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IDEAL PENAL – UMA NARRATIVA ESCORCIVA

2. Idade Média

2.4. Prisões de Estado vs Prisões Eclesiásticas

Tal como vimos, a privação da liberdade não era considerada de sanção penal por excelência, por isso, não se verificava, por parte da administração secular, particular interesse em que se construíssem instalações devidamente apetrechadas para o efeito. Desta forma, e até à leitura da sentença, recorria-se ao que melhor servisse os intentos de aprisionamento de pessoas, de entre o que houvesse disponível no seio das comunidades (Geltner, 2006). A título de exemplo, entre outros, refere-nos Trigueiros (2000) o castelo de Sant’Angelo (Roma), mausoléu do imperador Adriano e da sua família (séc. II d.C.), posteriormente utilizado por aristocratas e sumo pontífices, que ficou conhecido como prisão de Teodorico, rei dos Ostrogodos, que se supõe neste ter residido no início do séc. VI (p. 53).42

Ainda no caso das civilizações bárbaras, refira-se que, visto o encarceramento de pessoas não ser uma prática habitual no seu seio, o que se conhece sobre penas de privação da liberdade é, relativamente, escasso. Mesmo assim, socorremo-nos de Barbosa (1987) que, citando Aníbal Bruno (1962), nos remete para alguns registos que comprovam tais sanções terem, de facto, existido, nomeadamente um édito (ca. 720) promulgado por Liutprando, rei dos

uso, o dia a dia na prisão (condições de habitabilidade do cárcere, salubridade, trabalho) e, no que ao nosso estudo importa, o ensino de reclusos (matéria a abordar no próximo capítulo).

42 Na sua tese de doutoramento, Da Prisão à Cidade Punitiva: utopia e realidade, apresentada à Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa, em 2000, Maria da Conceição Trigueiros, numa investigação histórica às características dos espaços que serviram o propósito carcerário, descreve-nos o modo como estes ao longo dos tempos até aos nossos dias, têm cumprido com um objetivo de confinamento e de privação da liberdade (palácios, fortalezas, castelos, mosteiros, bem como prisões construídas de raiz, e.g. Penitenciária de Lisboa – 1885), propondo uma arquitetura prisional, na senda de um ideal humanitário e ressocializador, reconhecendo, porém, as enormes dificuldades em se libertar de um espírito retribucionista, tão característico das sociedades ocidentais, uma vez que “As prisões são os únicos edifícios que são construídos no interesse direto dos utilizadores, mas no interesse supostamente daqueles que as não usam.” (p. 317)

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Lombardos (712-744), que determinava sanção de «prisão de 2 a 3 anos por furto». De igual modo, também o imperador Carlos Magno,43 estipularia «penas de prisão por tempo indeterminado» até que os infratores emendassem a sua conduta criminosa (cf. pp. 27-28).

Durante o período medievo dois importantes institutos penais tomaram forma, por entre os conglomerados feudais, que, um pouco por toda a Europa, foram surgindo e que coexistiram, lado a lado, com a administração judiciária. Referimo-nos aos institutos penais sob domínio do poder secular e do poder clerical.

Segundo Trigueiros (2000), relativamente ao primeiro, ao longo do período medieval, práticas de encarceramento foram sendo paulatinamente introduzidas no dia a dia das comunidades. Porém, no julgamento que precedia a aplicação de sanções penais imperava o status social do acusado. No caso de penas leves, estas poderiam ser comutadas pelo pagamento em ouro ou em bens. Para crimes mais graves, os condenados poderiam ser colocados em prisões sob a égide do soberano, designadas de «Prisões de Estado», as quais, consoante a gravidade do ato cometido, se subdividiam em ‘prisão-custódia’ – destinada a práticas criminosas que poderiam resultar na pena capital ou no exílio; e ainda na ‘prisão-detenção’ – visando a reclusão temporal ou perpétua, ou até ao recebimento de perdão real.

No tocante à restante camada da população, face às dificuldades económicas aliadas à quase inexistência de produção legislativa, nomeadamente sobre matéria penal, o poder judicial era exercido de forma discricionária e o consuetudinário era “a única fonte do direito laico” (Gilissen, 1995: 190). Deste modo, delinquentes de toda a espécie, velhos, mulheres, crianças, eram enviados para insalubres calabouços, sendo que aí muitos pereciam a aguardar por justiça (Trigueiros, 2000).

De acordo com Stohr e Walsh (2015), citando Irwin (1985), no séc. IX, Alfredo ‘O Grande’, monarca de Wessex (Inglaterra), institui o encarceramento como forma legal de punição (cf. p. 20) o que obrigou ao alojamento do infrator em instalações destinadas para o efeito. Refere-nos Roberts (2006) que durante a última metade do século XI, em Inglaterra, William I (ca. 1028-1087) procedeu ao encarceramento dos seus inimigos políticos na Torre de Londres. E, segundo este mesmo autor, Henrique II (1133-1189) ordenou aos xerifes, responsáveis pela segurança interna do reino inglês, que construíssem cárceres nos seus condados destinados aos réus, para estes aí aguardarem por julgamento.

