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A EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE ADULTOS (EM CONTEXTO PRISIONAL)

2. A Educação de Adultos em Portugal

2.4. A educação de adultos no pós-25 de Abril

2.4.2. Da criação da Agência Nacional de Educação e Formação de Adultos à

2.4.2.2. A Agência Nacional de Educação e Formação de Adultos

2.4.2.2.1. O sistema RVCC

No atinente ao sistema de RVCC, convém uma referência prévia para o facto de a sua existência preceder o trabalho desenvolvido nesta matéria pela ANEFA, nomeadamente através de alguns exemplos de experiências realizadas, das quais se citam: práticas promovidas pela Direção-Geral de Educação Permanente “que assentava[m] no trabalho por temas integradores, partindo-se das vivências e dos contextos dos adultos (aprendizagens contextualizadas e com significado para os adultos)” (Nico e Nico, 2013: 5); a introdução do Ensino Recorrente que, formalmente, atendia “à experiência de vida entretanto adquirida e ao nível de conhecimentos demonstrado pelos seus destinatários” (Decreto-Lei n.º 74/91, de 9 de fevereiro, art.º 4.º, n.º 2), apesar de, na sua execução, tal assim não suceder; e os exames ad-hoc,165 para admissão ao Ensino Superior, através dos quais eram avaliados os conhecimentos obtidos experiencialmente.

Consignado na Portaria n.º 1082-A/2001, de 5 de setembro,166 o novo sistema de RVCC, perante um cenário de subcertificação de competências e de conhecimentos adquiridos ao longo de uma vida (Barros, 2013, citando ANEFA, 2001c), i.e., de “recursos que os indivíduos possuem mas que, até ao momento do seu reconhecimento formal, não têm qualquer visibilidade social, sendo para todos os efeitos considerados inexistentes” (Delgado, 2014: 86), compreenderá um referencial de competências-chave a adquirir ou a desenvolver (CNE,

165 Viriam a ser substituídos pelos exames destinados a ‘maiores de 23 anos’ (Decreto-Lei n.º 64/2006, de 21 de março).

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2013),167 a partir do qual se basearão abordagens biográficas destinadas ao seu reconhecimento, bem como a certificação escolar de aprendizagens experienciais, nesta etapa inicial, ao nível dos 4º, 6º e 9º anos de escolaridade (Portaria n.º 1082-A/2001, de 5 de setembro, art.º 8.º),168 compondo, para o efeito, um modelo assente numa rede de centros de operacionalização (CRVCC), destinados ao reconhecimento, validação, certificação ou, ainda, formação complementar, necessária a uma certificação total (Melo, Matos e Silva, 2001; Guimarães, 2009; Gomes, 2012; Barros, 2013; Capucha, 2013; Nico e Nico, 2013; Delgado, 2014).169

Por conseguinte, e objetivando uma mais-valia de empregabilidade, de valores de cidadania, de participação social, para além de motivar ao retorno a projetos de educação e formação (Delgado, 2014), à arquitetura de todo este sistema serão concebidos: materiais auxiliares de enquadramento de práticas conducentes ao processo de RVCC (ex. kits de apoio); recursos complementares de apoio para os profissionais de RVCC e para os adultos, nomeadamente documentação atinente à composição do processo técnico-pedagógico; divulgação de instrumentos de suporte teórico ao processo de balanço de competências e diretrizes para a construção de portefólios pelos adultos (Barros, 2013, citando ANEFA, 2001b, 2002b), tal “como instrumentos de aprendizagem e avaliação” (Capucha, 2013: 52).

Desta forma, e no seguimento de uma política de implantação gradual no terreno, a sua atuação reger-se-á pelos pressupostos seguintes: acreditação de potenciais entidades promotoras de CRVCC; definição de procedimentos de gestão técnico-pedagógica; constituição de equipa multidisciplinar de acompanhamento ao processo de RVCC; criação de instrumentos de apoio, monitorização e avaliação dos CRVCC; registo nacional de avaliadores externos (Melo, Matos e Silva, 2001; Barros, 2013; Delgado, 2014).

