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3. AS MULHERES E SUAS INTERAÇÕES COM A SOCIEDADE E O MERCADO DE TRABALHO: uma narrativa de exclusão estrutural

3.3. O (Precário) Mercado de Trabalho Contemporâneo

A partir daqui, após esta incursão em que foram entrelaçadas, como plano de fundo para esta discussão: a origem, o desenvolvimento, a caracterização e as alterações do sistema capitalista e do Estado. Transfigura-se primordial a tessitura de reflexões acerca do mercado de trabalho em si, que objetivamente será aqui caracterizado pelo espaço onde oferta e demanda de mão-de-obra se relacionam, incluindo também suas regras e limitações.

Quando falamos em mercado de trabalho é preciso ter em mente as suas variáveis, a fim de uma melhor delimitação do assunto. Dessa maneira, uma de suas dimensões cruciais é situar que existem o mercado de trabalho formal, caracterizado pelo registro em contrato ou na carteira de trabalho e com consequente contribuições e usufruto de direitos trabalhistas e previdenciários. No entanto, existe também o mercado de trabalho dito informal, que se materializa a partir da ausência de registro, o que pode acarretar em não contribuição com tributos, a depender do caso, prejudicando a arrecadação dos Estados, além de trazer inseguranças e limitações de utilização de direitos trabalhistas e previdenciários por parte desses trabalhadores. Sem embargo, frise-se que atualmente há um aumento significativo de pessoas classificadas no exercício de trabalhos informais na realidade de vários países pelo mundo.

É preciso estar ciente de que o mercado de trabalho exerce grande importância para a economia, pois seus elementos, como índices de emprego e desemprego, faixas salariais, qualificação, distribuição de receitas, entre outras, exercem impactos diretos na economia de um país e, por conseguinte, na formulação de suas políticas públicas.

No que se refere à conquista de direitos pela classe trabalhadora, é significativo fixar que, no Brasil, com o fim da escravidão e com a industrialização acontecendo tardiamente, consequentemente veremos suas conquistas sociais trabalhistas serem igualmente desenvolvidas de forma tardia. Apesar disso, no começo do século XX, presenciaremos a implantação de normas que objetivavam levar benefícios aos trabalhadores, entre elas, o direito a férias de 15 dias por ano. Como contextualizado a seguir por (ALVES, 2017)32:

A primeira longa depressão da economia capitalista mundial em fins do século XIX provocou no Brasil a abolição da escravatura e a queda do Império, instaurando a República oligárquico-burguesa. A crise de 1929 e a segunda longa depressão ocorrida na década de 1930, abalou a ordem oligárquica da Primeira República e levou a instauração do governo Vargas, Estado Novo e o projeto de industrialização nacional que alimentou o sonho da civilização burguesa no Brasil, civilização urbano-industrial moderna e inclusiva com respeito aos direitos trabalhistas, sociais e previdenciários. O símbolo do sonho de modernização civilizatória – [...]era a carteira de trabalho e o que ela representava: a cidadania salarial representada na CLT, peça civilizatória limitada – é claro – mas efetiva em termos positivos numa ordem historicamente desigual e de extração colonial-escravista.[...]

Durante o Governo de Getúlio Vargas, ainda em 1930, inicia a organização do Estado corporativista, a partir da criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. E, logo são elaboradas as primeiras leis trabalhistas, como a lei sindical, de 1931, que cria o sistema de sindicatos coordenados pelo Ministério do Trabalho. Em seguida, temos a instituição do Código de Menores e a lei de férias. Autores que tratam do assunto indicam que essa legislação foi baseada na Carta del Lavoro, adotada pelo regime fascista italiano e que encontrou ampla resistência entre empresários brasileiros que enxergaram a ação como uma forma de interferência do governo na liberdade empresarial (SCHWARTZMAN, 2004).

Assim, será no governo de Getúlio Vargas, a partir da Constituição de 1934, que o governo brasileiro estabelecerá as bases de equilíbrio entre capital industrial e trabalhadores. Nessa Constituição foram conferidos direitos trabalhistas significativos à classe trabalhadora, como a jornada de oito horas de trabalho, salário mínimo, férias remuneradas, além de assistência médica. Percebe-se aqui que, além de estipular direitos trabalhistas, foram concedidos direitos sociais a esses trabalhadores (BRASIL 1934).

