• Nenhum resultado encontrado

4. INVADINDO A TORRE

4.4 ROTINA DE ALENTOS E DESALENTOS

N‹o chega a ser temer‡rio afirmar que a rotina dos jornalistas Ž pesada e estressante. Inœmeros rankings de estresse no trabalho, brasileiros e internacionais, colocam a profiss‹o de jornalista nas primeiras posi•›es Ð geralmente ladeada por carreiras como as de operador de Bolsa de Valores, piloto de avi‹o comercial e mŽdico cirurgi‹o.

No estudo ÒLiving with StressÓ, publicado em livro em 1988117, Cary L. Cooper, Rachel D. Cooper e Lynn H. Eaker examinaram 104 profiss›es em busca daquelas mais propensas a provocar elevados n’veis de estresse. Em uma escala de zero a dez, colocaram em primeiro lugar os mineiros (8,3), em segundo, os policiais (7,7), e, em terceiro lugar, situaram tr•s profiss›es, empatadas: agente penitenci‡rio, piloto de avi‹o e jornalista (7,4). Uma grande quantidade de estudos na ‡rea, geralmente ligados ˆ sociologia e ˆ medicina, corrobora da tese.

Em ÒDecidindo o que Ž Not’ciaÓ (2003), Alfredo Vizeu Pereira Jr.118 afirma que as elevadas exig•ncias do dia a dia do jornalista, como a press‹o para cumprimento de hor‡rios (deadlines), os ex’guos prazos para a reda•‹o e edi•‹o das not’cias, a pouca margem de controle frente a todo tipo de contratempo, a competitividade extrema pelo furo, a possibilidade de processos judiciais e o reduzido nœmero de profissionais nas reda•›es Ð queixa ou constata•‹o da maioria dos jornalistas consultados para esta tese Ð s‹o importantes fatores de estresse ocupacional nas reda•›es.

Pesquisa sobre o perfil dos jornalistas de S‹o Paulo divulgada em outubro de 2012 ressalta algumas das principais preocupa•›es da categoria. Realizado pelo Centro de Pesquisa em Comunica•‹o e Trabalho da ECA-USP, o estudo O perfil dos jornalistas e os discursos sobre o jornalismo.Um estudo das mudan•as no mundo do trabalho dos jornalistas de S‹o Paulo119 ouviu jornalistas de 2007 a 2010, divididos em 4 grupos (amostra aleat—ria prŽ-teste, s—cios do sindicato dos jornalistas de S‹o

Paulo, jornalistas de uma grande editora de revistas e freelancers), e aponta um fen™meno vis’vel desde as escolas de jornalismo atŽ as reda•›es paulistanas propriamente ditas: a predomin‰ncia de mulheres jovens, na faixa de atŽ 30 anos de idade, na imprensa escrita. Os respondentes tambŽm declararam elevada preocupa•‹o quanto ˆ sua forma•‹o, com ’ndice variando de 24% (freelancers) a 70% (funcion‡rios da editora) de graduados com curso de especializa•‹o j‡ completo.

Segundo a coordenadora do estudo, Roseli F’garo, Òa maioria dos jornalistas Ž de mulheres, brancas, sem filhos, jovens, na faixa atŽ 35 anos. Elas t•m curso superior em jornalismo, j‡ fizeram uma especializa•‹o em n’vel de p—s-gradua•‹o, trabalham com v’nculos empregat’cios prec‡rios, s‹o multiplataforma, trabalham para v‡rios clientes. No entanto, afirmar a exist•ncia de um œnico perfil Ž redutor e n‹o Ž fiel ao que a pr—pria pesquisa revela. Fatores geracionais relacionados ˆs mudan•as nos processos tecnol—gicos e organizacionais do trabalho demonstram que a transi•‹o entre um perfil e outro ainda est‡ em andamentoÓ.

O estresse profissional Ž captado na pesquisa realizada pelo Centro de Pesquisa em Comunica•‹o e Trabalho, que mostra que Òos discursos dos entrevistados e dos participantes dos grupos de foco enunciam uma inquieta•‹o que diz respeito: a dar conta da demanda cada vez mais crescente de tarefas e desafios que requerem habilidades para produzir conteœdos sobre os mais diversificados temas, dirigidos e oferecidos a pœblicos, clientes, neg—cios diferentes, em diversos tipos de plataformas e de linguagens, em situa•‹o econ™mica e de trabalho pouco ou nada est‡velÓ.

