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4. INVADINDO A TORRE

4.2 O EDITOR NO MUNDO REAL

E fora da fic•‹o, Òquem Ž o editor?Ó, pergunto aos meus alunos de gradua•‹o. ÒQuem editaÓ, respondem. ÒE editar, o que Ž?Ó ÒEscolher e cortar textos e fotos, definir pautasÓ, respondem novamente os aspirantes a jornalistas. Correto, mas quais s‹o as implica•›es disso, as responsabilidades, o significado profundo dessa atividade? Como se d‡ a media•‹o social, atividade primordial do comunicador, no ambiente de edi•‹o?

O editor Ž o respons‡vel por comandar, em um jornal impresso, um caderno, se•‹o ou ÒeditoriaÓ. Cremilda Medina reporta ˆ grande reforma anunciada pelo Jornal do Brasil em 1972, com a maior compartimenta•‹o e especializa•‹o do trabalho jornal’stico, como um marco nesse sentido Ð mas n‹o como a primeira experi•ncia de cria•‹o de editorias e editores no pa’s. Esse modelo, assim como em outros processos adotados na indœstria jornal’stica nacional, foi inspirado nas reda•›es de grandes jornais norte-americanos. Segundo a pesquisadora, Òantes de 72, quando o JB anunciou sua mudan•a, j‡ o Jornal da Tarde de S‹o Paulo e as reda•›es da Editora Abril usavam o modelo editor e n‹o chefe de reportagem. Esta transforma•‹o funcional e aparentemente tŽcnica traduz um significado especial: o aumento numŽrico do corpo de reda•›es, a especializa•‹o dos setores em grupos coordenados por editores e subeditores e a descentraliza•‹o do antigo pauteiro ou do chefe de reportagem s‹o uns dos muitos dados empresariais de industrializa•‹o do produto Ôinforma•‹oÕ.Ó99

A autora lembra que a editoria representa, a partir desse momento, uma segunda componente estrutural da mensagem jornal’stica ( ap—s a componente da angula•‹o). ÒAtravŽs de v‡rias fontes, a informa•‹o chega em bruto ˆ reda•‹o do jornal. Normalmente, cada setor produz uma quantidade consider‡vel de pautas poss’veis que ter‹o de ser examinadas, ampliadas, resumidas, descartadas e receber‹o um lugar certo na p‡gina de jornal. Tradicionalmente os jornais eram divididos em secretarias que englobam os conteœdos da informa•‹o. As secretarias tinham uma divis‹o cl‡ssica: internacional, nacional, pol’tica, interior, economia, esportes, local, geral. Hoje [o texto Ž de 1988], as editorias do Jornal do Brasil, por exemplo, mudaram para uma especializa•‹o crescente dos assuntos: Comportamento e Bem- Estar, Pol’tica, Assuntos Militares, Diplomacia e Igreja, Educa•‹o, Cultura, Arte e

Entretenimento, Justi•a e Seguran•a, Administra•‹o Pœblica e Privada, Cidade e Servi•os Locais. A tend•ncia nas editorias Ž exatamente abandonar um esquema r’gido, fixo, para uma abertura ˆs constantes solicita•›es do mercado da informa•‹o. Uma das primeiras fun•›es do editor, de qualquer um dos setores, Ž a determina•‹o dos assuntos a serem cobertos e a coordena•‹o dos rep—rteres que trabalham em sua ‡rea. Nesse caso, ele substitui o antigo pauteiro, elemento com a incumb•ncia de elaborar a rela•‹o geral das matŽrias do dia, uma espŽcie de rol dos principais acontecimentos previstos para um determinado nœmero do jornalÓ.100

Atualmente, em 2012, os jornais paulistanos t•m dividido o fluxo informativo em sete editorias principais e em outras se•›es menores, de periodicidade vari‡vel Ð em um retorno a algo mais parecido com a forma cl‡ssica apontada por Cremilda Medina. As editorias maiores, e di‡rias, s‹o as de Pol’tica, Internacional, Ci•ncia e Meio Ambiente, Economia, Cidades, Esportes e Cultura Ð geralmente nessa ordem, a partir do notici‡rio mais hard news para o mais soft. Outras se•›es complementam a oferta informativa: Pequenas Empresas, Responsabilidade Social, Educa•‹o, Saœde e Bem-Estar... Embora seja rara a cria•‹o de um caderno di‡rio, de uma editoria mainstream, a oferta de se•›es menores (de uma p‡gina ou menos) ou de suplementos Ž bastante din‰mica e reflete flutua•›es mais imediatas nos anseios informativos da sociedade. Entre os Suplementos mais frequentes nos jornais paulistanos de hoje encontramos os de Turismo, Tecnologia, cadernos infantis, Im—veis, Ve’culos, Decora•‹o, TV e Variedades, Carreiras, Bem-Estar e suplementos ligados ˆ literatura.