Contudo, será com a promulgação da Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, que virá a célebre Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ainda no Governo de Getúlio Vargas, em um contexto de desenvolvimento significativo da indústria e de expansão de uma classe trabalhadora requerente de direitos, que o governo buscará viabilizar a abrangência da garantia dos direitos trabalhistas, oportunizando ao Governo enxergar na unificação das leis trabalhistas um meio para o controle social e político.

Em seguida, durante o período pós-guerra (1945-1973), caracterizado como a “idade de ouro do capitalismo”, vivenciou-se um momento de grandes transformações no padrão de acumulação capitalista, sustentado numa estratégia de atuação conjunta entre Estados e capitalistas, o fordismo/keynesiano. Assim o mercado de trabalho, em grande parte do mundo, por intermédio de políticas sociais compensatórias, como a garantia de emprego e melhores salários permitiu às famílias planejarem seus gastos e melhorar suas condições de vida.

Apesar dessas conquistas, atualmente a realidade do mercado de trabalho mundial destoa em muitos sentidos da situação de bem-estar social da classe trabalhadora anteriormente descrita. E vai ser na fala de Mészaros (2011, p. 95) que vamos observar a forma de agir do capital sobre essa temática:

No passado, até algumas décadas atrás, foi possível extrair do capital concessões aparentemente significativas – tais como os relativos ganhos para o movimento socialista (tanto sob a forma de medidas legislativas para a ação da classe trabalhadora como sob a de melhoria gradual do padrão de vida, que mais tarde se demonstraram reversíveis), obtidos por meio de organizações de defesa do trabalho: sindicatos e grupos parlamentares. O capital teve condições de conceder esses ganhos, que puderam ser assimilados pelo conjunto do sistema, e integrados a ele, e resultaram em vantagem produtiva para o capital durante o seu processo de autoexpansão. Hoje, ao contrário, enfrentar até mesmo questões parciais com alguma esperança de êxito implica a necessidade de desafiar o sistema do capital tal como tal, pois em nossa própria época histórica, quando a autoexpansão

produtiva já não é mais o meio prontamente disponível de fugir das dificuldades e contradições que se acumulam (daí o sonho impossível de se livrar do buraco negro da dívida “crescendo para fora dele”), o sistema de capital global é obrigado a frustrar todas as tentativas de interferência, até mesmo as mais reduzidas, em seus parâmetros estruturais.

Standing (2017) declara que, nos anos de 1970, um grupo de economistas de inspiração ideológica neoliberal apreendeu a atenção de alguns políticos, onde o elemento central era a defesa de que para conseguir elevar as taxas de crescimento assim como de desenvolvimento do mercado, deveriam agir de forma a maximizar a concorrência e a competitividade, e permitir que os princípios de mercado permeassem todos os aspectos da vida.

Destarte, a partir da década de 70, ano que se inicia a crise estrutural do capital a que estamos submetidos até os dias atuais, acompanhamos a gênese de uma necessária reestruturação produtiva. Esta trará consigo alterações no universo do trabalho capazes de afetar de forma intensa as sociedades industriais em todo o mundo. Pois serão implementados modelos de produção do tipo monopolista, capazes de retornar uma outra dimensão, incorporados a uma lógica de acumulação que vai enfatizar a competitividade e a qualidade.

Essa reestruturação vai envolver principalmente inovações tecnológicas e novos moldes de gestão da força de trabalho. Como produto teremos um significativo aumento dos índices de produtividade, assim como relevantes alterações na relação entre as empresas e nas formas de organização da produção, intervindo nas relações de trabalho e no processo de negociação com entidades de defesa dos trabalhadores. E, na década de 1980, uma exigência neoliberal veio a se consolidar, a de que os países teriam de aplicar “a flexibilidade do mercado de trabalho”. Uma vez que, caso os mercados de trabalho não se flexibilizassem, os custos trabalhistas se elevariam e as grandes empresas migrariam sua produção e investimentos a locais onde os custos fossem mais baixos, e o capital financeiro seria investido nesses países. Esta flexibilidade incluía diversos aspectos: flexibilidade salarial, que significava intensificar ajustes na demanda, principalmente para baixo; flexibilidade de vínculo empregatício, que constituía habilidade descomplicada e sem custos para empresas modificarem os níveis de emprego, especialmente para baixo, acarretando redução na segurança e proteção do emprego; flexibilidade do emprego, que exprimia a possibilidade de mover continuadamente os funcionários dentro da empresa e

modificar as estruturas de trabalho com oposição ou custo mínimos; flexibilidade de habilidade, que traduzia a capacidade de ajustar facilmente as competências dos trabalhadores. (STANDING, 2017)

