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4. PROPOSTA METODOLÓGICA

4.2. O Programa Mulheres Mil avaliado sobre o tripé: conteúdo, contexto e trajetória institucional.

4.2.1. Programa Mulheres Mil: concepção, delimitações e alterações.

O Programa Mulheres Mil, antes de receber esta nomenclatura, inicia no Brasil ainda sem nome, mas com os mesmos objetivos: foco na promoção da equidade, inclusão social, acesso à educação de qualidade e ao mundo do trabalho, cidadania e desenvolvimento local. A partir de um investimento canadense, a primeira experiência acontece em parceria com empresas da iniciativa privada, que “[...] não é

exitosa, pois houve ação de má fé por parte dessas empresas, o que faz o Canadá pensar em desistir de implantar o projeto no Brasil.”(GESTOR 1)

“[...] quando foi feita uma parceria, quando essa rede de Colleges – Faculdades comunitárias canadenses - se aproximam do Brasil, os parceiros que foram sugeridos não eram de referência, como nós da Rede Federal. Eles tiveram algumas instituições parceiras privadas. E foi, de certa forma, no total, foi um fiasco e o Canadá já estava batendo em retirada, já iam retornar, abandonar esta ação com o Brasil, porque envolvia também aquela CIDA(

Canadian International Development Agency) – Agência Canadense para

Desenvolvimento Internacional. Então, a CIDA também acreditava já que o Brasil já não era um país subdesenvolvido, então não deveria aportar recursos e ações, existiam outras nações mais pobres. Então, lhes faltavam o conhecimento que o Brasil tem essas discrepâncias, tem um Brasil rico e tem um Brasil muito pobre, o Brasil subdesenvolvido e o Brasil desenvolvido. Um país que exporta aviões, e compete os aviões da EMBRAER56 com os aviões canadenses da BOMBARDIER57, então eles entendiam que de repente estavam investindo num concorrente.” (GESTOR 1)

Situação ratificada por outro Gestor que cita também o cenário político à época porque “ foi na época em que o Lula era presidente, então o Lula abriu também muitos fundos de ajuda para outros países. Eles ficam: como é que o Brasil já tá ajudando outros países e ainda está pedindo ajuda? ”(GESTOR 2)

Apesar do exposto, é firmada a primeira parceria com a Rede Federal EPT, realizada entre o Niágara College58 e o CEFET/RN , durante os anos de 2003 e 2004.

Esta parceria apenas foi possível devido às formas de atuação da Rede Federal EPT, porque existia a exigência, por parte dos canadenses, de que as instituições abraçassem a política e se comprometessem para seu sucesso. O início dessa parceria Canadá-Brasil-Rede Federal de Educação vai ser capitaneada por um professor do CEFET do Rio Grande do Norte, Sérgio França, “[..]então, quando a ACCC descobre a nossa rede ela fica maravilhada, realmente essa é a palavra[...]”(GESTOR 1)

56 A Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A (Embraer) é uma holding responsável pela fabricação de aviões militares, comerciais, executivos ou agrícolas. Está listada como a terceira maior fabricante de jatos. Disponível em: < https://www.infoescola.com/empresas/embraer/>. Acesso em: 29/11/2019, às 07:41.

57 A empresa canadense é a principal concorrente da Embraer no segmento de jatos de até 150 assentos. Disponível em: < https://oglobo.globo.com/economia/airbus-bombardier-se-unem-criam- concorrente-de-peso-para-embraer-21954798>. Acesso em: 29/11/2019, às 07h44.

Figura 1 – Cooperação entre Brasil e Canadá

Fonte: Acervo Assessoria de Relações Internacionais do IFCE - Apresentação IFCE em Pequim - China

Portanto, em 2005, tem início a gestão do projeto piloto, entre Niágara College e o CEFET do Rio Grande do Norte, em que a capacitação obrigatoriamente teria que ser na área de Turismo, com a utilização da ferramenta denominada Avaliação e Reconhecimento de Aprendizagem Prévia (ARAP), projeto que formou, ainda em 2005, 60 mulheres. Logo em seguida,

Foi quando a gente foi capacitado na metodologia de avaliação e reconhecimento do aprendizado prévio (ARAP) [...]. Aí, depois disso, a partir dos resultados do piloto foi que eles começaram a montar um projeto maior, porque até então era só Niágara no piloto.(GESTOR 2)

