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PARTE I – O IDOSO

CAPÍTULO 4 O IDOSO EM NÚMEROS E OS IMPACTOS SOCIAIS E

Durante o século XX, o estudo da velhice se expandiu em razão do aumento do número de idosos em todo o mundo.

Segundo Elisabeth de Freitas, o século XX foi o século do crescimento populacional, e o século XXI será o século do envelhecimento populacional.64 Isso significa, sem dúvida, uma conquista, pois o envelhecimento da população reflete uma melhora na sua qualidade de vida.

Em 2000, uma a cada dez pessoas da população mundial tinha mais de 60 anos;65 para 2050, a estimativa é que uma a cada cinco pessoas tenha mais de 60 anos. Retratando em números, estima-se que de seiscentos milhões de idosos serão dois bilhões em todo o mundo.66 Ainda de acordo com a mesma fonte, no mundo inteiro, haverá mais pessoas acima dos 60 anos do que menores de 15 anos.

O Brasil tem passado por um intenso processo de envelhecimento populacional. Em 2005, o número de indivíduos com mais de 60 anos no nosso país, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ultrapassava 18 milhões, equivalente à época a 10% da população nacional.67 Em 2012, a população idosa atingiu 23,5% da população nacional, mostrando o aumento na expectativa e na qualidade de vida também.68

64 FREITAS, Elisabeth V. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: GEN-Koogan, 2011. p.

58.

65 Hoje já se fala que uma em cada nove pessoas possui mais de 60 anos (Disponível em:

<http://www.sdh.gov.br/assuntos/pessoa-idosa/dados-estatisticos>. Acesso em: 21 maio 2015).

66 IBGE, 2002.

67 Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento 2002. Disponível em:

<http://www.sdh.gov.br/assuntos/pessoa-idosa/programas/pdf/plano-de-acao-para-o-enfrentamento- da-violencia-contra-pessoa-idosa>.

68 Disponível em: <http://www.sdh.gov.br/assuntos/pessoa-idosa/dados-

A tendência de envelhecimento da população brasileira cristalizou-se mais uma vez na nova pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os

idosos – pessoas com mais de 60 anos – somam 23,5 milhões dos brasileiros, mais que

o dobro do registrado em 1991, quando a faixa etária contabilizava 10,7 milhões de pessoas. Na comparação entre 2009 (última pesquisa divulgada) e 2011, o grupo aumentou 7,6%, ou seja, mais 1,8 milhão de pessoas. Há dois anos, eram 21,7 milhões de pessoas.

Ao mesmo tempo, o número de crianças de até quatro anos no país caiu de 16,3 milhões, em 2000, para 13,3 milhões, em 2011.

Evolução da Pirâmide Etária no Brasil69

Importa observar também que o processo de envelhecimento da população brasileira é um dos mais rápidos do mundo e representa um grande desafio às políticas públicas e ciências da saúde.70 O Brasil deixará de ser um país jovem e assumirá feições de um país que está envelhecendo.

A humanidade, de modo geral, acrescentou 29 anos à sua expectativa de vida, e isso é “a maior conquista do século XX e o maior desafio do século XXI”.71

O grupo de idosos que cresce mais rapidamente é o dos anciãos, ou seja, que têm 75 a 90 anos de idade. No ano 2000, seu número chegava a 70 milhões em todo o mundo, e se projeta que nos próximos 50 anos essa cifra aumentará mais de cinco

vezes.72

69 CARVALHO, J. A. M.; WONG, L. R. A transição da estrutura etária da população brasileira na

primeira metade do século XXI. Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, n. 24, v. 3, p. 597-605, mar. 2008.

70 FREITAS, Elisabeth V. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: GEN-Koogan, 2011. p.

58.

71 KALACHE, Alexandre. Um mundo mais velho. Veja, 6 jul. 2005 (citado em Revista de Previdência

Social, São Paulo, n. 300, nov. 2005).

72 Dados obtidos no sítio eletrônico da ONU. Disponível em:

O que se verifica é que em alguns países a chamada transição demográfica foi lenta e gradual, ao passo que em outras sociedades seu início é recente e o crescimento bem rápido, o que torna a transição mais traumática, com pouco tempo para adaptação e incorporação dessa nova realidade com a adoção das medidas cabíveis para essa tutela, que é justamente o caso do Brasil.

Isso representa uma verdadeira revolução, porém traz outros problemas: afinal, não importa só viver mais anos, mas viver bem. E isso significa preservar as capacidades físicas e mentais para aproveitar plenamente o período da velhice.

Diante da relevância do tema, a perspectiva de crescimento dos idosos foi tema de um plano de ação mundial, o Plano Internacional sobre Envelhecimento celebrado em 2002 em Madrid, que assim previu em seu artigo 2.º:

Artigo 2.º Celebramos o aumento da expectativa de vida em muitas regiões do mundo como uma das maiores conquistas da humanidade. Reconhecemos que o mundo está passando por uma transformação demográfica sem precedentes e que daqui a 2050, o número de pessoas acima de 60 anos aumentará de 600 milhões a quase 2 bilhões, e se prevê a duplicação do percentual de pessoas de 60 anos ou mais, passando de 10% para 21%. Esse incremento será maior e mais rápido nos países em desenvolvimento, onde se prevê que a população idosa se multiplique por quatro nos próximos 50 anos. Essa transformação demográfica apresentará para toda a sociedade o desafio de aumentar as oportunidades das pessoas, particularmente as oportunidades de os idosos aproveitarem ao máximo suas capacidades de participação em todos os aspectos da vida.