Observa-se que, no Brasil, o desmonte da CLT se inicia ainda em 1964 com o fim da estabilidade no emprego e a criação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Desse modo, dava-se o primeiro passo rumo à flexibilização trabalhista em nosso país. Alguns podem até julgar um sútil passo, mas foi relevante na época. Mesmo assim, a CLT conseguiu manter-se firme e forte. E novas conquistas viriam com a Constituição de 1988, que apesar de manter incólume o Estado oligárquico-político, foi devido à pressão realizada pelos sindicatos e movimentos populares que se encontravam em plena atuação na década da redemocratização, que obtivemos expressivos avanços na área social, através da criação das bases que instituíram o sistema único de saúde e a garantia de acesso aos direitos trabalhistas e previdenciários (ALVES, 2017).

Não obstante, essa desestruturação do mercado de trabalho obterá dimensão ainda maior com a instituição do programa neoliberal a partir da década de 90, quando haverá a inserção passiva e subordinada do país na economia mundial. Uma vez que, com o processo de abertura produtiva, comercial, tecnológica e financeira, além da ausência de crescimento econômico, findou por acabar com ocupações urbanas e rurais existentes, devido à ampliação das importações, da reforma do Estado e da desnacionalização do parque produtivo nacional. (POCHMANN, 2012)

Concomitante a isso, ainda na década de 90, a palavra de ordem passa a ser o “desmonte da CLT” e tentar evitar a todo custo a efetivação da parte social prevista na Constituição de 1988. Ou seja, essa inserção do Brasil à nova ordem do capitalismo tardiamente, acarretou em perseguir e tentar desmontar a conquista proveniente da luta dos sindicatos e movimento sociais durante a década da redemocratização (ALVES, 2017).

Portanto, a “paralisia” da Constituição de 1988, debilitada em sua efetividade material por conta de questões orçamentarias, deu lugar ao lento desmonte da CLT, uma reforma trabalhista permanente que, de modo gradual e persistente, visa destruir o arcabouço de legislação trabalhista que caracterizou as promessas civilizatórias do projeto de industrialização nacional-desenvolvimentista construído na era Vargas. Foi na década

neoliberal que surgiram diversas modalidades de contratação flexíveis. Assim, a crise da economia brasileira contribuiu para aumentar a pressão para flexibilizar a legislação trabalhista na medida que a lógica empresarial no Brasil sempre visou a redução de custos por meio da precarização laboral. Sob o governo FHC surgiram novas modalidades flexíveis de contratação salarial na verdade, incapaz de revogar de vez a CLT operou o processo reacionário de reforma trabalhista permanente que ocorre à prazo, tornando- se uma necessidade orgânica do capitalismo neoliberal, caracterizado pela acumulação flexível e acumulação por espoliação.(ALVES, 2017)33

Evidencia-se, portanto, que embora muitos a defendam como inevitável, está claro que essa reestruturação trará consigo, dentro da razão do mercado, transmutações que afetam o mercado de trabalho, assim como consideráveis problemas sociais ao nível de emprego e quanto à garantia dos direitos conquistados pelos trabalhadores ao longo do século XX. Então, enquanto os níveis de desemprego se tornam elevados em muitos países do mundo, percebe-se a aplicação de políticas de desmantelamento de ação do Estado nas áreas sociais. E, nos países subdesenvolvidos, essa flexibilização se traduz em aumento do mercado de trabalho informal e do desemprego.

Desta maneira, situamos que, na contemporaneidade, a classe trabalhadora engloba a totalidade de assalariados, homens e mulheres, que dependem da venda de sua força de trabalho em troca de salário, tanto na indústria, na agricultura e nos serviços, quanto nas interconexões que existem entre esses setores, como na agroindústria, nos serviços industriais, na indústria de serviços entre outros.

