• Nenhum resultado encontrado

As três obras escolhidas foram Vinte e Cinco a Sete Vozes de Alice Vieira; O Conto da Ilha Desconhecida, de José Saramago e Água de Anil, de Nilma Lacerda. A narrativa de Vinte e Cinco a Sete Vozes envolve, como o próprio nome indica, a temática do dia 25 de abril em Portugal. Um episódio da história portuguesa que ficou conhecido como a Revolução dos Cravos, deflagrada em 25 de abril de 1974, e que pôs fim a 48 anos de uma ditadura fascista em território lusitano (SOUZA, 2012). A narrativa construída por Alice Vieira gira em torno de uma personagem, uma pesquisadora, que investiga o dia 25 de abril a partir do que pessoas comuns sabem sobre essa data. A narrativa junta sete personagens, que formam as sete vozes, com olhares diferentes, mas que se completam, sobre o mesmo episódio. A prosa de Alice Vieira contempla um tema, o 25 de Abril, que está previsto no programa da disciplina de História de Portugal para o 6º ano do2º ciclo do ensino básico com os seguintes conteúdos: ação militar e popular em 25 de Abril; a independência das colônias; a Constituição de 1976 e o restabelecimento da democracia. A obra de Saramago conta a história de um homem que vai pedir ao rei um barco para encontrar uma ilha desconhecida. Mas a personagem encontra vários obstáculos, desde a petição que deveria ser encaminhada a um rei que vive muito distante de seu povo, até as dificuldades de encontrar um barco que pudesse navegar em águas profundas e levá-lo até a ilha desconhecida. Assim, o texto vai fazendo os contornos dos personagens que são identificados apenas pelas profissões e vai mostrando uma hierarquia

e uma ordem social que destaca as desigualdades daquele sistema de governo. A narrativa segue mostrando a personagem central como um homem inquieto que ainda acredita que existem ilhas a serem descobertas e que vai buscar seus sonhos, mas é impedido pela futilidade do cotidiano. O livro é indicado como leitura para o 8º ano em Portugal e a partir de sua narrativa podemos estudar aspectos da geopolítica que também fazem parte dos programas de ensino do 8º ano em Portugal e no Brasil.

Nilma Lacerda narra a história de Rosalvo, filho da lavadeira Dinalva, que desde muito cedo aprende a ler o rol da lista de roupas que sua mãe lavava. Por conta da sua habilidade com a leitura a personagem se destaca no seio da família e também da comunidade. Rosalvo cresce defendendo as águas límpidas dos rios e vai trabalhar em um jornal que potencializa sua voz em defesa do meio ambiente. Por conta disso, e da sua simpatia, elege-se vereador e em seguida deputado. Sempre com um discurso de defesa dos rios e das florestas. No decorrer da sua atuação política os seus discursos e sua prática vão sendo amordaçados pelo poder político das grandes empresas do agronegócio e da indústria que financiam os deputados e sua fala se torna um palavreado vazio que não consegue mais defender os rios limpos e as florestas preservadas. Angustiado e consciente de que seus ideais de mocidades foram por água abaixo por conta do lobby político do agronegócio, Rosalvo retorna a sua gente em busca da sua infância e do anil que era usado para limpar as roupas. A narrativa de Água de Anil pode ser trabalhada no ensino de geografia a partir dos conteúdos previstos no 7º ano do segundo ciclo do sistema de ensino português e do 7º ano do ensino fundamental no Brasil.

As obras ainda estão em fase de avaliação do seu potencial didático e pedagógico para se estudar História e Geografia. As temáticas não são abordadas de forma direta. No entanto já é possível perceber que o envolvimento propiciado pelo texto literário pode deflagrar uma perspectiva de pesquisa e entendimento das temáticas abordadas nas narrativas a partir de uma mediação no campo do ensino e da aprendizagem que entenda o estudante como um executor de sua formação com suas ideias e experiências e o professor como um organizador de atividades problematizadora.

REFERÊNCIAS

BALÇA, Angela. (2018). A leitura de literatura – algumas reflexões no contexto educativo português. In: PONTES, V.M.A; SILVA, L.G.S.; BATISTA, C.S. (Org.). (2018). Trilhas Pedagógicas. Curitiba: CRV.

BALÇA, Angela; MAGALHÃES, Olga; COSTA, Paulo. (2010). (Org.). Visto de lá: a corte portuguesa no Brasil contada aos mais novos. Castelo Branco: Escola Superior de Educação de Castelo Branco, Edição Fora de Série.

BUCKINGHAM, David (2007). Crescer na era das mídias eletrônicas. Tradução de Gilka e Isabel Orofino. São Paulo: Loyola

CÂNDIDO, Antônio. O direito à literatura. (1988). In: CANDIDO, Antonio. Vários escritos. São Paulo: Ouro sobre azul. DEBUS, Eliane (2010). Reflexões sobre o critério de escolha do livro literário nos anos iniciais do ensino fundamental. In: RÖSING, T.M.K; BURLAMAQUE, F.V. (Orgs.) (2010) De casa e de fora, de antes e de agora. Passo Fundo: Editora da Universidade de Passo Fundo.

DEBUS, José Carlos (2010). O cinema que pensa a pedagogia: autonomia e emancipação nas práticas pedagógicas dos filmes O Contador de História e Entre os Muros da Escola. Dissertação (mestrado em ciências da linguagem). Tubarão: Universidade do Sul de Santa Catarina.

DEBUS, José Carlos (2018). Educação para a autonomia: reflexões sobre a atualidade do conceito de autonomia a partir de um estudo entre crianças. Tese (doutorado em educação). Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina.

DUBET, François (2014). François. Injustiças: a experiência das desigualdades no trabalho. Florianópolis: Editora da UFSC.

FREIRE, Paulo. (2006) Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. FREIRE, Paulo. (2007) Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra.

LACERDA, Nilma. (2014) Água de Anil. São Paulo: dsop.

MARQUEZI, Rosangela A.(2018) Ou isto ou aquilo – a (há) poesia além da pedagogia. In. Debus, Eliane; Bazzo, Jilvania; Bortolotto, Nelita. (Orgs.) (2018). Poesia (cabe) na escola. Campina Grande: EDUFCG.

MARTIN-BARBERO, Jesús.(2014) A comunicação na educação. Tradução de Maria I Vassalo e Dafne Melo. São Paulo: Contexto.

PERROTTI, Edmir (1986). O texto sedutor na literatura infantil. São Paulo: Ìcone. RANCIÈRE, J. O mestre ignorante. Belo Horizonte: Autêntica.

SARAMAGO, José (2015) O Conto da Ilha Desconhecida. Porto: Porto. VIEIRA, Alice.(2012) Vinte e Cinco a Sete Vozes. Alfragide: Caminho.

CONTO A PRINCESA E A ERVILHA, DE ANDERSEN, E A