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1.2 A Cena Amadora e os Visitantes na Bahia

1.2.1 Os Artistas em Turnê

Os artistas que visitaram Salvador nestes anos também tiveram que disputar os poucos espaços teatrais, sobretudo os teatros Guarani e Oceania. Entre 1956 e 1961, destacamos a presença das companhias de Barreto Jr., Palmerim, Ítalo Cúrcio, José Vasconcelos, Walter d’Ávila, Walter Pinto, Eva Tudor e Rodolfo Mayer. Em novembro de 1956, Procópio Ferreira apresentou repertório com seis espetáculos no palco do Oceania58. Como vemos, Salvador, como as demais praças do Nordeste, continuou recebendo os artistas e grupos considerados ultrapassados pelos centros formadores da nova mentalidade teatral brasileira.

Um dos mais freqüentes na cidade foi, sem dúvida, Barreto Jr. com sua Companhia Brasileira de Comédias, que trouxe espetáculos entre 56 e 58. No primeiro ano, com o apoio do Serviço Nacional de Teatro, apresentou no Oceania, a comédia O Futuro do Presidente, de Armando Gonzaga, entre outras. Logo depois, em abril de 1956, no mesmo teatro, é a vez da Companhia de Teatro Cômico, do comediante Palmerim, vir através de convite do jornal A

Tarde59.

O ano de 1957 é pródigo em visitas. Em maio, o Guarani apresenta a Companhia de Comédias Eva Tudor, fazendo uma concorrida temporada de 26 espetáculos (sete vesperais e 19 espetáculos noturnos). O grupo, que tinha no elenco Jorge Dórea e Glauce Rocha, se desentendeu com a administração do teatro, na época à cargo de Francisco Pithon, por conta

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Em 17 de abril de 1961, com o título ‘A última alegria’, Adroaldo descreve em sua coluna no A Tarde, a 7 dias, como foi este encontro com Lobato: “A opereta encantara-o tanto, que passa a vislumbrar possibilidades de transformá-la em peça de repertório”. É também nesta matéria que sabemos que, logo depois, Lobato escreve para Adroaldo dizendo que entrara em contato com Veltchek, um coreógrafo tcheco residente no Rio e que se “ele incluir no repertório do corpo coreográfico a opereta estará ela triunfante nas grandes capitais. O corpo dispõe de um elenco móvel, que até sai para o estrangeiro. Como está, representada por crianças das escolas daí, Narizinho não poderá sair de Salvador”.

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Em O Teatro na Bahia Através da Imprensa, Aninha Franco afirma que esta temporada foi cancelada. Entretanto, o início e o final da estada de Procópio Ferreira na capital são anunciados em matérias do A Tarde, em 09 e 20 de novembro de 1956. 59 Segundo matéria do A Tarde, de 20 de abril de 1956: “Interessada em manter a Campanha de Proteção às Famílias Necessitadas, que é uma iniciativa nossa, A Tarde provocou a vinda à Bahia da Companhia de Comédias Palmerim, (sendo que) uma parte de cujos espetáculos reverterá em favor daquele movimento”. A matéria, que tem como única fonte o empresário do grupo, Abelardo Matos, reclama da falta de espaços em Salvador.

das altas taxas cobradas60, uma queixa já feita por outras companhias. Em setembro e outubro, a Universidade da Bahia, através da Escola de Teatro, patrocina a vinda de dois grupos que muito repercutem na imprensa: o Teatro Universitário de Minnesota e o Teatro de Arena. O Teatro Universitário de Minnesota encena, em inglês, Sonho de Uma Noite de

Verão, de William Shakespeare, e Nossa Cidade, de Thorthon Wilder, no Instituto Normal61. Já o Teatro de Arena movimenta a juventude baiana apresentando seis espetáculos, na boate do Hotel da Bahia. Também em outubro deste ano, a Companhia José Vasconcelos se apresenta no Guarani.

Em novembro de 1957, o diretor Adolfo Celi e Pascoal Carlos Magno, o criador do Teatro do Estudante, chegam à cidade para acertar temporada na programação inaugural do TCA. Em visita à Escola de Teatro, Magno não poupa elogios. “O meu maior entusiasmo (...) é ver como velho combatente que sou pelo teatro o interesse extraordinário do reitor Edgar Santos. (...) E este exemplo tem sido aproveitado, por outras universidades do país”62. Apesar dos elogios feitos à Escola de Teatro, a entrevista de Pascoal não cita ou faz qualquer comentário ao seu diretor, Martim Gonçalves.

A euforia brasileira com a conquista do campeonato mundial na Copa da Suécia, em 1958, divide espaço na Bahia, em julho, com o melancólico incêndio do TCA. Contudo, o recém- inaugurado Teatro Santo Antônio já promove em sua primeira temporada anual oito produções63. Alunos da Escola de Arte Dramática (EAD) de São Paulo também apresentam, na Escola de Teatro da Universidade da Bahia, a peça O Escorial, de Michel de Ghelderode, no dia 09 de agosto de 1958,64 enquanto outros egressos da instituição paulista já sacodem o

60 Em matéria do A Tarde, de 14 de maio de 1957, o crítico teatral que acompanha a companhia de Eva Tudor, Agnello Macedo, reclama das exigências feitas às companhias visitantes, que precisam entregar 65% da renda em impostos e taxas (35% só para uso do espaço, 10% estatística, 10% direito autoral, contudo não justifica os outros 10%). Era assim em Salvador, ao contrário de outras capitais do Nordeste que cediam teatros públicos para as companhias de fora, sem custos. “Nada mais justo, em se tratando de uma companhia de grande categoria artística que vem trazer ao Norte os mesmos espetáculos que apresentou na capital da República, com as mesmas montagens, transportando abundante material cênico e pessoal numeroso”, justifica. Da pretendida temporada de 30 dias, conseguiu apenas vinte diárias, fazendo 26 espetáculos, sete vesperais (com 4.909 pessoas pagando a metade do preço) e 19 noturnos (com 5.722 pagando integral).

61 No A Tarde, em 04 de setembro de 1947. E também in EICHBAUER, Hélio e VELOSO, Dedé. Arte na Bahia. Salvador: Corrupio, 1991.

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Em entrevista ao Diário de Notícias, de 30 de novembro de 1957, Pascoal Carlos Magno fala que a Universidade de Pernambuco também vai inaugurar, em março de 1958, uma Escola de Teatro.

63 A primeira peça da Escola, em 1958, antes mesmo da inauguração do TSA, A Via Sacra, é encenada no Cruzeiro de São Francisco e a última, Os Tesouros de Chica da Silva, nos jardins da Escola.

Sudeste com a explosão de Eles Não Usam Black-tie. Rodolfo Mayer visita a cidade em 1959 e 1961, trazendo sua conhecida, e agora criticada, montagem de As Mãos de Eurídice, de Pedro Block. Em agosto de 1959, a visita do Teatro Cacilda Becker coincide com a realização do IV Colóquio Luso-Brasileiro, que movimentava a capital com apresentações extras da Escola de Teatro. O repertório de Cacilda traz as peças Mary Stuart, de Friedrich Schiller, A

Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho e Pega-fogo, de Jules Renard65.