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1. Estudo linguístico-literário Gn12,14a-18b

2.2 O Faraó

No Egito dos faraós207, o Faraó era o responsável de manter a unidade do Estado. Ele deveria ser uma pessoa de pulso forte e de grande prestigio. O Faraó não era, e não podia ser um símbolo ornamental, mas um homem de capacidades excepcionais. Era educado pelos melhores mestres e nobres, os quais podiam chegar a fazer parte da grande família da corte, através do matrimônio de uma de suas irmãs com o Faraó208.

O governo dos faraós era essencialmente teocrático. O Faraó era tido como um deus209, „o bom deus‟, a encarnação de Horus210 triunfante sobre os inimigos. Ele era a

máxima autoridade civil e religiosa, pois além de ser tido como deus, cabia ao mesmo oferecer sacrifícios aos deuses, embora fosse intermediado por sacerdotes. Em linguagem alegórica, o Faraó era comparado ao sol. Sendo assim, seu palácio é o „horizonte‟, e portanto

206 Cf. MELLA, Frederico A. Arborio. O Egito dos Faraós: história, civilização, cultura. 3. ed. São Paulo:

HEMUS, 1998, p. 99-104; AMENTA, Alessia. Il Faraone. Uomo, sacerdote, dio. Roma: Salerno editrice, 2006; HORNUNG, Enrik. O Rei. In: DONADONI, Sergio (Dir.). O homem egípcio. Lisboa: Presença, 1994, p. 237- 263; SCHIMDT, Werner H. A fé do Antigo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 2004, p. 273, 281, 290-291; SEDIGRAF, Blevio (Coord). Faraoni. Firenze: Demetra, 2002, p. 7-26; HAMILTON, Victor P. h[{r.P;. In: DITAT, 1998, p. 1239.

207 3100 aC à 30 dC.

208 Cf. MELLA, Frederico A. Arborio. O Egito dos Faraós, 1998, p. 99.

209 Cf. BAKOS, Margaret Marchiori. Fatos e mitos do Antigo Egito. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1994, p. 55-56. 62. 210 Segundo a lenda, „no começo‟ não existia nada, somente NUN, o oceano primordial, no qual surgiu uma

montanha e, nela o deus ATUN, o completo e auto criado. De seu sêmen ATUN criou o deus SHU, a atmosfera, e sua mulher, a deusa TEFNUT, a umidade. SHU e TEFNUT deu à luz GEB, a terra, e NUT, o céu. GEB e NUT tornaram - se pais de OSÍRIS e sua mulher ISIS, bem como de SETH e sua mulher, NÉFTIS. SETH tinha inveja das boas criações de OSÍRIS, relacionadas à produção agrícola. Então SETH assassinou OSÍRIS, seu irmão, e espalhou os membros de seu corpo em diversas partes do Egito. Entretanto ISIS, irmã dos dois e mulher de OSÍRIS conseguiu reunir os pedaços, reconstruindo o corpo do marido e dele concebeu um filho – HORUS. HORUS cresceu e lutou com seu tio, SETH, e mesmo perdendo um olho terminou por vencer e foi escolhido por um tribunal de deuses para governar o Egito. Vitorioso, HORUS passou a representar o rei vivo e a ser identificado com o falcão, que significa o Céu. O olho saudável era o sol; o olho ferido a lua. HORUS possuía a MAAT, personificada por uma deusa que segurava uma pena, significando a verdade, o equilíbrio e a justiça, qualidades constitutivas de um Faraó: o deus vivo. Cf. BAKOS, Margaret Marchiori. Fatos e mitos do Antigo Egito, 1994, p. 54; MELLA, Frederico A. Arborio. O Egito dos Faraós, 1998, p. 99.

quando o Faraó se mostra, „nasce‟, quando morre, „se põe‟. O palácio do faraó era a morada do rei-deus, mas também sede de todos os centros administrativos do país211.

Desde jovem, o Faraó assumia cargos elevados a fim de conhecer os segredos da administração e do governo. Era ele quem construía os templos, enfrentava as guerras, não seus arquitetos ou generais. Ao subir ao trono, era o soberano absoluto. Seu poder dependia do tesouro do qual podia dispor, por isso, para valorizá-lo, organizava continuamente expedições em busca de minérios.

O nome Faraó deriva justamente do nome de seu palácio que se chamava Phar-o, a „Grande Casa Dupla‟. Mais tarde, os hebreus atribuíram-lhe este nome como sendo a referência ao rei do Egito. No palácio, além de todas as sedes administrativas, havia grandes armazéns, o departamento dos guardas dos reis, os aposentos das rainhas e princesas e o harém. O harém por vezes, era um lugar turbulento e perigoso, visto que, na ausência de herdeiros diretos, os filhos do harém tinham direito ao trono; em tal caso, entre as mães surgiam lutas, conspirações e atentados à vida do mais legítimo herdeiro e até mesmo do Faraó.

O rei soberano e deus tinha que esposar uma princesa de sangue divino, visto que nenhuma outra poderia tê-lo tão divino quanto sua irmã, os matrimônios entre meio - irmãos eram frequentes212. Por razões diplomáticas podia casar-se igualmente com outras princesas, mesmo estrangeiras, que estivessem na corte com categoria de rainhas, mas que não tivessem nenhum poder político. Enquanto vivesse, a rainha legítima era a primeira mulher, ou seja, a mãe do primeiro filho do rei, „aquele que via Horus‟, que acompanhava o rei nas cerimônias e assumia a regência em nome de seu filho, sendo ele menor de idade. Caso não houvesse um

211 Cf. PLUMLEY, J. Martin. Egito. In: METZEGER, Bruce M. – COOGAN, Michael D. (Orgs.). Dicionário da

Bíblia Vol.1, 2002, p. 66-69.

212 Eisenberg diz que: “na época em que os hebreus viveram no Egito, de Tão II e Tutmoses IV, conta-se pelo

menos oito faraós que desposaram suas irmãs. A prática foi constante. Mesmo no fim da época bíblica, na dinastia de Ptolomeu, sete soberanos entre treze se casam com suas irmãs ou meia-irmãs, das quais a mais famosa é Cleópatra”. Cf. EISENBERG, Josy. A Mulher no tempo da Bíblia, 1997, p. 141-145.

herdeiro masculino, bastava uma princesa real se desposar com um nobre e este assumia os poderes e atributos completos do Faraó.

Nessas poucas linhas é possível colher flashes do que está nas entrelinhas do texto. Sendo o Faraó um deus poderoso, o que podia um casal de migrante, vulnerável à fome em busca de refúgio e proteção, contra um deus tão respeitável, forte e que traz prosperidade e proteção ao seu povo?