Por este motivo, entre os anos de 2005 a 2006, há a ampliação da cooperação, a partir do envolvimento de outros CEFETs: do Amazonas, do Pará, do Ceará e da Bahia, que juntamente com o Rio Grande do Norte formam o grupo de cinco CEFETs envolvidos na segunda etapa do projeto. A ampliação para estes Estados vem, precipuamente, porque os próprios CEFETs dessas regiões já haviam se reunido a partir da criação de uma rede própria, que se inicia apenas com as instituições do Nordeste e depois incorporam as do Norte. Esta rede surge pela

consciência que tinham essas instituições que pertenciam a Estados desfavorecidos em relação ao país como um todo, então foi criada a REDNET – Rede Norte e Nordeste de Educação Tecnológica. Dessa forma, foi possível criar as parcerias entre esses cinco CEFETs e as Faculdades Comunitárias Canadenses que já desenvolviam, há muito tempo, as ferramentas implementadas no projeto piloto. (GESTOR 1)

Figura 2 – Mapa CEFETs participantes do projeto piloto

Fonte: Acervo Assessoria de Relações Internacionais do IFCE - Apresentação IFCE em Pequim - China

Interessante observar que, será a partir dessa ação conjunta entre a REDNET e o Canadá que teremos firmado o primeiro marco internacional da Rede Federal EPT. (GESTOR 1)

Logo, com a consolidação do projeto piloto, intensificam-se as articulações e, a partir da interação entre Associação do Colleges Comunitário do Canadá (ACCC), SETEC e CEFET/RN, elaboram e aprovam o Projeto Mulheres Mil junto à Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional (CIDA/ACDI) e Agência Brasileira de Cooperação (ABC) para a ampliação do projeto piloto para mais 12 instituições da Rede Federal EPT.“[...] 2007 a 2011 é que foi o projeto mesmo Mulheres Mil [...] aí já foram os 12 participantes, 12 CEFETs, aí já foram todos do Nordeste e do Norte[...]” (GESTOR 2)

Figura 3 – Mapa CEFETs participantes do Projeto Mulheres Mil

Fonte: Acervo Assessoria de Relações Internacionais do IFCE - Apresentação IFCE em Pequim - China

Dessa forma, o programa é executado em sistema de cooperação entre os governos brasileiro e canadense. No Brasil, é implementado pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (SETEC/MEC), Rede Norte Nordeste de Educação Tecnológica (REDENET), Agência Brasileira de Cooperação (ABC), Assessoria Internacional do Gabinete do Ministro (AI/GM), Conselho de Dirigentes dos Centros Federais de Educação Profissional e Tecnológica (CONCEFET) e os Centros Federais de Educação Profissional e Tecnológica (CEFETs). O governo canadense é representado pela Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional (CIDA/ACDI) e a Associação do Colleges Comunitário do Canadá (ACCC). No decorrer do programa, as equipes canadenses e brasileiras co-desenvolveram sistemas apropriados e as melhores práticas em serviços de acesso, avaliação e reconhecimento de aprendizagem prévia e programas personalizados de capacitação.

Assim, surge de fato o Mulheres Mil como um projeto que tinha como objetivo possibilitar a formação profissional e tecnológica de cerca de mil (1.000) mulheres desfavorecidas das regiões Nordeste e Norte. A meta era que o acesso à capacitação possibilitasse a elas criarem as pontes necessárias para incrementar o seu potencial produtivo, promover a melhoria das condições de suas vidas, das suas

famílias e das suas comunidades e do seu crescimento econômico sustentável, contribuindo assim para a inclusão social e o pleno exercício da cidadania. Inclusive, a escolha do nome com o qual o programa foi batizado teve participação de um dos Gestores do IFCE, que à época atuava como uma espécie de relações internacionais da REDNET e que relata, que em reunião em Brasília,

Eu estive na reunião de criação, porque a ideia era capacitar apenas mil mulheres [...] Ah, mil mulheres falavam. Eu disse: olha, não é bem assim, mil mulheres é falar de quantidade, mas não de qualidade, e daí invertemos, ao invertermos, eu por trabalhar, ser da área de línguas, ser tradutor, interprete, então, eu disse olha vamos trabalhar com a palavra, vamos invertê-la e vai dar esse ...e foi uma decisão muito sensata. (GESTOR 1)

Figura 4 – Escolha do nome do Projeto

Fonte: Acervo Assessoria de Relações Internacionais do IFCE - Apresentação IFCE em Pequim - China

Em suma, o Projeto Piloto do Programa Mulheres Mil foi implantado na Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica em parceria cooperativa com o Sistema de Faculdades e Institutos Canadenses, representados pela Associação das Faculdades Comunitárias Canadenses (ACCC), e seu objetivo central, neste momento, seria profissionalizar mil mulheres, em situação de vulnerabilidade social, das regiões Norte e Nordeste entre os anos de 2007 a 2011 (MEC, 2019).