Dessarte, dadas as grandes transformações que aconteceram no mundo produtivo do capitalismo contemporâneo, houve a ampliação do conceito de classe trabalhadora, que na sua nova estrutura, incorpora a totalidade dos trabalhadores e trabalhadoras, que encontram-se cada vez mais integrados pelas cadeias produtivas globais e que vendem sua força de trabalho como uma mercadoria em troca de salário, que são pagos com capital-dinheiro, não sendo importante se as atividades realizadas sejam materiais ou imateriais, mais ou menos regulamentadas. (ANTUNES, 2018)

Ou seja:

Em termos mundiais, sabe-se que a financeirização e mundialização do capital associadas à reestruturação produtiva – organizacional e tecnológica – penalizaram o trabalho, diminuindo ou extinguindo conquistas sociais de controle público sobre o uso do trabalho pelo capital e, ainda, diminuindo os próprios postos de trabalho por força da modernização tecnológica, alavancada pela precarização do emprego e ascensão das taxas de desemprego. (BARBOSA, 2012, p.122)

Em suma, o advento de maior competitividade produz a necessidade de novas formas de redução de custos, a qualquer preço. Assim, reduzem-se a quase nula a garantia de estabilidade em muitos postos de trabalho, e tornam a insegurança, parte da rotina dos trabalhadores com vínculo formal. Provoca ainda o advento de formas precárias de inserção no mercado de trabalho, seja através da subcontratação, enfraquecendo as instituições sindicais, além de atribuir ao desemprego dimensões mais amplas, tornando o trabalho informal uma alternativa frequente para a massa de excluídos do mercado de trabalho formalizado.

Diante do exposto, e a fim de propiciar uma discussão mais objetiva e axiomática, passo a enumerar as principais tendências e alterações do mercado de trabalho atual:

1) Com a retração do modelo de acumulação taylorista/fordista de produção presenciamos uma redução significativa do proletariado tradicional, das fábricas e indústrias, que dispunham de certo nível de especificidade e estabilidade. Como bem explica Souza (2019, p. 169)

Mesmo em pleno período de “compromisso de classes fordista”, fazia parte da tradição de luta dos trabalhadores se perceber como um soldado de uma “guerra de guerrilha” contra toda tentativa de controle e disciplina do trabalho julgado excessiva. A uma rotina de trabalho baseada na medição milimétrica de tempos de movimentos se contrapunha toda a criatividade dos trabalhadores em construir nichos secretos de autonomia. Durante os duzentos anos de hegemonia do capitalismo industrial no Ocidente – muito especialmente durante o “compromisso de classes fordistas” -, a dominação do trabalho pelo capital significou sempre custos crescentes de controle e vigilância. Nesse sentido, não é de modo algum surpreendente que a nova forma fabril que estava destinada a substituir o fordismo viesse, sintomaticamente, de um país não ocidental sem qualquer tradição importante de luta de classes e de movimento organizado dos trabalhadores no sentido ocidental do termo, o Japão.

As novas ferramentas tecnológicas e de gestão, a implantação de estratégias provenientes do modelo japonês, preliminarmente, vai indicar que é efetiva

apenas em algumas grandes empresas japonesas, embora tenha sido propagada como saída aos problemas resultantes da falta de competitividade e das dificuldades no controle da força de trabalho. Dessa maneira, termos como qualidade total34 e just in time35 começam a compor o vocabulário de empresas, inclusive no Brasil, atribuindo

aos trabalhadores um discurso de inovação.

A grande vantagem do toyotismo japonês em relação ao fordismo ocidental era, precisamente, a possibilidade de obter ganhos incomparáveis de produtividade graças ao “patriotismo de fábrica”, que subordinava os trabalhadores aos objetivos da empresa. A chamada lean production (produção flexível) fundamentava-se precisamente na não necessidade de pessoal hierárquico para o controle e disciplina do trabalho, permitindo cortes substanciais dos custos de produção e possibilitando contar apenas com os trabalhadores diretamente produtivos. A secular luta de classes dentro da fábrica, que exigia gastos crescentes com controle, vigilância e repressão, aumentando os custos de produção e diminuindo a produtividade, deveria ser substituída pela completa mobilização dos trabalhadores em favor do engrandecimento e maior lucro possível da empresa. (SOUZA, 2019, p.170).

