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O Jornal de Notícias: importante espaço para o jornalismo literário

3. O PERIODISMO E A CONSOLIDAÇÃO DA "CLASSE" INTELECTUAL:

3.3 O Jornal de Notícias: importante espaço para o jornalismo literário

O Jornal de Notícias existiu entre os anos de 1879 e 1920. Foi espaço de permutas entre jornalismo e literatura através da publicação de folhetins, da divulgação de palestras pronunciadas originalmente no IGHB e, em muitos casos, serviu como porta de entrada de escritores no jornalismo baiano, seja como colaboradores ou como redatores.

O Jornal de Notícias teve como inspiração o Diário de Notícias, nascido antes dele e fundado pelo português Manoel Lopes da Silva, que visava instalar a imprensa "noticiosa" na Bahia, tendo como modelo o Diário de Notícias de Lisboa (CARVALHO FILHO, 2008). Os artigos editoriais do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias vinham, ordinariamente, nas colunas de abertura de ambas as folhas, assim como as sessões humorísticas Na Flauta, de Zé Gongolim (Antonio H. de Casais), do Diário de Notícias, e Cantando e Rindo, de Lulu Parola (Aloísio de Carvalho), do Jornal de Notícias, onde se encontravam notas críticas sob o

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Da Rua da Preguiça para o Areal de Cima, depois Rua do Sodré. Por duas vezes na Rua Carlos Gomes, depois para a Rua Almeida Couto, próxima à Avenida Joana Angélica.

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Termo que sintetiza o papel proeminente dos literatos na imprensa brasileira a partir de 1870 até as duas primeiras décadas do século XX.

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Acesso aos próprios exemplares do Jornal de Notícias, dados contidos nos escorços biográficos dos escritores estudados, permutas entre este periódico e o Instituto Geográfico Histórico da Bahia.

disfarce descompromissado do riso. Segundo o próprio Aloísio de Carvalho, graças à permanência dessa seção de versos, a Cantando e Rindo, editada por 6.708 dias, foi na Bahia que por mais tempo se manteve uma coluna de versos em gazeta no Brasil (CARVALHO, 2008) 48. De acordo com Calmon (1949), as poesias diárias escritas no "Cantando e Rindo" por Aloísio de Carvalho, mais conhecido como Lulu Parola, entre 1891 e 1916, possuíam um tom humorístico que contrastava com o teor austero do Jornal de Notícias.

O mesmo público que nutria interesse pelas colunas bem-humoradas e pelas notícias tinha paixão pelos folhetins, que ocupavam um espaço importante no periódico em questão. Em janeiro de 1913, os exemplares do Jornal de Notícias possuíam 12 páginas. Em um mesmo exemplar chegaram a ser publicados, simultaneamente, dois folhetins, um tomando toda a parte inferior da primeira página, O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, e outro intitulado Angústias (de autoria não encontrada), apresentado na última folha — a frente na parte inferior da 11ª página e o verso na 12ª página.

Ao final de um folhetim ficava sempre a dúvida em relação ao seu sucessor. Prevalecia o critério de que fosse uma leitura ora para moças, ora para o povo. No primeiro caso, a reserva se justificava pelo fato de que as moças, por normas rotineiras de educação, não tinham acesso livre a todas as obras. No segundo caso, a reserva era merecida pelo fato de que o povo, com o vintém ou o tostão do jornal, passava a ter contato com obras que, devido ao elevado preço, não leriam de outra maneira (CARVALHO FILHO, 2008). Os folhetins eram obras-primas da novelística universal ou, por vezes, criações da terra, como o romance Abigail, da escritora Anna Ribeiro Bittencourt, publicado em 1921 pelo Diário da Bahia, cujo diretor, à época, era Clemente Mariani.

Como foi visto, o Jornal de Notícias foi a porta de entrada no jornalismo para o escritor Xavier Marques quando, em 1885, ocupou a vaga de redator deixada por João Augusto Neiva, permanecendo neste periódico até 1891. Foi também pelo Jornal de Notícias que Silva Lima e Manuel Querino fizeram publicar, respectivamente, as memórias intituladas A Bahia de Há 66 Anos e a série de crônicas A Bahia de Outrora. Segundo Athayde Pereira (1932), o Jornal de Notícias era também a "folha oficial das tertúlias literárias" realizadas pelo

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Carvalho, Aloísio de. A Imprensa na Bahia em 100 anos. In: Tavares, Luís Guilherme Pontes (org). (2008) Apontamentos para a História da imprensa na Bahia. 2ª ed. Salvador: Academia de Letras da Bahia. Publicado originalmente no Diário Oficial do Estado da Bahia, edição comemorativa do centenário da Independência da Bahia, 02 de julho de 1923.

