a pessoa chega a ser transformada”, diz Daniel, e mais:

Quando se está ungido todas as coisas fluem ou acontecem com maior facilidade, mas sem a unção, as coisas não rendem e não produzem os resultados. Você pode passar o dia inteiro lendo a Bíblia, estudando, se preparando, mas se não tiver a unção de Deus, as pessoas não vão se converter e nem vão sentir que o que você tá falando é do Espírito. É igual como aconteceu com o apóstolo Pedro no dia de Pentecostes. Ele era medroso e de repente com a unção de Deus ele ficou corajoso, saiu pra fora e pregou pra uma multidão. Só naquele momento 3 mil pessoas se converteram. Então, quando você ora, Deus manda unção. [...] Você sente quando tá falando que não é você. As palavras e a força não vêm de você. [...] É algo tremendo.

Segundo Daniel e Tiago é por meio da oração sincera e do jejum que a unção é recebida, por isso, naqueles anos após a Experiência de Oração que participaram, passavam horas e horas orando.

Sempre fundamentando suas falas nos livros, versículos, episódios e personagens bíblicos, enfatizam que o jejum e a oração são “poderosos para abrir o céu”.

Esta ideia, dizem eles, conota uma representação de mundo como um reino decaído, cujo deus seria o príncipe das trevas, Satanás, segundo as palavras de Jesus e dos apóstolos. Por isso, o mundo é sujo e pecaminoso e necessita ser vencido, mudado ou transformado pela presença das coisas do céu, que é a representação de tudo o que é bom para eles. Percebeu-se que para Tiago a representação de um mundo mal é mais forte que em Daniel, supostamente por conta de sua vida “devassa” (termo usado por ele).

Portanto, orar e jejuar, tal qual Jesus, os apóstolos, os profetas e os santos da igreja, é algo indissociável para quem pretende ser um servo de Deus. Ademais, o jejum é uma autonegação daquilo que é fundamental para o ser humano, o alimento. Em outras palavras, dizem ser “uma autonegação de seus desejos, de seus orgulhos. Como um gesto de auto-humilhação, bate de frente com o que o demônio quer, satisfação da carne, lascívia, devassidão...”. Estas são algumas das explicações dadas por eles para a prática do jejum e da oração.

Nos dois primeiros anos estiveram muito ligados ao Padre Benedito. Supõe- se que um dos motivos para a ligação com o Sacerdote fosse o desejo de aprender e receber os dons que o Padre possuía e que muitas vezes eram presenciados nas vigílias de oração realizadas nos montes e nas matas.

Os jovens senhores destacam que as experiências nos montes eram o que mais os atraíam, porque nelas o Padre Benedito, inspirado pelos dons do Espírito Santo, dava as revelações divinas, as profecias, falava em línguas diferentes e os levavam a sentir coisas que para eles eram sobrenaturais, como já mencionado anteriormente: o êxtase (MENEZES, 2007), o cair, deitar-se (CORTEN, 1996), pular, rolar, dar cambalhotas (MARIANO, 1999); chorar, rir (ORO, 1996), sentimento de grande emoção, alegria, exultação, transbordamento (ORO, 1995) e o extravasamento dos sentidos que suscita a dança, o arrebatamento, algo próximo ao desfalecimento (RICCI, 2006). A ida aos montes passou a ser algo corriqueiro e sem mais a presença do Sacerdote.

Ocorreu que em meados de 94, Daniel fora realizar uma missão na cidade de São Paulo e solicitara urgentemente a presença de Tiago por ter encontrado situações estranhas e difíceis quanto à criação e ao desenvolvimento de um Grupo de Oração

no bairro da Lapa. Nesse mesmo período, Tiago destaca que, empenhado em seu crescimento espiritual, além de orar muito e jejuar, estava a ler muitos livros e a ouvir pregações de pastores pentecostais que o fazia se sentir cada vez mais revestido do Espírito Santo. Tiago também aponta que era quase inevitável não entrar em contato com as coisas evangélicas naquela época lembrando-se que existia em Sapucaia mais de cinco rádios comunitárias deles e apenas uma católica.

As músicas de cunho protestante influenciavam e até eram cantadas nos grupos de oração católico. Quem num passava em uma livraria evangélica pra comprar uma camiseta de Jesus? Quem não assistia um programa ou outro que passava na televisão? Por isso, o material evangélico tava com certeza no meio carismático católico. O problema era fingir que essas coisa num acontecia. Eu não me importava com isso, mas num negava de onde tinha vindo, da Igreja Católica. Só achava anticristão e uma hipocrisia ficar falando mal dos evangélico sendo que nós mesmo, carismático, tinha nascido deles. Os evangélico, os pentecostais tão muitos ano na frente dos carismático quanto ao conhecimento da obra de Deus81.

Quando perguntado sobre os autores que havia lido, Tiago mencionara entre outros Josué Irion, Carlos Anaconda e Peter Wagner, objetos de estudos do Núcleo de Estudos em Religião (NER) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul na linha de pesquisa A Transcontinentalização da Fé. Esses nomes são tidos como referência em temas pentecostais como Batalha Espiritual. Trata-se ao mesmo tempo de um tema e de uma corrente pentecostal que se espalhou pelos anos 90 através dos meios de comunicação (programas de Rádio e TV) e materiais áudio-visuais e impressos (Fitas Cassetes e VHS e livros) de vários outros pastores como: Valnice Milhomens, do antigo Ministério Palavra da Fé, do casal Estevan e Sonia Hernandes da Igreja Renascer em Cristo e do Padre carismático Alberto Gambarini, de Campinas. Todos esses nomes foram muito familiares na vida dos jovens senhores durante a década de 90.

No mesmo período em que Daniel fora para São Paulo, Tiago começara a vivenciar as ditas experiências carismáticas mais fortes que tivera inicialmente em sua Experiência de Oração.

3.3 A modalidade pentecostal dos guerreiros de oração