Dentro da estrutura particular de uma editoria, composta por editor, subeditores (ˆs vezes nomeados editores-adjuntos ou editores-assistentes), redatores e rep—rteres Ð contando ainda com o suporte de ‡reas como Fotografia e Arte (Diagrama•‹o e Infografia) Ð, o editor Ž sempre o respons‡vel final pela qualidade do produto. Acumula, portanto, grande poder e grande responsabilidade dentro de sua seara.

Uma das melhores considera•›es sobre essa figura complexa foi escrita por Manuel Chaparro no livro ÒEdi•‹o em Jornalismo ImpressoÓ, organizado por Coelho Sobrinho, Lopes e Proen•a101.

Segundo Chaparro, Òpara persuadir o leitor ˆ interatividade na atribui•‹o de significados aos acontecimentos de cada dia, o relato e a an‡lise da atualidade que o jornalismo coloca na sociedade precisam ter a virtude da veracidade, exposta com

clareza e precis‹o. ƒ o que Teun van Dijk chama de car‡ter asseverador da linguagem jornal’stica. E o atributo da veracidade tem que aflorar nos t’tulos e nas ordena•›es visuais organizativas das mensagens, a•›es para as quais converge a aten•‹o interlocutiva do leitor. Sem isso n‹o haver‡ acordo. Mas, quem Ž e onde est‡ esse interlocutor escondido que provoca o leitor e lhe prop›e acordos? Ele existe e tem nome. Chama-se editor.Ó

O professor e pesquisador em seguida debate o papel desse profissional na Reda•‹o e na sociedade Ð e principalmente o problema dos conflitos e press›es que deve administrar. Escreve Chaparro que: ÒNuma reda•‹o de jornal, concentra-se na equipe de editores o poder, a compet•ncia e a responsabilidade de decidir o que deve ser publicado e como deve ser publicado. Est‡ na equipe de editores, e no espa•o particular de cada um deles, a interface escondida do jornal, na macro-interlocu•‹o que o jornalismo promove e viabiliza, ao mediar a•›es e falas que desorganizam, reorganizam, discutem ou explicam a atualidade. A atualidade, natureza do jornalismo, Ž um ambiente de conflitos entre sujeitos interessados, legitimamente organizados, que agem no mundo presente das pessoas. S‹o partidos e l’deres pol’ticos, empresas e empres‡rios, governos e governantes, organiza•›es n‹o governamentais, universidades, sindicatos, minorias, clubes, associa•›es, igrejas, artistas, intelectuais e especialistas que agem na realidade e sobre a realidade. Por isso t•m o que dizer, e o que dizem interessa ao mundoÓ.

Apesar de trabalharem nos bastidores e de terem pouca ou nenhuma exposi•‹o pœblica Ð salvo quando se tornam colunistas de suas publica•›es Ð, os editores Òest‹o a’, diariamente, criando fazeres que interferem em nossas vidas, op•›es e expectativas. Porque s— conseguem agir significativamente na sociedade quando dizem e o seu dizer se difunde socialmente, disputam espa•o e tempo nos media, produzindo atos e falas que interessam ˆ fun•‹o jornal’stica. ƒ uma profus‹o de discursos pol’ticos, econ™micos, religiosos, filos—ficos, mercadol—gicos, ecol—gicos, cient’ficos, diversionistas, e tantos outros que expressam interesses humanos organizados. Atr‡s desses discursos est‹o agentes competentes, pessoas singulares ou coletivas que atuam nos processos jornal’sticos na qualidade de fontes organizadas, produtoras dos acontecimentos, saberes, bens e servi•os que interferem na atualidade, ou porque a alteram, ou porque a desvendam e explicamÓ, completa Chaparro.

