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1. Atores

1.2. Os atores coletivos: fóruns nacionais do PB

Os atores coletivos envolvidos na produção de textos sobre o PB, já identificados no capítulo anterior (Página 54?), incluem órgãos de soberania (AR e Governo), o Ministério com a tutela do ensino superior, órgãos consultivos (CNE e CNAVES) e órgãos de representação das IES (CCISP e CRUP). A caracterização a seguir apresentada foi feita com base nos documentos legais que estabelecem a sua natureza jurídica, a sua composição e as suas competências. Apresenta-se ainda a sua atividade relativa ao PB, no período em estudo, a partir dos documentos recolhidos para esta investigação.

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Sérgio Machado dos Santos foi o primeiro presidente da CRUE A Confederação dos Conselhos de Reitores da União Europeia (CRUE) e a Associação das Universidades Europeias (CRE) fundiram-se e constituíram a European University Association (EUA), em 2001.

144 Órgãos de soberania

Como referido no Capítulo 2 (Ver Tabela 2, p. 106), neste período, a Assembleia da República teve 5 Legislaturas, em resultado das respetivas eleições legislativas, tendo sido constituídos 6 governos constitucionais (4 da maioria PS e 2 da maioria PSD). Relativamente ao PB, foram publicadas 5 leis da iniciativa da Assembleia da República e 15 decretos-lei da iniciativa do Governo.

Ministérios com a tutela do ensino superior

Como igualmente referido no Capítulo 2, foram oito os ministérios com a tutela do ensino superior. Estes tiveram várias abrangências e designações. (mostra a Tabela 2, p. X), Entre 1999 e 2002, na vigência de dois governos do PS, existiram dois Ministérios da Educação e quatro Ministros; Eduardo Marçal Grilo (1995-1999); Guilherme d’Oliveira Martins (1999- 2000); Augusto Santos Silva (2000-2001); Júlio Pedrosa (2001-2002). Destes, apenas Eduardo Marçal Grilo, que assinou a Declaração de Bolonha, e Júlio Pedrosa, através da Secretaria de Estado do Ensino Superior68, tiveram intervenção na implementação do PB.

Com o primeiro governo do PSD (2002-2004) a tutela da Educação foi desdobrada, tendo sido criado o Ministério da Ciência e do Ensino Superior (MCES) que teve Pedro Lynce (2002-2003) e Maria da Graça Carvalho (2003-2004) como ministros. No segundo governo do PSD (2004-2005), ainda com a Ministra Maria da Graça Carvalho, a designação do ministério passou a ser Ministério da Ciência, Inovação e Ensino Superior (MCIES).

Com os dois governos do PS (2005-2009 e 2009-2011) que se seguiram, passou a existir o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), tendo como Ministro José Mariano Gago até à sua extinção, em 2011. As publicações dos vários ministérios constantes do corpus da investigação incluem, três portarias, um despacho cinco textos de orientação e dois relatórios, bem como quatro comunicações e um prefácio.

O CNAVES

O Conselho Nacional de Avaliação do Ensino Superior foi criado pelo Dcreto-Lei n.º 205/98, de 11 de julho com a atribuição principal de apreciar “a coerência global do sistema de avaliação” deste grau de ensino.

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145 O CNAVES era composto por personalidades nomeadas pelo Governo e pelos presidentes dos conselhos de avaliação das IES, constituídos pelas entidades representativas, reconhecidas como tal pelo Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior mediante protocolo. As entidades reconhecidas foram as seguintes: Fundação das Universidades Portuguesas (FUP)69; Associação dos Institutos Superiores Politécnicos Portugueses (ADISPOR)70; Associação Portuguesa do Ensino Superior Privado (APESP)71.

O presidente do CNAVES era nomeado pelo Governo. Adriano Moreira foi Presidente do CNAVES durante toda a existência deste órgão, em que tiveram igualmente participação António de Almeida Costa, Júlio Pedrosa, Luciano Almeida, Luís Soares e Sérgio Machado Santos, como atrás mencionado. No período e sobre a matéria em estudo, o CNAVES emitiu seis pareceres, que estão incluídos no corpus documental.

O CNAVES foi extinto através do Decreto-Lei n.º 369/2007, de 5 de Novembro, que criou a Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES).

O CNE

O Conselho Nacional de Educação é um órgão independente, com funções consultivas para a educação, que funciona junto dos ministérios com a tutela da educação e do ensino superior e da Assembleia da República. Foi criado pelo Decreto-Lei n.º 125/82, de 22 de abril, e alterado, por ratificação, pela Lei nº 31/87, de 9 de Julho72, em vigor no período em estudo. De acordo com esta Lei, o presidente do CNE é eleito pela Assembleia da República, que designa ainda um representante de cada grupo parlamentar. O governo designa sete membros. Cada uma das assembleias regionais das regiões autónomas e cada uma das regiões administrativas designa um elemento e a Associação Nacional de Municípios designa dois elementos. Os restantes conselheiros são designados pelos diferentes setores e organizações representantes dos interesses académicos, sociais e económicos. O total de conselheiros é de

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Reconhecida como entidade representativa das Universidades estatais e da Universidade Católica Portuguesa, por Protocolo de 19 de Junho de 1995.

