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CASO 2: Rose Braço direito do Chefe De faxineira a coordenadora.

5.4 SALÁRIO: PRECARIEDADE E DESIGUALDADES POR SEXO E REGIÃO

A precariedade marca a trajetória deste ramo da indústria, sendo a questão salarial um fator determinante dos processos de ocupação de novos territórios pelo capital, na busca por condições mais propícias à acumulação. A busca por salários baixos figura entre as principais razões que levaram investidores do Sul a migrarem para regiões rurais do interior da Bahia.

Não por acaso, a principal inovação realizada pela fábrica ao se instalar em Ipirá envolveu a extinção de profissões como costureira, cortador e montador – consideradas qualificadas no Vale do Rio dos Sinos (SANTOS, 2004). Em Ipirá, todos os trabalhadores foram contratados como “serviços gerais”, “operador de calçados” ou “trabalhador

polivalente” e, independente da atividade realizada, assim permanecem, auferindo salário levemente acima do mínimo, sem diferenças salariais por sexo (SILVA, 2008).

Recrutados entre os operários, os chefes naturais de Ipirá permanecem identificados na carteira de trabalho como “serviços gerais”, “operador de calçados” ou “trabalhador polivalente”, tendo sua função de chefia informada apenas no contracheque. A exceção se dá apenas para aqueles que foram contratados mais de uma vez pela fábrica.

Entre os chefes, no entanto, entre os demitidos, identificamos salários mais baixos para as mulheres. A maioria das horistas recebe de “1 até 1,5 salário mínimo” (16 delas), sendo que o teto salarial máximo para as mulheres ipiraenses é até 2 SM139.

Tabela 14 – Faixa salarial por tipo de salário e sexo

FONTE: Material organizado a partir dos Termos de Rescisão de Contratos dos chefes demitidos entre 2011 e 2016, disponibilizado pelo Sindical. Elaboração própria.

Os homens que trabalham como horistas também se encontram concentrados entre os que recebem na primeira faixa salarial, a mais baixa (34 homens contra 16 mulheres). Mas, diferente das mulheres, eles também se encontram entre os que recebem, de acordo com a tabela, “Mais de 2 até 2,5 sm” (04 deles) e “Mais de 2,5 até 3 sm” (03 deles).

Os menores salários são auferidos pelas mulheres mais jovens. Pelo Gráfico 1, pode-se observar que nenhuma jovem com até 24 anos recebia salário superior a 1,5 SM. Seus pares

139 Conforme já vimos, as chefias locais (de Ipirá e região) são remuneradas como horista e as chefias do Sul

de mesma faixa de idade aparecem na faixa salarial “Mais de 2 até 2, 5”; e os de 25 até 29 anos constam entres os que auferem “Mais de 2, 5 até 3 sm”140.

Gráfico 11 – Faixa salarial por idade da mulher horista

FONTE: Material organizado a partir dos Termos de Rescisão de Contratos dos chefes demitidos entre 2011 e 2016, disponibilizado pelo Sindical. Elaboração própria.

Gráfico 12 – Faixa salarial por idade do homem horista

FONTE: Material organizado a partir dos Termos de Rescisão de Contratos dos chefes demitidos entre 2011 e 2016, disponibilizado pelo Sindical. Elaboração própria.

O salário por função é o mesmo, não variando de acordo com o tempo de serviço prestado à fábrica. A maioria dos chefes locais (supervisores, coordenadores e auxiliares) tinha menos de seis anos na empresa. Estavam nesta condição 18 dos 27 supervisores, 26 dos 41 coordenadores e 22 dos 30 auxiliares. Entre estes, três deles tinham mais de oito a nove ano na fábrica. Entre coordenadores, três tinham mais de nove anos. Maior tempo de casa foi encontrado entre os supervisores: sete deles tinham mais de nove anos na empresa.

Entre os chefes entrevistados, identificamos um salário por função. A supervisora declarou receber R$ 7,30 por hora de trabalho (R$ 1.600 por mês). Os coordenadores de ambos os sexos informaram o mesmo valor: R$ 5,76 a hora de trabalho (R$ 1.200 por mês); entre auxiliares nos informaram que a hora trabalhada era R$ 4,91, mas os salários mensais declarados variavam entre R$ 900 a R$ 1.000 por mês141. O valor atualmente pago a um auxiliar de chefia em Ipirá é inferior ao pago aos operários no Rio Grande do Sul. Não conseguimos localizar nas convenções coletivas informações específicas sobre os salários de chefia.

A chefia, assim como os operários, não tem participação nos lucros da empresa. Eles recebem alguns benefícios: cesta básica; auxílio creche no valor de R$ 72,33 por mês142;

auxílio educação pago no valor de R$ 167,00 aos que comprovarem matrícula.

Este baixíssimo salário e a pobreza dos trabalhadores contrasta com a riqueza da empresa. Em 2012, a empresa faturou 2,2 bilhões. Em 2013, ela possuía sete unidades produtivas, mais de 330 lojas no Brasil e no exterior143.

Os baixos salários têm implicações diversas sobre a dinâmica da fábrica, do sindicato e das famílias. Uma decorrência do salário muito baixo da chefia (e dos operários) é a baixa

141 De acordo com a Convenção Coletiva de 2016, o valor da hora para operários era R$ 4,25 a hora. Piso

salarial no valor de R$ 935,00. Piso de ingresso (os três meses de experiência) era de R$ 882. O baixo poder de pressão e de melhoria dos salários pelos trabalhadores se expressa especialmente quando comparamos o atual piso salarial com os salários auferidos anteriormente. Em 2007, o valor da hora de trabalho era R$ 1,77 (R$ 390,00), em 2015 este valor se eleva para R$ 3,81 (R$ 838,00). Para fazer contraponto com remunerações pagas em outras regiões do país, analisamos algumas Convenções Coletivas. O salário negociado na Paraíba, em novembro de 2016, era semelhante ao de Ipirá: R$ 943,00. O valor negociado em Jaú/SP era R$ 1.000,00. No Rio Grande do Sul, em agosto de 2016, os trabalhadores passaram a receber R$ 4,77 por hora de trabalho e, em janeiro de 2017, passaram a receber R$ 5,00 a hora. Este valor é superior ao pago por um auxiliar de chefia em Ipirá.

142 Durante os doze primeiros meses após a licença maternidade. No Rio Grande do Sul, e de acordo com a

Convenção Coletiva, paga-se R$ 64,11 como auxílio creche, mas por um período de seis anos.