Entre os fatores de estresse apontados est‹o baixos sal‡rios (de 77% a 93% dizem ganhar menos de R$ 6.000 por m•s) e longas jornadas Ð a maioria diz trabalhar na faixa de 10 horas por dia. A crise de paradigmas das ci•ncias e do jornalismo tambŽm mostra reflexos nos profissionais de imprensa. De 63% a 97% apontam que nos œltimos anos as mudan•as no trabalho foram de car‡ter tecnol—gico e nos processos e organiza•‹o do trabalho. O resultado, segundo os respondentes, s‹o quase

sempre percebidos como negativos: a maioria afirma que o ritmo de trabalho aumentou, que h‡ mais controle sobre o trabalho e que os n’veis de estresse pioraram. Uma das respostas que se mostrou mais preocupante na opini‹o de Roseli F’garo diz respeito ˆ rela•‹o entre vida pessoal e vida profissional. S‹o raros os jornalistas que afirmaram serem capazes de fazer planos de longo prazo: a maioria diz n‹o conseguir elaborar plano algum para a vida pessoal ou somente planeja o curto prazo. Quando questionados sobre do que mais sentem falta, os jornalistas responderam, prioritariamente: conhecimento de outras ‡reas afins ao jornalismo; conhecimentos tŽcnicos espec’ficos e atualizados; e mŽtodos de processo de trabalho adequados.

Tanto na pesquisa do Centro como nesta tese, os jornalistas/editores se queixam de pouco tempo para realizar atividades culturais Ð e mesmo para a vida familiar e afetiva. ÒO consumo cultural, a vida em fam’lia, as atividades culturais e de lazer s‹o bastante prejudicados pelo ritmo de trabalho dos jornalistas. Essa caracter’stica da vida pessoal parece n‹o ter se alterado para melhor, aprofundou-se a falta de tempo fora do trabalhoÓ, diz o estudo do Centro de Pesquisa em Comunica•‹o e Trabalho.

O estudo ouviu uma maioria de rep—rteres e assessores de imprensa, mas exclusivamente entre editores encontramos, no processo de pesquisa desta tese, um cen‡rio parecido. A ascens‹o profissional n‹o torna a vida dos editores mais f‡cil. Geralmente eles chegam ao cargo ap—s acumular razo‡vel experi•ncia como rep—rteres. S‹o raros os casos em que o profissional atinge o cargo de chefia sem uma viv•ncia bem sucedida como rep—rter Ð que frequentemente inclui est‡gios como correspondente internacional. O rep—rter que se destaca Ž oportunamente chamado para o cargo de editor Ð um cargo de confian•a atribu’do pelo diretor de reda•‹o.

Nesse ritual residem j‡ alguns pontos de atrito entre os pr—prios jornalistas. Elio Gaspari, veterano em reda•›es brasileiras, diz considerar um contrassenso altamente prejudicial que os melhores rep—rteres virem editores nas grandes reda•›es

do pa’s. Dessa maneira, afirma, perde-se o talento do rep—rter que est‡ afinado com os anseios da sociedade e Ž capaz de apurar matŽrias com rigor e isen•‹o sem que necessariamente se ganhe, em troca, um editor t‹o competente quanto o era como rep—rter. AlŽm disso, tradicionalmente os editores chegam ao cargo sem nenhum tipo de coach (treinamento ou mentoria) especial. S‹o promovidos e, repentinamente, passam ˆ dif’cil, e desconhecida, fun•‹o de gerentes de pessoas, motiva•›es, recursos, pautas. ÒVoc• acaba aprendendo na marraÓ, resume o secret‡rio de Reda•‹o do jornal Agora, Antonio Rocha Filho.

