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3. Playboy, o “xis” da questão

3.2. O movimento de Playboy ao encontro da mídia

Foi no dia 20 de outubro de 2014.O bando de Playboy promoveu um “nado sincronizado de fuzis” dentro da piscina da Vila Olímpica Félix Mielli Venerando, em Honório Gurgel, próximo a Costa Barros. A ação, filmada por um dos integrantes dagangue, foi postada no YouTube e, depois disso, ganhou os noticiários do Rio de Janeiro e de parte do Brasil. O site doExtra43 publicou o acontecimento. O jornalista Rafael Soares destacou que os bandidos ostentavam fuzis e que a ação foi ousada.

43Matéria de 20/10/2014. Disponível em: <https://extra.globo.com/casos-de-policia/traficantes-ostentam-

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Fonte: Extra.44

Imagem 21: Trecho da matéria sobre “nado sincronizado de fuzis”.

A invasão do bando de Playboy à piscina davila olímpica de Honório Gurgelparece provocar o senso comum por apresentarcaracterísticas que vão além das aceitáveis pela sociedade. Tal raciocínio busca explicação nas diferentes reações dos veículos de imprensa a criminosos armados em favelas do Rio de Janeiro –tais imagens são noticiadas, mas não se percebe tamanha mobilização como no episódio conhecido

44Matéria de 20/10/2014. Disponível em: <https://extra.globo.com/casos-de-policia/traficantes-ostentam-

120 como“nado sincronizado de fuzis”, uma espécie de alegoria para batizar a ação, já que oscriminosos aparecem parcialmente submersos –o que lhes garante o anonimato – e têm seus fuzis elevados para a foto.

Parte do áudio de Playboy em que comemora a ação na Vila Olímpica, em Honório Gurgel, também foi parar na internet. Em pouco tempo, a imprensa carioca reproduzia a fala do bandido.

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Fonte: Extra.45

Imagem 22: Trecho da matéria sobre “nado sincronizado de fuzis”.

Acredita-se que esse movimento do bando de Playboy tenha provocado um deslocamento simbólico, já que o bandido autorizou que seus comparsas ocupassem um espaço não autorizado, o que deslegitima a localização do medo, pondo em xeque diversas narrativas sensacionalistas da imprensa. Como Matheus(2011) analisou, a ausência de um lugar para a pessoa ter medo quebra o elo narrativo da violência, pois deixa a apreensão difusa e, dessa forma, sem sentido. Em última análise, parece ainda que permitir uma sensação lacônica no ter medo infantiliza a apreensão, como se o sujeito temesse o que não entende, e a falta dessa racionalização produziria uma sensação de ridículo, como uma criança que tem medo da mula sem cabeça.

Mas Playboy foi além. Parte de seu bando roubou, em 7 de janeiro de 2015, 193 motos do Departamento de Transportes Rodoviário do Rio (Detro). Novamente a ação foi filmada por um dos integrantes da quadrilha e o vídeo, postado no YouTube.Mais uma vez, os veículos de comunicação do Rio de Janeiro deram amplo destaque para o acontecimento. O G146 também reportou o fato com ênfase, utilizando o recurso multimídia do vídeo, ao reproduzir a matéria destacada também no Bom Dia, Brasil, programa jornalístico da Globo exibido para todo o país pela manhã, de segunda a sexta-feira.

45Matéria de 20/10/2014. Disponível em: <https://extra.globo.com/casos-de-policia/traficantes-ostentam-

fuzis-dentro-da-piscina-da-vila-olimpica-de-honorio-gurgel-14298499.html, acesso em: 15/11/2017.

46Matéria de 20/10/2014. Disponível em: <https://extra.globo.com/casos-de-policia/traficantes-ostentam-

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Fonte: G1.47

Imagem 23: Trecho da matéria sobre roubo de motos do pátio do Detro.

Matheus (2011) destaca a necessidade de as narrativas da mídia sensacionalista adquirirem uma característica cíclica em relação a personagens. A autora questiona o recurso adotado pela imprensa de produzir notícias sensacionais epropor uma

47Matéria de 07/012015. Disponível em http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/01/suspeitos-

123 compreensão de sentido de continuidade diante dessas narrativas. Ao que parece, o

Extra, ao relembrar, no último parágrafo da matéria, o nado sincronizado da quadrilha

de Playboy acaba por alimentar uma noção de continuidade no caminho de construção social da imagem de Playboy. Assim, apesar de Matheus (2011) trabalhar com a reposição de atores, compreendidos nesse contexto como uma espécie de heróis, o Extra parece tentar repor as ações desse ator, transformado Playboy quase que em um personagem folhetinesco edando um caráter dramaturgo aos fatos produzidos pelo bandido. A provocação de Playboy parece ter surtido efeito e sua exposição na imprensa valorizou o preço por sua captura. Dois dias depois do roubo das motos, a recompensa por Playboy chegou a R$ 50 mil e atingiu a segunda maior marca da história do Disque- Denúncia. O mesmo G1 destacou essa valorização muito mais pelas ações de ousadia de Playboy do que em relação aos crimes que ele cometeu, parecendo também propor, ao resgatar esses acontecimentos, mais um percurso diante do ciclo simbólico de construção da imagem de Playboy.

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Fonte: G1.48

Imagem 24: Trecho da matéria sobre o roubo de motos do pátio do Detro.

O aumento da recompensa por informações que levassem Playboy para a prisão parece estar em conformidade com a análise de Soster (2017), ao considerar que as narrativas de violência se conectam a uma estrutura porque a informação circula sob uma lógica de produção midiática, sendo, dessa forma, uma espécie de geradora de

48Matéria de 07/01/2015. Disponível em http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/01/suspeitos-

125 potencialidades, no que diz respeito a consciências, de acordo com o conceito de Hobbes (1997), e comportamentos. Esse processo pode explicar a necessidade de reação dasautoridades diante desses temas, conforme exemplificado pela valorização da recompensa para capturar Playboy no Disque-Denúncia.