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Reconhecida como entidade representativa dos institutos superiores politécnicos públicos, por Protocolo de 16 de Dezembro de 1998.

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Reconhecida como entidade representativa das instituições de ensino superior privado, por Protocolo de 3 de Março de 1999.

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A atual lei orgânica do Conselho Nacional de Educação foi aprovada pelo Decreto-Lei n.º 21/2015 de 3 de fevereiro e prevê um número maior de membros.

146 46, excluindo o presidente. No periodo em estudo foram presidentes Maria Teresa Ambrósio (1996-2002), Manuel Carlos Porto (2002-2005) e Júlio Pedrosa (2005-2009). Foram ainda conselheiros, como atrás mencionado, os seguintes atores: Adriano Moreira e Alberto Amaral (todo o período em análise); A. Almeida Costa (2000-2002); Luciano Almeida (2004-2005); Luís Soares (2001-2004); Mª Graça Carvalho (1999-2002); Pedro Lynce (2000-2002); S. Machado dos Santos (2000-2002).

De acordo com a Lei nº 31/87, de 9 de Julho, compete a este órgão “por iniciativa própria ou em resposta a solicitações que lhe sejam remetidas por outras entidades, emitir opiniões, pareceres e recomendações sobre todas as questões educativas” (idem, Artº 2º)73

. O CNE funciona em comissões especializadas permanentes, integrando uma comissão especializada na área do ensino superior, que foi coordenada por Sérgio Machado dos Santos entre 1996 e 200274, e que tem vindo a manter uma intensa atividade onde se inclui a emissão de pareceres, o desenvolvimento de estudos e a organização de seminários, conferências e publicações.

No período e relativamente à matéria em estudo, foram emitidos e publicados em Diário da República 15 pareceres, que fazem parte do corpus documental. Foi ainda organizado um conjunto de colóquios, seminários e conferências, cujas comunicações foram compiladas e publicadas em quatro volumes: “Diversificação e Diversidade dos Sistemas de Ensino Superior – O caso português” (2002); “Formas de Governo no Ensino Superior” (2003); “Políticas de Ensino Superior: Quatro Temas em Debate” (2008); “O Processo de Bolonha e seus Desenvolvimentos” (2009). No âmbito do Debate Nacional sobre Educação, que incluíu o ensino superior, foram realizadas audições públicas a individualidades da sociedade portuguesa, igualmente publicadas em livro: “Audições Públicas no Debate Nacional sobre Educação”, em 200775

.

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Para uma análise sobre o papel do CNE, no início do século, ver Ramos, M. C. (2001). Os Processos de Autonomia e descentralização à Luz das Teorias de Regulação Social: O caso das políticas públicas de educação em Portugal. Tese de Doutoramento. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências e de Tecnologia.

74 Esta comissão, designada “Ensino Superior e Investigação Científica” foi coordenada por

Domingos Xavier Viegas, entre 2002 e 2009, e por Maria Helena Nazaré entre 2009 e 2013.

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No âmbito do Debate Nacional sobre Educação (DNE) foram ainda produzidos, além do Relatório Final do DNE, os relatórios “A Educação em Portugal, INSISTE” e os livros “Aprendizagem ao Longo da Vida no Debate Nacional sobre Educação”, “Motivação dos Jovens Portugueses para a Formação em Ciências e em Tecnologia” e “Equidade na Educação: Prevenção de Riscos Educativos”. O DNE decorreu entre 2006-2007, sendo Presidente Júlio Pedrosa.

147 O MCTES e um conjunto de atores individuais participaram igualmente em várias das iniciativas acima mencionadas, com apresentação de comunicações que estão incluídas no

corpus documental, tais como:

 MCTES (07/A2e/MCTES/1; 08/A2e/MCTES/3)

 Adriano Moreira (03/B2a/AM/1)

 Alberto Amaral (03/B2a/AA/3; 09/B2f/AA)

 Eduardo Marçal Grilo (06/ B2a/EMG/1; 08/B2a/EMG/2)

 José Veiga Simão (07/B2a/JVS)

 Júlio Pedrosa (08/B2a/JP/2)

 Pedro Lourtie (03/B2a/PL/2; 07/B2a/PL/3; 08/B2a/PL/4)

 Sebastião Feyo de Azevedo (08/B2a/SFA/3)

 Sérgio Machado dos Santos (03/B2a/SMS/1; 08/B2a/SMS/2)

O CCISP

O CCISP (Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos) foi criado pelo Decreto-Lei nº 513-L1/79, de 27 de Dezembro. O seu novo estatuto foi aprovado pelo Decreto-Lei nº 344/93, de 1 de Outubro, que determina que o CCISP “é o órgão de representação conjunta dos estabelecimentos públicos, de ensino superior politécnico” (idem, Artº 1º). Tem, entre outras, as competências de “colaborar na formulação das políticas nacionais de educação, ciência e cultura” e de “contribuir para o desenvolvimento do ensino, investigação e cultura e, em geral, para a dignificação das instituições de ensino superior politécnico e dos seus agentes, bem como para o estreitamento das ligações com organismos estrangeiros congéneres” (idem, Artº 3º). O CCISP é membro da UASNET (Universities of Applied Sciences Network) e da EURASHE (European Association of Institutions in Higher Education).