Carlos Graieb, da Veja e ex-editor no Estad‹o, conta uma hist—ria que ilustra o problema:

Ð Nos meus dias de Estad‹o eu conheci um rep—rter que foi posto na cadeira de editor para ganhar mais, ter mais responsabilidades, e que ficou infelic’ssimo por isso. Aquilo quase destruiu a vida dele. Ele n‹o era editor. Por isso Ž importante, inclusive, que as empresas tenham carreiras diferentes com os mesmos incentivos e mesmas remunera•›es, para que o cara que Ž bom rep—rter possa construir a sua carreira ao longo do tempo como rep—rter, sem que, para ter de ganhar mil reais a mais, tenha de virar editor.

A rotina desses profissionais come•a cedo, e o caso de Antonio Rocha Filho Ž emblem‡tico sob o ponto de vista da sobrecarga, da idade considerada avan•ada (nos termos precoces e exigentes da rotina jornal’stica), da elabora•‹o de um Òplano BÓ de carreira e do ressentimento pela escassez de tempo de dedica•‹o ˆ vida familiar e pessoal (vide a ’ntegra do depoimento nos Anexos).

Note-se que, nos depoimentos sobre a rotina dos editores, a internet Ž sempre citada como um elemento-chave que permeia praticamente todos os processos produtivos. Na vida de Antonio Rocha Filho, secret‡rio de Reda•‹o do jornal Agora, ela est‡ presente a todo instante.

Ð De segunda a quarta a rotina Ž: eu acordo 6h, quando minha casa come•a a funcionar. Meus filhos entram ˆs 7h na escola, e minha mulher tem que estar na

escola onde trabalha ˆs 7h, ent‹o quem leva eles sou eu. Acordo ˆs 6h independentemente da hora em que fui deitar. Deixo eles, volto, tento dormir um pouco, quando d‡. Levanto ˆs 9h, tomo meu cafŽ da manh‹, que Ž religioso, e leio os jornais que recebo em casa, o Agora, que Ž minha obriga•‹o ler, e a Folha. Isso me toma uma hora, uma hora e meia. Se tem algum erro grave eu j‡ ligo para o jornal para pedir medidas ou mando e-mail.

Ës quinta e sextas, conta, a rotina Ž mais dura: alŽm dos compromissos normais, leciona durante a manh‹ na gradua•‹o em Jornalismo da ESPM-SP.

O e-mail, e a internet, s‹o completamente integrados ˆ rotina do profissional. Cl‡udia Lima, em disserta•‹o de 2010 baseada na pesquisa realizada pelo CPCT, conclui que, dentre os entrevistados ˆ ocasi‹o, Òtodos, sem exce•‹o, afirmaram que a primeira atividade que fazem ao acordar ou ao chegar no escrit—rio Ž abrir os e-mails, inclusive para ler os jornais do dia. Ou seja, a internet est‡ totalmente integrada ao cotidiano dos profissionais de jornalismoÓ.120

Antonio Rocha Filho prossegue em seu relato:

Ð Na sequ•ncia eu olho as capas do concorrente na internet. A’ vem o cap’tulo e-mail. Se eu n‹o olhar de manh‹ eu me enrolo todo na hora que eu chego. Vejo tambŽm as not’cias nos sites, as redes sociais Ð que n‹o posso n‹o ver, tenho que ver. Eu aderi [ˆ rotina das redes sociais] h‡ pouco tempo, no meio do ano passado. Resisti muito tempo, justamente por ter um excesso de obriga•›es.

Antes do meio-dia, portanto, e muito antes do expediente come•ar formalmente (seu hor‡rio de entrada no jornal Ž ˆs 14h30), Antonio come•ou a trabalhar. Seja lendo o pr—prio jornal, seja analisando a concorr•ncia Ð ressaltando que, durante a leitura, se surgirem dœvidas ou insights de reportagem o profissional imediatamente aciona sua equipe Ð, seja checando e respondendo os e-mails.

No e-mail do jornalista chega de tudo: sugest›es de pautas de assessorias de imprensa, dœvidas de rep—rteres, retornos sobre pautas em andamento, geralmente das matŽrias especiais que ser‹o publicadas no fim de semana, questionamentos de

leitores, questionamentos e convites de fontes. Mas, como o editor tambŽm Ž gestor, e n‹o pode se dar ao luxo de se concentrar exclusivamente na atividade-fim de fazer jornalismo, tambŽm lhe chegam alertas e solicita•›es do departamento jur’dico, ocasionalmente ˆs voltas com processos e amea•as de processos. E consultas do departamento comercial, na eterna disputa por espa•o para vender publicidade. O departamento de marketing tambŽm aparece na caixa postal eletr™nica, sugerindo promo•›es ou convocando reuni›es para decidir estratŽgias. Seu chefe, diretor de reda•‹o, tambŽm fatalmente deixar‡ no e-mail do editor pedidos especiais, cobran•as de esclarecimentos sobre pautas que foram derrubadas ou executadas insatisfatoriamente, cr’ticas de diversas naturezas.