Destaca-se, portanto, que o programa objetiva promover a formação profissional e tecnológica, articulada com o aumento da escolaridade de mulheres em situação de vulnerabilidade social, especialmente das regiões Norte e Nordeste do país. Para isso, atua no sentido de garantir o acesso à educação a essa parcela da população de acordo com as necessidades educacionais de cada comunidade e a vocação econômica das regiões.

Diante dos impactos positivos apresentados pelas experiências do Norte e Nordeste e da necessidade de atendimento à demanda do alunado não tradicional, o Governo Federal identifica a necessidade de dar continuidade a esta ação, que consolida planos educacionais que integram aspectos do ensino propedêutico, a profissionalização e o domínio das tecnologias, com a elevação de escolaridade e o resgate da autoestima. Para tanto, são contemplados, em seus cursos, projetos, oficinas e práticas temáticas como: cidadania, direitos da mulher, saúde, meio ambiente, relações interpessoais, inclusão digital etc. Essa é uma formação que se demonstra inovadora porque é criada de acordo com a identificação da experiência não-formal adquirida pela mulher ao longo da vida e de acordo com os seus anseios pessoais e profissionais, construindo-se um itinerário formativo personalizado.(MEC, 2011b)

Nessa conjuntura, ainda no ano de 2011, esta política foi instituída nacionalmente a partir da publicação da Portaria do Ministério da Educação nº 1.015, de 21 de julho de 2011. É, justamente, quando o Programa Mulheres Mil passa a constituir uma das ações do Plano Brasil Sem Miséria. E, segundo os delineamentos presentes nesta Portaria, podemos identificar que o programa tem como diretrizes: oportunizar o acesso à educação, contribuir para a redução de desigualdades sociais e econômicas de mulheres, promover a inclusão social, defender a igualdade de gênero, além de combater a violência contra a mulher (MEC, 2019).

Figura 5 – Mapa IFs participantes do Programa Nacional Mulheres Mil

Fonte: Acervo Assessoria de Relações Internacionais do IFCE - Apresentação IFCE em Pequim - China

O Programa tem como base a oferta para mulheres moradoras de comunidades com baixo índice de desenvolvimento humano, sem o pleno acesso aos serviços públicos básicos, ou integrantes dos Territórios da Cidadania59, a uma formação educacional, profissional e tecnológica, que permita sua elevação de escolaridade, emancipação e acesso ao mundo do trabalho, por meio do estímulo ao empreendedorismo, às formas associativas solidárias e à empregabilidade. O Programa Mulheres Mil, quando institucionalizado, apresenta-se com a meta de, entre 2011 e 2014, formar 100 mil mulheres. (MEC, 2011b)

A institucionalização embora encarada como uma ação positiva, ao pensarmos a relevância desse programa para esta parte da população estruturalmente excluída, é recebida com preocupação pelos gestores que enxergaram nessa ação uma preocupação com a continuidade da política.

Quando ele (programa) ganha a dimensão nacional, porque ele foi tão bem construído, sucedido que o governo Dilma o adota como um programa

59 A base do programa era a integração das ações do Governo Federal e dos governos estaduais e municipais, em planos desenvolvidos nos territórios, com o protagonismo da sociedade. Disponível em: < https://lula.com.br/territorios-da-cidadania-completa-9-anos/>. Acesso em: 29/11/2019, às 07h9.

nacional. Aí é onde tem o meu lado crítico quanto a isso, a gente parte da qualidade para a quantidade, e aí nós perdemos nisso[...] (GESTOR 1)

Assim, o programa que se propõe a aliar a educação ao trabalho, com vistas à diminuição de problemas sociais em comunidades com baixo índice de desenvolvimento humano, enquanto ação nacional, vai ser utilizado para contribuir significativamente com o Plano Brasil sem Miséria do então Governo Federal. Alicerçado nos resultados de que o programa promove a ampliação da formação de jovens e adultos que possam atender à demanda da economia brasileira à época, que carecia de trabalhadores para atuar nos seus mais diversos setores. E, tem a opção pelo recorte de gênero baseada no crescente número de mulheres que ampliam o seu papel na sociedade e em suas comunidades, assumindo a chefia das suas famílias, e que são responsáveis não só pelo sustento financeiro das suas residências, mas também pelo desenvolvimento cultural, social e educacional dos seus filhos e demais membros da família, fato que repercute nas futuras gerações e no desenvolvimento igualitário e justo do País. (MEC, 2011b)

O Programa Mulheres Mil encontra-se estruturado em três eixos principais: educação, cidadania e desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2014).