Desde a sua implementação que vários aspetos concernentes ao processo de RVCC têm vindo a ser aperfeiçoados. Refira-se a sua abrangência ao nível secundário, com a introdução e aplicação do concernente referencial de competências-chave (Gomes, 2006), bem como no campo profissional, com os referenciais de competências profissionais (Simões e Silva, 2008), para além de introduzidas novas concretizações, como a certificação parcial, certificação profissional ou dupla certificação (Gomes, 2012) e, ainda, mediante os adquiridos experienciais

167 O Referencial de Competências-Chave de Educação e Formação de Adultos: nível básico, da autoria de Alonso et al. (2002), surge como instrumento fulcral de uma estratégia de intervenção no campo da educação e formação de adultos, sendo aplicado, desde 2001, quer em processos de RVCC, quer em percursos formativos assentes em competências-chave, designadamente em cursos EFA (Capucha, 2013). 168 A partir de 2006, será alargado ao nível secundário, com a introdução do Referencial de Competências-chave para a Educação e Formação de Adultos – Nível Secundário (Gomes, 2006).

Capítulo II A Educação e Formação de Adultos (em Contexto Prisional)

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demonstrados pelo adulto, a possibilidade de os processos de RVCC incidirem, somente, na vertente escolar, na profissional, ou em ambas. Procederemos, por isso, a uma breve aclaração. No que atine a componente escolar, desenvolve-se o processo de RVCC ao longo de um conjunto de sessões, durante as quais os candidatos vão sendo orientados por uma equipa de profissionais na identificação das competências adquiridas ao longo de uma vida e na recolha das respetivas evidências, que as atestem, ou na sua demonstração, sendo estas avaliadas à luz dos Referenciais (nível básico – 1º, 2º ou 3º ciclos – ou nível secundário).

Caso tal se não verifique na totalidade, formações subsequentes serão desenvolvidas, nomeadamente em unidades de competência da formação de base, concernentes a áreas não validadas, de modo a se completar o processo. Refira-se, por isso, que tais procedimentos se concluem com a apresentação do candidato perante um júri, que validará as competências obtidas e formalizará a respetiva certificação escolar (Carneiro, 2011; Badalo, 2012; Gomes, 2012; Capucha, 2013; Delgado, 2014).

Quanto à vertente profissional, com um volume de certificações mais residual quando comparado com a escolar (Guimarães e Rosanna, 2015, citando ANQ, 2011), através da publicação do Decreto-Lei n.º 396/2007, de 31 de dezembro, é estabelecido o regime jurídico do Sistema Nacional de Qualificações (SNQ) e criado um Catálogo Nacional de Qualificações (CNQ), no qual passam a constar os referenciais de qualificação tendentes à realização de processos de RVCC profissional (RVCC Pro).

Segundo Simões e Silva (2008), orientados de acordo com as saídas profissionais, tal como concebidos para cada uma das respetivas áreas, os referenciais de qualificação profissional visam nortear o trabalho do adulto, como também de técnicos e formadores, que o acompanham, ao longo de várias sessões, procedendo à identificação e reconhecimento das suas competências profissionais e à recolha de evidências que as comprovem, bem como à sua demonstração. Com o adulto submetido a sessão de júri aproxima-se a conclusão do processo de certificação, podendo este revestir as formas de certificação total ou parcial. Por conseguinte, se, porventura, se proceder à certificação total, o processo assume uma de duas vias:

i. no caso do adulto ser certificado em todas as unidades de competência necessárias a uma certificação profissional, mas não possuir o correspondente nível de escolaridade, é-lhe emitido um Certificado de Qualificações;

ii. no caso do adulto ser certificado em todas as unidades de competência necessárias a uma certificação profissional e for titular da habilitação escolar correspondente, é-lhe emitido,

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não só, um Certificado de Qualificações, como também um Diploma que atesta a titularidade da qualificação obtida, a saber: nível 2 de qualificação profissional (caso o adulto seja titular do 3º ciclo do ensino básico), ou nível 4 de qualificação profissional (caso seja titular do nível secundário de educação). Por fim, é, ainda, elaborado um Plano de Desenvolvimento Pessoal, visando orientar o adulto na continuação de um percurso de qualificação.

Já, se o adulto vier a ser parcialmente certificado ser-lhe-á entregue um Certificado de Qualificações, contendo as competências validadas, e definido um Plano Pessoal de Qualificação, visando a conclusão do percurso formativo, seja através da realização de autoformação ou formação no posto de trabalho (neste caso haverá lugar a nova sessão de júri de validação), ou através de um percurso de formação (curso EFA; formações modulares certificadas, tal como definidas no CNQ e que preencham as necessidades de formação detetadas aquando do percurso de RVCC). Concluído o processo, o adulto recebe o Certificado de Qualificações e o Diploma (este último, caso detenha a correspondente habilitação escolar).