ƒ importante salientar, contudo, no atual est‡gio dos estudos na ‡rea, que a associa•‹o entre jornalismo e difus‹o de informa•‹o Ž insuficiente para abarcar a complexidade do fen™meno da comunica•‹o social. O ainda renitente paradigma difusionista esgota-se em si mesmo e progressivamente cede espa•o, assim, ao projeto de uma verdadeira comunica•‹o social, que s— se realiza na dialogia plena. Ou, como afirma a pesquisadora Cremilda Medina, ao esbo•ar a trajet—ria da filosofia difusionista na pr‡tica jornal’stica, Òcom os avan•os tecnol—gicos do sŽculo 20, acentuam-se as contradi•›es do difusionismo e da geopol’tica da divulga•‹o. Aparentemente estariam solucionados os problemas de tempo e espa•o pela velocidade dos meios impressos, audiovisuais e as infovias planet‡rias. As linguagens tŽcnicas tambŽm cumpriram as metas tradicionais Ð uma tradu•‹o acess’vel dos conteœdos mais cifrados de determinado tema como a reforma da Constitui•‹o ou a biodiversidade na Amaz™nia. A compreens‹o da pluralidade de tempos no fim do sŽculo e as promessas irrestritas da aproxima•‹o espacial anunciam a interatividade dos novos infovi‡rios. No entanto, a cidadania contempor‰nea exibe um grande dŽficit de informa•‹o. Se assim n‹o fosse, o horizonte de inclu’dos nas decis›es hist—ricas n‹o superaria t‹o escandalosamente o dos que majoritariamente, no planeta, vivem em estado de desinforma•‹oÓ102.

Apesar de ter alcan•ado o seu ‡pice na contemporaneidade, com a compartimenta•‹o e especializa•‹o do trabalho jornal’stico, a figura do editor de jornal Ž antiga e se confunde com o surgimento dos primeiros jornais impressos. Inclusive, conforme lembra Nilson Lage em ÒA Reportagem: Teoria e TŽcnica de Entrevista e Pesquisa Jornal’sticaÓ, a figura do editor precedeu a do rep—rter. ÒA reportagem como atividade n‹o existiu ou era irrelevante em 200 dos quase 400 anos da hist—ria da imprensaÓ103, afirma. Antes mesmo do surgimento de uma linguagem, de uma gram‡tica e de rituais de reportagem (de uma deontologia pr—pria), o editor trabalhava solitariamente ou em reduzidas equipes em jornais mais preocupados com a ret—rica do que com a informa•‹o, conforme complementa Lage: ÒQuando o jornalismo surgiu, no in’cio do sŽculo XVII, o paradigma do texto informativo era o discurso ret—rico, empregado desde tempos remotos para a exalta•‹o do Estado ou da fŽ. As l’nguas nacionais europŽias vinham surgindo, cada qual com seus grandes autores liter‡rios (Cam›es em Portugal; Cervantes e Quevedo na Espanha;

Shakespeare e Milton na Inglaterra; Racine e Moli•re na Fran•a) Ð e este era o padr‹o que se buscava imitarÓ.

Os primeiros jornais eram efetivamente fruto do esfor•o quase solit‡rio de editores. ÒPor muitas dŽcadas o jornalista foi essencialmente um publicista de quem se esperavam orienta•›es e interpreta•‹o pol’tica. Os jornais publicavam, ent‹o, fatos de interesse comercial e pol’tico como chegadas e partidas de navios, tempestades, atos de pirataria, de guerra ou revolu•‹o; mas isso era visto como atra•‹o secund‡ria, j‡ que o que importava mesmo era o artigo de fundo, geralmente editorial, isto Ž, escrito pelo editor Ð homem que fazia o jornal praticamente sozinhoÓ, completa Lage.

De certa maneira os jornais gratuitos que hoje circulam em S‹o Paulo Ð dentre os quais se destacam os di‡rios Metr™ News, Metro e Destak Ð reencenam o cen‡rio dos primeiros peri—dicos do sŽculo XVII, em mais um exemplo da a•‹o das recorr•ncias da hist—ria. Nos tabl—ides contempor‰neos, enxutas equipes de editores acumulam ainda o trabalho de pauteiros, rep—rteres e diagramadores. As rotinas de trabalho mudaram profundamente, n‹o s— por efeito de novas tecnologias mas tambŽm pela transforma•‹o do pr—prio jornalismo, que hoje refuta, em grande medida, o discurso public’stico. Entraram em cena outras tŽcnicas de reportagem e uma maior preocupa•‹o com o interesse pœblico e com a responsabilidade social do exerc’cio da profiss‹o. Ainda assim, curiosamente a estrutura organizacional remete ˆ dos primeiros jornais da hist—ria.