43 Rei dos Francos a partir de 768 e, por conquista, rei dos Lombardos, a partir de 774. Foi ainda coroado, pelo Papa Leão III, Imperador do Ocidente em 800, um cargo em desuso desde a queda do Império Romano do Ocidente em 476.

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No início do séc. XIII, monarcas franceses começaram por enviar condenados para o Châtelet e já no séc. XIV, por volta de 1370, para as masmorras e torres da Bastilha.44 Ainda no território francês, na segunda metade do séc. XV, Luís XI (1423-1483) recorreu ao castelo de Loches (próximo de Tours), como local de encarceramento dos seus opositores (idem).

Durante este período em algumas cidades-estado do atual território alemão foram, também, encarcerados criminosos em masmorras, câmaras e fossas em castelos e fortalezas. Mais a norte, nos Estados Escandinavos e Islândia, os responsáveis pela segurança local recorriam ao aprisionamento de pessoas nas suas próprias residências, até que a sentença fosse proferida (idem).

Refira-se por fim que, toda esta preocupação, em torno da instalação de presídios, foi de tal forma relevante para o estabelecimento de um regime de organização e administração prisional, que ainda hoje são de recordar prisões então criadas, ou adaptadas, que viriam a figurar nos anais da biografia penal da civilização ocidental, nomeadamente Fleet Prison (Londres, 1197-1844), Châtelet (Paris, ca. 1200-1810), Carcere delle Stinche (Florença, ca. 1299-1833).45 Este último, segundo (Roberts, 2006) assumir-se-ia como uma das primeiras tentativas de humanização do sistema prisional, pois desde a sua fundação que preexistiu o conceito de separação de reclusos, por sexo, idade, grau de sanidade e gravidade dos crimes cometidos.46

Não sendo intenção deste trabalho, muito menos do presente capítulo, entrar numa discussão temporal relativamente à génesis do encarceramento como instituto «prisão-pena», sendo que, sobre este assunto, revelam-nos as nossas fontes de pesquisa a existência de uma extensa literatura, em si mesmo divergente quanto ao início da institucionalização da privação da liberdade, direcionamos o nosso escopo, apoiando-nos em autores como Noronha, (1997), Peters (1998), Trigueiros (2000), Mirabete (2001), Geltner (2006), Roberts (2006), Caldeira (2009), Lopes (2011), entre outros, para uma análise à mudança do paradigma prisional, que, a partir do período medievo e com o contributo da Igreja, passou a implementar, como prática penal, a reclusão para cumprimento de penitência, na sua essência substitutiva dos horrores da tortura do corpo e também, ideologicamente, da pena capital.

44 Inicialmente criada como pórtico de entrada para o bairro de Saint-Antoine (Paris), por Carlos V (1338-1380), após a ‘Guerra dos Cem Anos’, acabou sendo também transformada em «Prisão de Estado».

45 Refira-se que vários outros edifícios acabariam por se afirmar como referência de uma arquitetura prisional. Destes se salientam o Palácio Ducal (Veneza), a Conciergerie (Paris), o castelo de Shlisselburg (S. Petersburgo), sendo que, para além de locais fortificados, de onde dificilmente se conseguia escapar, serviam, também, a finalidade de proteção contra ataques inimigos, pois “O que é sólido e seguro defende dos que estão fora e guarda os que estão dentro.” (Trigueiros, 2000: 51).

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Na sua etimologia a origem do termo ‘penitência’ advém do Latim «poenitentia», que significa “arrependimento, pesar, dor, pungimento, contrição”, encontrando-se consagrada no sacramento da confissão. A sua finalidade consiste na expiação do pecado pelo sacrifício pessoal, bem como a perfeição evangélica através da reparação proporcional do mal cometido, contribuindo para um tal desiderato a oração, o exercício do bem, a meditação, o jejum e, ainda, pese embora a reprovação atual da Igreja, a autoflagelação como meio de libertação da alma.

Finda a confissão, o penitente obtém, em nome de Deus, perdão pelas suas ofensas assumindo o compromisso de não mais pecar. Exemplo desta prática é a benção Urbi et Orbi,47 na qual o chefe supremo da Igreja Católica concede penitência e indulgência aos fiéis que se confessem e recebam a comunhão, ficando, desta forma, libertos de pecados mortais.

Tal como vimos, o Direito Canónico, consagrando o ideal de humanização das penas, teve particular relevo na conceção da sanção privativa da liberdade, contribuindo para que as práticas penais objetivassem uma finalidade expiatória. Com base em tal axioma, substituiria a Igreja a pena de morte pela reclusão do infrator para cumprimento de penitência, passando a considerar a punição pública como a única aceitável à luz dos seus princípios.