Os membros do CCISP são os institutos superiores politécnicos públicos e as escolas superiores públicas não integradas, representados pelos respetivos presidentes. O presidente é eleito entre os seus membros. No período em estudo o CCISP teve dois presidentes: Luís Soares (1998-2004) e Luciano de Almeida (2004-2009). Neste período foram publicados 11 pareceres, uma recomendação e dois documentos de orientação estratégica, sobre o PB e política do ensino superior.

148 O CRUP

Criado pelo Decreto-Lei n.º 107/79, de 2 de Maio, o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) viu o seu novo estatuto jurídico aprovado pelo Decreto-Lei n.º 283/93 de 18 de Agosto. O CRUP, como atrás referido, é uma estrutura associativa com a função de coordenar e representar as universidades públicas portuguesas e a Universidade Católica Portuguesa. Entre outras competências, cabe-lhe “colaborar na formulação das políticas nacionais de educação, ciência e cultura” e “contribuir para o desenvolvimento do ensino, investigação e cultura e, em geral, para a dignificação das funções da universidade e dos seus agentes, bem como para o estreitamento das ligações com organismos estrangeiros congéneres” (Decreto-Lei n.º 283/93, Art.º 2.º). O CRUP é membro efetivo da Associação Europeia de Universidades (EUA).

O presidente do CRUP é eleito de entre os membros do Conselho, composto pelos reitores das universidades. No periodo em estudo o CRUP teve quatro presidentes: Júlio Pedrosa (1998-2000), Adriano Pimpão (2000-2005), José Lopes da Silva (2005-2007) e Fernando Seabra Santos (2007-2010). Neste período publicou dois pareceres, uma posição e três documentos de reflexão, com incidência direta sobre o PB, e uma “Carta de Princípios” sobre o novo enquadramento legal do ensino superior, no âmbito da discussão sobre o RJIES (Lei nº 62/2007, de 10 de setembro).

Estes atores constituem contextos de intervenção política, onde grande número dos atores individuais atrás caracterizados participou. São de natureza diferente e têm estatutos diferentes uns dos outros. Os órgãos de soberania (AR e governo) resultam do escrutínio popular, sendo da iniciativa do governo a designação do ministro com a tutela do ensino superior. O CNAVES e o CNE são órgãos consultivos, mas com composições muito distintas. Enquanto o presidente do CNAVES era designado pelo ministro com a tutela do ensino superior e era composto por representantes dos conselhos de avaliação das IES, o presidente do CNE é eleito diretamente pela AR e dele faz parte um conjunto diversificado de membros provenientes de vários setores da sociedade, incluindo representantes políticos, sindicais, académicos, profissionais e outros com interesse na educação. Outra distinção importante entre o CNAVES e o CNE é que o primeiro dizia respeito apenas ao ensino superior, enquanto o segundo abarca todo o setor da educação.

149 Quanto ao CCISP e ao CRUP, são estruturas representativas das IES, legalmente constituídas e obrigatoriamente ouvidas pelo ministro com a tutela do ensino superior. Quer os membros quer a estrutura orgânica e modo de funcionamento são autonomamente decididos. As presidências são internamente designadas e constituídas.

Como já referido, no âmbito das respetivas competências, e através de processos de interação internos e com as redes a que pertencem, com base em debates e análise e produção de textos, os atores coletivos participaram ativamente na concretização do PB. Os órgãos de soberania emitiram legislação, orientações de ação e relatórios, fizeram comunicações e prefaciaram monografias. Os ógãos consultivos e de representação emitiram pareceres e recomendações e publicaram textos de reflexão.

O total de 81 textos da autoria dos órgãos coletivos, por ator e por data, está incluído na Tabela 10, abaixo.

Tabela 10: Tipos de texto dos atores coletivos

Legislação Pareceres Posições/

Recomomendações Orientações / Relatórios Reflexões/ propostas Comunicações/ Publicações AR 5 Leis Governo 15 Decretos- Lei Ministério 3 Portarias 1 Despacho 5 Orient. Ação 4 Relatórios 4 Comunic. 2 Prefácios CNAVES 6 CNE 15 (5 Brochuras)* CCISP 11 1 2 CRUP 2 1 4

* Nas brochuras, apenas foram analisados textos individuais, não contabilizados aqui.

2. O papel mediador dos documentos