Mas, como ocorre em outras ‡reas da ci•ncia e do pensamento na atualidade, o trabalho do editor se tornou progressivamente mais complexo Ð diversificado, abrangente, plural e multifacetado.

N‹o ˆ toa, para Chaparro, Òa mais dif’cil e estimulante tarefa do editor Ž a de, ao organizar o discurso jornal’stico, balizar pelas raz›es do interesse pœblico o relato dessa atualidade animada pelos interesses particulares, nos quais se incluem os pr—prios interesses do jornal enquanto neg—cio e p—lo de poder. ƒ o interesse pœblico que imp›e ao editor o dever de praticar e exigir jornalismo que investigue, para poder comprovar. ƒ o interesse pœblico que atribui ao editor a responsabilidade moral pelo que divulga e pelos efeitos do que publica. ƒ o interesse pœblico que pressup›e no editor, como em todos os jornalistas, a virtude e a efic‡cia de produzir veracidade, sem a qual o jornalismo n‹o existe, apenas aparenta ser. ƒ o interesse pœblico que torna priorit‡rio, nas decis›es do editor, o respeito aos valores, ideais e objetivos

Žticos que a sociedade humana estabelece em c—digos Ð e isso se traduz em substantivos como vida, felicidade, justi•a, liberdade, solidariedade, honra, dignidade, privacidade, igualdade, verdadeÓ104.

Sidnei Basile diz que editar Ž a tŽcnica e a arte de fazer o pœblico Òmergulhar em nossa hist—ria, em nossa publica•‹o, e de l‡ sair encantadoÓ105 Ð Ž um exerc’cio de conquista, diz, ou uma Òsedu•‹o sem sexoÓ.

O pr—prio editor, contudo, n‹o deve sucumbir ao fasc’nio da atividade a ponto de, num encantamento consigo pr—prio, perder de vista o interesse pœblico. Com o grande poder vem a grande responsabilidade Ð erros e omiss›es no trabalho do editor, escreve Chaparro, trazem graves preju’zos aos Òprocessos sociaisÓ. ÒSempre que, por op•‹o ou omiss‹o, por esperteza, desonestidade ou incompet•ncia, a decis‹o do editor privilegia ou permite que se privilegie um interesse particular em detrimento de algum valor simb—lico do interesse pœblico (o direito ˆ informa•‹o e ˆ opini‹o, por exemplo), h‡ um preju’zo grave para os processos sociais, cujo sucesso depende, cada vez mais, da credibilidade do jornalismo. N‹o Ž f‡cil, pois, nem simples, a tarefa de editar. O editor est‡ permanentemente submetido ˆs tens›es derivadas da obriga•‹o de definir e assumir, rapidamente, decis›es irrevers’veis, que produzem efeitos concretos, num contexto real de confrontos entre interesses leg’timos. Os conflitos come•am nos pr—prios calcanhares.Ó

ƒ por isso que, no entender do jornalista e pesquisador Luiz Costa Pereira Jœnior, Òser editor Ž um teste de car‡terÓ. O autor entende que esse teste se d‡ simultaneamente em duas esferas: primeiro, na atividade fim do editor: praticar jornalismo. Segundo, em sua atividade-meio: gerenciar pessoas e estruturas administrativo-financeiras para que o exerc’cio jornal’stico seja vi‡vel. ÒPor atividade-fim do editor entendamos seu exerc’cio jornal’stico propriamente dito. Coordenar a cobertura e fechar a edi•‹o s‹o algumas. J‡ sua atividade-meio Ž gerencial. S‹o as obriga•›es nem sempre associadas a jornalistas, como administra•‹o de pessoal ou de recursos financeiros, a interface com os setores da empresa (o staff da reda•‹o e gestores industrial, comercial e de marketing). ƒ no trabalho de edi•‹o que se revela a opini‹o do gerente da informa•‹o, para que lado pende o dono do ve’culo, qual a for•a org‰nica de uma linha editorial. ƒ a faceta convencional do cargo, nem por isso isenta de ™nus reveladores sobre quem o assumeÓ106.