A Portaria de institucionalização do Programa estabelece que os cursos devam ser ofertados pelas instituições de educação profissional e tecnológica, sendo permitida a parceria com instituições de ensino regular. Prevê também que, prioritariamente, o programa seja ofertado pelas instituições públicas dos sistemas de ensino federais, estaduais e municipais. E, ainda, que poderá ser ofertado pelas entidades privadas nacionais de serviço social, aprendizagem e formação profissional vinculadas ao sistema sindical ("Sistema S")60 e entidades privadas sem fins lucrativos, sendo as últimas, de comprovada experiência em educação profissional e tecnológica (MEC,2011).

Neste ponto, cabe trazer o posicionamento de Amorim e Pereira (2015) que afirmam que os cursos oferecidos pelo Sistema S, em sua quase totalidade, concentram-se no nível básico da Educação Profissional, com carga horária de até

60 É composto por instituições corporativas que objetivam o treinamento profissional, lazer, consultoria e saúde dos trabalhadores. Entre os integrantes desse grupo estão: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Serviço Social da Indústria (Sesi), Serviço Social do Comércio (Sesc), entre outros. Disponível em: < https://www.politize.com.br/sistema-s-como-funciona/>. Acesso em: 26/05/2019.

160 horas. Portanto, claramente desarticulados com a elevação da escolaridade e, via de regra, não são capazes de garantir a inserção laboral dos trabalhadores ao mercado de trabalho, sobretudo em períodos de crise como a que vive o sistema capitalista. Além disso, é incapaz de transcender a formação meramente tecnicista e não problematizadora, limitando a capacidade de emancipação desses sujeitos como cidadãos ativos na luta pela transformação da realidade social. Circunstâncias que contrastam com o escopo do Programa aqui em análise.

Quanto à discussão do conteúdo da política, há definido que os cursos de capacitação oferecidos deverão abranger a Formação Inicial e Continuada (FIC)61 com carga horária mínima de 160 horas e/ou educação profissional técnica de nível médio. Esses cursos e projetos deverão considerar as características de vida dessas mulheres e poderão ser articulados ao ensino fundamental ou ao ensino médio, de forma integrada ou concomitante, objetivando a elevação do nível de escolaridade da mulher. (MEC, 2011).

A portaria que institucionalizou a política continha a exigência de criação de um Comitê Executivo, com função consultiva, que será o responsável pelo acompanhamento e o controle social da implementação do Programa Mulheres Mil.

Contudo, não foi possível localizar informações acerca das atribuições e formação desse comitê após a emissão da supracitada portaria. Apenas foram identificadas informações a respeito do Comitê Executivo atuante durante a implementação do projeto piloto desenvolvido em cooperação com o Canadá. Esse teve como membros, os representantes da SETEC e dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs), na época ainda identificados como Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs) (BRASIL, 2019).

E, dentre as atribuições deste comitê identificamos que à equipe brasileira desse Comitê Executivo coube a responsabilidade por supervisionar os projetos para assegurar o alcance de resultados de forma efetiva e no prazo, realizar visitas de monitoramento e avaliação das ações nos estados entre outras atribuições que

61 Conforme previsto no Art. 42 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a formação inicial e continuada ou qualificação profissional podem ser ofertados como cursos de livre oferta, abertos à comunidade, com suas matrículas condicionadas à capacidade de aproveitamento da formação, e não necessariamente ao nível de escolaridade. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/cursos-da-ept/formacao-inicial-e-continuada-ou-qualificacao-profissional>. Acesso em: 26/05/2019.

assegurassem o bom desenvolvimento do programa (BRASIL, 2019).No entanto, não foram localizados registros dessas ações.

O Governo Federal, com a institucionalização do Programa, pretendia obter como impactos da política: reduzir as desigualdades sociais e contribuir para a erradicação da miséria no país; contribuir para a melhoria dos índices da equidade e igualdade de gênero no Brasil; reduzir os índices de violência doméstica; melhorar a renda familiar nas comunidades em situação de vulnerabilidade; contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades beneficiadas; melhorar as relações familiares e comunitárias; ampliar a conscientização do uso sustentável dos recursos naturais; melhorar os índices educacionais na modalidade de educação de jovens e adultos; contribuir para a redução do analfabetismo; contribuir para a disseminação e democratização da oferta permanente de Educação Profissional e Tecnológica para o alunado não tradicional; contribuir para a disseminação e democratização da oferta permanente de Reconhecimento e Certificação dos saberes adquiridos ao longo da vida.(MEC, 2011b)

O programa utiliza uma Metodologia Específica de Acesso, Permanência e Êxito, que foi formatada pelos Institutos Federais de Educação Profissional e Tecnológica envolvidos na implementação do projeto piloto do programa, com base na experiência com a parceria entre os governos de Brasil e Canadá. Esta metodologia se propõe a estabelecer as bases de atuações dos órgãos envolvidos neste programa quanto às ações a serem executadas e que serão necessárias ao acesso, permanência e êxito dessas alunas no programa (BRASIL, 2014).