De acordo com Roberts (2006), acompanhando a «Prisão de Estado» surgiu a «Prisão Eclesiástica». A primeira, tal como vimos, aplicava-se aos inimigos do Estado e adversários políticos dos governantes, configurando uma modalidade de “prisão-custódia” até à leitura da sentença. Já a segunda destinava-se a clérigos rebeldes, enclausurados no ergastulum (cárcere subterrâneo e escuro do mosteiro), para que, por meio do exercício da penitência, se remissem do mal cometido e obtivessem o perdão da Igreja. Segundo Trigueiros (2000) estes cárceres eram ainda conhecidos como os “vade in pace”, por norma as últimas palavras que ouviam dos superiores eclesiásticos, antes de se dirigirem para as suas celas (cf. p. 58).

A este respeito refere-nos Geltner (2006) que, precedendo a fundação das prisões seculares, desde o século IV, medidas de encarceramento, eram já prática usual no seio do sistema penal eclesiástico. Ideologicamente oposta ao derramamento de sangue e baseada numa autonomia jurisdicional que a distinguia da civil, vários foram os conventos e palácios episcopais a servirem de locais destinados ao detrusio (encarceramento de elementos do Clero para cumprimento de penitência).

Numa mesma linha de pensamento, menciona Mirabete (2001) que o modelo de prisão teve as suas origens nos mosteiros da Idade Média, como punição imposta a monges ou clérigos

47 Significando «à cidade de Roma e ao mundo», foi inicialmente usada como abertura comum em pronunciamentos romanos. Realizada pelo Papa durante as celebrações do Natal e da Páscoa, esta bênção é dirigida aos fiéis em vários idiomas, numa clara demonstração do caráter universal da Igreja e do seu poder de misericórdia pelos penitentes.

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faltosos, sendo que, a reclusão em silêncio nas celas servia o propósito de estes se poderem dedicar à expiação dos seus pecados, de forma a se reconciliarem com Deus.

Caldeira (2009), indo mais longe nesta conceção, afirma que o cárcere como local de penitência e de privação da liberdade, para cumprimento de pena eclesiástica em celas ou mosteiros, deu origem ao surgimento da instituição “penitenciária”, tal como a conhecemos hoje. Ainda segundo este autor, as medidas punitivas possuíam um caráter sacral e assentavam no princípio da correção do infrator pela punição pública, esta última oficialmente reconhecida pela Igreja.

Comungando de tal afirmação, assevera Noronha (1997) que ao clérigo faltoso era, por norma, aplicada uma pena de confinamento celular (derivando deste termo a designação atual de ‘cela’) para cumprimento de penitência (desta advindo, também, o nome de ‘penitenciária’), de modo a remir o ato cometido e punível à luz do direito eclesiástico (cf. p. 229).

Mais aduz Peters (1998) que, numa tentativa de aplicação da legislação penal da Igreja, era suposto que, por finais do séc. XII, os mosteiros incluíssem já na sua estrutura, um espaço de reclusão destinado ao confinamento e redenção de religiosos desavindos com a fé cristã.

Trigueiros (2000) revela-nos que, durante igual período (séc. XII), os próprios bispos eram obrigados a ter nos palácios episcopais, prisões destinadas a elementos do Clero. Acredita- se que estas serviram, também, para alojar outras pessoas que não somente a clerezia, sendo que, não é, de todo, plausível que, os que nelas tenham estado recluídos, tenham prosseguido uma vida dedicada à Igreja (Geltner, 2006).

No Liber Sextus (1298), defendeu Bonifácio VIII que o poder universal da Igreja, dada a superioridade do fim em vista, devia ser aplicado a todos os homens na Terra e que todos estariam subordinados por ratione peccati (razões de pecado) ao Sumo Pontífice. Deste modo, e uma vez que o exercício jurídico eclesiástico, em matéria de poder secular, se justificava pela salvaguarda do superior interesse espiritual, o Clero podia, e devia, julgar assuntos do poder civil. Porém, não podia ser julgado por este.

Pese embora a campanha de revolta e de confronto que se seguiu, liderada por príncipes e reis europeus, que viram, desta forma, limitada a sua autoridade e domínio,48 por sua ordem executiva, intitulada “Quamvis” e inscrita no documento Liber Sextus, foi oficialmente autorizado o recurso à prisão de hereges, quer temporariamente, quer a título definitivo, com estas a aumentarem de forma significativa no seu papado. Sobre este assunto, refere-nos Lopes

48 Saliente-se, entre outros, a contenda mantida com Filipe IV (monarca francês) que, não acatando tal decisão papal, viu decretada a sua excomunhão em 1303.

