• Nenhum resultado encontrado

Organização das fontes e a definição de uma estrutura narrativa

2. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS PARA UMA HISTÓRIA BIOGRÁFICA DO

2.5 Organização das fontes e a definição de uma estrutura narrativa

Outras fontes utilizadas foram livros, capítulos de livros, artigos científicos, entrevistas, obituários e demais documentos que proveram informações relacionadas à vida acadêmica-institucional de Skinner e à constituição comunitária da análise do comportamento. Também compuseram as fontes secundárias estudos históricos sobre a institucionalização da ciência e da psicologia nos Estados Unidos, correspondentes ao período cronológico analisado nesta tese. Dois exemplos desse tipo de fonte foram os livros

Psychologists on the March: Science, Practice, and Professional Identity in America, 1929- 1969 (1999) e Science at Harvard University: Historical Perspectives (1992). O primeiro

apresenta história ampla das questões institucionais e da organização da psicologia como ciência e profissão nos Estados Unidos; o segundo, por sua vez, é modelo de fonte que aborda historicamente uma instituição em particular, a Universidade de Harvard, da qual Skinner fez parte em dois momentos de sua carreira. Além desses textos, integraram as fontes secundárias escritos acerca da história e da sociologia da ciência, que auxiliaram na análise das demais fontes.

No tópico seguinte, é descrito o processo de organização das fontes e como ele gerou a estrutura narrativa da história produzida nesta tese.

2.5 Organização das fontes e a definição de uma estrutura narrativa !

A descrição dos procedimentos de coleta e organização de informações dificilmente compõe parte das pesquisas históricas e conceituais da ciência. Uma explicação para tanto é

a crença na representação da história como fato descoberto e não como fato construído (Prost, 2008). O descaso com o papel dos procedimentos adotados – de forma consciente ou inconsciente pelo pesquisador – tem como um de seus prejuízos a desconsideração quanto aos efeitos sobre a narrativa histórica produzida. É lógico que a exposição de procedimentos não imuniza o pesquisador contra erros, nem o isenta de responsabilidades acerca das consequências de uma produção historiográfica. Entretanto, uma vez que a investigação de qualquer evento histórico envolve o recurso a procedimentos capazes de identificar padrões históricos, esperamos que as descrições de alguns dos artifícios utilizados neste trabalho amenizaram essa deficiência comum aos estudos históricos da ciência.

Como exposto, as fontes primárias constituíram-se, sobretudo, de relatos autobiográficos de personagens envolvidos na história da formação da análise do comportamento como grupo e nova disciplina científica no cenário da psicologia experimental estadunidense. A escolha das informações selecionadas nessas fontes seguiu critérios cronológicos e temáticos. Tais critérios subordinaram-se ao objetivo de compreensão do processo de organização comunitária da análise do comportamento e de sua formação como uma disciplina científica, desde o início do percurso acadêmico de Skinner na psicologia em 1928 até sua decisão por aposentar, na década de 1960.

Em primeiro lugar, com vistas aos objetivos da pesquisa, categorizamos os três volumes da autobiografia de Skinner. A finalidade foi mapear as informações referentes à vida acadêmica e institucional desse psicólogo e outros dados vinculados à história de organização comunitária da análise do comportamento. As principais categorias formuladas foram: “as condições e relações institucionais de Skinner”, “a relação entre Skinner e Keller”, “a posição de Skinner acerca do conhecimento psicológico”, “o reconhecimento de Skinner”, “o isolamento de Skinner”, “a rejeição da análise do comportamento”, “o

isolamento da análise do comportamento”, “a preferência de Skinner por relações informais na ciência”, “as relações informais entre os primeiros analistas do comportamento”, “os mecanismos de organização social e de institucionalização da análise do comportamento” e “as relações com a comunidade não behaviorista”, “os mecanismos de controle interno e externo de funcionamento comunitária da análise do comportamento”. Essas categorias, formuladas no decurso da leitura das fontes, geraram, subcategorias, à medida que surgiam novas informações pertinentes.

A partir dessa sistematização das informações alusivas à vida acadêmica de Skinner, iniciamos a segunda fase desta pesquisa, com a finalidade de identificar, nas demais fontes primárias e secundárias, como outros personagens descreveram suas participações nos episódios mencionados por Skinner. 21

Efeito visível na estrutura de nossa tese, ao tomar a autobiografia de Skinner como seu eixo central, foi a ampliação do número de personagens envolvidos na história à medida que avançava a cronologia. Assim, do mesmo modo que a análise do comportamento iniciou-se como empreendimento quase individual e informal, a partir da entrada de Skinner no doutorado em Harvard, em 1928, e se tornou, ao longo das três décadas seguintes, um empreendimento coletivo e formal, a narrativa apresentou o número de atores expandido à medida que a cronologia avançava.

Por último, o recurso à autobiografia e às biografias de Skinner foi evidenciado em quase todos os capítulos, quando um interlúdio, no qual a situação acadêmica e institucional de Skinner sempre foi exposta antes de analisarmos a situação dos praticantes de sua ciência. Esse procedimento foi adotado de modo a formar uma base comparativa entre as condições experimentadas por Skinner e pelos praticantes de sua ciência do comportamento !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

21

O acesso e o mapeamento de informações de sujeitos, instituições, produções científicas e outros dados relevantes também foram facilitados pelo índex das três autobiografias de Skinner, publicadas em Epstein e Olson

no mesmo período. Dessa maneira, esperamos que o “excesso de Skinner”, equilibrado à medida que progride a cronologia de nossa narrativa, se justifique por sua coerência com os objetivos desta investigação.

! ! ! ! ! ! ! ! ! !

3. “DESCONHECIMENTO” E LIBERDADE: O PERCURSO INICIAL DE SKINNER EM HARVARD

Eu trabalhei inteiramente sem supervisão. Ninguém sabia o que eu estava fazendo até que eu entregasse algum tipo de relatório contestável. Possivelmente os psicólogos pensaram que eu estava sendo orientado por Crozier e Hoagland, e eles podem ter pensado que alguém na psicologia estava de olho em mim, mas o fato é que eu estava fazendo exatamente o que me satisfazia. (Skinner, 1979, p.35).!

Entre os anos de 1928 e 1936, Skinner realizou seu doutorado e seu pós-doutorado na Universidade de Harvard, período no qual estabeleceu as bases de seu sistema científico, com a formulação de um método, o delineamento experimental de sujeito único, e a elaboração inicial daquilo que, ulteriormente, foi identificado como o conceito central de sua ciência do comportamento, o condicionamento operante. Como discutido na introdução, muito se sabe sobre as questões teóricas, metodológicas, empíricas e instrumentais abarcadas na construção primária da ciência skinneriana e em seu vindouro desenvolvimento. Todavia, são escassos os estudos centrados na análise da repercussão dos cenários institucional e acadêmico no percurso profissional de Skinner, e suas influências na constituição das bases de sua ciência do comportamento, e na sua posterior organização social.

Tendo em vista essa lacuna historiográfica, neste capítulo que inicia nossa narrativa da biografia acadêmica de Skinner e do início da sua ciência do comportamento, analisamos: 1) o ingresso de Skinner na psicologia de Harvard; 2) as condições institucionais do departamento de psicologia daquela instituição; 3) o estabelecimento do contato informal com Keller como protótipo da organização social da análise do comportamento; 4) o vínculo de Skinner com o departamento de fisiologia em Harvard; 5) a liberdade acadêmica e institucional e o parcial desconhecimento de Skinner acerca da produção científica em psicologia como elementos

Documentos relacionados