Aloísio de Carvalho, conhecido como Lulu Parola, nasceu em 1866; foi aluno da primeira turma da Faculdade Livre de Direito, fundada em 1891; foi editor do Jornal de Notícias; morreu em 1942, jornalista até os últimos dias em A Tarde.

Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e intituladas "Palestras", instituídas em 1912 e iniciadas em 1º de maio. Por este meio, foram publicados os trabalhos A Bahia e a Campanha do Paraguai, de Manuel Querino, em 03 de maio de 1913 — anexado em 1916 à publicação em livro da série A Bahia de Outrora — e As Relíquias do Padre Anchieta, de autoria de Xavier Marques, em 06 de novembro de 1913.

A forte ligação entre integrantes da intelectualidade baiana, via de regra sócios do IGHB, e o jornal liderado por Aloísio de Carvalho — editor e proprietário do Jornal de Notícias que se imortalizou como Lulu Parola, epíteto com o qual assinava a coluna humorística em versos Cantando e Rindo — reforça a hipótese de que este pode ter sido o periódico de Salvador mais aberto às produções de caráter literário e sociológico.

Coincidência ou não, esta folha diária, que deu forte destaque à produção dos intelectuais baianos e os abrigou como escritores profissionais, é justamente a primeira, entre as folhas de maior circulação, a fechar devido às dificuldades impostas pela modernização da imprensa, ficando atrás de outros periódicos — Diário da Bahia, Diário de Notícias e os mais recentes A Tarde, O Imparcial e O Democrata, lançados já no século XX. É curioso notar que estas mudanças foram as mesmas que atingiram em cheio os intelectuais que, obtendo destaque com a atuação nas campanhas abolicionistas e republicanas, lograram fundar no Brasil a profissão de escritor. A modernização gradativa da imprensa levaria à substituição do literato pelo jornalista, versado em técnicas específicas de redação.

Este tema é abordado por Aloísio de Carvalho, ao ser convidado pelo Diário Oficial do Estado da Bahia para escrever sobre a história da imprensa baiana nos cem anos transcorridos após a independência — artigo publicado em edição comemorativa ao centenário da emancipação política na Bahia, em 02 de julho de 1923. Com certo pesar, o popular Lulu Parola narra as inovações sucessivas no maquinário, às quais tiveram que se adaptar as folhas baianas: das "máquinas rotativas à estereotipia, à clicherie, ao linotipo" (CARVALHO, 2008, p. 56). O Jornal de Notícias— que chegou a publicar edições diárias com 16 páginas, possivelmente as maiores já publicadas na Bahia até 1923, excetuando-se os números especiais (CARVALHO, 2008) — não conseguiu atravessar esta fase de modernização e alcançar as máquinas linotipos mais aperfeiçoadas. Em 1923, apenas dois periódicos possuíam tal maquinário no Estado, o Diário Oficial e A Tarde. Não obstante, durante a segunda década do século XX, foram notáveis as tentativas de modernização no Jornal de Notícias, tanto em termos gráficos quanto em termos de conteúdo.

De 1900 a 1914, os exemplares deste periódico mantiveram um padrão constante no que se refere ao conteúdo veiculado: as notícias produzidas pela edição e a coluna editorial dividiam espaço com artigos de colaboradores diversos, pertencentes à elite letrada da cidade, que tratavam de temas relativos às suas atividades profissionais, e comentários opinativos sobre política e fatos do dia. Órgãos governamentais, educacionais, companhias de serviços públicos também utilizavam os jornais para mandar avisos à população, publicados geralmente da segunda página em diante. Todos os tipos de associações, desde o IGHB aos blocos carnavalescos, utilizavam os jornais para divulgação das suas atividades. Reportagens, notícias, entrevistas e outras modalidades textuais, características do jornalismo moderno profissionalizado, que se desenvolve no século XX, não eram ainda constantes.