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(2011) que “As penas impostas aos culpados foram também novas: penitência na prisão, num convento, numa sede episcopal” (p. 93).

Todavia, as condições de sobrevivência nas prisões eclesiásticas da Idade Média não diferiam muito das suas congéneres seculares. Entre estas sobressaíam a subnutrição, acompanhada das mais variadas formas de coação psicológica e de sujeição física. A título de exemplo, relata-nos Roberts (2006) que, no ano 1300, os monges de Toulouse (França), fartos das condições inumanas do seu encarceramento, acabaram protestando publicamente contra as mesmas. Sem sucesso, uma vez que estas haveriam, ainda, de continuar inalteradas por algumas centúrias mais e, inclusivamente, expandir-se por outros mosteiros (idem).

Aproximadamente quatro séculos mais tarde, Jean Mabillon (1632-1707), monge beneditino, na sua obra Réflexions sur les prisons des ordres religieux (escrita por volta de 1690 e publicada após a sua morte em 1724), atento aos abusos cometidos em prisões eclesiásticas, um pouco por toda a Europa, tão disformes dos princípios de caridade e misericórdia apregoados por Jesus Cristo, defende abertamente o tratamento ressocializador da pena. Neste documento encontram-se, ainda, inscritos o princípio da proporcionalidade entre o ato pecaminoso e o castigo a cumprir, chamando a atenção para a delimitação temporal do último. Alertando para os perigos que um confinamento em excesso poderia causar na recuperação do recluído, recomenda Mabillon que este possa, ocasionalmente, ser visitado, de modo a receber palavras de conforto e de alento no decurso do seu processo de reconciliação com Deus. O desempenho de um ofício deveria ser, também, tido em conta, como forma de manter o corpo ativo e a mente liberta, contribuindo o enclausurado, com o seu trabalho, para o funcionamento regular do mosteiro, para além de condições de higiene, cuidados médicos e supervisão espiritual, durante o processo de «cura penitenciária». O contacto com a natureza era, igualmente, defendido, por via do acesso ao exterior do cárcere, rodeado de espaços verdes, de modo a prolongar o seu estado de comunhão com o legado de Deus na terra (Trigueiros, 2000).49

Pese embora as condições de tratamento a que muitos foram sujeitos em reclusão, as prisões eclesiásticas representaram, mesmo assim, um passo em frente no sentido da humanização das penas. O seu principal objetivo residia no facto de se afirmarem como locais de correção onde os clérigos podiam remir os seus pecados através da oração e da penitência.

49 Em Réflexions sur les prisons des ordres religieux, Mabillon toma como exemplo a vida quotidiana nos mosteiros dos cartuxos, onde, pese embora a austeridade extrema e o espírito de pobreza que a caracterizava, era possível conciliar com o eremitismo no seio desta comunidade religiosa. Com efeito, cada monge tinha a sua própria cela, na qual permanecia para oração, alimentação, estudo, descanso e de onde saía para ir à igreja, encontrando-se com os seus congéneres para a missa matinal, vésperas e ofício da noite. Circundante ao mosteiro, era ainda comum a existência de oficinas e jardins para trabalho e contacto com o ar livre.

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A Igreja defendia, por esta via, a necessidade de recolhimento em locais seguros e recatados, cujo entorno contribuísse para a consecução de um tal desiderato. Da evolução deste conceito resultariam as ‘penitenciárias’ – terminologia que viria a ser adotada pela justiça secular concernente à instituição onde o acusado aguardaria por julgamento ou o condenado ver-se-ia privado da sua liberdade.

O cárcere eclesiástico, legitimamente respaldado num sistema jurídico que o enformava, surge com naturalidade a uma sociedade medieva em pleno processo de transformação. Com o evoluir dos tempos, abandonaria o tradicional modelo secular de custódia de indivíduos e chamaria a si a responsabilidade de um paradigma de reclusão, visando a redenção, quer sob a forma de “aplicação da prisão preventiva como regra, [ou] a detenção prolongada como expediente comum” (Santos, 1999: 36), medida que de extraordinária, passaria a ordinária sob o beneplácito da Igreja e que viria a ter consequências futuras profundas, no desenho da legislação penal dos Estados, um pouco por toda a Europa.

Seguramente que as prisões da Igreja emanaram em si toda uma abordagem diferente, com contornos materiais e psicológicos distintos, a partir das quais fizeram sobressair uma realidade prisional assente na privação da liberdade. De facto, a penitência canónica deixaria como heranças a reclusão celular, o arrependimento e a correção do infrator rumo à reabilitação. Com efeito, e pese embora, numa etapa inicial, a «prisão-pena» tenha assumido um estatuto de penalidade marginal no universo secular, a praxis eclesiástica viria a contribuir de forma decisiva para a sua introdução no modelo penitenciário, sendo que, num futuro, não muito distante, acabaria, mesmo, por vingar como regra.