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A EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE ADULTOS (EM CONTEXTO PRISIONAL)

2. A Educação de Adultos em Portugal

2.4. A educação de adultos no pós-25 de Abril

2.4.1. A EA na Lei de Bases do Sistema Educativo

2.4.1.1. O SEUC, o SEBC e o SEMC

Com o Despacho Normativo n.º 193/91, de 5 de setembro, serão estabelecidas disposições sobre o ensino recorrente ao nível do 3.º ciclo do ensino básico no âmbito do SEUC, sendo este, posteriormente, generalizado através do Despacho Normativo n.º 189/93, de 7 de agosto. Das suas características referem-se, grosso modo, o seu caráter de flexibilidade e permeabilidade, visando, sobretudo, a promoção dos conhecimentos dos discentes, quer estes tenham sido adquiridos no decurso de uma vida ativa, quer através do próprio sistema educativo, nomeadamente em formações anteriores. Distinguindo-se do ensino regular, por não se encontrar organizado em função de anos de escolaridade, a conclusão de um curso depende do número de unidades e disciplinas que o compõem e do seu ritmo de capitalização – com cada disciplina a possuir um programa dividido por unidades e com cada uma destas a compreender objetivos, conteúdos e uma avaliação final. Com efeito, a progressão do aluno fica subordinada ao modo como as vai realizando, passando este a gerir um ‘itinerário individual de formação’. Desta forma, promovendo a autonomia do discente, numa perspetiva de desenvolvimento pessoal/intelectual e assente num ritmo de aprendizagem próprio, competirá ao professor o papel de orientador de todo um percurso de autoformação.

No que ao ensino secundário recorrente diz respeito, o mesmo modelo de funcionamento será tido em conta, sendo este, primeiramente, introduzido através da publicação do Despacho

A Educação e Formação de Adultos na Construção de um Saber Profissional Docente em Contexto Prisional

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n.º 273/ME/92, de 10 de novembro, que estabelece a criação do SEUC a título experimental, define a rede de escolas onde se realiza, bem como regula o respetivo modelo de organização e, de seguida, o Despacho n.º 41/SEED/94, de 14 de junho, que regulamenta o alargamento do regime experimental e cria, ainda, cursos técnicos nesta modalidade e ciclo de ensino. Posterior legislação definirá, ainda, orientações, regulamentações, alterações, revogações que, segundo Silva e Rothes (1998), citados por Badalo (2012), serão bem reveladoras, por um lado, da tentativa de adaptação, deste sistema de ensino, à evolução da conjuntura social e, por outro, da fragilidade e inadequação do modelo escolar adotado.

Com efeito, fruto de uma avaliação realizada ao abrigo do Despacho n.º 5017/98, de 2 de março, será, um ano depois, com o Despacho Normativo n.º 36/99, de 22 de julho, que o ME virá justificar os maus resultados obtidos com a introdução do SEUC nos 3º ciclo do ensino básico e ensino secundário. Patente ficou, desde logo, visível o elevado insucesso académico, as altas taxas de absentismo e abandono e os enormes gastos do erário público com este subsetor de ensino, sem retorno em termos de proventos escolares (Badalo, 2012; Capucha, 2013; Jesus, 2014), para além do caráter ineficaz de um sistema que se revelou “incapaz de responder ao amplo universo de alunos que necessitam de um ensino e de uma aprendizagem mais apoiada e orientada, satisfazendo apenas uma minoria de alunos portadores de manifestas capacidades de autoformação” (ME, 2003: 9).159

Perante o descalabro revelado, objetivou a tutela um arrepiar de caminho e uma alteração de estratégia rumo ao tão almejado sucesso, redundando esta numa reformulação da organização pedagógica e administrativa neste subsetor da educação. Tal assentou, pois, na introdução, pelo Despacho n.º 20421/99, de 27 de outubro, de um sistema de ensino por blocos capitalizáveis (SEBC), o qual, após uma primeira fase de experimentação pedagógica, viria, em função da prática e dos resultados obtidos, para além de algumas alterações organizacionais, a ser alargado a vários estabelecimentos de educação pelo Despacho n.º 21711/2000, de 27 de outubro.160 Refira-se, contudo, que, pese embora as circunstâncias da sua implementação, a mudança não foi bruscamente introduzida, compreendendo o SEBC e o SEUC algumas características em comum.

Denota-se, assim, que os programas das diversas disciplinas se encontram organizados em blocos, sendo avaliados separadamente e capitalizados, logo que concluídos com

159 Refira-se, a propósito, que no nível básico a taxa de sucesso rondou os 4-5% e no nível secundário foi inferior a 1% (CNE, 2013, citando Pinto, 1998).