Ð A atualiza•‹o de e-mail Ž o tempo inteiro, n‹o posso deixar de acompanhar, Ž paran—ico. V•m as coisas mais diferentes durante o dia, atŽ of’cio da pol’cia pedindo representa•‹o de rep—rter Ð, ilustra Antonio Rocha Filho.

A rotina iniciada propriamente na Reda•‹o come•a, para os editores, entre o meio-dia e as 14 horas, dependendo das especificidades de suas ‡reas, e termina por volta das 22h ou 24h. Comp›e-se basicamente de reuni›es para definir as prioridades da cobertura do dia, contatos com fontes e com a dire•‹o do jornal, novas reuni›es para definir o que ser‡ efetivamente publicado e, enfim, as m‹os na massa: editar textos, aumentando-os ou cortando-os para que se ajustem ˆ p‡gina, pensar em t’tulos e fotos apropriados, redigir eventualmente chamadas de capa para os seus cadernos, tirar dœvidas com e de rep—rteres e orientar a angula•‹o de uma reportagem.

Mesmo no mais alto n’vel hier‡rquico a (o)press‹o do tempo e o acœmulo de tarefas se faz presente. Nesse sentido, a Reda•‹o Ž democr‡tica. Ricardo Gandour, diretor de conteœdo do Grupo Estado, diz acordar diariamente antes das 7h para levar os filhos ˆ escola. Assim como Antonio Rocha Filho, mostra que o hor‡rio de levar os filhos na escola Ž valioso e zelosamente aproveitado, j‡ que o tempo de conviv•ncia com a fam’lia Ž limitado pelas atribui•›es profissionais.

Ð Entre 6h30 e 7h eu levo meus filhos e das 7h ˆs 8h30 eu leio [os principais jornais] em casa. ƒ claro que o Estado eu j‡ li bastante na noite anterior, no fechamento. Ent‹o leio o concorrente e tomo meu cafŽ da manh‹. No banho, fazendo a barba, me aprontando, estou ouvindo r‡dio. Ës vezes de casa mesmo eu j‡ mando torpedos para a editora da r‡dio e para o editor-chefe do Estad‹o, antes da reuni‹o das 9h. O chefe de reportagem, que entra ˆs 7h30, faz uma reuni‹o ˆs 9h com os pauteiros. Nessa reuni‹o ˆs 9h todos os pauteiros j‡ analisaram suas editorias versus os concorrentes e versus a internet. Hoje Ž a internet que abre a reuni‹o. A reuni‹o j‡ Ž multim’dia. J‡ se fala em v’deo, ‡udio e interatividade na internet [enquanto s‹o ÔvendidasÕ as pautas do dia] Ð, conta Ricardo Gandour.

A internet mostra, novamente, estar totalmente integrada ao cotidiano dos jornalistas Ð e aos processos da reda•‹o.

Gandour chega ˆ sede do Grupo Estado ˆs 10h Ð hoje, diz, j‡ n‹o participa mais de nenhuma das tr•s principais reuni›es de conteœdo do dia, o que antes fazia diariamente. Durante a entrevista, checa o iPhone e aponta para o aparelho repetidas vezes: com o smartphone, l• e-mails, comunicados de editores, verifica os relat—rios produzidos ao tŽrmino de cada reuni‹o e mantŽm-se atualizado. Mesmo o desenho final da Primeira P‡gina do Estad‹o, diz, consegue acompanhar remotamente, pelo celular.

As redes sociais tambŽm v•m ganhando espa•o no trabalho dos jornalistas, e mesmo dos diretores de reda•‹o:

Ð Estou no Twitter e no Facebook, mas mais para observar, porque produzo pouco. No final da manh‹ o nosso editor de m’dias sociais circula um e-mail com os destaques das redes sociais da manh‹. Esse cargo existe h‡ um m•s, Ž muito novo Ð, conta Gandour.

