• Nenhum resultado encontrado

Caso 7 (Demissão): Cristina Ou me mandam ou eu pulo a cerca: o pedido de demissão [Auxiliar de Montagem Mãe de dois filhos Funcionária dedicada e apaixonada

3 A INDÚSTRIA CALÇADISTA DE IPIRÁ NO CONTEXTO DA DIVISÃO INTERNACIONAL DA PRODUÇÃO DE CALÇADOS

3.4 A TERCEIRIZAÇÃO E A OCUPAÇÃO DE NOVOS TERRITÓRIOS

3.5.1 O Município de Ipirá e a instalação da fábrica

força de trabalho e sobre as organizações sindicais.

3.5.1 O Município de Ipirá e a instalação da fábrica

O município possui tradição centenária na produção de couro e artefatos, com destaque para o Povoado do Malhador. Em 2004 Ipirá abrigava 131 fabricantes neste segmento, sendo que 68,53% só com a produção de carteiras (SILVA, 2008). Na zona rural concentram-se curtumes, oficinas de carteiras e muito trabalho de natureza domiciliar. Esta é expressiva também na zona urbana, onde coexistem fábricas de pequeno porte mais modernas e lojas próprias localizadas às margens da Estrada do Feijão, BA 052. Esta tradição em artefatos de couro foi determinante para a instalação da grande fábrica no município, por dispor de mão de obra manualmente habilidosa e ágil.

O município de Ipirá apresenta excelente localização geográfica, estando às margens da BA 052, a 102 Km de Feira de Santana, a segunda maior cidade do Estado e a 200 Km da capital. É uma cidade com características rurais, tendo uma população rural superior à urbana, mas que migra desde a implantação da fábrica, inclusive apresentando crescimento do seu contingente urbano.

A estimativa populacional para Ipirá em 2016, de acordo com o IBGE, é de 62.697 pessoas. Em 2010, Ipirá contava com 59.343 habitantes, com 30. 334 residentes na zona rural e 29.009 residentes na zona urbana. A população masculina é de 29.076, com maior presença na zona rural (15.469). A população feminina é levemente superior à masculina, com 30.267 mulheres, e apresenta maior presença na zona urbana (15.402). Ipirá teve um decréscimo populacional, quando se considera os dados do Censo de 200746, provavelmente, provocado pelo êxodo já identificado em Censos de outros períodos (SILVA, 2008), além dos altos índices de desemprego e informalidade na Região e da inexistência de universidades públicas.

46 Em 2007, a população de Ipirá era de 60.043 habitantes, com 30.188 mulheres e 29.403 homens; destes, a

maioria vivia na zona rural (32.601) contra 27.442 que residiam na zona urbana. Trata-se de uma Contagem da População realizada pelo IBGE, em 2007. Disponível em:

<https://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/contagem.pdf>. Acesso em: 11 de junho 2015.

Este contingente populacional conta com um mercado de trabalho muito reduzido. O município apresenta elevadas taxas de desemprego47. Poucas empresas locais produtoras de calçados, cintos, bolsas e carteiras garantem inserção formal aos seus funcionários.

De acordo com a Tabela 6, construída a partir de informações disponibilizadas pelo IBGE (2010)48, pode-se verificar a expressiva presença de unidades produtivas no município e sua reduzida capacidade de assalariamento, mas percebe-se também que esse percentual vem crescendo especialmente a partir de 2012.

Tabela 7 – Número de empresas por quantidade de ocupação formal em Ipirá Ano Número de empresas atuantes Pessoal ocupado assalariado49

2006 775 4.065 2007 715 2.893 2008 805 4.174 2009 745 4.492 2010 849 4.260 2011 992 5.059 2012 1.019 6.087 2013 1.062 7.138 2014 1.037 7.654 FONTE: IBGE (2010).

A trajetória ocupacional das chefias que foram entrevistadas para esta pesquisa50 retrata a informalidade do trabalho na região. Como os operários entrevistados entre 2006 e 2008 (Silva, 2008), todos, da chefia aos operários, os registros em carteira de trabalho se deram pela primeira vez ao se entrar na grande fábrica.

47 Sobre o município de Ipirá, recomenda-se consulta ao estudo que realizamos em 2008: Divisão Sexual e

Etária do Trabalho: o sexo e a idade na dinâmica do capital flexível numa unidade produtiva de calçados em Ipirá-Ba, especialmente o capítulo 5.

48 Disponível em: < http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=291400&search=bahia|ipira>.

Acesso em: 11 de junho 2015.

49 O salário médio mensal do município em 2014 é de 1,6 SM (salário mínimo), e sofreu pequenas variações no

período analisado pelo IBGE.