Jornalista experiente no comando de rep—rteres e de editores, Suzana Singer, atual ombudsman da Folha de S.Paulo (com mandato j‡ renovado duas vezes, limite regulamentar previsto pelo jornal, pois Singer estreou na fun•‹o em 2010 e dever‡ deix‡-la em 2013), assim definiu as atribui•›es de um editor em entrevista para esta tese:

Ð ƒ esse cara que tem uma certa forma•‹o, algum background para conseguir dialogar, conversar, com quem est‡ ali. Tem que ser um cara l’der de equipe, e isso Ž superimportante. Ele Ž uma lideran•a, tem que descobrir os novos talentos, apostar, reescrever textos, ter paci•ncia. A gente dizia que os editores s‹o pagos para fazer todo mundo parecer mais inteligente do que Ž. ƒ isso. Tem editor que escreve, mas o cl‡ssico Ž um an™nimo, ninguŽm sabe que ele existe, e todo mundo fala Ônossa que maravilhosas as matŽrias de fulanoÕ, mas n‹o sabem que o editor ficou l‡ horas ou dias reescrevendo, pedindo mais coisas. Mas claro que ele tem poder: est‡ com a faca e o queijo na m‹oÓ.

Carlos Graieb, editor-executivo da revista Veja e ex-editor em O Estado de S.Paulo usa uma met‡fora interessante para definir esse profissional: Òo editor Ž aquele cara com uma forquilha procurando ‡guaÓ. Ou seja, o agente, meio tŽcnico, meio intuitivo, em busca da pulsa•‹o da not’cia. N‹o Ž, contudo, dono da preciosa Ò‡guaÓ, mas um mediador social.

Ð Certamente eu o vejo como um intermediador de informa•›es para o bem pœblico. Esse Ž o valor que est‡ em todo empreendimento jornal’stico, do menor ao maior.

Chaparro tambŽm percebe e reflete sobre a dimens‹o administrativa do trabalho do editor, caracter’stica essa que torna o seu trabalho ainda mais complexo: alŽm de dominar aspectos ligados ˆ cultura e ao jornalismo ele deve prover sua equipe Ð gerenciando-a com efic‡cia Ð dos recursos necess‡rios para fazer bom jornalismo. ÒO editor Ž uma simbiose de jornalista e gerente. Em escala maior ou menor, administra recursos humanos, tecnol—gicos e financeiros, com o dever de otimizar resultados, tanto sob o ponto de vista do lucro quanto da qualidade jornal’stica. No seu trabalho, um dos pŽs finca-se na vertente do neg—cio, pois deve sentir-se e assumir-se respons‡vel tambŽm pelo sucesso econ™mico do empreendimento. A l—gica do consumo influencia e condiciona, portanto, as suas decis›es. Mas o outro pŽ

jamais pode desgrudar-se dos compromissos com a cultura, ou seja, com os processos de aperfei•oamento da sociedade, que esse Ž o lugar do jornalismo.Ó107

A quest‹o gerencial aparece com frequ•ncia no discurso dos editores entrevistados nesta tese. Embora o mais importante seja, na opini‹o dos pr—prios entrevistados, o entendimento dos valores-not’cia (a por•‹o arte, portanto, concomitante ˆ tŽcnica), habilidades de gerenciamento s‹o cada vez mais desej‡veis. Ð As publica•›es se sustentam como produtos. Elas precisam ser pensadas como produtos para que elas sejam vi‡veis e sobrevivam. Eu acho que n‹o existe uma incompatibilidade entre as duas. AtŽ mesmo a imprensa que, no passado, se colocou como independente do poder tambŽm teve de se pensar como produto. Essas duas vertentes est‹o umbilicalmente ligadas. Se do ponto de vista financeiro o ve’culo n‹o se sustenta, ele n‹o tem como cumprir sua fun•‹o. O fato de algo ser um produto, n‹o muda a sua finalidade intr’nseca Ð pondera Carlos Graieb.

Antonio Rocha Filho, secret‡rio de Reda•‹o do popular Agora, concorda que conhecimentos em gest‹o s‹o importantes, mas n‹o mandat—rios, ao aspirante a editor:

Ð Se voc• puder ter uma forma•‹o disso Ž interessante, te ajuda sim, mas n‹o diria que Ž um fator excludente. Acho que Ž muito mais importante para um editor que vai lidar com not’cia, com decis‹o editorial, com hierarquia de not’cia, ter um hist—rico forte e consistente em reportagem do que uma forma•‹o em gest‹o.