AtŽ as 17h ele se informa sobre as not’cias do dia pelos relat—rios Ð os chamados Òpaut›esÓ Ð que saem das reuni›es de editores. Nesse per’odo n‹o est‡ diretamente envolvido nas reda•›es do grupo, pois Òtenho uma vida executiva, tenho

reuni›es de estratŽgia, tenho compromissos, reuni›es de planejamento, comit•s digitais, comit• de diretoriaÓ.

Ð Eu diria que ˆs 17h a minha vida executiva termina e eu mergulho no jornalismo de vez. Ao longo do dia estou sempre batendo papo com os editores, mas l‡ pelas 18h eu chamo a editora-chefe do Estad‹o na minha sala e ela vem explicar para mim o que est‹o pensando para a Primeira P‡gina. Eu recebo uma c—pia do rafe. A’ eu dou palpite.

A partir desse hor‡rio e atŽ o fechamento, o diretor de conteœdo do Grupo Estado dedica-se ao notici‡rio. L•, segundo diz, as 10 ou 20 matŽrias mais importantes do dia Ð e, claro, a Primeira P‡gina. ÒEm geral, ˆs 21h eu vou embora. Trabalho das 10h ˆs 21hÓ, afirma Gandour. Ao menos presencialmente na sede do jornal, pois a rela•‹o do jornalista com o trabalho Ž de envolvimento permanente.

Ð Via de regra vou dormir umas 23h30. Mas antes de dormir eu ligo para a Reda•‹o. ƒ a hora que fecha a [edi•‹o] S‹o Paulo. Pergunto se tem alguma novidade. Eu sempre ligo, n‹o sei dormir sem ligar.

O editor-executivo do principal concorrente do Estado, SŽrgio D‡vila, da Folha de S.Paulo, narra rotina semelhante Ð mas no seu caso a aus•ncia de filhos permite que inicie o dia mais tarde.

Ð Eu acordo entre 8h30 e 9h e a primeira coisa que eu fa•o Ž ler os principais jornais. Eu recebo em casa as edi•›es impressas da Folha, do Estado e do Globo. Eu leio e j‡ fa•o coment‡rios para o pessoal da manh‹, j‡ disparo e-mails e telefonemas. O dia de trabalho come•a efetivamente nesse momento, logo ao acordar. Eu tomo cafŽ fazendo isso. Ao mesmo tempo estou com o meu iPad ao lado e estou navegando na Folha e nos principais sites: New York Times, Financial Times, Guardian, Folha, Estado, Globo, Valor, CNN. Come•o a checar tambŽm as newsletters que assino.

Apesar de chegar ao jornal diariamente entre 11h e 12h, desde quando acorda D‡vila j‡ est‡ conectado. O fen™meno Ž recorrente e n‹o se restringe aos diretores de reda•‹o ou editores: todos os jornalistas, conforme detectou pesquisa do Centro de

Pesquisa em Comunica•‹o e Trabalho, vivenciam-no em alguma escala. Estar conectado em tempo integral, rapidamente localiz‡vel e acion‡vel e sempre por dentro das œltimas noticias, Ž uma demanda profissional que, apesar de antiga, encontrou na internet uma perfeita ferramenta de viabiliza•‹o (e de controle). Segundo Cl‡udia Lima121, Òn‹o h‡ dœvida de que a informatiza•‹o agilizou o processo de trabalho. Mas tambŽm intensificou os hor‡rios de fechamento e a press‹o sobre o jornalista, que hoje trabalha muito mais: ele se pauta, entrevista, escreve, fotografa e filma. Quem est‡ nas reda•›es v• o tempo e a equipe reduzidos, controlados e apenas o trabalho ampliado. E o profissional ainda precisa conhecer e manipular diversas m’dias, que surgem a cada dia, como Twitter, Podcast, You Tube e Flick, entre outrosÓ.