Em alguns exemplares do Jornal de Notícias do período entre 1900 e 1914, os artigos escritos por colaboradores e correspondentes ocupavam mais espaço que as notícias produzidas pela redação. O jornalismo tinha um teor opinativo, por vezes doutrinário, como indicavam os tradicionais artigos de fundo que corresponderiam hoje aos editoriais, e resumiam a opinião do jornal sobre temas da atualidade que moviam outras colunas do mesmo número do diário.

Mudanças nesse formato são percebidas no Jornal de Notícias a partir de Agosto de 1914, quando a cobertura da guerra na Europa passa a ocupar toda a primeira folha do jornal com textos informativos. Ilustrações, fotos e clichês, antes raros, passam a constar em todas as edições. As notícias são então um ensejo à descoberta das cidades europeias envolvidas no conflito, cujas características geográficas e históricas são abordadas. Fotos das cidades envolvidas na Primeira Guerra passam a ser exibidas, despertando interesse não só pela batalha como pela paisagem europeia.

A partir de então, o modelo de reportagens contendo fotos e ilustrações, que se observa primeiramente na cobertura da guerra na Europa, passa a ser empregado em temas da vida local, como na cobertura de matches de Foot-ball e campeonatos de regatas dos clubes esportivos recém-fundados. Outras novidades incorporadas aos lazeres das camadas médias e altas urbanas são temas de reportagens, como o desfile da primavera, ilustrado com fotos dos carros de flores. Fatos da vida policial, a cobertura de crimes, também são trazidos para o jornal, a partir da incorporação do modelo das reportagens, onde se exibem fotos da sala do tribunal, dos réus e de outros envolvidos. Eventos tradicionais como missas, procissões e festas populares passam a ter as suas coberturas acompanhadas também por fotos e ilustrações — são exemplos: a notícia sobre a missa celebrada na Catedral Basílica pelas Exéquias do

Papa Pio X, em 21 de Setembro de 1914, exibindo foto do Terreiro de Jesus; imagem da Igreja da Conceição da Praia exibida por ocasião da tradicional festa em homenagem à Santa, em 06 de Dezembro do mesmo ano, e uma reportagem da procissão marítima do Nosso Senhor dos Navegantes, acompanhada de fotos dos barcos, à mostra no exemplar do dia 02 de janeiro de 1915, data posterior à da festa. As retrospectivas das festas populares conhecidas como as "segundas-feiras do Bonfim" e as "segundas-feiras do Rio Vermelho" passaram a vir acompanhadas de fotos, ilustrações e caricaturas, dando destaque às figuras dos foliões — músicos com seus instrumentos à mão, homens e mulheres cantando e dançando.

O caráter do jornal se altera, indicando o processo de modernização da imprensa e a profissionalização gradativa do jornalismo, passando a requerer estilos textuais especializados, voltados à transmissão rápida e concisa de informação. Gradativamente, diminui o espaço destinado aos textos de caráter literário e aos artigos persuasivos que exibiam as opiniões de colaboradores e do próprio jornal. A partir de julho de 1914 o jornal passa a publicar apenas um folhetim.

Um exemplo da perda de espaço do texto em estilo não jornalístico, ou seja, literário e opinativo, é a sequencia da série de crônicas A Bahia de Outrora do escritor Manuel Querino, que começa a ser publicada de modo intermitente na primeira folha do jornal em março de 1913 e continua até dezembro de 1915. Sua publicação segue um espaçamento médio de 21 dias entre cada crônica até o início da guerra, em Agosto de 1914. A partir da crônica publicada em 26 de junho de 1914, a série é suspensa por mais de oito meses, voltando a ser publicada apenas no dia 06 de março de 1915, até ser extinta, definitivamente, em dezembro desse mesmo ano. Este fato é exemplo do fenômeno descrito por Calmon (1949) com as seguintes palavras:

Foi quando o jornal se deslocou da gravidade do artigo de fundo para a vivacidade do noticiário; o imperativo da informação dominou as especulações doutrinárias; a notícia e a crônica superaram o registro frio ou o telegrama incolor; e se dividiu entre o político e o repórter. (CALMON, 1949, p. 127)