A preocupação, já em 2002, era a de dar conta desse enorme contingente de pessoas nessa classe e preparar os Estados para os impactos sociais e econômicos do aumento da expectativa de vida e dos gastos do Estado com essa classe, que indubitavelmente é das mais custosas, especialmente em matéria de saúde, tema que será tratado oportunamente.

O Censo de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), demonstrou um crescimento na participação relativa da população

com 65 anos ou mais, que era de 4,8% em 1991, passando a 5,9% em 2000 e chegando a 7,4% em 2010.73

A tendência é que o número de idosos, assim como a expectativa de vida, continue a crescer no Brasil e no mundo, e claramente diversas medidas pelo Poder Público serão necessárias a fim de tornar esse grupo de pessoas cada vez mais ativo, menos dependente e mais longe de ser um fardo para sociedade.

No plano jurídico, tem-se que estabelecer que as normas protetivas sejam destinadas aos mais necessitados. Toda a legislação, que será abordada no próximo capítulo, foi essencialmente pensada para os idosos carentes de recurso, o que não exclui a tutela dos mais abonados.74 Envelhecer bem no Brasil tem que ser um privilégio de todos, e não somente de alguns.

A questão da acessibilidade, tanto para os idosos quanto para os portadores de deficiências, também deverá ser levada em consideração nos impactos. Uma sociedade mais velha precisa de mais mecanismos de acesso a todo esse contingente da terceira idade.75

As políticas de vacinação e da tutela da saúde dos idosos também tornaram maiores os custos para o Estado, já que o prolongamento da vida reflete o aumento do tempo de utilização dos serviços públicos. Isso sem contar o impacto da Previdência Social e a crise vista hoje, tema que será abordado oportunamente em capítulo específico, mas que sem dúvida gera um impacto econômico relevante para a sociedade como um todo.

73 Disponível em: <http://censo2010.ibge.gov.br/resultados>. Acesso em: 9 set. 2015.

74 LEITE, Celso Barroso. Estatuto do Idoso: em direção a uma sociedade para todas as idades? Revista

de Previdência Social, São Paulo, ano 29, n. 300, nov. 2005.

75 Adriana Romeiro de Almeida Prado bem observa que, “Dentro do cenário das políticas públicas, é

preciso introduzir a política da acessibilidade; não é possível pensar em uma cidade que não se proponha a rever seus planejamentos discutindo programas/ações com metas para facilitar a circulação, a interação, promovendo a inclusão das pessoas com deficiências e aquelas com mobilidade reduzida, que por conta de alguma limitação temporária ou da idade se veem limitadas”. A autora ainda coloca que na Suécia não se fabricam mais portas com 60 cm de largura, tamanho incompatível com as cadeiras de rodas produzidas hoje no mundo, e que esse é um exemplo de política a ser adotada a fim de garantir a inclusão social dos idosos e portadores de deficiência (PRADO, Adriana Romeiro de Almeida. Acessibilidade na gestão da cidade. In: ARAÚJO, Luiz Alberto David (Coord.). Defesa das pessoas portadoras de deficiência. São Paulo: RT, 2006).

O idoso da contemporaneidade reflete olhares e perspectivas de análise social, que estão pautados dentro da categoria trabalho. É por meio do trabalho que o homem se torna sujeito social, contribuindo para a construção da sociedade e de si próprio. Segundo Marx “a sociedade, assim como a característica fundamental do homem, está no trabalho. É do e pelo trabalho que o homem se faz homem, constrói a sociedade, é pelo trabalho que o homem transforma a sociedade e faz a história”.

Vivemos, de fato, uma fase de transição entre o pensamento antigo, em que o idoso era totalmente improdutivo, e o reconhecimento da necessidade de idosos ativos. Claro que eventualmente os idosos serão improdutivos (mormente quando estiverem perto do fim da vida), mas, conforme já se demonstrou, é necessário garantir tratamento compatível com a condição humana, considerada a desigualdade de cada um.

O Estado não pode arcar com o fardo de garantir exagerados benefícios àqueles idosos plenamente ativos, assim como não pode deixar desamparado aquele que precise de proteção. Insiste-se, pois, que em uma sociedade avançada o enquadramento de uma pessoa como idosa não pode depender apenas de um critério etário, o que se mostra insatisfatório para um real reconhecimento de pessoas como idosas.

Com o aumento da expectativa de vida, diversos impactos econômicos serão observados no que tange à tutela dos idosos, e, por isso, as políticas públicas precisarão se adequar às necessidades específicas de cada grupo de pessoas, caminhando, inevitavelmente, para a subdivisão da categoria “idosos”, uma vez que pessoas com 60 e 100 anos certamente merecem tratamento diferenciado.