Sintomaticamente, a leitura e encaminhamento de e-mails Ž a tarefa que mais parece consumir tempo do editor-executivo da Folha de S.Paulo, que assim que chega ao jornal abre a caixa postal eletr™nica:

Ð Eu recebo uma mŽdia de 400 e-mails por dia, ent‹o isso me toma muito tempo. Eu tento responder os mais urgentes imediatamente e todas as sextas-feiras eu tento zerar a minha caixa de e-mails. S‹o e-mails da Reda•‹o, de fora da Reda•‹o, sugest›es, leitores e internautas reclamando Ð ˆs vezes diretamente, ˆs vezes pela ombudsman e pelo Painel do Leitor, que encaminham os mais relevantes.

O almo•o Ž reservado para reuni›es de trabalho Ò95% das vezesÓ, diz o jornalista, aproveitando a ocasi‹o para encontrar Òpol’ticos, empres‡rios, personalidades, lideran•as civisÓ, alŽm de Òfontes, economistas, jornalistasÓ.

Tanto no Estado de S.Paulo como na Folha de S.Paulo h‡ tr•s reuni›es di‡rias para discutir a pauta do dia. A primeira acontece ˆs 9h e reœne os pauteiros das diversas editorias do jornal e um representante da chefia (secret‡rio de reda•‹o ou chefe de reportagem) para discutir e sedimentar as apostas e prioridades do dia. A segunda reuni‹o, que acontece por volta do meio-dia, j‡ conta com a participa•‹o de editores ou de seus assistentes e faz a consolida•‹o das apostas que se mostraram

mais s—lidas e das pautas que foram caindo ao longo da manh‹ Ð sempre acrescentando assuntos novos ao card‡pio conforme as not’cias v‹o surgindo. Na œltima reuni‹o, ˆs 16h, define-se a manchete do jornal e dos cadernos e os temas priorit‡rios para a Primeira P‡gina do jornal.

SŽrgio D‡vila, editor-executivo da Folha de S.Paulo, participa atualmente apenas da terceira Ð e decisiva Ð reuni‹o do dia. ÒDas 15h ˆs 16h eu fa•o de novo essa ronda de e-mail, numa vers‹o mais compactaÓ. E prossegue:

Ð Na reuni‹o das 16h a gente faz alguma corre•‹o de rumo na Folha.com e definimos o que vai ser a Primeira P‡gina do jornal no dia seguinte. Depois disso eu fa•o mais uma rodada disso [checagem de emails] das 18h ˆs 19h. Ës 19h eu vou para a Primeira P‡gina. E a’, geralmente, em condi•›es normais de temperatura e press‹o, eu saio do jornal ˆs 22h Ð, conta D‡vila.

Ð Das 22h ˆ meia-noite eu continuo ˆ disposi•‹o, respondendo e-mails. Entre 23h e 24h eu aprovo a capa da edi•‹o S‹o Paulo; recebo o PDF por e-mail. Come•o a me desligar do jornal ˆ meia-noite. A partir da’ s— se tiver alguma emerg•ncia. Entre 1h e 2h dou uma œltima checada nos e-mails e Ž a hora que eu durmo.

A primeira e a œltima a•‹o do dia Ž a checagem de e-mails. A ferramenta aparece definitivamente integrada ˆ rotina dos jornalistas, ao lado dos navegadores de internet constantemente sintonizados nos principais sites de not’cias do mundo. Como afirma Antonio Rocha Filho, a consulta aos e-mails ÒŽ uma obsess‹oÓ de todo editor na atualidade.

Se ˆ primeira vista a agilidade e portabilidade da internet, ao colocar on-line acervos de bibliotecas e peri—dicos inteiros, milh›es de biografias, bases de dados e canais de contato com a sociedade, parecia que tornaria o trabalho dos editores mais f‡cil, um olhar mais atento revela que n‹o apenas a carga hor‡ria cresceu: tambŽm a complexidade da fun•‹o foi aumentada. ƒ ponto pac’fico entre os editores a constata•‹o de que, com a internet ˆs m‹os, trabalha-se mais.

Ð Hoje eu trabalho mais porque trabalho quase 24 horas por dia. Mesmo quando estou em casa, ou no fim de semana, eu n‹o posso deixar de ver meus e-mails. Sen‹o chega na segunda-feira e eu vou ter 500 para olhar. ƒ atŽ obsessivo da minha parte, e eu n‹o posso deixar passar, porque se eu deixo passar isso se volta contra