Voltando ao texto escrito pelo proprietário e diretor do Jornal de Notícias sobre os cem anos da imprensa baiana transcorridos após a independência da Bahia — texto produzido a pedidos para ser publicado em edição comemorativa do Diário Oficial do Estado da Bahia — o conhecido Lulu Parola não esconde o tom lamentoso que envolve tal tema já em 1923, relembrando a fase de transformação à qual não resistiu o seu próprio jornal:

Quanto ao serviço de informações, a diferença então é pasmosa. O repórter passou a ser a alma do jornal. O velho artigo de fundo, doutrinário e extenso, morreu ou agoniza. O que se quer agora é logo a informação, com profusão de títulos em todos os corpos e os competentes clichês, representativos da ocorrência ou da personagem. Alguns leitores chegam a exigir, e o jornal a satisfazê-los, que venha a narrativa encimada por epígrafes, que digam logo tudo, com dispensa de maior leitura. É a notícia em pílulas que não há mais tempo para mastigar doutrinas. (CARVALHO, 2008 p. 56)

Na tentativa de modernizar-se, o Jornal de Notícias, em 08 de abril 1916, anunciou ao público a sua suspensão entre os dias 10 e 12 daquele mês, para a realização de "reformas radicais em suas feições materiais [...] iniciando assim os seus grandes melhoramentos em ilustrações, reportagens originais, minucioso serviço telegráfico, enquetes, instantâneos, modas, literatura, etc." (Nota da redação, JORNAL DE NOTÍCIAS, 08 de abril de 1916). Ao retornar na quinta-feira, 13 de abril, o periódico exibe em primeira página reportagens com muitas fotos. Traz uma nova página feminina, com a epígrafe Modas Literatura e Teatros.

As notícias, doravante, possuem um teor diferente, entre o realismo e o exagero sensacionalista. O exemplar do dia 29 de abril de 1916 exibe reportagem e foto de três crianças mortas por ingestão de mandioca envenenada; em 1º de maio do mesmo ano é exibida uma ilustração de um feto mal formado. O Jornal de Notícias perde o pendor literário e opinativo; não são mais publicados os folhetins e os artigos de correspondentes rareiam. Assuntos referentes à literatura são agrupados em uma página destinada, ao mesmo tempo, à moda e ao teatro, e voltada especificamente ao público feminino.

Em 04 de maio de 1916, o jornal anuncia suspensão da sua publicação por alguns dias por falta de papel, que deveria chegar dos Estados Unidos da América. Em 24 de julho do mesmo ano, a folha divulgava a sua suspensão até o dia 19 de agosto, em virtude, novamente, da falta de papel.

De acordo com Carvalho Filho (2008), a firma Aloísio de Carvalho & Irmãos, proprietária do Jornal de Notícias desde 1890, foi atingida pelas dificuldades desencadeadas pela primeira guerra, em 1914, como a escassez de papel importado. Não pôde se recuperar das despesas com reformas materiais introduzidas em 1910, quando o jornal adquiriu uma máquina rotativa de "moderno tipo" importada da Alemanha. O Jornal de Notícias foi adquirido por uma sociedade anônima de negociantes e capitalistas em 1917, que o transformou em um matutino. Por volta de 1920, este importante periódico baiano saiu de circulação.

A falência do Jornal de Notícias da Bahia constitui um ícone das mudanças ocorridas na esfera pública, na segunda década do século XX, quando o literato perde o seu espaço para o jornalista profissional e as notícias e reportagens substituem as crônicas e os artigos de fundo. O folhetim, importante atrativo do publico feminino, é substituído pelas notícias sobre moda e registro dos fatos de sociedade, o que hoje se denomina crônica social.

Ocorre uma reviravolta no papel desempenhado pelo escritor literário em nossa sociedade. A geração que logrou instituir a profissão intelectual no país, principalmente a partir da popularidade da condição dos literatos como "olimpianos" do jornal (MACHADO NETO, 1973), recolhe-se a uma posição menos popular e mais erudita. A literatura que, através dos jornais, dos saraus e das palestras, vislumbrou atingir um público amplo49, passa a concorrer com o apelo de novas formas de lazer, como o esporte, o consumo recreativo da moda, o cinema e, pouco a pouco, o cultivo individualizado de personalidades públicas, as celebridades da sociedade, da moda, das artes cênicas. Os literatos recorrem agora a um público mais especializado, composto por aqueles interessados em adquirir livros e os seletos associados das agremiações literárias. A produção dos escritores se afasta do grande público, ao perder o espaço que outrora ocupou no primeiro mass media usado entre nós — o jornal.