Em Ipirá-Bahia, conforme dados coletados por esta pesquisa, a informalidade é um elemento de aproximação da trajetória ocupacional de homens e mulheres, em termos de precariedade, não ocorrendo o mesmo quando se considera o conteúdo da atividade realizada. Este varia, consideravelmente, segundo o sexo do trabalho. As ocupações femininas informadas foram: telefonista, feirante, vendedora em mercadinho, professora (ensino fundamental e médio), secretaria, trabalhadora rural, babá, trabalhadora doméstica, manicure e ajudante na produção de carteiras. Os homens declararam ter ocupações como servente de pedreiro, comerciante, caseiro, marchante, motorista de ônibus, carregador de saco, “ajudante de caminhão”, ajudante em uma oficina de carro, serralheiro, vendedor de picolé e jornal, vendedor de bebidas em eventos, garçom e ajudante na construção civil, em SP.

Os homens apresentam uma maior mobilidade regional, migrando para São Paulo e regiões circunvizinhas, o que não significou mudança do ponto de vista da formalização do trabalho.

A análise da trajetória dos nossos entrevistados nos permitiu identificar outro fator que expressa bem a informalidade do mercado local e, por isso mesmo, a importância da fábrica. Entre as chefias que pediram demissão da grande fábrica, a regra é o retorno à informalidade ou à fábrica. Ao sair da empresa, as mulheres entrevistadas trabalharam em mercearia, em uma creche, em consultório odontológico, todas informalmente; ou como autônomas, vendendo mel e cestas básicas. Os homens trabalharam em eventos (dois casos); fazendo “bico”, produzindo tetos em gesso. Para os que conseguiram um emprego formalizado, independente do sexo, isso se deu retornando à produção fabril na empresa ou em ateliês (dois casos) ou fora de Ipirá, como consultora de vendas em Feira de Santana. O concurso público aparece como outro meio de inserção formal; e, por isso, alguns entrevistados afirmaram estar estudando para concurso público.

As características do município, somadas aos incentivos fiscais e apoios creditícios, foram os principais fatores que atraíram os investidores. Ipirá possui uma ótima localização geográfica e tradição em produção de couro e artefatos de couro e possui um grande contingente de trabalhadores com habilidades manuais, mas sem emprego ou trabalhando, mas informalmente e sem proteção trabalhista, sem tradição com a luta política.

3.5.2 A fábrica de IPIRÁ e seu grupo empresarial

A fábrica foi implantada em abril de 2003. É de capital nacional, mas integra um grande grupo multinacional. Sua matriz encontra-se no Rio Grande do Sul. De acordo com informações disponíveis no site da empresa, sua produção diária é de 65.000 pares de calçados esportivos, infantis e femininos, sendo que estes são voltados para exportação na categoria “alta qualidade” e são produzidos em uma unidade no Brasil e na República Dominicana. No que diz respeito ao esportivo, a empresa produz cinco milhões de pares ao ano para marcas como Adidas, Asics, Oakley, DC e Shoes.

O grupo possui sete plantas industriais em três estados brasileiros (RS, CE e BA), na Argentina e na República Dominicana, onde possui apenas unidade de produção. No Rio Grande do Sul, há uma unidade produtiva em Teotônio e atividades administrativas em Sapiranga, o segundo município em número de estabelecimentos e no volume de empregos formais, segundo o ObservaSinos51. Segundo este Observatório, o município de Sapiranga era o maior produtor da região, até o ano de 2002: “Sapiranga, município cuja participação do setor era a maior na região em 2002, registrou participação de 17,90% em 2014, com redução significativa se comparado a 2013, ano no qual o município havia registrado participação de 19,05%”.

Neste município encontra-se toda a cadeia produtiva que envolve fazendas, operações financeiras e empreendimentos, como lojas e indústria. Na Argentina, o grupo mantém um escritório geral.

A missão do grupo encontra-se no site52 com a seguinte formulação: “Atender com excelência as expectativas, desejos e sonhos dos nossos clientes, com colaboradores

motivados e satisfeitos, gerando resultados de forma sustentável” (grifo nosso).

Segundo Silva e Silva (2014, p. 2): “O Grupo53 é um dos maiores conglomerados

calçadistas brasileiros. Além de fábricas na Argentina e na República Dominicana, dispõe de redes de varejo em vários países, em que opera por meio de franquias máster”.

A estratégia de internacionalização das vendas de marca própria por meio da franquia máster vem ampliando o número de países onde o Grupo possui lojas, como Canadá, Líbano, Costa Rica, Arábia Saudita, Hahrain, Kuwait, Angola, Omã, Emirados Árabes Unidos, Qatar

51 Observatório da Realidade e das políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos. Disponível em

http://www.ihu.unisinos.br/observasinos/vale/trabalho/para-onde-esta-indo-a-industria-de-calcados-do-vale-do- sinos, em 05/01/2017.

52 O site não foi divulgado para sigilo da empresa. 53 Retiramos o nome do Grupo.