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TÍTULO II – A TUTELA LEGAL DO IDOSO

1.3 O idoso e os direitos políticos

No que tange aos direitos políticos dos idosos, a primeira observação a se fazer é o voto facultativo para os maiores de 70 anos, nos termos do artigo 14, II, b, da Carta Magna. O critério adotado pelo legislador constitucional foi o que já estava previsto no

94 PIZZOLATO, Filippo. A fraternidade no ordenamento jurídico italiano. In: BAGGIO, Antônio Maria

(Org.). O princípio esquecido: a fraternidade na reflexão atual das ciências políticas. Tradução de Durval Cordas, Iolanda Gaspar, José Maria de Almeida. Vargem Grande Paulista: Cidade Nova, 2008. p. 119-120.

artigo 6.º do Código Eleitoral (Lei 4.737/1965) que dispensa o alistamento eleitoral dos maiores de 70 anos.

Conforme abordado anteriormente, o legislador constitucional não definiu o critério a ser adotado para conceituar idoso, tema que só foi sedimentado quando da edição do Estatuto do Idoso em 2003, estabelecendo-se que idosa é a pessoa que possui 60 anos ou mais.

Veja-se, então, que já existe em nosso ordenamento uma diferenciação entre os idosos, dependendo de sua faixa etária. Apesar de acidental (já que a Constituição foi editada antes do Estatuto do Idoso), começamos a ver em nosso ordenamento uma diferenciação e classificação entre os idosos. O Congresso Nacional poderia ter alterado o dispositivo constitucional depois da edição do Estatuto, reduzindo a idade a partir da qual o voto é facultativo, mas assim não o fez e preferiu manter a facultatividade a partir dos 70 anos.

Conforme antes mencionado, em um país com tamanha desigualdade como o nosso e com a falta de acessibilidade para os idosos e portadores de necessidades especiais, entende-se que a obrigatoriedade do voto até os 70 anos é abusiva, mesmo considerando a intenção do legislador em garantir que os idosos participem da vida política e sejam parte da sociedade em que vivem escolhendo seus representantes por meio do voto.

Nos termos do artigo 143 do Código Eleitoral, os eleitores de idade avançada têm preferência na hora de votar.

O artigo 77, § 5.º, que trata da eleição do Presidente e Vice-Presidente da República, preconiza que, em caso de remanescer em segundo lugar, mais de um candidato com a mesma votação, o critério de desempate será pela qualificação do “mais idoso”.96

96 A adoção do critério etário para dirimir embates é vista no Brasil desde a Constituição de 1824:

“Art. 123. Se o Imperador não tiver Parente algum, que reuna estas qualidades, será o Imperio governado por uma Regencia permanente, nomeada pela Assembléa Geral, composta de tres Membros, dos quaes o mais velho em idade será o Presidente”.

Já na Constituição de 1891, no artigo 47 do texto constitucional e no artigo 1.º das disposições transitórias:

Tal dispositivo, assim como todos os demais infraconstitucionais97 no mesmo sentido, não possuem um viés protetivo ao idoso, e sim uma presunção fictícia de que o mais idoso será o mais sábio e o mais preparado para eventualmente ocupar o cargo, e por isso o critério etário foi o escolhido pela Constituição para desempate entre candidatos. Claro que há uma proteção indireta ao candidato com mais idade, mas o espírito do Constituinte nesse dispositivo foi a proteção da sociedade e a adoção de um critério que atendesse melhor seus interesses.98

“Art 47. O Presidente e o Vice-Presidente da República serão eleitos por sufrágio direto da Nação e maioria absoluta de votos.

[...]

§ 2.º Se nenhum dos votados houver alcançado maioria absoluta, o Congresso elegerá, por maioria dos votos presentes, um, dentre os que tiverem alcançado as duas votações mais elevadas na eleição direta. Em caso de empate considerar-se-á eleito o mais velho.

Art. 1.º Promulgada esta Constituição, o Congresso, reunido em assembleia geral, elegerá em seguida, por maioria absoluta de votos, na primeira votação, e, se nenhum candidato a obtiver, por maioria relativa na segunda, o Presidente e o Vice-Presidente dos Estados Unidos do Brasil.

§ 7.º Em caso de empate, considerar-se-ão favorecidos os mais velhos, decidindo-se por sorteio quando a idade for igual”.

A disposição se repete em todas as Constituições seguintes.

97 Como exemplo, a Lei Complementar 75, que trata dos critérios de desempate para promoção no

Ministério Público:

“Art. 202, § 3.º O desempate na classificação por antiguidade será determinado, sucessivamente, pelo tempo de serviço na respectiva carreira do Ministério Público da União, pelo tempo de serviço público federal, pelo tempo de serviço público em geral e pela idade dos candidatos, em favor do mais idoso; na classificação inicial, o primeiro desempate será determinado pela classificação no concurso”.

98 Veja-se que o bem tutelado é totalmente distinto no dispositivo constitucional que trata da preferência

do candidato mais idoso (que às vezes pode nem ser idoso) em caso de empate na eleição presidencial e a tutela garantida pelo Estatuto do Idoso, no artigo 27, que trata que o primeiro critério de desempate em concurso público será a idade. Nesse caso, a tutela é voltada para o idoso, e não no que é melhor para a coletividade tal como ocorre no dispositivo constitucional.

Nesse sentido:

“Trata-se de mandado de segurança, com pedido de medida liminar, impetrado por José Carlos Fratti, idoso de 73 anos, contra ato do Conselho Nacional de Justiça que negou a aplicação da Lei 10.741/2003, denominada Estatuto do Idoso, nos autos do Procedimento de Controle Administrativo 0005168-90.2012.2.00.0000 para afastar o impetrante do 6.º Ofício de Protestos de Títulos de Curitiba, onde exerce atividade, por concurso público, há mais de 2 (dois) anos. Na espécie, o CNJ negou a aplicação do Estatuto do Idoso e decidiu que o critério etário de desempate utilizado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, consubstanciado na ‘maior idade’, não seria o mais adequado, assentando que o critério ‘maior tempo de serviço público’ deve ser adotado, com base na Lei Estadual 14.594/2004. Alega o impetrante, em síntese, que tal decisão colide com a Constituição, com o Estatuto do Idoso, com a orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal e, paradoxalmente, com decisões administrativas do próprio Conselho Nacional de Justiça (PCA 0001518-69.2011.8.00.0000, de 06.05.2001). Aduz, mais, que exerce regulamente suas atividades à frente do 6.º Protesto de Títulos de Curitiba há mais de dois anos, por concurso público e designação unânime do Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Paraná, e do Presidente daquela Corte, Desembargador Guilherme Luiz Gomes, tendo contratado pessoal e implantado reformas e melhorias no local. Sustenta, ainda, que teve de deixar sua serventia de origem, no Município de Maringá, a qual inclusive já está disponibilizada em concurso público. Por essas razões, pede o deferimento da liminar para suspender os efeitos do ato impugnado e, no mérito, pela concessão da segurança. É o breve relatório. Decido. Como se sabe, o art. 27, parágrafo único, da Lei 10.741, de 2003, denominada