160 O Despacho n.º 16903/2003, de 2 de setembro, irá proceder a alterações respeitantes à avaliação, nomeadamente definindo o regime de avaliação e transição entre blocos no 3º Ciclo do Ensino Básico Recorrente, de alunos em regime presencial.

Capítulo II A Educação e Formação de Adultos (em Contexto Prisional)

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aproveitamento; no caso de interrupção de estudos, ao retomar estes, o posicionamento do aluno é feito a partir do último bloco capitalizado, evitando-se, desta forma, o regresso ao início do plano de formação. Quanto às suas dissemelhanças, refletem-se estas no processo de ensino- aprendizagem, que passa a funcionar sob um sistema de grupo-turma, deixando de coexistir na mesma sala de aula alunos em unidades diferentes, para além de um regime de avaliação contínua (formativa e sumativa), feita bloco a bloco, para os inscritos no regime presencial.161

Uma outra medida implementada, designadamente ao nível do ensino secundário, fruto de recomendações emanadas do Documento Orientador da Reforma do Ensino Secundário Recorrente (ME, 2003), consistiu na publicação do Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de março, diploma que estabelece os princípios orientadores da organização e gestão curricular deste ciclo de ensino, bem como da avaliação das aprendizagens, aplicando-se, de igual modo, ao congénere recorrente, num processo que conduzirá à extinção do SEUC e à sua substituição por um sistema de ensino por módulos capitalizáveis (SEMC), (Badalo, 2012; Jesus, 2014).162

Neste pressuposto, pouco tempo depois é publicada a Portaria n.º 550-E/2004, de 21 de maio,163 que visou regulamentar os novos cursos do ensino secundário recorrente, procedendo à aprovação do respetivo regime de organização administrativa, pedagógica e avaliação. São, desta forma, criados cursos científico-humanísticos, tecnológicos e artísticos especializados para funcionarem, também, no âmbito do SEMC. Estes encontram-se organizados por disciplinas, de acordo com um sistema modular (por norma, equivalendo cada módulo a um período letivo) e segundo um referencial que se estende por três anos (tempo de duração idêntico ao ensino secundário regular diurno). Durante este espaço temporal fica o aluno sujeito ao regime de funcionamento do curso, podendo tal ser encurtado, se tiver obtido equivalência(s) a alguma(s) disciplina(s) realizada(s) em anterior percurso de nível secundário (cf. Portaria n.º 550-E/2004, de 21 de maio).

Mais se refere que os planos de estudo se baseiam no programa do currículo nacional para este ciclo de ensino (cf. Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de março), compreendendo uma componente de formação geral (comum a todos os cursos), para além de: os cursos científico- humanísticos incluírem a componente de formação específica; os cursos tecnológicos as

161 No caso dos alunos inscritos no regime não-presencial, refere-se a existência de épocas específicas para prestação de provas de exame (cf. Despacho Normativo n.º 36/99, de 22 de julho, n.º 8), (situação idêntica no SEUC).

162 Apesar de prevista a sua supressão, em regime presencial, para o ano letivo de 2006/07, o SEUC manteve-se, ainda, em vigor até 2007/08, de forma a permitir que os estudantes inscritos no regime não-presencial tivessem a possibilidade de capitalizar as unidades em falta e concluir o nível de ensino em que se encontravam (cf. Portaria n.º 550-E/2004, de 21 de maio, art.º 41.º).

163 Viria a ser, parcialmente, alterada pela Portaria n.º 781/2006, de 9 de agosto, que acrescenta ainda mais cursos aos (cursos) científico- humanísticos, tecnológicos e artísticos especializados.

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componentes de formação científica e tecnológica; e os cursos artísticos especializados as componentes de formação tecnológica e técnico-artística.

Relativamente ao regime de frequência dos cursos, tal como com o SEUC e o SEBC, o SEMC pode assentar num caráter presencial (sendo o aluno obrigado ao dever de assiduidade) e, neste caso, a um sistema de avaliação contínua com os módulos a serem, após aprovação, capitalizados. No regime não-presencial, fica dispensado do dever de assiduidade, mas sujeito à realização de provas de avaliação em épocas predeterminadas (permitindo-lhe uma maior autonomia e ritmo de aprendizagem próprio).

Aquando do término do curso, para além da emissão de um certificado, que ateste a conclusão do nível secundário de educação é, ainda, relativamente aos cursos tecnológicos e cursos artísticos especializados, emitido um certificado de qualificação profissional de nível 3 (Portaria n.º 550-E/2004, de 21 de maio, art.º 38.º).