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2 O CONTEXTO SOCIOECONÔMICO E A ATIVIDADE JORNALÍSTICA

2.2 Jornalismo: Construção de Narrativas

2.2.3 Os Gêneros do Texto Jornalístico

À polêmica questão sobre a existência ou não de gêneros no jornalismo, reafirmamos a importância de seu estudo visto que eles possuem função pragmática, modelando a escrita e a expectativa de recepção dos leitores. (MELO, 2003). No jornalismo brasileiro, os formatos informativos seriam: nota, notícia, reportagem e entrevista (Idem, 2003). A diferença entre os três primeiros reside na progressão dos acontecimentos no tempo e no seu conseqüente registro, assim como na amplitude da apuração dos fatos, não sendo tão relevante a extensão do texto. A entrevista possui basicamente duas configurações: organizada como pergunta e resposta (ou pingue-pongue) e a textual, na qual as falas do entrevistado assumem o discurso indireto.

Quanto aos formatos opinativos, seriam: editorial, comentário, artigo, resenha, crítica,

coluna, crônica, caricatura e carta. São eles os mais ambicionados na cobertura do

jornalismo cultural. Seguiremos a terminologia proposta por Melo (2003), para uma definição sucinta e operacional. Editorial seria aquele texto não assinado que expressa a opinião da empresa diante dos fatos de maior repercussão do momento. Ele reflete não somente a opinião dos proprietários, como também a de diferentes forças que atuam na organização jornalística. O artigo é um texto no qual o jornalista ou articulista desenvolve uma idéia e apresenta sua opinião, através de argumentos. É comum que este espaço seja franqueado também às apreciações que divergem da linha editorial do veículo que as publica, já que o autor assume toda a responsabilidade pelo seu raciocínio. Quanto ao termo coluna, que surge a partir da própria diagramação do espaço textual nos jornais (organizado em colunas paralelas de textos), aos poucos é identificada com uma seção especializada, publicada com certa regularidade, geralmente assinada, com estilo pessoal e livre. A coluna abarca, dentro de seu espaço, diversos outros formatos, como a nota informativa, o comentário opinativo e outros textos de maior fôlego. A coluna de notas, por conta de sua agilidade, comumente é usada

como ‘balão de ensaios’ para fatos e idéias que, se funcionam, são mais tarde ampliados em notícias e reportagens.

Quanto à resenha e à crítica, aqui é preciso distinguir melhor seus detalhes e função. Enquanto a primeira corresponderia a uma apreciação pessoal e assinada de produtos culturais, com a finalidade de orientar a ação de fruidores/consumidores, a crítica exige diferentes métodos e critérios para a avaliação de um dado produto artístico. Por conta de suas exigências internas, seu exercício está cada vez mais incompatível com a rotina de trabalho dos jornalistas e com o espaço a ela dedicado pela imprensa.154 Tomando de empréstimo a reflexão de Aguiar (2000) sobre a crítica literária, sabemos que o texto crítico deve conter em sua estrutura quatro operações fundamentais: paráfrase, análise, interpretação e comentário. A paráfrase seria a tentativa de descrever para o leitor a obra fruída pelo crítico. Essa ‘reconstrução’ textual, obviamente, já não seria uma “operação passiva”, mas norteada por escolhas e recortes. A análise seria aquele momento no texto crítico em que são considerados os elementos particulares de uma dada obra artística, segundo as relações propostas por sua linguagem específica. Sendo “uma obrigação do crítico” conhecer os instrumentos basilares de sua produção poética. Quanto à interpretação, diz respeito à relação de tais elementos internos do produto artístico com as demais áreas e disciplinas do conhecimento. Em outras palavras, do diálogo do produto estético com outras ciências humanas, como a psicologia, a história e a sociologia.

Finalizando, Aguiar afirma que, dentro do texto crítico, o comentário seria toda informação externa à obra, referente a dados biográficos dos artistas, aos custos da produção e às curiosidades da feitura da obra. De acordo com o autor, apesar de tais operações atuarem simultaneamente, sem separações muito rígidas, seria evidente a preferência nos textos

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Já na década de 1950, Afrânio Coutinho levanta com freqüência o debate sobre o formato e o exercício da crítica. No artigo ‘Crise da crítica’, publicado na folha Literatura e Artes, do A Tarde, em 07 de julho de 1956, ele surpreendentemente ressalta que “a vida moderna dificilmente comporta um sistema de crítica de uma época lenta, de enormes lazeres”. Por isso, o autor prevê que a própria natureza do jornalismo moderno, tão enquadrado na vida social dos nossos dias, torna inadequado aquele grande formato. “Não é compreensível que o jornalismo ligeiro, de acordo com uma vida superficial e apressada, comporte os longos e pesados rodapés da crítica (...) Não corresponde às necessidades e à sensibilidade atuais”, destaca. Ainda segundo Coutinho, o público que se supõe apto a julgar, forçou a migração da ‘alta crítica’ para o livro, a revista ou jornal especializados. Finalizando o artigo, ele esclarece que, em inglês, criticism significa crítica elevada, séria e técnica, “incompatível com a ligeireza do jornalismo e do seu público”, enquanto review, ou resenha, é o termo empregado para a nota ligeira e efêmera.

contemporâneos pelas operações de paráfrase e comentário, ou seja, para a descrição da obra e para o comentário de valores externos à sua linguagem artística.

Quanto ao espaço reservado ao teatro na grande imprensa de hoje, ele está basicamente restrito às colunas de notas, às reportagens de lançamentos e demais roteiros indicativos de consumo (MIRANDA, 2003). Há, no jornalismo diário, evidente incompatibilidade com o tempo lento necessário para a pesquisa e formação do jornalista, para a reflexão de ordem poética e conceitual, e para a própria feitura do texto crítico. Como nunca antes, se faz necessário a criação de um outro lugar para a reflexão de grande alcance. Haja visto que a análise da prática cênica apenas em revistas acadêmicas e especializadas despotencializa a intervenção crítica mais imediata e o necessário diálogo com a classe.