A segunda desilusão enfrentada por esta geração de intelectuais brasileiros diz respeito ao papel que ela esperava desempenhar na política republicana. Após a proeminência na vida pública adquirida pela participação nas campanhas pela abolição e pela República, a posição de artista da pena passou a equivaler a um confinamento social. Esta elite intelectual pretendia ocupar cargos proeminentes na chefia do Estado, em vista do mérito da sua formação, mas a maioria de seus integrantes é preterida em favor dos herdeiros diretos das antigas oligarquias agrárias e escravistas, os quais, ameaçados com a crise do sistema agroexportador, há décadas acediam ao ensino formal das Faculdades e Escolas Livres do meio urbano.

De acordo com Pécaut (1990), a experiência de isolamento dos intelectuais brasileiros, no início do século XX, diz respeito à desilusão após os primeiros anos da República. Os intelectuais tinham que lidar com a emergência dos "novos ricos", que instituíam um gosto menos austero e mais imediatista, e com as solicitações dos donos de jornais e editoras, que se beneficiavam com a expansão do público. Os que se dispunham diante dessa condição tinham

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O público composto pelos leitores de jornais era muito mais amplo que àquele dos leitores de livros. O mercado editorial era ainda muito precário, eram poucas as editoras e alta a taxa de analfabetismo.

que disputar a concorrência em um mercado urbano aquecido e participar do sistema de hegemonia no espaço público republicano, assumindo a posição de classe social isolada.

Desse modo, a intelectualidade vivamente atuante nas últimas décadas do século XIX viu naufragar as esperanças de ver emergir um regime político que valorizasse o seu conhecimento como competência técnica — e que os tornaria, consequente e naturalmente, os primeiros candidatos a cargos públicos, segundo o imperativo da seleção pelo mérito. Ao invés disso, chocaram-se com uma política de alianças entre o Estado e as oligarquias regionais, conhecida como "política dos governadores" ou "República dos governadores", onde prevaleceu a nomeação segundo interesses de consolidação do poder sob as antigas bases. Segundo Lima Barreto, via-se o "paraíso das mediocridades, preferência dos atributos inferiores, seleção natural invertida" (BARRETO apud PÉCAUT, 1990) ou, nas palavras de Euclides da Cunha, presenciava-se o reino da "imbecilidade triunfante" (CUNHA apud PÉCAUT, 1990). Crescia o incômodo diante da ostentação das fortunas.

A geração intelectual nascida no século XIX, ao alcançar a década de 1920, está marcada pelo ressentimento, mas tenta reagir, buscando colocar a escrita a serviço da recuperação da nacionalidade, elegendo este tema como novo instrumento de transformação política e social. Tenta recuperar a assimilação entre o escritor profissional e o homem público, entre o Homem de Letras e o Homem de Ação, exercida durante a campanha abolicionista e republicana.

Desse modo, a modernidade é recebida por nossos "olimpianos" baianos mediante os desafios colocados por uma experiência de isolamento. Voltando às palavras de Aloísio de Carvalho — proprietário do Jornal de Notícias de 1890 a 1917, atuante na imprensa baiana por mais de 30 anos quando escreve este texto em 1923, para o Diário Oficial:

A época não é mais da candeia de azeite para alumiar, do navio a vela para viajar, da mulher de capona para contar. A época é de eletricidade para iluminar, do aeroplano para voar, do repórter para informar. O primeiro jornal da Bahia é a cadeirinha de arruar. O de hoje tem que ser o automóvel. O cinema, onde, em minutos, todos os acontecimentos e seres passam animados, substituiu a porta da botica ou da loja do capelista, onde as ocorrências e as pessoas ficavam escalpeladas. (CARVALHO, 2008, p. 56-57)

Fonte: Jornal de Notícias 20 de Setembro 1915.

Figura 1 — Foto de Aloísio Carvalho em homenagem ao 37º aniversário do Jornal de Notícias.

Figura 2 — Exemplar da Coluna em Versos "Cantando e Rindo" assinada por Lulu Parola, pseudônimo de Aloísio de Carvalho.

Figura 3 — Dificuldades enfrentadas pelo