Essas ações contribuem para a redução do proletariado industrial fabril no mundo. Antunes (2015) nos alerta para dados que demonstram que, nos principais países industrializados da Europa Ocidental, por exemplo, o número de trabalhadores ocupados na indústria, representavam aproximadamente 40% da população ativa no começo dos anos 1940, mas hoje, este percentual está próximo de 30% e estima-se que chegará a 20% ou 25% no começo do próximo século.

Essa reestruturação produtiva fundamentou-se ainda no que o ideário dominante denominou como empresa enxuta. A empresa enxuta, a empresa moderna, lean production, a empresa que constrange, restringe, coíbe, limita o trabalho vivo, ampliando o maquinário tecnocientífico, que Marx denominou como trabalho morto. E redesenha cada vez mais a planta produtiva, reduzindo força de trabalho e ampliando a sua produtividade. (ANTUNES, 2012, p. 62)

34 “É o processo de envolver todos os membros da organização para assegurar cada atividade relacionada com a produção de bens e serviços dentro do compromisso de melhorar continuamente e atender completamente às necessidades do cliente. “(CHIAVENATO, 2003, p.471)

35 É um sistema de administração da produção que determina que nada deve ser produzido, transportado ou comprado antes da hora certa. Just in time é um termo inglês, que significa literalmente “na hora certa” ou "momento certo".

Carvalho e Castro nos orientam que, a rigor, essa trata-se de uma crise de valor, evidenciada nas formatações do novo metabolismo laboral. Baseada em uma crescente e inconcebível tecnologização da ciência, eis que o sistema de controle do metabolismo social alcançou um estágio em que expulsa centenas de milhões de pessoas do próprio processo de trabalho, o que vem colocar o próprio sistema em questão. Desse jeito, a configuração atual de atuação do capitalismo substitui, de forma crescente e intensiva, o trabalho vivo de homens e mulheres pelo trabalho morto, objetivando nas máquinas uma forma de atingir a base de valorização do capital. Pois, com a redução do tempo de trabalho, cada unidade de mercadoria encarna uma quantidade menor de valor e, ocorre o aumento da capacidade de produção. Logo, resta caracterizada a “crise de realização de valor”, que, como consequência: impõe um consumo de massa extremado, a exploração ilimitada da natureza e a destruição e precarização da força-humana-que-trabalha. (CARVALHO e CASTRO, 2013)

2) Outra propensão desta nova configuração do mercado de trabalho, que vem a se contrapor à anterior, apresenta-se a partir de uma significativa expansão dos assalariados no setor de serviços, que inicialmente foi responsável por absorver parte dos trabalhadores expulsos das indústrias, mas que também sofre consequências desse processo de reestruturação do capital.

Podemos citar entre estes, os terceirizados, subcontratados, part time36,

entre muitas outras formas que se expandem em escala mundial com o fim do Welfare States e com a ampliação do desemprego estrutural. Vimos implementações pelos capitais transacionais de alternativas de trabalho que se caracterizam por sua desregulamentação e informalidade, de que são exemplos as diversas formas de terceirização. (ANTUNES e ALVES, 2004)

Para Antunes (2018, p.64) as minúcias dessa reestruturação do mercado e aumento do setor de serviços de fato significam que:

[...] a classe trabalhadora, em sua nova morfologia, participa cada vez mais do processo de valorização do capital e da geração de mais-valor nas cadeias produtivas globais. As formas de intensificação do trabalho, a burla dos direitos, a superexploração, a vivência entre a formalidade e a informalidade, a exigência de metas, a rotinização do trabalho, o despotismo dos chefes, coordenadores e supervisores, os salários degradantes, os trabalhos 36 Emprego em tempo parcial.

intermitentes, os assédios, os adoecimentos, padecimentos e mortes decorrentes das condições de trabalho indicam o claro processo de proletarização dos assalariados de serviços que se encontra em expansão no Brasil e em várias partes do mundo, dada a importância das informações no capitalismo financeiro global. Constituem-se, portanto, numa nova parcela que amplia e diversifica a classe trabalhadora.

Nesta lógica, torna-se imprescindível determinar o tamanho do impacto da