Essa Metodologia de Acesso, Permanência e Êxito implantado nos 13 Institutos Federais, foi concebido e estruturado a partir dos conhecimentos desenvolvidos pelos Community Colleges canadenses em suas experiências de promoção da equidade, de atendimento às populações desfavorecidas e do desenvolvimento e aplicação do Sistema de Avaliação e Reconhecimento de Aprendizagem Prévia (ARAP). E, contempla o reconhecimento de aprendizagens adquiridas ao longo da vida e um serviço de aconselhamento e atendimento às demandas das mulheres, por meio de equipe multidisciplinar capacitada para encaminhar o alunado não-tradicional e desfavorecido para o desenvolvimento de programas personalizados. Além disso, no itinerário formativo, estão previstas ações para o desenvolvimento de habilidades empreendedoras e de empregabilidade e,

consequentemente, para o acesso ao mundo do trabalho. A Metodologia na sua adequação brasileira contemplava a criação do Observatório do Mulheres Mil que possibilitaria o acompanhamento, monitoramento e avaliação contínua dos resultados e impactos gerados nas mulheres, nas famílias e nas comunidades.(MEC, 2011b)

Assim, na referida metodologia identificamos a priorização de temas transversais para a formação cidadã, como: a elevação da autoestima, saúde, direitos e deveres da mulher, comportamento sustentável, cooperativismo, inclusão digital, empreendedorismo e responsabilidade ambiental, promovendo a inclusão produtiva, a mobilidade no mercado de trabalho e o pleno exercício da cidadania (BRASIL, 2014). A metodologia do Sistema de Acesso, Permanência e Êxito do Mulheres Mil é o instrumento que visa facilitar o processo de implantação e implementação de programas, projetos e ações que contemple o acolhimento, a educação, a qualificação e formação profissional e tecnológica, a estruturação de empreendimentos, o acesso ao mundo do trabalho, o desenvolvimento sustentável de comunidades e de pessoas desfavorecidas e não tradicionais. (MEC, 2011b)

Para tanto, o Módulo de acesso às instituições integrantes do Mulheres Mil passa a ser concebido como um instrumento de inclusão, promotor de permanência no ambiente das instituições e no mundo do trabalho, com êxito e sustentabilidade, dada a mudança de concepção de acesso meritocrático e seletivo para um acesso inclusivo e afirmativo. (MEC, 2011b)

Nesse caso, é chamado de Módulo de acesso o conjunto de serviços, métodos e sistemáticas de aproximação, compreensão e diálogo que é realizado com a comunidade, a fim de possibilitar a inclusão de populações não tradicionais nas instituições educacionais. Esses serviços incluem ações de sensibilização, resgate e ingresso. Os trabalhos de busca são aqueles que iniciam e consolidam a interface e o diálogo com a comunidade, o que permite às instituições de ensino aproximar-se da realidade e do contexto das comunidades, conhecê-los e compreendê-los, identificando seus sonhos, suas necessidades, desafios e demandas, contribuindo, assim, para a definição de suas políticas e diretrizes. É um momento vital para estabelecer confiança mútua a fim de que o diálogo se consolide e produza frutos. Na instituição, deverá ser estruturado um local de referência para as alunas, denominado Escritório de Acesso, especificamente para receber, acolher, orientar, encaminhar e acompanhar as mulheres que procuram a Instituição para obter informações sobre o

Programa, as ofertas e possibilidades educacionais. O Escritório de Acesso, referência no compartilhamento das informações e ações do Programa, congrega pessoas e a equipe multidisciplinar, caracterizando-se como espaço de troca de experiências, de construção e de fortalecimento de vínculos e de relações. (MEC, 2011b)

O Escritório de Acesso era uma ferramenta extremamente frisada pelos canadenses como “condição sine qua non62, é um algo mais do programa e nós, em

visita in loco, você chegava em alguns ambientes que pareciam escritórios de psicólogo ou de psiquiatra. ” (GESTOR 1)

[...]era uma das coisas que o Canadá colocava muito, né, pra gente. Era esse